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A natureza humana é uma mistura caótica de tendências e interesses
alguns são compatíveis e alguns entram em conflito.
No entanto, esta desordem é entendida como uma fraqueza.
É indesejável na nossa personagem
e nos esforços para nos tornarmos no ideal de um indivíduo equilibrado
a nossa consciência censura e inibe o instinto natural.
O instinto natural
que nos separa.
Quando estou á frente da tela e começo a pintar
não se trata de um registo imediato do "aqui e agora".
É mais como que um histórico de reacções emocionais para com o assunto.
Pintar a carne, os ossos, do corpo humano é
muito encantador.
Tento usá-lo como um instrumento
ou como um veículo
do que quer que eu esteja a sentir
sobre a minha vida ou mim próprio.
Agora, e como se desenvolveu de onde eu provenho, os meus primórdios.
Tal como todos fazemos
todos partimos numa viajem pela vida
e as coisas que nos lembramos são memórias baseadas em emoções.
Através de emoções um quadro pode contar milhares de histórias
ou comunicar com o espectador que tem a sua própria percepção daquilo que o quadro significa.
Mas o que eu tento fazer é
representar na tela
histórias emocionais
do meu ser.
Através do meu trabalho, procuro livrar-me das camadas de consciência merdosa
que me impedem a livre expressão.
Mas isso não quer dizer que negue a influência de uma atitude consciente.
O motivo primário da "cadeira" serve de metáfora para a minha psique,
o campo de batalha onde a consciência e a inconsciência se manifestam.
Se retrato a realidade unificada da minha psique através desta metáfora
a desordem tem de estar presente.
O conflito irá dar constantemente forma e história ao trabalho
através de camadas
mascaradas e desmascaradas de criação
destruição
e renascimento.
Envolto na solidão do seu oculto privado
o odor do "Perfumado" resume-se à sua própria feculência.
Ele avança com luxúria na merda que bloqueia o esgoto da sua alma consciente
Ele explora o crú, a podridão absoluta.
Destila o trauma e engarrafa-o sem repulsa.
Confecções do seu fedor vil.
Apesar do seu odor incomodativo
ele não procura cura.
Mas no fim da labuta nocturna
inflamadas pelos resíduos em que escava
as suas narinas já não estranham o cheiro
e na brilhante orgia do regresso do sol ele ascende das profundezas estagnadas
encharcado no veredicto
expurgado
com uma grande emergência de respirar.
Eu julgo a minha reacção com eles.
Geralmente ataco um quadro se houver alguma coisa nele com o qual eu não me sinta confortável.
Trata-se apenas de uma manifestação física de eu não gostar desse quadro.
Na verdade, apenas a superfície e a emoção --
e eu penso --
O que é que precisas?
Por isso danifico-as --
Não consigo explicar --
Porque fica bem na parede? Não sei.
Porque é um bocado de mim que fica ali, e quando eu for olhar para ele --
Mesmo que estejam perfeitos
devo continuar a odiá-los.