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Legendas em português: Vera Cristofani
Por exemplo, se você abrir alguns dos panfletos ‘seja vegano’ ou mesmo ‘seja vegetariano, ’ eles expressam muito as coisas como,
‘minimizar o sofrimento, ’ ou ‘enfrentar a crueldade, ou que ‘o veganismo é apenas uma ferramenta’ ou um ‘método de boicote contra o sofrimento,’
porém uma parte do seu argumento ou um argumento em geral, é mais sobre o lado teórico disto...
Na verdade, não… Na verdade, é uma teoria diferente. Estou feliz por você ter levantado isso... Estou feliz que você colocou isso dessa forma...
Porém o lado teórico do uso de animais, ao invés do sofrimento
Bem sim, sim, mas eu estou feliz que você colocou a questão desta forma, porque eu acho que é... Eu acho o que a sua...
a maneira como você formulou a pergunta eu acho que é boa, porque muitas pessoas irão se identificar com isso.
Há pelo menos duas maneiras de olhar para a questão dos animais. Há a questão sobre
se os animais têm ou não interesse em continuar a viver ou se eles apenas têm interesse em continuar a não sofrer.
Se você voltar 200 anos atrás na fundação do movimento do bem-estar animal, no início do século XIX, na Grã-Bretanha,
você encontra pessoas como Jeremy Bentham e John Stewart Mill que acreditavam que os animais não tinham interesse em continuar a viver,
porque eles não tinham o mesmo tipo de mente que nós temos, eles não pensavam no futuro,
eles não pensavam em si mesmos como indivíduos. Eles apenas se importavam em não sofrer.
Assim é a base do movimento do bem-estar animal que persiste até hoje nas obras de Peter Singer.
A noção bem-estarista é que os animais não têm interesse em continuar a viver e apenas têm interesse em não sofrer.
Então não importa que nós os usemos, somente importa como nós os usamos. E por isso nós precisamos usá-los de forma gentil ou humana ou de quaisquer outras formas.
E então quando você diz que se você examina algumas destas literaturas, elas focam no sofrimento dos animais ou elas veem
o veganismo como uma ferramenta para redução do sofrimento, isto acontece porque essas pessoas aceitam a noção bem-estarista,
porque elas aceitam a visão de Peter Singer, elas aceitam a visão de Jeremy Bentham, elas aceitam a visão geral do bem-estarismo
de que os animais não têm interesse em continuar a viver, eles apenas têm interesse em não sofrer.
Se eu acreditasse nisso, então eu concordaria com eles, eu quero dizer,
se eu achasse que os animais não se importam ou não têm interesse em continuar a viver,
então eu concordaria com eles que a única questão é reduzir o sofrimento e a única questão é eliminar o sofrimento,
e eu ainda diria que o veganismo é a melhor maneira de reduzir e eliminar o sofrimento,
no entanto, eu veria isto de uma forma diferente da que eu vejo.
Eu acho que a posição tomada pelo Vegan Outreach ou por muitas destas pessoas bem-estaristas,
incluindo algumas grandes organizações, e a posição assumida por Peter Singer é fundamentalmente especista,
porque eles estão dizendo que, “veja, como os animais não pensam da mesma forma que nós, eles não têm interesse em continuar a viver,
então matá-los não é, por si só, um mal;” Eu acho que isso é um completo absurdo.
Na verdade, eu acho muito difícil entender porque eles acham isso. E me parece, e eu discuti isto
com Singer e discuti isto com outras pessoas que promovem essa visão
e Singer e eu tivemos uma discussão interessante na Hahnemann School of Medicine, na Filadélfia um tempo atrás quando essa questão veio à tona,
e a opinião de Singer basicamente, como eu a entendo, é que como eles não são autoconscientes,
os animais não são autoconscientes da mesma forma que nós somos autoconscientes,
eles não têm interesse em continuar a viver, porque eles não têm um conceito sobre as suas vidas,
eles não tem um conceito sobre o que ter uma vida, o mesmo tipo de conceito que você e eu temos.
Agora, eu concordo que os animais provavelmente pensam muito diferentemente da maneira que os humanos pensam, porque as nossas
estruturas conceituais estão tão vinculadas à comunicação simbólica, ou seja, à linguagem, os nossos conceitos estão todos vinculados à linguagem,
e apesar dos animais se comunicarem, eles, até onde sabemos, não usam comunicação simbólica,
eles não usam palavras, então a consciência deles é provavelmente muito diferente da nossa, porque a consciência deles
não está vinculada a um conjunto de conceitos que estão vinculados a essa coisa chamada “linguagem” ou “comunicação simbólica.”
Então, sim, eu concordaria que os animais provavelmente pensam de forma diferente de nós, mas e daí?
Eu quero dizer, a ideia de que os animais não têm um conceito de autoconsciência, que eles não estão conscientes de si mesmos é ridícula.
Eu acho que qualquer ser senciente, qualquer ser que é perceptualmente consciente, tem um senso de si mesmo, no qual,
aquele ser sabe quando ele está sofrendo, e que ele está sofrendo e que não é outro ser que está sofrendo.
Na minha opinião, este é o único tipo de autoconsciência que é...
Adam: Então é apenas baseado em senciência, não é baseado em, por exemplo, “este animal é mais parecido com um humano” ou “este animal é...”
Gary F: Definitivamente não, a minha visão é, sem sombra de dúvidas, que a senciência é a única coisa que importa, e curiosamente,
existe alguma confusão, porque Peter diz em Libertação Animal, “a senciência é tudo o que importa,”
mas Peter também acha que para ser realmente um membro completo da comunidade moral e ter o mesmo interesse que os humanos,
eles têm que ter senciência superior. E minha visão é que não, para ser um membro completo da comunidade moral,
para ter o mesmo tipo de interesse que os humanos têm, para ter interesse na sua vida,
tudo o que você precisa é senciência.
Essa diferença resulta em que nossas teorias seguem em direções muito, muito diferentes. Mas não,
eu definitivamente fico longe da noção de que os animais só têm significado moral se eles são “como nós.”
É aí onde eu discordo de Tom Reagan em The Case for Animal Rights, no qual ele fala sobre a noção de ‘sujeito-de-uma-vida’.
Para que um animal tenha direitos, o animal tem que ser um sujeito-de-uma-vida.
Ele deixa aberta a possibilidade para que a teoria possa ser mais expansiva, mas a teoria que ele produziu é
muito focada neste conceito de noção da vida, isto é, os animais têm que ter,
a fim de ser sujeito-de-uma-vida, um certo nível de sofisticação perceptual,
sofisticação cognitiva, antes de serem considerados como sendo sujeito-de-uma-vida e antes que eles tenham proteção dos direitos na visão de Reagan,
e eu discordo disso. Eu acho que todo esse pensamento que eles têm que ser como nós para serem importantes,
para conseguirem proteção total é absurdo, é especista, não faz nenhum sentido para mim.
Adam: Então, o que você acha que um ativista deveria fazer, porque as pessoas que estão muito interessadas na proteção dos animais
e nos direitos dos animais e praticamente tudo o que elas veem de ruim sobre os animais na televisão,
pode ser, por exemplo, uma notícia na NBC sobre a doença da vaca louca ou vídeos da PETA que estão no YouTube,
e elas assistem a isso e dizem, “Eu preciso fazer alguma coisa; Eu quero responder a isso e preciso fazer alguma coisa.”
Porque frequentemente as coisas mais comuns com que elas se deparam, eu acho que são petições e também doações.
Eu acho que petições e doações são as duas principais. O que elas podem fazer?
Gary F: Olha, eu acho que nós temos que reconhecer que isto não é apenas um movimento, são múltiplos movimentos,
e há uma tendência por parte de muitas pessoas ligadas à causa animal ou o que seja de assistir estes vídeos
e muitos deles são realmente horríveis e tudo mais, e a reação delas é dizer “Bem, eu tenho que fazer algo para melhorar isso,
eu tenho que fazer alguma coisa para regulamentar isso melhor.” Eu entendo esse impulso, é justamente isso que eu discordo,
porque, de forma prática ,a reforma bem-estarista é inútil, é, na verdade, pior do que inútil.
A reforma bem-estarista é problemática porque conhecendo o status dos animais como propriedade, como bem material,
os animais não são nada além de mercadorias da economia. Esse fato sempre resultará em limitar estruturalmente o nível de proteção
que nós vamos dar aos animais porque eles são propriedades. Quanto mais proteção nós damos a eles,
mais caros eles se tornam. E então, isso significa que o preço que a pessoa irá vender aquele animal subirá
e você não precisa entender muito sobre economia para saber que quando o preço sobe, a demanda cai.
Adam: Claro, claro, eu acho que este é um ponto muito chocante para as pessoas quando você diz a elas que a reforma bem-estarista é inútil,
provavelmente elas estão dizendo, ‘Sobre o que você está falando?’ Nós acabamos de tirar a galinha de uma gaiola.
a única reforma bem-estarista que nós veremos é, basicamente, aquela que é vantajosa economicamente ou neutra para a indústria.
Este não é um tratamento melhor para a galinha?”
Bem, a reforma bem-estarista é inútil, tendo em vista que as únicas coisas que nós veremos,
E isso vai acontecer de qualquer forma em grande parte. Portanto, se você faz exigências radicais,
se você exige o veganismo ou se você exige a abolição total da exploração dos animais,
o que você vai conseguir de qualquer forma é a reforma bem-estarista, porque a indústria responderá dizendo, “Nós vamos melhorar.”
Então se você toma uma posição mais radical de defender a abolição da exploração dos animais,
o que você vai acabar conseguindo no final é reforma bem-estarista de qualquer forma.
Então eu não sei porquê as pessoas estão desperdiçando seu tempo defendendo reforma bem-estarista, pois
a maioria das coisas que elas estão defendendo são coisas que irão acontecer por razões econômicas e deixe-me dar um exemplo disso.