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"Ninguém deve realizar trabalho que possa ser feito por máquinas"
Roberto Unger. Filósofo, teórico social e político brasileiro.
Seus trabalhos apresentam uma visão abrangente da humanidade,
e um caminho para cada indivíduo ter uma vida plena.
e um teórico social e legal.
Ele ministra diversos cursos de graduação
incluindo Governo 1092: Alternativas Progressistas.
Seu trabalho contempla diversas disciplinas e enfatiza...
a busca por alternativas para pensar a sociedade e a natureza humana.
Por favor, demos as boas-vindas ao professor Roberto Unger.
Ninguém deve realizar trabalho que pode ser feito por uma máquina.
Tudo que aprendemos como repetir, podemos expressar...
em uma fórmula, uma regra, um algoritmo.
E tudo que podemos expressar em uma regra...
podemos transformar em contração física em uma máquina.
A razão da máquina deveria ser fazer por nós
o que já aprendemos a repetir,
de modo que possamos preservar nosso maior recurso, o tempo,
que ainda não aprendemos a repetir.
Em formas de organização econômica ao longo da história,
pessoas foram forçadas a agir como se fossem máquinas.
Desse modo, o verdadeiro potencial da máquina,
de libertação do homem, é disperdiçado.
Nada é mais poderoso que essa associação entre pessoa e máquina.
A pessoa, sempre um passo à frente da máquina,
no desconhecido, o que ainda não é repetível.
Mas isso é realista?
Agora começa a surgir, por todo o mundo,
um novo modo de produção.
É caracterizado não apenas pela acumulação
de capital, tecnologia e conhecimento,
mas também por um conjunto de práticas experimentais avançadas.
Ele atenua o contraste entre supervisão e execução,
de forma que o plano de produção é revisado durante a implementação.
Ele relativiza o papel do trabalho especializado,
mistura cooperação e competição nos mesmos domínios.
Transforma a atividade produtiva...
em uma prática de inovação e revolução permanentes,
e prepara terreno para essa relação superior homem-máquina.
Mas há duas objeções a esse projeto.
A primeira é que isso destruiria empregos.
Deixaria boa parte da humanidade sem emprego.
A verdade é que, em princípio, enquanto destruiria alguns empregos,
poderia criar muitos outros.
Se, no agregado, destroem-se mais empregos que se criam,
depende da forma de organização econômica.
A situação em que mais empregos são destruídos é um caso especial.
Quais são algumas características do outro caso?
Uma característica...
é que a economia de mercado não se restrinja a uma única versão de si mesma.
Que possamos experimentar modos alternativos de organizar...
iniciativa descentralizada e reconciliá-la com economias de escala.
De modo que regimes alternativos de propriedade privada e social
coexistiriam experimentalmente, na mesma economia de mercado.
Outra característica desse caso especial superior
é que trabalho assalariado dependente economicamente
não seria mais a forma predominante de trabalho livre.
No século 19, liberais e socialistas,
incluindo pessoas como Abraham Lincoln,
consideraram o trabalho assalariado
como uma forma comprometida e transitória de trabalho livre,
contaminada por algumas características da escravidão e da servidão.
A relação superior entre homem e máquina só deve florecer
quando o trabalho assalariado perde terreno gradualmente
para as formas superiores de trabalho livre,
que são o auto-emprego e a cooperação.
A segunda objeção a este projeto...
é que a maioria da humanidade não foi formada.
Não foi educada para ter esse tipo de relação com a máquina.
E, de fato, este projeto requer uma revolução na educação.
Não é suficiente que a educação nos faça dominar...
capacidades ***íticas para resolver problemas.
É necessário que privilegie a cooperação no ensino e aprendizado,
sobre a combinação de individualismo e autoritarismo,
que ainda caracteriza a sala de aula.
E, acima de tudo, é necessário que a educação seja dialética,
ou seja, que cada assunto seja ensinado...
por pelo menos dois pontos de vista contrastantes.
Então as pessoas serão formadas de modo que toda sua atividade...
possa ser dedicada ao que ainda não é repetível.
Fundamentando este projeto...
está uma concepção sobre a mente e um ideal de existência.
A concepção da mente.
A mente é tanto uma máquina quanto uma anti-máquina.
Em um sentido, a mente é como uma máquina.
É modular e previsível.
É composta de peças especializadas com papéis fixos.
Em outro sentido, porém, a mente é uma anti-máquina.
Não é modular, não é previsível.
Ela tem a capacidade de combinar tudo com todo o resto,
o que chamamos de infinidade recursiva.
E ela aprecia o poder de alcançar um insight
transgredindo seus próprios pressupostos,
e desafiando seus próprios métodos.
Ela tem o poder que o poeta descreveu como aptidão negativa.
Nesse sentido, a mente é o que chamamos de "imaginação".
A relação homem-máquina que eu descrevi
é um modo pelo qual podemos transformar nossa atividade prática
em uma personificação tangível da imaginação.
O ideal da existência.
À medida que crescemos, uma concha de compromissos,
de renúncias silenciosas e desprezo auto-infligido
começa a formar-se ao redor de cada um de nós.
Uma múmia em que falecemos muitas mortes.
Para termos uma vida plena, nosso bem supremo...
Temos que escapar dessa múmia.
Até fazermos isso, nós projetamos o bem
em um histórico ou futuro providencial que não conseguimos alcançar.
"Hás de ser rei mais tarde", chora a bruxa para Macbeth.
"Mais tarde" é nunca. O importante é agora.
Quando ninguém tem que fazer o que pode realizar uma máquina,
nós estaremos mais próximos do que todos deveriamos desejar...
que é morrer uma só vez.