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Legenda: Adriano_CSI
Olhando daqui de cima, tudo parece menor.
Cada mundo é uma sombra, cada história é um ponto.
Cada movimento lento, distante, abaixo de mim.
Minhas asas me levam e carregam pessoas que nunca vi.
Que tipo de sonhos, medos, saudades,
esperanças, reencontros, despedidas
e ambições, carrego logo aqui atrás?
Sobre as mentes cansadas, me desloco
entre nuvens, entre gotas, pelos raios
que esquentam o chão e o ar.
Quem são esses corpos que dormem e se entregam
para que eu os leve pelos céus,
viajando sobre tudo que conhecem em busca de algo
que, talvez, nem saibam ao certo o que é?
Olhando daqui de cima, não vejo ameaças
e as contradições ficam belas.
Os aclives e declives ganham formas,
desenham, inspiram, sinalizam um outro caminho.
Sou um ponto no céu, uma flecha,
um raio em deslocamento que toca e vai,
que sobe e desce, que leva e traz.
Toco na tela, as manetes,
aciono, calculo, reporto,
ajusto e acendo
Aproa, eu intercepto, identifico o curso,
a rampa, o glide, toco o chão.
O painel me informa.
Cada som, um aviso.
Cada luz, um sinal.
Os ailerons estão em meus dedos
que movimentam profundores e flaps.
Desloco eixos, mudo de nível,
entrando e saindo de espaço invisíveis
que me guiam e me acolhem.
Faço meu trabalho como quem cumpre uma missão.
Quem seguiu a vocação de estar onde o homem não vai.
Conduzir aves de prata, monstros de tecnologia,
máquinas de sistemas admiradas e temidas
que encurtam distâncias e aproximam pessoas.
Sou mais que piloto: carrego sonhos
Comandante? Não.
Eu levo gente.
Eu trago gente e cruzo os céus com gente
que anseia o chão e depois segue em seu caminho.
Alias, a vida é feita de caminhos.
E cada um deles reflete com precisão nossas escolhas.
Essa é minha escolha.
Essa é minha vida, minha vocação,
que me projeta sobre as sombras, dores, ameaças.
Afinal de contas, olhando daqui de cima,
tudo muda, desloca, desimpressiona.
Olhando daqui de cima, tudo parece menor.