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O último número da GQ tem algumas fotos altamente sexualizadas de alguns membros do elenco do Glee.
Concretamente, as caucasianas heterosexuais.
Eu diria que eles criaram uma nova controvérsia mas na verdade é o velho argumento sobre
se são ou não aceitáveis imagens de mulheres sexualizadas.
A razão pela qual esta sessão fotográfica é diferente das milhares de fotos de mulheres quase nuas
que cobrem as páginas das revistas para homens é que esta tanto pode ser considerada de pornografia
como de pedofilia. Francamente, sinto-me mal que tenha que haver, sequer, um debate sobre se estas imagens
são perturbadoras ou não. O Conselho de Pais da Televisão publicou uma declaração contra a
sessão fotográfica dizendo "É perturbador que a GQ, que é explicitamente escrita para homens adultos, esteja a sexualizar
os actores que interpretam estudantes do ensino secundário na série 'Glee' desta forma. Isto está perto de ser pedofilia."
Como resposta, a GQ publicou esta declaração, "O Conselho de Pais da Televisão não deve andar a ver
televisão ultimamente e devia aprender a separar a realidade da fantasia. Como acontece frequentemente em
Hollywood, estas "crianças" andam na casa dos 20 anos, o Cory Montieth tem quase 30! Penso que eles
têm idade suficiente para fazerem o que quiserem".
Primeiro GQ, não importa a idade dos actores porque eles são conhecidos é pela representação
de estudantes do ensino secundário numa série de televisão muito popular.
Esta sessão fotográfica está a representar especificamente personagens de ficção num ambiente escolar.
Esta sessão fotográfica não é diferente das inúmeras fotos pornográficas que infantilizam
mulheres adultas e tornam em fetiches raparigas novas.
Quantas vezes não vemos nos meios de comunicação mulheres vestidas de raparigas com chupas
e com roupas de estudante católica só para que homens heterossexuais possam viver as suas fantasias perturbadoras
de dominadores a corromper inocências.
A GQ não engana ninguém, eles foram muito claros na propaganda e qual
era a audiência que pretendiam e o facto de que há pessoas a defendê-los só mostra
o quão dessensibilizados já estamos como uma sociedade para a generalização da sexualização
de raparigas novas. É importante lembrar que a GQ é um negócio
cujo único desejo é lucrar a vender revistas e mais importante que isso,
a vender os espaços publicitários dentro das revistas.
Eles sabem que imagens apelam à sua audiência masculina, eles sabem que isso vai causar
controvérsia e não querem saber nem assumem qualquer responsabilidade por promover e
encorajar imagens de raparigas novas completamente sexualizadas e não querem saber do enorme
impacto social que isso tem. Em segundo lugar, que disparate é este sobre a "realidade vs fantasia"?
Isso é mesmo um esticão GQ, é que estas a falar de uma série de televisão sobre estudantes do ensino secundário que milhões
de pessoas vêem todas as semanas e tu pegaste naquelas personagens e tornaste-as numa forma de fantasia pornografica
masculina. Isto não é sobre um miudo de 8 anos pegar na revista e ver as fotos. Isto é um assunto de saúde
pública sobre a maneira como as mulheres são constantemente sexualizadas nos meios de comunicação.
Com a ajuda dos media, rapazes e homens estão a ser treinados para ver e expectar certos
comportamentos das mulheres como a vontade de se submeterem aos seus desejos sexuais a qualquer momento ou
em qualquer lugar e o direito de terem acesso directo e completo ao corpo das mulheres.
A omnipresença deste tipo de imagens afecta as mulheres e o seu sentido
de auto-respeito mas também afecta os rapazes e os homens porque estes estão a ser ensinados a não ter qualquer sentido
de integridade *** ou empatia, e que o corpo de uma mulher é apenas algo para ser usado sexualmente
e de que as mulheres não são seres humanos com direitos.
Quantas menos escolas estiverem a ensinar Educação ***, maior será o papel e a responsabilidade dos media
como uma ferramenta que ajuda a moldar identidades e que pode prejudicar os dois sexos na sua capacidade de amar
e de ter relações sexuais saudáveis no futuro.
Não é suficiente falar com mulheres e raparigas uma por uma, este assunto tem que ser tratado de forma generalizada
como um problema que afecta tanto homens como mulheres. A chave para abordar este problema é
a separação da Sexualização e da Sexualidade. A Sexualização transforma pessoas em objectos
e ensina às mulheres que o seu único valor provém da sua vertente ***.
A Sexualidade é a capacidade de ter e expressar desejo *** e emoções e isso devia ser
aproveitado, encorajado e explorado de todas as maneiras saudáveis e positivas.
Muitas vezes é o direito religioso de ser anti-tudo que critica e dita as regras de como nós
falamos sobre o que é ou não aceitável nos media. Os progressistas e feministas precisam
de mudar activamente a mensagem para que esta seja sobre a igualdade das mulheres como um
ser humando realizado e completo e não sobre os ensinamentos patriarcais de um velho livro religioso.
Muitas pessoas não criticam as imagens sexualizadas das mulheres nos media porque
têm receio de serem atacadas com o termo sem sentido
e ambíguo de "anti-sexo". É um termo que foi criado durante
o debate feminista sobre a pornografia nos anos 80 para criar a falsa dicotomia de que as feministas que eram contra
a pornografia eram na verdade contra sexo também.
Não sou necessariamente contra videos eróticos e sexuais ou contra imagens de pessoas a terem relações sexuais saudáveis
nas suas vidas mas sou contra a objectivização patriarcal e a sexualização
das mulheres. Por isso, da próxima vez que virem imagens de mulheres quase nuas em filmes ou em revistas
ou até na publicidade, pergunta a ti mesmo o que é que estás a ver. Se é o ser humano completo e saudável
que está a ser representado? Ou uma mulher que é nada mais do que um objecto ***?