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A Guatemala vai entrar numa nova era
em que haverá prosperidade
bem como liberdade para o povo.
A questão é: porque apoiamos El Salvador?
Não, a questão é: porque estamos a matar padres em El Salvador?
A resposta é: não estamos. Agora, cale-se!
O Presidente Christiani está tentando ajudar a democracia
e as guerrilhas de Esquerda não podem se apoderar de El Salvador.
A América não imporá o seu estilo de Governo a quem não quiser.
Em vez disso, o nosso objetivo é ajudar os outros a encontrar a sua própria voz,
a obter a sua própria liberdade e a traçar o seu próprio caminho.
Este filme relata a luta das pessoas para se libertarem
de uma forma moderna de escravidão.
Richard Nixon, Presidente dos EUA,
disse o seguinte sobre a América do Sul: "O povo está a cagar-se para esta terra."
Estava enganado.
O grande projecto dos EUA, enquanto império moderno
foi traçado com base nas expectativas de um continente inteiro
conhecido insolentemente por "o quintal".
Neste filme, as testemunhas fantásticas
descrevem um mundo, não como os Presidentes americanos gostam de o ver
- útil ou dispensável -
descrevem o poder da coragem e da humanidade
entre pessoas que quase não têm nada.
Recuperam palavras nobres como democracia, liberdade, libertação, justiça,
e, ao fazê-lo, estão defendendo os direitos humanos mais básicos de todos nós
numa guerra levada a cabo contra todos nós.
Isto é Caracas, a capital da Venezuela,
um dos países mais ricos da América Latina,
graças às enormes reservas de petróleo.
Na Venezuela, os ricos vivem em subúrbios verdejantes,
com nomes como Country Club.
Os seus lares espirituais são Miami e Washington.
A maioria da população vive em bairros,
nas encostas, em casas de tijolo que desafiam a gravidade.
No passado, estas pessoas eram invisíveis,
excluídas da sua própria sociedade.
Hoje em dia, demonstram a confiança
dos que sabem que ocorreu uma mudança extraordinária na sua vida.
BEM-VINDO, PRESIDENTE CHÁVEZ
Este é Hugo Chávez, Presidente da Venezuela, a voz dos bairros.
Chávez e os seus apoiantes ganharam dez eleições em oito anos.
Ele é o símbolo do despertar do poder do povo,
impulsionado por grandes movimentos populares, exclusivos da América Latina.
Os dias dos velhos patrões e dos barões acabaram.
Essa falsa democracia de elite acabou na Venezuela.
Não é de espantar que Chávez, com a ajuda de uma cobertura agressiva da mídia,
tenha se tornado um indivíduo odiado nos Estados Unidos,
porque o que ele representa é uma alternativa
e uma ameaça ao domínio americano.
Já Hugo Chávez,
o criminoso - e criminoso é favor - Governo da Venezuela...
- Criminoso? - É um Governo criminoso.
Na minha opinião e na de muitas pessoas do nosso Governo,
Hugo Chávez representa uma grande ameaça para o nosso país e para o nosso hemisfério.
- Já deveria ter sido morto há muito tempo. - Por quem?
- Quem culpa os outros... - Por quem?
Por qualquer pessoa.
Quer um café?
Sim, sim.
Era uma das minhas aulas de Inglês uma escola secundária.
Quer um café? Quer um copo de leite?
Quer um copo de água?
HUGO CHÁVEZ PRESIDENTE DA VENEZUELA
Primeira aula de Inglês!
Nasci numa casa muito pobre, numa família de camponeses, e sei o que é a pobreza.
Fui uma criança tão pobre que nem sapatos tinha.
O meu pai era professor numa escola rural e a minha mãe também.
Tinha uma avó linda. Era índia. Criou-me com muito amor.
A minha avó ensinou-me muito.
Com ela, aprendi a ser solidário com as outras pessoas,
a partilhar o pão, mesmo quando se tem pouco para comer.
Depois, fui para o Exército, para a Academia Militar, e tornei-me soldado.
Foi então que descobri Bolívar e comecei a perceber qual era a verdade.
Simón Bolívar é venerado na América Latina
como o libertador do colonialismo espanhol.
Bolívar acreditava que a liberdade só seria possível
quando o povo se unisse contra todos os invasores, fossem eles quem fossem.
Hoje em dia, o povo da América Latina começa novamente a insurgir-se
contra um império, construído com base numa forma extremista de capitalismo,
conhecida por Consenso de Washington.
Países inteiros foram privatizados, postos á venda,
as suas riquezas naturais foram vendidas a empresas estrangeiras por uma ninharia.
Na Venezuela, disseram: "Já chega."
Este é La Vega, um bairro com um milhão de habitantes.
Mariela Machado viveu aqui grande parte da sua vida.
Ela sabe o que é ser excluída em seu próprio país.
Posso dar-lhe um exemplo muito concreto nos mapas.
Estas colinas e casas não apareciam. Eram representadas como zonas verdes.
Antes do Governo de Chávez.
Antes de Chávez, não nos sentíamos incluídos na sociedade.
Isto é uma missão.
É uma espécie de Governo paralelo,
concebido para evitar a velha burocracia
e proporcionar benefícios concretos a pessoas comuns.
É democracia pura, um triunfo da comunidade local.
Hoje estão discutindo o sonho de ter casa própria, pela primeira vez na vida.
Não queremos as escrituras só para dizer que as temos.
Mais importante do que as escrituras em si
é o fato de termos uma propriedade, para desenvolvermos as nossas cidades
e conquistarmos os direitos que nos foram negados tanto tempo.
Isso é o mais importante.
Não é uma questão de receber as escrituras, dizer: "Já estou bem. Posso ir embora"
e deixar de assistir às reuniões da paróquia,
porque, depois das escrituras, ainda há coisas boas para fazer,
como o desenvolvimento do nosso bairro.
Pouco depois da eleição de Chávez em 1999, os Venezuelanos votaram uma Constituição,
e este livrinho azul tornou-se um "bestseller" desde então.
Esta é uma cadeia de supermercados, instalada nos bairros
e financiada pelo rendimento do petróleo.
Aqui, os preços não aumentam
e, na parte de trás de cada pacote de arroz ou de detergente,
estão impressos os direitos das pessoas, segundo a Constituição.
Para você, é importante ver isso aí impresso?
Claro! Porque não sabia que tínhamos direitos como as outras pessoas.
Por exemplo, este artigo, o 23,
fala-nos da política nacional, e isso faz-nos sentir integrados.
A democracia, como disse recentemente ao nosso povo,
como disse Lincoln, tem uma definição simples. A dificuldade é torná-la realidade.
Nós estamos conseguindo:
um Governo do povo, pelo povo e para o povo.
Uma sociedade onde as pessoas se sentem inseridas e iguais, onde não há exclusão,
onde não há pobreza, onde reinam os valores humanos...
Para alguns dos seus apoiantes, Chávez ainda não foi longe demais.
Persistem os obstáculos conhecidos do passado:
uma burocracia sufocante e corrupção generalizada.
E, apesar de a pobreza ter diminuído imensamente nos últimos anos, está longe de ser erradicada.
Quando se sai do aeroporto de Caracas,
o maior choque para alguém que visita o país pela primeira vez
é os bairros, o número de pobres.
Por que razão, na Venezuela, que ganha tantos bilhões de dólares com o petróleo,
ainda há tanta pobreza, apesar de todas as mudanças que fez?
Os pobres da Venezuela continuam a ser pobres, é verdade.
Digo sempre que não queremos ser ricos. O nosso objetivo não é a riqueza material,
mas viver com dignidade, para deixar a pobreza, é claro,
e, sobretudo, deixar a miséria.
E viver com dignidade. Esse é o objetivo.
Não queremos ser milionários, ter o estilo de vida americano. Não, isso é uma estupidez!
Estou dizendo-lhe isto, porque a questão da pobreza afeta-nos profundamente.
É nossa principal preocupação, e o que toma o maior tempo da nossa luta do dia-a-dia.
A luta do dia-a-dia é facilitada aqui.
Há 10 anos, ninguém sonharia com esta clínica.
Agora, por toda a Venezuela, todos têm cuidados de saúde gratuitos.
Para muitos, é a primeira vez que consultam um médico.
Pela primeira vez, as crianças mais pobres têm direito a passar o dia inteiro na escola
e a ter, pelo menos, uma refeição quente por dia.
Aprendem História, Música e Dança,
frequentemente pela primeira vez, e é tudo gratuito.
Segundo a Constituição, as donas de casa mais pobres recebem como trabalhadoras.
O país está perto da alfabetização total, graças à aulas como esta,
para pessoas como Mavis Mendez, de 95 anos, que só agora aprendeu a ler e a escrever.
É muito importante para nós.
Só gostava de ser mais nova para poder continuar a aprender.
Nunca tivemos um Governo que se preocupasse com os pobres,
ou que nos ensinasse a ler e a escrever. Nunca houve nada disto.
Acho que nunca é tarde para aprender mais.
Estamos em Caracas Oriental, onde vivem algumas das pessoas mais ricas do mundo
e que, aqui, são consideradas de classe média.
Fui visitar John Vink,
que se disponibilizou para me mostrar a sua bela casa.
Uau! É uma mansão imponente!
- Obrigado. - Meu Deus!
- Obrigado. - Sem dúvida...
Já vive aqui há muito tempo? É a casa da família?
É a casa da minha família. Crescemos aqui.
John Vink viajou pelo mundo inteiro, colecionando obras de arte.
Coleccionou todas estas pratas?
- O candelabro é... - Sim. Trouxe-o de Espanha.
Isto é uma coleção de Deltt Blue. Estão ali para não se partirem.
Esta peça em prata veio do Peru.
- Mas está pensando em sair daqui. - Estou.
Porquê?
Por causa da situação do país.
Está piorando a cada dia, portanto...
- Em que sentido? - Em termos políticos.
Pensávamos que este senhor, que está atualmente no poder,
conseguisse mudar a situação,
porque estava uma confusão. - Pois...
Mas, agora, a confusão é ainda maior.
A opinião de John Vink é partilhada pelos poderosos da mídia venezuelana.
Privados na sua maioria, conjugam banalidades com uma implacável política anti-Chávez.
A seguir, mais perigos nas últimas decisões oficiais.
A Venezuela encaminha-se para um regime muito parecido
com o regime existente em Cuba.
Para o Governo, o significado do socialismo do século XXI é simples:
o controle absoluto da sociedade pelo Estado.
Agora, alguns jornalistas dizem: "Bem, há censura".
"Já foram censurados."
Como é possível? Falam todas as manhãs.
Têm programas diários.
Todos os dias falam mal do Governo.
Como podem dizer isso?
Não sei se já viu os programas deles...
HISTORIADORA
Quem vier à Venezuela e passar dois dias vendo estes canais
sabe que não há censura na Venezuela.
Basta sentar-se e ver aqueles programas de opinião
entre as 6h e as 8h da manhã.
Hugo está passando de fascista a nazista.
Qual é a diferença entre um nazista e um fascista?
Basicamente, o nazista mata pessoas.
Duvido que, em qualquer parte do mundo, se ouça o que dizem
do Presidente Chávez, do Governo, dos ministros, dos governadores, das políticas...
Chega a ser obsceno, de certa forma.
Para mim, parece que tudo, incluindo o tempo,
é culpa do Sr. Chávez.
Ninguém culpa o Sr. Chávez do tempo, porque é a única coisa que ainda funciona bem.
Percebeu? Tudo o resto está destruído.
Estamos a falar de 1914, da Revolução Bolchevique, da Rússia...
É o que está a acontecer aqui.
Se for para a rua...
Espere aí!
Estamos aqui sentados, em seu maravilhoso apartamento...
- Muito obrigado. - ..com vista para Caracas...
Na Venezuela, diz-se "es su casa"... está em sua casa.
E está a comparar isto com a Revolução Bolchevique.
Não há revolucionários bantendo-lhe à porta
nenhuma das suas empresas foi tomada de assalto.
A sua boa vida não mudou nada. Não mudou, não é?
Sim, mas como disse antes, está numa posição de "esperar para ver".
Se tivesse um contrato de dois anos, como tinha em 1976,
cumpriria o contrato, faria as malas e partiria,
porque já não vejo futuro algum.
Os críticos acusam Chávez de estar a construir outra Cuba,
de ser outro Castro.
Apesar de ter anunciado poderes presidenciais temporários, que ignoram o Parlamento,
declara que o seu objetivo é unicamente acelerar a reforma.
A ironia é que, ao contrário de Cuba, o capitalismo nunca esteve tão bem aqui.
Na exposição de carros de Caracas, vendem-se Ferraris e outros carros de luxo.
Restaurantes finos, campos de golfe privados e fins-de-semana em Miami proliferam.
O que esta classe perdeu foi poder político sobre uma economia petrolífera riquíssima.
Acho que, na Venezuela, por haver uma economia petrolífera,
as classes média e alta estão muito...
...viradas para os EUA e para o estilo de vida americano.
De certa forma, acham que são cosmopolitas.
Não sentem que fazem parte deste ou daquele país. Pertencem ao mundo.
Pertencem a um tipo de pessoas privilegiadas do mundo.
- Miami? - Miami, Nova Iorque, Paris.
Adoramos Miami.
Miami é a nossa segunda casa.
Descobrimos Miami, porque, antigamente, Miami era uma aldeia.
E nós éramos tão ricos que fomos para Miami e compramos casas,
apartamentos, bangalôs, barcos, carros... Tudo o que havia em Miami.
Éramos os donos de Miami.
Portanto, somos muito pró-América.
Na antiga Venezuela, os EUA desempenhavam o papel de um padrinho da Máfia.
O negócio era simples:
ao fornecer petróleo barato, os venezuelanos ficavam com uma boa fatia do lucro.
A eleição de Hugo Chávez acabou com o negócio.
É óbvio que a Venezuela é importante
porque é o terceiro maior fornecedor de petróleo.
Director da CIA - 1997-2004
Diria que o Sr. Chávez, e o Departamento de Estado pode reiterar,
não deve estar pensando nos interesses dos EUA.
Estamos preocupados com algumas das ações do Presidente venezuelano Chávez...
SECRETÁRIO DE ESTADO DOS EUA 2001-2005
..e com a noção que ele tem de sistema democrático.
Garanto-lhe que tentamos evitar o choque com o império, mas foi inevitável.
Estive na Casa Branca, apertei a mão a Clinton.
Até falamos ao telefone: "Como está, Sr. Clinton?" "Como está, Sr. Chávez?"
Estávamos tentando fazer o impossível.
Fazer uma revolução sem entrar em choque com o império. É impossível.
Em Washington e em Miami, e nos "Country Clubs" de Caracas,
a eliminação de Chávez tornou-se uma obsessão.
No início de 2002, planos secretos foram traçados pela oposição venezuelana,
e a mídia liderava o ataque.
Acha que o Presidente está louco?
Chegou a hora de começarmos a falar sobre a transição,
sem Chávez, obviamente.
Manifestantes anti-Chávez invadiram as ruas,
enquanto a mídia inflamava a raiva deles.
Nunca houve ninguém tão feio e tão mau como este!
Hugo "Satanás" Chávez é o Anticristo, é o demônio, o diabo, o monstro, Lúcifer!
É o único que está a mais aqui.
A campanha para depor Chávez atingiu o auge a 11 de Abril de 2002.
Foi organizada uma marcha de protesto anti-Chávez no centro de Caracas.
Fora! Fora!
Chávez, os dados foram lançados!
O que eles não sabiam é que havia duas marchas naquele dia,
sendo que a outra era liderada por apoiantes de Chávez,
às portas do palácio presidencial, conhecido por Miraflores.
Presumia-se que as duas manifestações não se cruzariam,
mas ocorreu uma série de acontecimentos inesperados.
Sem aviso, os manifestantes da oposição foram redirecionados para o palácio
por um dos organizadores.
Ele disse que a marcha iria passar pelo Palácio de Miraflores.
As pessoas tentaram impedir a mudança de rumo da marcha,
mas o organizador não desistiu.
Respondeu: "Sou o responsável por isto, então, cuide da sua vida."
"Já está tudo programado, e vamos para Miraflores."
Os manifestantes da oposição viram-se rodeados por apoiantes do Governo.
Enquanto se aproximavam do palácio, houve tiros.
Estavam sendo alvejados por atiradores furtivos, que os abatiam um a um,
muitos com um tiro na cabeça.
Não tardou que estas imagens começassem a passar na televisão anti-Governo,
culpando os apoiantes de Chávez pelo tiroteio numa das pontes da cidade.
Continuaram disparando...
...fazendo pontaria e descarregando suas armas automáticas.
Isto vai ficar na História. Graças a Deus, há provas.
Estão a disparar contra as pessoas que se manifestam lá em baixo.
É um ato de selvajaria inqualificável. É isto que chamam de revolução?
No entanto, como este ângulo de câmera revela,
não havia manifestantes da oposição na rua que passava por baixo da ponte.
O que as imagens televisivas não mostraram foi isto:
na ponte, as pessoas estavam claramente tentando proteger-se,
agachando-se para evitar as balas dos atiradores que lhes rasavam a cabeça
e as unidades policiais anti-Chávez, lá em baixo.
As pessoas que estavam na ponte só estavam a defender-se.
Era uma zona de guerra que eles controlavam. Estava tudo muito bem planeado.
Passadas algumas horas, estes chefes militares apareceram na televisão.
Também culparam Chávez e os apoiantes pelas mortes.
Venezuelanos,
o Presidente da República
traiu a confiança do seu povo.
Está massacrando inocentes com atiradores furtivos.
Até o momento...
..morreram seis pessoas e dezenas ficaram feridas, em Caracas.
É inadmissível.
Não podemos aceitar um tirano na República da Venezuela.
Foi tudo montado.
O correspondente da CNN em Caracas, Otto Neustald, revelou, mais tarde,
que os generais gravaram a declaração antes do tiroteio.
Na noite de dia 10, telefonaram-me e disseram:
"A marcha vai para o Palácio de Miraflores. Haverá mortos
"e 20 militares de alta patente aparecerão para criticar o Governo de Chávez
"e exigir a demissão do Presidente."
Isto prova que já falavam de mortos quando ainda não tinha havido uma única morte.
Foi tudo planeado.
Pouco depois, o palácio presidencial foi cercado por militares revoltosos.
No interior, Hugo Chávez recebeu um ultimato: demitir-se ou ser alvo de um atentado à bomba.
Uma das ministras do seu Gabinete deu a notícia.
Finalmente, tornou-se óbvio que se tratou de um golpe de Estado.
MINISTRA DO AMBIENTE
O Presidente recusou demitir-se.
Foi feito prisioneiro, porque se trata de um golpe de Estado.
É para o mundo inteiro saber.
É um golpe de Estado!
Um golpe de Estado contra o povo que o adora!
Os conspiradores anunciaram que Chávez tinha se demitido.
Mentira. Ele foi raptado.
Na manhã seguinte, um ditador não eleito assumiu o poder.
Era um homem de negócios importante chamado Pedro Carmona.
Estavam todos festejando.
Vi o programa todo, quando eles estiveram na televisão.
Nem imagina como chorei. Foi como se os meus filhos e a minha mãe tivessem morrido,
que são a coisa mais sagrada que tenho neste mundo.
Ver como eles diziam: "Há um novo amanhecer na Venezuela."
Numa proclamação extraordinária, a democracia foi completamente destruída.
Suspendemos os membros da Assembleia Nacional.
Suspendemos o Presidente e todos os membros do Supremo Tribunal,
assim como o Procurador-geral da República...
..o Presidente do Banco Central...
..o Defensor do Povo...
..e os membros da Comissão Nacional de Eleições!
Democracia! Democracia!
Nem imagina o efeito daquele decreto na nossa vida. Era uma situação terrível,
porque já estávamos vendo o passado, a repressão,
a necessidade de lutar por tudo.
Nos EUA, a mídia transmitiu as mesmas imagens
e a mesma história usada para justificar o golpe de Estado.
A Administração Bush deixou bem claro que está feliz com a mudança de poder
no país responsável por 15% da importação de petróleo da América.
A reportagem é de Anthony Mason.
Afinal, foi isto que causou a deposição de Hugo Chávez.
Grupos armados, leais ao Presidente venezuelano,
disparando contra milhares de manifestantes da oposição.
Depois de 16 pessoas terem morrido e centenas terem ficado feridas,
ontem à noite, os soldados cercaram o palácio presidencial.
Na Casa Branca, o porta-voz do Presidente Bush corroborou a história.
Permitam-me que partilhe convosco a opinião da Administração
sobre o que se está se passando na Venezuela.
Sabemos que a ação encorajada pelo Governo de Chávez provocou esta crise.
O Governo de Chávez reprimiu manifestações pacíficas,
alvejou manifestantes pacíficos desarmados, matando 10 e ferindo 100.
Foi isto que aconteceu, e foi instaurado um Governo civil provisório.
Na Venezuela, três anos de uma modesta reforma democrática foram destronados.
Felizmente, temos uma grande arma: a mídia.
Como você e o povo viram hoje,
nem o Exército nem as forças armadas dispararam um único tiro.
A nossa arma foi a mídia.
Os conspiradores e os amigos tinham todas as razões para festejar,
ou pensavam que tinham.
Na manhã seguinte, as pessoas consternadas começaram a ligar
para uma das estações de rádio independentes ainda ativa.
Dói-me a alma pelo meu filho, pela minha filha e por todos os jovens
que ficarão à deriva, à mercê de todos estes corruptos
que atiraram este país para o caos. É imoral!
Morreu a esperança de um povo.
Morreu a Constituição.
Morreu a democracia.
Morreu a esperança das crianças.
Mas a esperança não tinha morrido.
A verdade começou a vir à tona:
a demissão de Hugo Chávez tinha sido forjada.
A esposa dele, Maria, confirmou com um telefonema para a estação de rádio.
Ele me disse: "Pede a um perito em caligrafia que analise essa suposta assinatura,
"se é que existe, porque eu nunca assinei nada."
E o povo dos bairros começou a lutar.
Saiu dos seus refúgios para salvar o seu Presidente.
Quanto mais longe levares os meus direitos
Mais depressa correrei
Chávez, Chávez, Chávez!
Não podes negar-me
Podes optar por virar a cara para o lado
Isto é uma ditadura! Chávez é o Presidente legítimo.
O povo o adora e irá defendê-lo!
Não importa porque há algo tão forte aqui dentro
Sei que vou conseguir
Apesar de estares me maltratando tanto
Pensou que tinha perdido o orgulho Não!
Há algo tão forte aqui dentro
Centenas de milhares cercaram o palácio, exigindo o regresso de Chávez.
Face a tanto poder popular, o Exército reconsiderou.
VOZ DE WILLIAM LARA PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL
98% das forças armadas do país reafirmaram o seu voto de lealdade
para com a Constituição e a República "Bolivariana" da Venezuela.
Instigada pela multidão,
a guarda presidencial, que se tinha escondido, reapoderou-se do palácio,
e os conspiradores fugiram.
Os rapazes, os polícias militares que estavam no palácio, começaram a agitar a bandeira.
Isso fez-nos sentir mais fortes, pois percebemos que não estávamos sozinhos.
Ficámos lá até vermos um helicóptero, que chegou ao Miraflores a meia-noite.
Sabíamos que Chávez vinha a bordo. Vê-lo chegar foi um momento glorioso.
48 horas depois de ter sido raptado, Chávez estava de volta ao poder.
Acho que o *** decisivo foi o golpe de Estado de 2002.
Fui feito prisioneiro. Levaram-me, e eu pensei que ia morrer.
Mas o povo venezuelano, os pobres sem armas, foram à luta.
Centenas de milhares foram para as ruas, rogar pela minha vida,
pedir para Chávez voltar.
Portanto, não me restava alternativa, principalmente depois disto,
a não ser dedicar o resto da minha vida à estas pessoas
e, principalmente, aos mais necessitados, aos mais pobres.
Enquanto os venezuelanos comuns festejavam a defesa da sua democracia,
alguns dos principais conspiradores fugiram para Miami
e, em dias, tornou-se óbvio que Washington tinha acompanhado o golpe sem sucesso.
A Administração Bush tinha corroborado as mentiras dos conspiradores.
Sabemos que a ação encorajada pelo Governo de Chávez provocou esta crise.
Relatório dos Serviços Secretos ao Mais Alto Nível
Como estes documentos da CIA demonstram,
esta estava perfeitamente avisada e sabia tudo sobre a conspiração.
..jovens oficiais radicais estão reunindo esforços para organizar um golpe contra Chávez...
..os conspiradores podem tentar explorar a desordem,
com base nas manifestações da oposição agendadas para o fim do mês...
Washington afirma ter avisado Chávez sobre o golpe de Estado.
O Governo venezuelano nega.
Não só Washington sabia o que estava acontecendo,
como estava apoiando e financiando indiretamente o golpe de Estado.
Documentos revelados recentemente mostram que a Administração Bush
canalizou milhões de dólares para a oposição venezuelana
nos meses anteriores ao golpe de Estado.
O dinheiro foi entregue pela principal agência de auxílio - USAID -
e uma organização intitulada National Endowment For Democracy.
Nos seis meses anteriores ao golpe de Estado de Abril de 2002...
AUTORA DE "O CÓDIGO DE CHÁVEZ"
..o Governo dos EUA investiu mais de 2 milhões no financiamento destas organizações
que sabia, pelo menos seis meses antes, que estava tentando depor o Governo.
Basicamente, está dizendo "post hoc ergo propter hoc".
SUB-SECRETÁRIO DE ESTADO DOS EUA 2003-2005
- Porque ... - Como disse?
- "Post hoc ergo propter hoc". - Os telespectadores não vão entender.
Porque...Lá por ter acontecido depois de termos apoiado estes grupos,
não quer dizer que tenha acontecido porque apoiámos estes grupos.
Claro!
- É um engano lógico. - Certo.
Seríamos muito abertos e transparentes sobre o tipo de apoio que demos
através do National Endowment For Democracy e de outras instituições.
Aliás, o National Endowment For Democracy
entregou dinheiro a grupos, cujos líderes ganharam cargos ministeriais
no efêmero regime ilegal.
Em Washington, um funcionário explicou
que era apenas "Parte dos planos de liberdade do Presidente Bush."
Quero ser muito explícito sobre isto,
porque há... Acho que é muito importante, no interesse da justiça,
perceber que os Estados Unidos não apoiaram aquele golpe de Estado.
O Presidente Bush prometeu livrar o mundo do Mal
e liderar a grande missão de construir sociedades livres em todos os continentes.
Compreender uma mentira tão épica é compreender a História:
a História escondida, a História reprimida,
a História que explica porque nós, no Ocidente, sabemos tanto sobre os crimes dos outros,
mas quase nada sobre os nossos.
A palavra que falta é império.
A existência de um império americano é raramente reconhecida,
ou é abafada por manifestações de xenofobia que festejam a guerra
e uma arrogância que diz que nenhum país tem o direito de seguir o seu caminho,
se este não coincidir com os interesses dos Estados Unidos da América.
Porque os impérios nada têm a ver com a liberdade.
São maldosos e resumem-se a conquistas, roubos, controle e segredos.
Desde 1945, os Estados Unidos da América tentaram derrubar 50 Governos,
muitos dos quais democracias.
No processo, 30 países foram atacados e bombardeados,
causando a perda de inúmeras vidas.
Desde que nasci, os seguintes países da América Latina
foram agredidos, direta e indiretamente, pelos Estados Unidos,
e os seus Governos foram substituídos por ditadores e outros líderes pró-Washington.
Um dos primeiros países a ser atacado foi a Guatemala,
um dos pequenos países da América Central conhecidos por "Repúblicas das bananas".
VIAGEM À TERRA DAS BANANAS
Esta é a vista aérea da cidade de Guatemala.
Quem vive na cidade veste-se como as pessoas que vivem nos nossos estados sulistas.
Há muitas igrejas, e as pessoas frequentam-nas regularmente.
Falam espanhol, é claro, pois a maioria é de ascendência espanhola.
Na verdade, a maioria do povo guatemalteco não é de ascendência espanhola.
Descendem do povo indígena maia e são muito pobres.
Na década de 50, 2% da população da Guatemala
controlava a riqueza natural em associação com as grandes empresas americanas,
como a United Fruit Company que dominava as plantações de banana.
Na direcção da United Fruit estava John Foster Dulles,
que, por acaso, era o Secretário de Estado americano.
Por acaso, o irmão dele, Alan, chefiava a CIA.
Ambos eram fundamentalistas cristãos
que consideravam qualquer oposição como obra do Comunismo e do Diabo.
Em 1950, este homem, Jacob Arbenz, tornou-se o primeiro líder guatemalteco
a ser democraticamente eleito pela maioria do povo,
que via nele a esperança da justiça social.
Era o Hugo Chávez da sua época.
Esta era a situação na Guatemala:
um Presidente democraticamente eleito em 1950, Jacob Arbenz,
HISTORIADOR
tentou instituir uma série de reformas do estilo do Novo Acordo,
em que o Estado tinha um papel mais relevante
tanto no desenvolvimento da economia como na redistribuição da riqueza.
A peça central era uma reforma agrária.
Arbenz estava longe de ser radical.
As suas políticas de reforma agrária eram modestas.
Mas Washington não as aceitou.
Na época, Howard Hunt trabalhava para a CIA de Alan Dulles.
Disseram: "As instâncias mais altas do nosso Governo tomaram a decisão...
AGENTE DA CIA - 1949-1970
.."de livrar a Guatemala do regime de Arbenz,
"e gostaríamos que participasse nisso.
"Será o responsável pela propaganda e pela ação política."
Na Guatemala, o que a CIA fez foi mobilizar todas as vertentes do poder americano.
Não só isolou a Guatemala militar e diplomaticamente,
mas usou as técnicas da psicologia social
numa campanha que durou quase um ano e gerou uma sensação de crise na Guatemala.
Queríamos levar a cabo uma campanha de terror
para aterrorizar Arbenz em particular, as suas tropas,
tal como os bombardeiros alemães
aterrorizaram as populações da Holanda, da Bélgica e da Polônia,
no início da Segunda Guerra Mundial.
GUATEMALA EXPULSA COMUNAS PARA ACABAR COM A REVOLTA!
E foi o que fizeram,
para os Estados Unidos poderem controlar a economia da Guatemala,
destruindo os sonhos do povo.
Espalhamos a confusão no interior
e, é claro que, naquela altura, pusemos aviões distribuindo panfletos
e fazendo bombardeamentos inofensivos.
Bombardeamentos inofensivos e a campanha de terror da CIA ceifaram milhares de vidas.
Arbenz, o democrata, então rotulado de comunista,
foi humilhado, despido em público e fotografado antes de ser obrigado a fugir para o exílio.
Richard Nixon, o Vice-Presidente dos EUA nessa época,
voou até lá para felicitar os novos ditadores.
A Guatemala vai entrar numa nova era
em que haverá prosperidade
bem como liberdade para o povo.
O General Ríos Montt seria um dos rostos da liberdade de Washington.
Durante o seu mandato presidencial, na década de 80,
milhares de pessoas foram assassinadas por esquadrões da morte,
na sua maioria homens, mulheres e crianças indígenas.
As armas e os helicópteros vinham dos EUA.
O Presidente Reagan voou até lá para apoiar calorosamente o General
que descreveu como um homem de grande integridade pessoal.
Na CIA, não nos importávamos com a democracia.
AGENTE DA CIA - 1957-1968
Era bom se um Governo fosse eleito e cooperasse conosco,
mas, se tal não acontecesse, a democracia não significava nada para nós,
tal como não significa hoje em dia.
A subjugação da Guatemala foi o "modelo" de Washington.
Quatro anos depois, Cuba, situada apenas a 145 km da Florida,
lançou o primeiro desafio direto,
pondo fim à humilhação de Cuba como colônia norte-americana,
um parque de diversões para os barões da droga e para a Máfia.
Agora, já perceberam que a Revolução cubana sabe lutar e ganhar batalhas.
Washington nunca perdoaria Fidel Castro.
Sob a égide do Governo, controlamos as...
DIRECTOR DA CIA - 1966-1973
..forças de intervenção que atacavam constantemente em Cuba.
Tentamos destruir centrais de energia,
tentamos arruinar as refinarias de açúcar,
tentamos fazer tudo durante este período.
Era uma questão política do Governo americano. Não era a CIA.
Os triunfos de Cuba nos cuidados de saúde e na educação são reconhecidos de todos.
No entanto, por não prestar vassalagem à maior potência mundial,
a revolução cubana pagou um preço muito alto:
uma guerra económica de 45 anos contra os Estados Unidos
e a perda de liberdades democráticas essenciais.
Como se atreve, a 145 km do meu país...
CONGRESSISTA AMERICANO, NOVA IORQUE
..a passar 45 anos com uma forma de Governo diferente?
Como se atreve a não permitir que as empresas americanas o subornem?
Como se atreve a manter essa arrogância de nunca se subjugar a nós?
Não sabe quem somos?
Não sabe quem são estas empresas?
Não sabe que a sua vida seria melhor se pudesse beber Coca-Cola todos os dias?
OS COMUNAS TÊM DE SER EXPULSOS!
O que justificou os ataques a Cuba e a outros países latino-americanos
foi a suposta "ameaça comunista".
MULHER FOGE DOS COMUNISTAS SALTANDO DO 3º ANDAR
Todos sabem que a bomba atômica é muito perigosa.
Como pode ser usada contra nós, temos de estar preparados para isso.
Primeiro, baixam-se e, depois, protegem-se.
E tentam proteger a nuca e o rosto o melhor possível.
Este tipo de propaganda justificava todas as invasões americanas,
todos os derrubes de Governo, todos os assassinatos,
todos os atos de terrorismo.
A verdadeira ameaça era uma paranóia orquestrada nos EUA
que se tornou um super culto chamado anticomunismo.
O verdadeiro objetivo do Governo norte-americano é o controle.
Acham que, se os EUA não controlassem os Governos da América Latina,
outro qualquer controlaria,
e o princípio do Governo pelo povo, para o povo e do povo
é simplesmente...é simplesmente ridículo.
Isto é Santiago, a capital do Chile.
Em 1973, o Estádio Nacional foi transformado em campo de concentração
quando um golpe de Estado militar, apoiado pelos EUA,
derrubou o Governo democraticamente eleito de Salvador Allende.
O líder do golpe de Estado foi um fascista: o General Augusto Pinochet,
que cercou os apoiantes de Allende e trouxe-os para aqui.
Um jovem estudante de Medicina, Roberto Navarrete, era um deles.
Qual era a serventia destes balneários, quando esteve aqui preso?
Eram usados como celas, onde prendiam 50 ou mais pessoas.
Como pode ver, não havia espaço para nos mexermos.
Todos estes quartos estavam repletos de pessoas que dormiam aqui,
sem cobertores, sem nada.
Algumas pessoas dormiam até aqui.
Havia muito pouco espaço.
Quando começaram a torturar a todos...
- Sim. - ..o que lhes fizeram?
As técnicas usadas eram os espancamentos,
atingindo-nos em zonas específicas, onde o sofrimento poderia ser muito doloroso,
com um bastão de borracha.
Era, principalmente, na zona genital e nas solas dos pés,
nos braços e em inúmeras zonas do corpo.
Mais de 2.000 pessoas foram aqui presas,
muitas das quais não voltaram a ser vistas.
Victor Jara era o maior cantor de baladas do Chile.
As canções dele enalteciam a democracia popular
do Governo de Salvador Allende.
Foi levado para o estádio, onde foi uma fonte de força para os companheiros de prisão,
cantando para eles, até os soldados o espancarem e lhe esmagarem as mãos.
No último poema, que conseguiu mandar do estádio às escondidas, escreveu:
"Que horror gera o rosto do fascismo
"Executam os seus planos com uma precisão cirúrgica
"Para eles, o sangue equivale a medalhas
"Como é difícil cantar
"Quando tenho de cantar o horror
"Em que o silêncio e os gritos
"São o fim da minha canção"
Passados dois dias, mataram-no.
Que idade tinha na época?
Tinha 18 anos.
- 18? - Sim.
O medo vivido naquela época
é algo que ficou bem gravado para o resto da sua vida?
Sim, mas o sentíamos como parte... do que estávamos tentando construir neste país.
O que estavam a tentar construir era uma democracia justa e igual
que retirasse o controle da economia das mãos dos Estados Unidos e de seus representantes.
Para o povo invisível da América Latina,
o Chile de Allende tornou-se uma inspiração.
Em Washington, o Pres. Nixon traçou um plano secreto para destruir a economia chilena.
"Vamos fazer sofrer a economia," disse Nixon.
Em Santiago, o General Pinochet, o homem da América,
mandou os seus bombardeiros de fabrico britânico atacarem o palácio presidencial.
11 de Setembro de 1973,
uma data marcada por infâmia e ironia, 28 anos depois.
A minha mulher e os meus filhos estavam em casa,
onde tinham uma visão privilegiada dos aviões que sobrevoavam...
EMBAIXADOR AMERICANO DO CHILE 1971-1973
..e, depois, mergulhavam e lançavam bombas para o Moneda.
No interior do palácio, Allende recusou-se a sair,
fiel à promessa de não entregar o Governo
que o povo do Chile tinha escolhido nas eleições.
Transmitiu esta última mensagem e, depois, suicidou-se com um tiro.
Trabalhadores, tenho fé no Chile e no seu destino.
Sigam em frente, cientes de que, mais cedo ou mais tarde,
voltarão a ser abertas as alamedas por onde os homens livres marcharão
para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile, viva o povo e viva os trabalhadores!
Com o General Pinochet no poder,
Washington voltou a negar que tinha destruído outra democracia.
Não temos qualquer contato com as pessoas que levaram a cabo o golpe militar...
CONSELHEIRO DE SEGURANÇA NACIONAL DOS EUA - 1969-1973
..portanto, o golpe de Estado que depôs Allende foi executado...
..sem a conduta... sem contato com os Estados Unidos.
Estes documentos secretos contam uma história muito diferente.
Em Outubro de 1970, a CIA contactou o seu agente no Chile:
"É nossa firme convicção que Allende deve ser deposto por um golpe de Estado."
Quando isso aconteceu, três anos depois, um oficial americano informou Washington:
"O golpe de Estado no Chile foi quase perfeito."
Fascismo é um termo que é, muitas vezes, usado inadequadamente,
mas você sentiu o verdadeiro fascismo...
Acho que sim.
Quando percebeu que estava... preso nas malhas do fascismo?
Quando é que se manifestou?
Acho que foi evidente desde o início.
Só a violência, a força bruta que usaram...
O desrespeito por qualquer tipo de dignidade humana.
O objetivo deles era realmente transformar-nos em coisas.
A meu ver, era para se protegerem, porque se fôssemos uma coisa para eles,
não teriam qualquer sentimento humano em relação a nós.
Desumanizaram-nos, desde o início.
Mais uma vez, a elite latino-americana estava encantada por ter sido salva pelo fascismo.
Um país tem de estar bem estruturado,
tem de ser bem governado, bem trabalhado, e verificar se todos fazem o seu trabalho,
porque se não fizerem, o país vai parar às mãos dos cães.
Este foi o único homem capaz de detê-los.
Não acredito que haja tortura neste país.
Veja lá se percebe uma coisa. Para quê torturar uma pessoa,
quando pode matá-la com um tiro?
CENTRO CLANDESTINO DE DETENÇÃO, TORTURA E EXTERMÍNIO ENTRE 73 E 79
Era aqui que torturavam e matavam as pessoas.
Villa Grimaldi já foi um palacete, nos subúrbios de Santiago.
Sob o poder de Pinochet, tornou-se um local de terror.
Hoje em dia, é um memorial às inúmeras vítimas.
Sara De Witt, então, ativista estudantil, foi uma das sobreviventes.
Em que data foi pressa? Lembra-se?
Sim. Fui detida no dia 3 de Abril de 1975, às sete horas...em ponto.
Então, a Junta estava no poder há cerca de 18 meses?
Sim.
Quando me apercebi,
alguém me apontou, o que imagino ser uma arma, às costas, e disse...
..e disse-me: "Não abra a boca nem tente fugir, senão, te matamos.
"Vem conosco."
Numa estranha torre de madeira como esta, em espaços do tamanho de uma casota de cão,
as pessoas eram torturadas até a morte.
Levaram-me para uma sala... Deram-me socos, bateram-me,
apertaram-me os mamilos, chamaram-me puta...
Mandaram-me despir e amarraram-me,
e, depois, começaram a dar-me choques elétricos.
Os choques elétricos eram dados sempre dentro da minha ***, nos seios,
e depois pelo resto do corpo, nas pernas, nos braços.
Faziam isso e depois paravam para me fazer perguntas.
Depois, apalpavam-me toda, gritavam comigo, agrediam-me...
A seguir, continuavam os choques elétricos.
UM ESPIÃO PARA TODAS AS ÉPOCAS
Duane Clarridge foi diretor da divisão da CIA na América Latina, no início da década de 80.
O Chile só existe graças a Pinochet.
Com um custo humano muito alto.
Que custo humano? Poupe-me!
Os milhares que desapareceram e foram assassinados.
Milhares? Conte-os.
Que milhares?
E não me venha com histórias das Comissões de Verdade.
Vi os nomes no cemitério de Santiago.
- Está a dizer que são falsos? - Não são milhares.
- Bem... - Não são milhares, meu caro.
São milhares, e cada nome foi confirmado por organizações dos direitos humanos.
Alguns são recordados aqui, no muro do memorial, na Villa Grimaldi.
- Tem algumas amigas aqui? - Tenho, sim.
Tenho amigas. Principalmente, colegas de turma.
Tenho... Está lá uma rapariga...Jacqueline Rigi.
E outra chamada Cecilia Larraín.
A Cecilia estava grávida de três meses, quando a prenderam.
Prenderam outra mulher, Elizabeth Recas, que estava grávida de sete meses.
Também desapareceu.
É insuportável pensar nisso, não é?
Não, porque...às vezes,
penso...no que estariam sentindo, quando estavam para morrer?
E porquê... E se elas...
Às vezes, penso demais nisso
e começo a sentir a dor, o que se sente quando se está prestes a morrer.
É tão forte que me sinto...
- Sinto-me assustada, na verdade. - Pois...
Porque gostaríamos de ter podido fazer alguma coisa por elas.
Tanto...isolamento. Uma pessoa deve sentir-se totalmente... Não sei. Não sei o que se sente.
- Sozinha. - Muito, muito sozinha.
Foi um período que quase todas as pessoas, atualmente,
consideram um período *** em que a CIA teve um papel preponderante.
Exatamente! Desempenhou um papel crucial na deposição do não-sei-quem.
O não-sei-quem era Salvador Allende.
- Está bem... - Foi eleito democraticamente.
Certo. Está bem...
É correto derrubar um Governo eleito democraticamente?
Depende dos interesses de segurança nacional.
Está negando que Pinochet causou muito sofrimento naquele país?
Não... Muito, não concordo.
Que ele cometeu crimes, é verdade.
- Mas valeu a pena? É o que está a dizer? - Sim.
- Esses crimes valeram a pena? - Sim.
Às vezes, infelizmente, as coisas têm de mudar de uma forma muito feia.
No fim dos anos 70, grande parte da América Latina era controlada por ditadores,
incluindo aqueles, como Pinochet, que eram claramente fascistas.
Todos eram apoiados direta e indiretamente pelos Estados Unidos.
Mandavam os militares para serem treinados, aqui, na Escola das Américas, na Geórgia.
Oficialmente, era descrita como um mero campo de Escuteiros
onde se ensinavam valores americanos, como o respeito pelos direitos humanos.
Na verdade, com estes manuais, aprendiam técnicas de interrogatório e de tortura.
O Major Joseph Blair lecionou na Escola das Américas, no início da década de 80.
Segundo a doutrina lecionada, para obter informações...
INSTRUTOR ESCOLA DAS AMÉRICAS - 1986-1989
..era possível usar a força, recorrer a prisões falsas,
ameaçar as famílias
e usar virtualmente qualquer método para conseguir o que se quer.
- Tortura? - E morte.
- Morte? - Sim.
Se houver uma pessoa indesejável, mata-se.
Se não conseguir obter as informações que quer,
se não conseguir calar essa pessoa ou impedir as suas ações,
mate-a,
e mate-a com um dos seus esquadrões da morte.
Eis um esquadrão da morte em ação em El Salvador.
Na verdade, é a Polícia Nacional,
sendo que muitos agentes foram formados na Escola das Américas.
Aqui, na escadaria da catedral de São Salvador,
abatem as pessoas presentes no funeral do Arcebispo Romero,
assassinado quando celebrava uma missa, a 23 de Março de 1980.
Foi este homem, Robert D'Aubuisson, que deu a ordem para matar o Arcebispo.
O Major D'Aubuisson era o maior segredo de Washington em El Salvador.
Foi treinado na Escola das Américas.
Segundo a Comissão de Verdade...
- Por favor! - ..e uma embrulhada...
Por favor, John! Se a conversa vai ser essa, está me fazendo perder tempo.
É tudo mentira!
Todas essas pessoas tinham planos.
É mentira que os militares salvadorenhos assassinavam dezenas de milhares...
Não. Aposto que não consegue contar mais de 200 nesses 10 ou 12 anos.
Conseguimos contar 200 só nesta aldeia.
Eram mulheres e crianças, na sua maioria,
que foram assassinadas sistematicamente num dia e numa noite, em Dezembro de 1981,
una aldeia de El Mozote.
Os assassinos pertenciam a um batalhão especial do Exército de El Salvador,
treinado pelos Estados Unidos.
Houve poucos sobreviventes.
Vi as mulheres, agarradas umas às outras,
chorarando e gritaando para não as matarem.
Lutei pelos meus filhos. Não queria largá-los.
Disse que morreria com eles, mas arrancaram-nos dos meus braços.
Ouvimo-los matando as crianças. Mataram-nas à noite.
Ouvíamo-las gritando pela mãe e pelo pai.
Foi buscar essas ideias a essas fábricas de propaganda, e eu não estou interessado...
Quais fábricas de propaganda?
Essa Comissão de Verdade e tudo mais... Não passam de fábricas de propaganda.
- Acha realmente... - Tenho a certeza!
Estão todos a enganar-nos, a mentir-nos... A Amnistia Internacional?
A Amnistia Internacional está metida nisso.
Durante a década de 80, os anos de Ronald Reagan na Casa Branca,
um rasto de carnificina e dor trespassou a América Central.
Relatei a guerra da América contra a Nicarágua,
que teve a ousadia de depor Somoza, um ditador apoiado por Washington.
A CIA atacou a Nicarágua com esquadrões da morte conhecidos por Contra.
Por que razão Washington atacou países tão pequenos?
Porque quanto mais fracos são, maior é a ameaça.
Pessoas capazes de se libertar apesar de todas as adversidades
inspirarão outras certamente.
Que direito tinha o senhor,
e refiro-me a vocè, a CIA, ao Governo dos EUA ou a qualquer outra potência estrangeira,
que direito têm de fazer o que fazem nos outros países?
Há interesses de segurança nacional.
Mas isso é um direito divino, não é?
Porque fazem-no a pessoas que não têm voto na maneira.
Ora! É puro azar.
Vamos proteger-nos e vamos continuar a fazê-lo,
porque acabamos por proteger o mundo inteiro,
e não se esqueça disso!
Certo... Não me esquecerei.
Interviremos quando virmos que os interesses de segurança nacional o justificam,
e, se não gostarem, paciência!
Acostumem-se, mundo!
Não vamos aturar disparates.
Se os nossos interesses estiverem ameaçados, agiremos.
Na Guatemala, a ONU descreveu a campanha apoiada por Washington,
contra o povo Maia, como genocídio.
Uma freira Católica Romana americana, a Irmã Dianna Ortiz,
viveu isso, em primeira mão, enquanto missionária.
Em 1989, depois de ter alertado para os maus tratos infligidos ao povo indígena,
foi raptada.
IRMÃ DIANNA ORTIZ
A... 2 de Novembro de 1989,
eu...
Pronto...
Fui...
..raptada e...
..levada num carro da Polícia,
de olhos vendados, para uma instalação militar na Cidade de Guatemala,
conhecida por Politécnica, que ainda existe.
Fui...
..levada para o subsolo e...
Até hoje, nunca me esqueci...
..quando entrei no edifício, na prisão clandestina...
..dos gritos das pessoas que estavam sendo torturadas.
Podemos parar?
Durante 24 horas, foi torturada e violada pelo grupo.
Durante a tortura, identificou o líder do grupo
como sendo um compatriota americano.
Saí de lá totalmente...
..diferente,
mas também com uma nova visão
e mais ciente do sofrimento, da desilusão,
da opressão, da falsidade do meu Governo.
Ouvi pessoas dizendo que o que aconteceu em Abu Ghraib foi um incidente isolado
e tenho de abanar a cabeça e perguntar: "Será que vivemos no mesmo planeta?"
"Não conhecem a nossa História?"
"Na escola, não se ensina História
"e o papel do Governo dos EUA nas violações dos direitos humanos?"
No fim dos anos 80, a política de Washington mudou.
Os ditadores, como Pinochet, são vistos como uma vergonha desnecessária.
Foi lançada uma forma moderna e inovadora de controlar as nações.
Bom dia e sejam bem-vindos.
É um prazer tê-los aqui para nos ajudarem a festejar
o lançamento de um programa com uma visão e um objetivo nobres.
O National Endowment For Democracy é, como já foi dito, mais do que bipartidário.
A criação deste programa
dirige-se ao coração da fé americana nos ideais democráticos e nas instituições.
Oferece esperança aos povos do munindo inteiro.
Como qualquer marca nova, tinha um nome cativante: democracia.
Foi claramente uma farsa, uma jogada de marketing e reviravolta.
Este tipo de democracia significava que, independentemente do voto,
as políticas seriam mais ou menos idênticas,
e a economia do país estaria em consonância com os Estados Unidos.
Washington seria o melhor amigo, senão...
Nos anos 90, estas democracias teóricas substituíram as ditaduras na América Latina,
e o Chile deu o exemplo.
Isto é o centro comercial de Santiago, no Chile.
Hoje em dia, á primeira vista, tudo parece normal, moderno, próspero.
Para a Administração Bush, o Chile é o modelo do sucesso econômico,
"uma experiência laboratorial", segundo a revista Business Week.
Grande parte dos setores foi privatizada.
Já há multimilionários, e os ricos estão cada vez mais ricos.
Pinochet salvou o país.
- Quem o diz? - Ele...
- Os Estados Unidos? - Não!
É o Banco Mundial que o diz, o Banco Inter-Americano...
Toda a gente diz isso.
Ele conseguiu fazer um milagre econômico no Chile.
Não estou dizendo que tivesse esperteza para fazê-lo,
mas teve esperteza para contratar as pessoas certas,
chilenos que estudaram na Universidade de Chicago
e que percebiam alguma coisa de Economia Real
A Economia Real foi defendida por Milton Friedman,
um economista de extrema direita, una Universidade de Chicago.
Friedman foi convidado a pôr em prática a sua "experiência laboratorial"
na vida económica do Chile.
As famílias das vítimas torturadas e desaparecidas eram testemunhas silenciosas.
Sem ironia, chamou sua experiência de "tratamento de choque".
Sentem-se, por favor.
Muito obrigado. É...
..uma honra para mim estar aqui hoje para homenagear um herói da liberdade:
Milton Friedman.
Usou a sua mente brilhante para pôr em prática uma visão moral.
Vimos as ideias de Milton Friedman em funcionamento no Chile,
onde um grupo de economistas - os Rapazes de Chicago - conseguiu controlar a inflação
e criou os alicerces para o sucesso econômico.
Este é o outro lado do milagre econômico.
Hoje em dia, o Chile é uma sociedade profundamente desigual.
Este bairro da lata fica a poucos minutos dos luxuosos hotéis de Santiago.
Há tantos desempregados. Há milhares de desempregados.
EX-PRISIONEIRA POLÍTICA
E quem trabalha não ganha o suficiente.
Como podem pagar a eletricidade? Como podem pagar a água?
Têm de comprar gás... É preciso pagar tudo.
Todos os dias, uma mãe pensa: "Como vou dar de comer aos meus filhos?"
Onde conseguirei o dinheiro?
Encontramos este casal, vivendo e a passaando no bairro da lata.
Não têm casa e têm um bebê com uma semana de vida.
Consegue descrever-nos como é viver nestas condições?
À noite, o frio é o pior para o bebé.
Há muitas pessoas viverendo assim no Chile?
Muitas, e em condições ainda piores. Não têm ajuda de ninguém.
Para onde vão?
Para a rua. Não é a primeira vez que dormimos na rua.
Lá fora, na Europa e nos EUA, dizem que a vida no Chile é abastada e confortável. É verdade?
É verdade para os ricos, não para nós.
Agora, o Chile é uma democracia...em teoria.
Um complexo sistema eleitoral divide os votos e desencoraja a reforma real.
É um produto do General Pinochet,
baseado numa Constituição também instituída por Pinochet.
O General pode ter morrido, mas o poder dos militares permanece.
É tudo muito moderno, a mídia está segura e muitos acham sensato ficar em silêncio,
como os túmulos dos compatriotas esquecidos.
É a democracia ideal de Washington.
A ditadura teve um grande sucesso no Chile, visto que estabeleceu
o modelo político, econômico e social que prevalece até hoje.
Basicamente, não se alterou a Constituição imposta em 1980.
Não pertencemos a uma democracia porque essa palavra tem sido tão mal usada.
Não se compreende.
Aqui, há uma perseguição contra os pobres, e não é só no Chile,
pois está acontecendo por toda a América Latina.
Acho que as pessoas cultas sabem que está prestes a atingir um ponto de ruptura.
Penso que as pessoas vão abrir os olhos e dizer: "Basta! Até quando?"
Eis a Bolívia,
outra experiência laboratorial.
A maioria da população deste país fantástico, mas fustigado, situado nos Andes,
também permaneceu "invisível" até há pouco tempo.
Os povos indígenas - Aymara e Quechua -
transportam as recordações de uma cultura, civilização e riqueza
muito anteriores à chegada dos Espanhóis, há 500 anos.
Recordam como um único monte de prata sustentava todo o Império espanhol,
enquanto eles empobreciam.
Este é o Congresso Nacional da Bolívia.
Até há pouco, os rostos que se viam aqui eram quase todos brancos,
descendentes de uma pequena elite espanhola que esgotou as riquezas da nação
e reduziu a maioria indígena á servidão.
Foi um padrão de controle, repetido por toda a América Latina.
Esse padrão acabou na Bolívia
com a ascensão de movimentos de justiça social nunca antes vistos
e cuja pátria democrática não é Westminster nem Washington,
nem qualquer outro "modelo",
mas as ruas, as mentes, os bairros, os campos.
Os Governos que desafiam este poder popular, esta verdadeira democracia,
fazem-no por sua conta e risco.
Esta é El Alto, a cidade mais alta do mundo e, talvez, a mais pobre.
Os ocupantes deste cemitério no topo do mundo são, em sua maioria, crianças.
Protegida, como dizem, pela montanha sagrada de Illimani,
El Alto tem vista para a capital boliviana: La Paz.
Juan Delfín, sacerdote e taxista, viveu aqui durante grande parte da sua vida.
Esta é a Villa Ingenio. É o cemitério da zona norte de El Alto.
Aqui, há uma triste amargura.
Os nossos irmãos, os nossos filhos e os nossos avós
estão mortos e enterrados aqui.
Até há uma família que se envenenou,
a família inteira, por falta de trabalho e de dinheiro.
Primeiro, o marido envenenou a mulher e os filhos e, depois, envenenou-se.
Já vimos alguns casos destes.
Quando vim á Bolívia pela primeira vez, nos anos 60, El Alto mal existia.
O milhão de pessoas que vive aqui são camponeses que deixaram as terras
e mineiros dispensados pelas políticas similares às impostas no Chile.
As infra-estruturas que não dessem lucro rapidamente eram privatizadas.
A mensagem era bem clara:
vender, despojar ou desfazer-se das coisas.
Desfizeram-se dos povos indígenas.
Interrogamo-nos porquê.
Se sou boliviano, nascido rico, porque ando a pedir?
Tínhamos mar, prata e ouro. Tínhamos tudo. Porque continuamos a sofrer?
No entanto, as pessoas daqui preservaram
a sua noção de identidade, de comunidade.
Em 2000, a população da segunda maior cidade da Bolívia, Cochabamba,
travou uma luta épica para reconquistar o recurso mais básico - a água -
a um consórcio estrangeiro, dominado pela empresa americana Bechtel,
e ganhou.
Três anos depois, em 2003,
os "senhores da energia" da Bolívia viriam a sofrer outro choque.
Este é Gonzalo Sánchez de Lozada.
Conhecido por Goni, foi criado em Washington.
Fala melhor inglês do que espanhol.
Aqui, é conhecido por El ***.
Via-o como um gordo, sentado numa cadeira de ouro.
Arrogante.
Talvez fosse arrogante por causa do poder que tinha, que era a sua riqueza.
Quando Goni foi eleito Presidente da Bolívia em 2003,
aprovou uma lei que permitia a venda ao desbarato dos recursos do país.
Quase tudo estava á venda,
incluindo a segunda maior reserva de gás da América Latina.
Sabemos que temos gás e que está a ser vendido aos poderosos EUA,
enquanto eu ainda uso lenha para cozinhar.
Foi por isso que começou a guerra.
Fizemos bloqueios, lutámos manifestámo-nos até obtermos resposta.
A população de El Alto lutou, bloqueando as estradas para La Paz.
Houve apelos para fazer bloqueios, para não deixar passar nem uma mosca.
Bloqueamos o trânsito, mas, gradualmente... Como se diz?
A situação foi se intensificando gradualmente.
A resposta de Goni foi a forma tradicional da América Latina.
Mandou avançar o Exército para esmagar os opositores.
Muitos morreram.
Muitos foram trazidos para a igreja de Juan Delfín.
As mesas estavam aqui. Aqui estavam os cadáveres.
Chegaram a tirar-lhes as balas com pregos.
Era triste ver aquilo.
A igreja estava cheia. Havia médicos por todo o lado. O cheiro da morte era intenso.
Os órfãos choravam e gritavam: "Papai! Papai! Papai!"
Dezenas de milhares de pessoas dirigiram-se para La Paz.
Tal como as pessoas dos bairros venezuelanos exigiram o regressão do seu Presidente,
os Bolivianos exigiam a retoma do seu país.
Se os ricos e poderosos da América Latina tinham um pesadelo,
era este.
De repente, soubemos que Goni ia demitir-se.
Com um a menos, sentimo-nos inspirados. Isso deu-nos força.
O objetivo era esse: obrigá-lo a se demitir.
Goni fugiu para os Estados Unidos
e vive, atualmente, num elegante subúrbio de Washington.
Em Outubro de 2004, o Congresso Boliviano ordenou a sua detenção,
acusando-o de massacres sangrentos.
George Bush disse: "Os Governos que acolhem terroristas
"são tão culpados como eles."
Este mural extraordinário foi pintado por Juan Delfín.
É um grito de liberdade de um continente inteiro.
Mataram-nos a todos,, mas nós defendemos o povo Aymara com o "pututo",
com a nossa voz, os nossos punhos e a bandeira.
Acenamos a Whipala contra os Estados Unidos.
Esta é a bandeira dos EUA. Estamos a lutar contra isto,
porque foram eles que nos puseram nesta situação.
O punho é muito importante.
É o que somos. Somos nós.
Em 2005, o povo da Bolívia deu um passo histórico.
Pela primeira vez na História, um indígena foi eleito Presidente com uma vitória clara.
Tal como Chávez na Venezuela,
Evo Morales propôs uma nova democracia e um novo começo.
Pedimos a todos que comecem a trabalhar.
Acabou-se a festa.
Acabou-se a lua-de-mel.
Agora é preciso trabalhar por uma Bolívia nova!
Não há dúvida de que está crescendo, de que está espalhando
por todo o continente latino-americano,
e pelas Caraíbas também, mas, principalmente, na América do Sul.
Se viajar pela América Latina,
de Buenos Aires a Brasília, a Montevideu, a La Paz,
sente-se um fervor em todo o lado. Há um fervor.
Na América Latina, há um grupo de líderes que propõem novos começos.
É claro que a História está repleta de heróis que propuseram novos começos.
A respeitabilidade do poder, dos seus jogos, negócios e saque é sempre aliciante.
Se estes novos líderes sucumbirem, a maior ameaça não virá de Washington,
mas das populações das encostas.
Nasci junto ao rio
Numa pequena tenda
E tal como o rio
Nunca parei correr desde então
Tem sido um longo
Um longo trajeto
Mas sei que a mudança virá
Virá sim
A vida tem sido muito dura
Mas tenho medo de morrer
Porque não sei o que há lá em cima
Para além do céu
Tem sido um longo
Um longo trajeto
Mas sei
Que a mudança virá
Virá sim
O futuro pertence aos meus filhos, aos nossos jovens.
Não é uma luta só de Chávez, é nossa.
O que Chávez conseguiu foi o reconhecimento desta luta.
Estamos nisto juntos e vamos continuar a lutar.
A luta do império não é com Chávez, é connosco.
Chegou a hora do grande despertar.
Acho que Victor Hugo... Vou citá-lo, porque sou um grande defensor dele:
"Não há nada tão poderoso no mundo como uma ideia cuja oportunidade chegou."
O império americano chegou ao fim,
e o mundo tem de ser governado pela lei, pela igualdade, pela justiça e pela fraternidade.
Muito obrigado, John. Quero voltar a vê-lo.
O que aconteceu aqui, no Estádio Nacional de Santiago, no Chile,
ocupa um lugar especial na luta pela liberdade e pela democracia
em toda a América Latina e no mundo.
O juramento é: nunca mais.
No entanto, voltou a acontecer em Guantanamo Bay
e em todos os outros locais secretos,
onde o poder imperialista, alheio às suas pretensões democráticas,
esconde e tortura os supostos inimigos.
As questões levantadas neste filme são urgentes.
A vida e os sonhos do povo do Chile,
tal como do povo da Venezuela,
do povo da Bolívia,
do povo da Nicarágua,
do povo do Vietname,
do Iraque, do Irão e da Palestina,
são dispensáveis e só têm direito a alguns segundos nos noticiários, se tiverem sorte?
A resposta é não, e quem vê o mundo
através dos olhos dos poderosos, deve ser avisado.
As pessoas estão a insurgir-se contra a tirania e o esquecimento
a que nós, no Ocidente, as confinamos.
De facto, a resistência delas é bem evidente, como este filme demonstrou.
Diria até que nunca parou e é invencível.