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Eu vou começar por perguntar algo muito profundo e importante.
O que você sente em relação ao queijo Gorgonzola?
Muitos de nós tem opiniões muito fortes para um lado ou para outro.
Eu quero que você pense em uma pessoa que não tem a mesma opinião sobre o queijo Gorgonzola.
Imagine se você ficaria feliz em ter essa pessoa
como vizinho,
como um amigo próximo
ou como um parceiro romântico
Mantenha esses sentimentos em mente.
Aqui está mais um assunto controverso:
aborto.
Deveria ser legal ou ilegal?
Pense na sua opinião, e agora
me diga se você ficaria feliz em ter alguém que não
tem a mesma opinião sobre o aborto
como vizinho,
como um amigo próximo ou como um parceiro romântico.
As questões que eu acabei de perguntar a vocês
foram adaptadas de uma pesquisa de Linda Skitka
na Universidade de Illinois.
A pesquisa dela mostrou que há algo especial sobre opiniões morais,
como a oposição ao aborto.
Em relação a opiniões não morais como a opinião sobre o queijo Gorgonzola.
Como seria de esperar,
discordar em assuntos morais
é muito mais danoso para as relações sociais
do que discordar em assuntos não morais.
Porque é que um amante de Gorgonzola está perfeitamente feliz
em fazer amizade, casar e ter filhos com alguém que odeia o Gorgonzola,
mas existem extremistas anti-aborto
que acham que justificável
matar outro ser humano
apenas porque ele discorda deles.
Nós temos que resolver isso
porque vivemos num mundo onde extremistas
alimentados pelas suas convicções morais
podem causar muitos estragos.
Nós podemos começar por perguntar como nós sabemos o que é certo e o que é errado?
Na verdade essa pergunta não faz sentido para muitos de nós,
porque as pessoas frequentemente vêem crenças morais
como se elas fossem fatos objetivos sobre o mundo.
Nós temos algumas evidências para isso
das pesquisas de Geoffrey Goodwin e parceiros
ele hoje está na Universidade da Pennsylvania.
Ele apresentou temas com uma série de afirmações nas seguintes categorias:
fatos, como "Boston está mais ao norte do que Los Angeles",
ética, como "Abrir fogo em uma rua cheia de pessoas é errado",
Normas, como "Vir de pijamas a uma palestra do TED é errado",
e gostos, como "Música clássica é melhor do que rock".
Para cada uma destas afirmações, o sujeito tinha que responder
sim ou não para a seguinte pergunta:
"A afirmação tem uma resposta objetiva correta?"
Eis o que eles descobriram: não surpreendentemente, as pessoas concordaram
mais fortemente que fatos tinham uma resposta correta enquanto os gostos não tinham.
Mas notem, as afirmações de ética
pareciam mais com fatos do que com gostos.
Nós vemos essa sobreposição entre fatos e valores no cérebro também.
Sam Harris e parceiros escanearam o cérebro das pessoas
enquanto elas avaliavam a veracidade
de afirmações fatuais, afirmações éticas
e afirmações religiosas.
Eles descobriram que uma região do cérebro chamada de córtex pré-frontal medial, mostrada aqui,
ficava mais ativa quando as pessoas acreditavam que a afirmação
era verdadeira em vez de falsa,
Mas o mais importante: essa região não diferencia
entre as diferentes categorias de crença.
Então crenças matemáticas como 2+2=4,
mostraram um padrão de atividade
similar às crenças éticas como
"É errado ter prazer com o sofrimento alheio."
O impressionante nisso é que nós achamos
que há respostas corretas para questões morais.
E aqui está o problema.
Se nós discordamos,
e os dois não podem estar certos,
Bem, certamente sou em quem está certo.
Meus fatos vencem os seus fatos.
Portanto, você deve ser burro ou irracional.
Esse tipo de linguagem é muito comum na política hoje em dia.
Mas há uma diferença importante e perigosa
entre discordar sobre fatos
e discordar sobre valores morais.
Porque se você acha que 1+1=3,
eu posso achar que você é burro ou um pouco estranho
mas se nós discordamos em um assunto moral,
além de achar que você é burro e irracional,
também acho que você é uma pessoa má,
talvez nem seja humano.
Valores morais são como fatos com esteroides.
Eles tem emoções muito fortes atreladas.
Infelizmente essas emoções frequentemente vem
com um motivo para ferir ou eliminar o outro lado.
E isso é um grande problema.
Porque enquanto nós aceitamos prontamente
que gostos e opiniões podem mudar.
Fatos são fatos.
Você tem os seus fatos e eu tenho os meus fatos.
E nós estamos tão apegados a essas realidades
que é absurdo esperar que um de nós
irá mudar.
Imagine tentar convencer alguém que é daltônico
de que estes dois círculos têm cores diferentes.
Não há nada que você possa dizer para convencer essa pessoa
a ver o mundo da forma como você o vê.
E o mesmo, infelizmente, parece ser verdade
para diferenças entre pontos de vista morais.
Valores parecem fatos.
E fatos são propriedades fixas da realidade.
Então o que fazer?
Eu queria entender como e porque
nós nos apegamos tão fortemente às nossas convicções morais.
Incluindo eu mesma.
Eu sou uma neurocientista, então naturalmente
comecei a olhar para os cérebros das pessoas.
E descobri que os nossos valores morais
são muito menos estáveis do que aparentam ser.
E se eu dissesse que uma pílula poderia mudar
o seu julgamento do que é certo e do que é errado?
E se eu dissesse que o seu senso de justiça
depende em parte do que você comeu no café da manhã?
Você provavelmente está pensando
que isso parece ficção científica. Não é?
Neurônios no cérebro usam substâncias químicas chamadas neurotransmissores para se comunicarem.
Aqui nós temos dois neurônios. O espaço entre eles é chamado de sinapse.
Para transmitir uma mensagem através da sinapse,
um neurônio deve liberar neurotransmissores na sinapse
onde eles se ligam a receptores do outro lado
e propagam a mensagem.
Nossos cérebros produzem e liberam essas substâncias
em resposta a várias situações.
Meus colegas e eu queríamos saber
se a manipulação dos neurotransmissores das pessoas
poderia mudar a forma como elas respondem a situações morais.
Em um estudo, nós apresentamos nossos temas
com uma série de dilemas morais como estes.
Há um bonde descontrolado na direção
de cinco trabalhadores no trilho
que irão morrer se você não fizer nada.
Entretanto, você pode
parar o bonde se empurrar um homem
que está carregando uma maleta pesada na direção dos trilhos.
Ele irá morrer, mas os outros cinco serão salvos.
A questão é: é moralmente aceitável
ferir esta pessoa para salvar as outras?
É claro que não há uma resposta objetivamente correta para essa pergunta,
mas há duas escolas de pensamento moral
que têm visões opostas.
A escola utilitarista, baseada nos trabalhos do filósofo David Hume,
julga o mérito das ações
baseada nos resultados que ela produz.
Então ações moralmente apropriadas são aquelas que geram um bem maior para um número maior.
Em contraste está a escola deontológica baseada nos trabalhos do filósofo Immanuel Kant,
que julga as ações em si.
Há ações certas e ações erradas e os resultados são irrelevantes.
No exemplo que eu descrevi,
os utilitaristas diriam que é correto
empurrar o homem para os trilhos
porque mais vidas seriam salvas,
enquanto os deontologistas diriam que é inadequado
porque ferir é fundamentalmente errado.
Nós pedimos a 30 pessoas
para julgar entre certo e errado em dilemas morais
como este que eu descrevi.
Nós queríamos saber se manipulação
de uma substância específica chamada serotonina
mudaria o julgamento das pessoas de certo e errado.
Usamos uma droga chamada inibidor de reabsorção seletivo de serotonina (SSRI)
similar ao antidepressivo Prozac,
essas drogas funcionam através do aumento
da ação da serotonina no cérebro.
Em uma sessão, os voluntários responderam,
fizeram julgamentos em dilemas morais
sob a influência do SSRI e
na outra sessão eles fizeram julgamentos morais
sob a influência de um placebo.
Eis o que descobrimos: com o placebo nossos voluntários disseram
que era apropriado ferir um para salvar muitos
em aproximadamente 40% dos casos apresentados a eles.
E quando demos o SSRI a eles,
eles ficaram significantemente menos propensos a dizer
que era aceitáver ferir um para salvar muitos.
Pare um segundo para pensar nesses resultados.
O debate entre utilitaristas e deontologistas
já dura centenas de anos.
E nós demos uma pílula às pessoas
e, sem nem mesmo saber,
eles deram respostas diferentes a essa questão
sobre ser correto ferir alguém para salvar outros.
A diferença entre Hume e Kant poderia
ser reduzida a algumas substâncias em seus cérebros?
Olhando mais seriamente,
quais são as implicações disso para outras questões éticas?
Levando essa ideia à frente, meus colegas e eu queríamos saber
se a mudança nos níveis de serotonina poderia influenciar a forma
que as pessoas respondem a um tratamento injusto.
Nós usamos um jogo da economia
chamado ultimato.
Há dois jogadores: o proponente e o respondente.
O proponente sugere uma forma de dividir
uma quantidade de dinheiro com o respondente.
E o respondente pode aceitar,
nesse caso os dois são pagos apropriadamente,
ou ele pode rejeitar,
neste caso nenhum dos jogadores recebe nada.
Muitos estudos mostraram que os respondentes
irão tipicamente rejeitar ofertas
que eles julguem ser injustas.
O que faz sentido. Muitos de nós
estamos dispostos a abrir mão de dinheiro para punir
alguém que tenha nos tratado injustamente.
A pergunta era: podemos mudar
a reação das pessoas à injustiça
ao modificar os seus níveis de serotonina.
Nós fizemos isso manipulando a dieta das pessoas.
Nós pegamos o ingrediente primário para a seretonina.
É chamado de triptofano, um aminoácido.
Precisamos repor constantemente o nosso estoque de triptofano
comendo alimentos ricos em proteína.
No laboratório podemos reduzir o nível de serotonina das pessoas
ao dar-lhes uma vitamina de proteína que não tem triptofano.
E o tratamento controle do placebo
nós demos uma vitamina de proteína que tem o mesmo gosto e sabor.
A única diferença é que ela contém
2,5g de triptofano.
Nós demos essas bebidas para os voluntários
e pedimos que eles jogassem o ultimato
no papel do respondente.
Nós medimos as taxas de rejeição para ofertas injustas, médias e justas.
Aqui estão os dados do placebo.
Como vocês podem ver, as pessoas rejeitaram muito as ofertas injustas
e raramente rejeitaram as ofertas justas de meio a meio,
mas quando diminuímos os seus níveis de serotonina,
as taxas de rejeição aumentaram para as ofertas injustas.
Novamente pare um segundo para considerar estes resultados.
A única diferença entre o placebo e a dose real
são 2,5 g de triptofano na dieta.
Só isso. Os voluntários não sentiram diferença
entre os dois tratamentos,
e não notaram diferenças nos seus comportamentos.
E ainda a diferença sutil na dieta
foi capaz de mudar a quantidade de dinheiro
de que as pessoas abririam mão
para punir alguém que os havia tratado injustamente.
Nestes experimentos manipulamos artificialmente
os níveis de serotonina das pessoas,
mas, no mundo real,
os níveis de serotonina flutuam naturalmente
em resposta a mudanças na dieta e níveis de stress.
O que isso quer dizer é que os nossos valores morais
provavelmente mudam um pouco, o tempo todo,
mesmo sem nós sabermos.
E nós temos evidências que isto esteja acontecendo
no mundo real.
Shai Danziger e parceiros analisaram decisões de juizes
sobre concessão de condicional aos prisioneiros.
No eixo vertical nós temos a proporção
de casos onde eles concederam a condicional
e embaixo nós temos a hora do dia,
a ordem em que os casos foram julgados.
Essas linhas tracejadas verticais
são as refeições do juiz.
Acontece que se você irá pedir condicional,
levando tudo em conta,
você tem mais chance de conseguir a condicional
se a sua audiência ocorrer depois que o juiz comeu algo.
Esse é um efeito enorme e persiste mesmo após o controle de outros fatores importantes,
como a infração ser repetitiva ou não,
ou se o prisioneiro está em um programa de reabilitação.
Espero que isso deixe vocês um pouco preocupados.
Mais seriamente,
eu espero ter convencido vocês
de que os nossos valores morais são menos estáveis
do que parecem ser.
Isso é importante pois
simplesmente acreditar
que valores morais são mutáveis
em vez de fixos
pode ter efeitos dramáticos na nossa vontade
de se comprometer e cooperar uns com os outros.
O conflito entre Israel e Palestina é um dos maiores
conflitos ideológicos do nosso tempo.
Já resultou em milhares de mortes dos dois lados,
e um enorme custo na qualidade de vida.
Eran Halperin, Carol Dweck e parceiros relataram recentemente
que a crença de que grupos tem uma natureza mutável em vez de fixa
pode influenciar a atitude de Israelenses e Palestinos entre si
e a vontade de se comprometer com a paz.
No seu experimento, eles designaram aleatoriamente
israelenses e palestinos para ler um entre dois artigos.
Um artigo sugeria que grupos agressivos tem uma natureza fixa
e o outro sugeria que os grupos agressivos tem uma natureza mutável.
Aqueles que leram o artigo sobre grupos mutáveis
estavam mais dispostos a encontrar o outro lado e ouvir o seu ponto de vista
e mais dispostos a negociar e a se comprometer
em assuntos como o status de Jerusalém
e assentamentos em West Bank.
Isso significa que
se nós conseguirmos aceitar a ideia
de que valores morais não são fixos, mas podem mudar,
estaremos mais propensos a ouvir uns aos outros.
Aqui vai uma ideia louca:
se pílulas podem mudar nossos valores morais,
o que aconteceria se os negociadores tomassem alguns comprimidos
antes de irem para a mesa?
Essa intervenção pode tornar mais fácil
para os oponentes verem o lado oposto.
É claro que temos um longo caminho a percorrer
antes de compreender completamente qual neurotransmissor
muda qual crença ética.
Mas acho que é plausível que um dia nós tenhamos o conhecimento
para identificar sistemas cerebrais comandando as preferências
por princípios éticos conflitantes.
Enquanto nós acreditarmos
que valores morais são inabaláveis,
nós vamos continuar a investir recursos
em lutar uns com os outros
em vez de buscar um meio termo.
Em vez disso, não podemos cultivar
um ceticismo saudável sobre o nosso senso de certo e errado?
Porque uma vez que nós aceitarmos
que nossos valores podem mudar
por fatores além do nosso conhecimento e controle,
talvez nós fiquemos um pouco menos apegados a eles.
E quanto mais cedo nós nos livrarmos desse apego
é melhor. Porque nós temos problemas assustadores
ameaçando a nossa sobrevivência coletiva.
Mas não os estamos resolvendo porque
estamos tão ocupados brigando entre nós.
Eu espero que nós percebamos que
estamos presos nesse oceano de ódio e medo
e isso está nos cegando para a nossa humanidade comum
e as coisas formidáveis que nós podemos alcançar
se colocarmos as nossas diferenças de lado e nossas cabeças e corações juntos.
É hora de acordar. Obrigada.
(Aplausos)