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No momento estou interessada nas questões de representação de mulheres na mídia tanto na mídia oral quanto na mídia escrita.
Há muitos anos eu trabalho com a questão da representação da mulher
em discursos públicos e em discursos institucionais.
O fato de termos mulheres assumindo cargos, por exemplo, a Dilma como presidente do país
não quer dizer que os problemas das mulheres estão resolvidos.
Eu conheci os estudos de gênero já bem tardiamente na minha carreira,
apesar de eu ter sido uma das primeiras pessoas a falarem das questões de gênero aqui na UFSC na década de 80,
eu estava fazendo meu doutorado na Inglaterra, tive problemas sérios com meu orientador na Inglaterra
e então tive outra orientadora, uma feminista fabulosa que me introduziu aos estudos de gênero
desde então nunca mais parei de fazer gênero.
Eu tive duas feministas fabulosas na minha vida
a primeira foi uma professora de Universidade de Birmingham chamada Dirdhri Button ,
grande feminista, grande escritora, grande linguista.
Quando eu voltei à Florianópolis, minha grande colega, Suzana Funck, que já militava na área da literatura
e também me convenceu mais ainda a percorrer esta trajetória.
Desde então estas duas mulheres foram essenciais na minha vida como feminista.
Eu trabalho com linguagem, como se na verdade quantifica o mundo
como se constrói as identidades e as relações entre as pessoas
tudo isso é feito através da maneira que nos comunicamos
portanto, através da linguagem.
E estas questões, se olharmos o que se diz, o que se fala
são totalmente ignoradas nas escolas de nível secundário e primário no Brasil.
Por exemplo, eu acabei de falar em professores e professoras
no Brasil se fala de homens o tempo inteiro, o discurso da mídia e dos políticos exclui as mulheres.
Por que vadiar quando é no masculino
ficar de bobeira ficar sem fazer nada
e quando é vadia, quando vem pro feminino, vem com conteúdo todo pejorativo?
Então minha batalha já há vinte anos é a de incluir mulheres em textos
o código linguístico brasileiro
exclui as mulheres por que a nossa gramatica da prioridade ao gênero masculino
mas nós podemos sempre incluir mulheres em nossos textos
nós podemos nos dirigir às mulheres como mulheres e não como homens.
Numa sala de aula onde existe um homem e quarenta mulheres
professores e professoras dirigem-se aos alunos como ‘’alunos’’ .
A minha batalha é que temos que dizer alunos e alunas.
O protesto inusitado começou em Toronto no Canadá
depois que um policial recomendou que as estudantes de uma universidade
deveriam evitar se vestir como vagabundas para não serem vítimas de abuso ***.
Revoltadas, cerca de três mil mulheres vestidas de forma provocativa ou comportada
saíram às ruas para chamar atenção e protestar contra os costumes e responsabilizar as vitimas de estupro.
A manifestação canadense foi o bastante para as mulheres de todas as partes do mundo
também se mobilizarem pela luta contra o machismo.
A caminhada brasileira foi mais recatada comparada com as estrangeiras,
mas não faltaram cartazes reivindicando tolerância e igualdade entre os gêneros
mas alertar para o machismo presente na sociedade como um todo
até mesmo entre as mulheres.
além do Canadá e do Brasil, a mesma manifestação já ocorreu na Austrália, Estados Unidos, Holanda, Gran Bretanha e Nova Zelândia.
O feminismo é um grande movimento que começou na década de 60
principalmente no mundo anglo saxão
e as feministas da década de 60
estavam interessadas, estamos interessadas até hoje
em desconstruir relações discriminatórias de gênero.
Eu sou historiadora.
O que é feminino e o que é masculino pra quem como eu trabalha com historia é tão complicado...
Eu assumo, eu sou feminista, mas sabe que tem gente que diz assim
Ah não! Eu não sou feminista, eu sou feminina.
Aí eu gosto sempre de perguntar: o que é ser feminina?
Os feminismos , que são vários hoje em dia, existem vários tipos de feminismos
são praticas sociais, são movimentos e são também estudos pesquisas que tentam desvendar quais os processos
pelos quais homens e mulheres são excluídos, excluídas na nossa sociedade.
Vocês sabiam que no século 16 os homens usavam blush e pintavam o rosto?
Isso fazia parte da distinção masculina.
O que é ser masculino o que é ser feminino é uma coisa datada.
Eu sou de uma geração em que meninos que vestiam
roupas, camisa vermelha, por exemplo, não eram considerados muito masculinos.
E eu sou também de uma época que mulheres não usavam calças.
E já houve uma época no inicio do século em que as mulheres eram presas por usarem calças compridas.
Os feminismos são movimentos políticos que tentam atingir algum tipo de consciência social e algum tipo de igualdade social.
O que é ser feminino, o que é ser masculino, a história tem diferentes marcações em diferentes datas para explicar isso.
e conforme a época vai ter um significado ou outro.
Não é uma coisa naturalmente dada
é algo como eu disse historicamente datado, isso na nossa civilização ocidental
agora se a gente vai para outras culturas embaralhou de vez.
Ouve-se muito falar na questão de guerrilha da linguagem ou batalha da linguagem.
O nome vadias não é atoa, esse movimento começou há dois anos
lá no Canadá e surgiu a marcha como protesto porque estavam tendo muitos estupros dentro da universidade de Toronto
e o policial falou que para as mulheres não serem estupradas era para elas não vestirem-se como vadias.
Lá a palavra é puta até, aqui veio com outro significado.
É legal esse nome ‘’vadias’’ por que vem pra chocar mesmo.
Pela palavra só já se causa discussão, né.
É contraditório que a sociedade também pense que isto é feio, sabe?
Mulher apanhar não é feio, entendeu?
Feio é um palavrão ou uma mulher mostrar os seios na rua, que é corpo, o problema é que ele é visto com outros olhos.
A linguagem é o sistema semiótico portanto o sistema de significado mais usado por todo ser humano.
A guerrilha da linguagem seria aquela maneira de querer se impor
na verdade através de relações de poder
por que tudo na sociedade é feito através de relações de poder.
Então quando se fala em guerrilha da linguagem
talvez esteja-se querendo dizer que nós vamos lutar
e através desta luta nós vamos quem sabe mudar o mundo.
Mas não é bem assim, é através da conscientização e da educação que se toma consciência dos processos semióticos e através desta luta nós vamos quem sabe mudar o mundo.
Mas não é bem assim, é através da conscientização e da educação que se toma consciência dos processos semióticos
que podem talvez favorecer as minorias, mulheres, homens, crianças
todo tipo de agrupamento social que se sinta marginalizado ou descriminado.
Existe todo um movimento que se chama correção politica
e esse foi o movimento que foi apropriado por pessoas de direita
para exatamente combater o que as feministas da década de 70 estavam apontando:
que existe desigualdade e que o código linguístico é um veio pelo qual as desigualdades são realizadas na sociedade.
Então a correção politica é um movimento que foi apropriado de uma maneira incorreta.
Há vários exemplos da questão de como o movimento da correção politica foi apropriada de uma maneira errada.
As linguistas da década de 70 estavam apontando exatamente
ao que me referi antes: que através do código linguístico pode-se excluir pessoas.
No momento em que eu digo ‘’o homem é o principal ser da humanidade’’
eu estou excluindo, pela palavra, linguisticamente, as mulheres, que fazem parte da segunda parte dos seres humanos.
Então o que estas primeiras linguistas estavam apontando
é que teríamos que fazer uma revisão de como os discursos excluiam minorias.
E houve o que hoje em dia se chama até de uma geografia linguística para mudar o código.
Muita coisa aconteceu, por exemplo, na Inglaterra não se fala mais de ‘’bombeiro’’
em inglês é fireman porque ''man'' quer dizer homem.
Então se fala agora em fireworker porque worker é uma palavra que é neutra gramaticamente.
No Brasil, infelizmente, isso ainda não aconteceu.
Estamos batalhando para mudar o código linguístico.
Então seria a mudança do código linguístico nessas questões de exclusão.
O que o movimento contra este tipo de tomada - política, na verdadade - se apropriou
foi pela ironia e pela sátira de querer mudar o código linguístico mas de uma maneira muito ruim.
Então não se fala mais de anão se fala de uma pessoa que tem algum tipo de deficiência
então se atribuem palavras que são absolutamente inaceitáveis na sociedade.
Então eu acho que é mais ou menos por aí, a má interpretação de um movimento de inclusão para na verdade excluir mais ainda.
No brasil principalmente existe uma completa ignorância das questões de gênero nas escolas principalmente primaria e secundaria.
Na universidade, é claro, os estudos de gênero estão muito avançados.
Mas na escolas secundárias e primárias existe uma ausência total.
A importância do conhecimento das questões de gênero para professores e professoras é imensa.
Na verdade eu apregoo que estudos da linguagem deveriam estar presentes do primeiro ano da escola primaria
até o ultimo ano da universidade em todas as áreas do conhecimento.
E isso, é claro, infelizmente não acontece.
Porque é através da linguagem que nós nos constituímos como seres, como identidades
e há muito pouca conscientização da importância de como nós falamos na sociedade.
Então é de extrema importância que a escola reconheça essa importância de se saber o nosso código.
Sabemos muito pouco do nosso código.
A escola, principalmente a escola primaria, que ensina sobre o código, que ensina passado, presente, futuro, adverbio
mas não ensina crianças a usarem o código. Então isso é uma diferença fundamental.
É sem duvida pelo código linguístico que desigualdades sociais são perpetradas na nosso sociedade.
Lógico, por outras praticas também, mas é através do código linguístico que é tudo feito
através dos discursos a todos os níveis que exclusão é realmente realizada na nossa sociedade, sem duvida nenhuma.
Eu gostaria de dizer o que significamos quando produzimos interação humana.
As escolhas semióticas produzem muitas divisões já desde a escola primaria.
Eu vou dar um exemplo: o material didático de criancinhas entre seis sete anos é dividido por cor.
Não só o material didático:
O ser humano quando nasce na maternidade as mamães tem: se é menino, alguma coisa na cor azul; se é menina,é a cor rosa.
Esta é uma escolha semiótica porque a cor é signo, é um recurso semiótico
que nós usamos para significar.
Então na escola o livro didático é cheio, absolutamente cheio de escolhas inapropriadas.
Como as ilustrações são feitas?
Por exemplo: quais são as cores que os ilustradores e as ilustradoras usam para significar gênero?
Para significar sexualidade? Para significar posições de gênero na sociedade.
Por que a cor de rosa? Por que o azul?
Por que os homens são sempre mais altos do que as mulheres?
Por que os homens leem jornal e as mulheres varem as casas nos livros didáticos, por exemplo?
Então isso é um aspecto que para os professores e professoras são essenciais.
Aspectos de como significados são realizados pelas escolhas visuais pelas escolhas linguísticas que se ensina, que se passa adiante.
A criança pequena aprende desde o principio que o mundo é dividido
o azul é dos meninos, o cor de rosa é das meninas.
E isso deveria ser, hoje em dia, nós estamos no século 21, isso já deveria ter sido eliminado na escola consciente, inteligente e progressista.