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Quando eu era jovem,
eu pensava que minha liberdade e minha independência
eram as duas coisas mais importantes em minha vida.
E, de fato, eu pensava que só teria felicidade
se eu controlasse meu destino
de uma forma independente
e livre das influências de outras pessoas.
E então comecei a estudar sociologia.
E isso, de certa forma, sabotou esse pensamento,
porque a ideia principal da sociologia
é que somos moldados pelas pessoas que nos cercam.
Então como eu poderia ser livre?
Entretanto, eu continuei.
Mantive essas duas ideias em equilíbrio,
principalmente porque eu entendia sociologia somente neste patamar.
E penso, retrospectivamente, que eu era como a maioria das pessoas,
porque todos sabemos que somos moldados por outras pessoas,
mas muitos de nós, inclusive eu, por muitos anos,
ainda sentimos que, no final das contas,
conduzimos nosso próprio destino, tomamos decisões livremente.
Eu continuei,
e então isso tudo foi subitamente interrompido.
No verão de 1988, eu estava no meu quarto,
preparando uma palestra para o dia seguinte,
eu tinha uma aula, lecionava Introdução à Sociologia,
e minha namorada, naquela época, disse: "Posso ver o seu livro?"
Então eu disse: "Claro".
E ela começou a ler meu livro.
No final do primeiro capítulo, ela disse: "Isto é incrível.
Este é o material mais interessante que já li".
Ela disse: "Isto muda nossas vidas".
E para mim, que naquele momento já lecionava há quatro anos,
tinha feito umas 30 aulas de sociologia, escrito talvez 40 ou 50 artigos,
estava estudando para meus exames de PhD.
Eu não tinha muitas expectativas, aquele era um livro antigo.
E o que aconteceu?
Em 30 minutos, essa jovem, essa minha namorada de 23 anos,
que nunca tinha estuda sociologia na vida,
fez com que eu me tornasse um sociólogo.
E ela disse o seguinte:
"Sam, esta liberdade que você tanto fala..."
ela disse: "Eu não sei o que você está dizendo aos alunos,
mas deixe-me dizer o que este livro está dizendo pra você dizer pra eles.
Olha, você não é livre. Você não é livre!"
Ela zombou de mim. Eu me lembro dela rindo de mim.
Ela disse: "Aqui está o que esse livro está dizendo para você.
Tudo o que você pensa,
tudo o que você sente,
tudo o que você imagina, tudo aquilo que você espera,
tudo o que você faz, por menor que seja,
a menor ação, mais pessoal e privada,
tudo é influenciado por fatores e forças fora de seu controle
que você nunca verá e nunca irá entender.
Sua liberdade é uma ilusão".
Então para mim, isso foi como um golpe mortal
em todo meu entendimento sobre o mundo.
Olhando para trás,
posso ver que, como sociólogo, eu andava no mundo como um sonâmbulo,
e o que ela fez foi me fazer entender
não a sociologia aqui embaixo, mas a sociologia aqui em cima.
E agora eu vou apresentar isso para vocês.
Vou dar um exemplo.
Imaginem que estou sozinho no meu quarto.
Está sombrio, são tempos difíceis.
Eu não estou feliz.
Eu estou lutando.
Eu estou sofrendo.
Um período muito difícil em minha vida. E estou pensando em acabar com tudo.
Estou pensando em me suicidar.
E não somente estou pensando sobre isso,
como também tenho algumas pílulas.
E sei que se tomar essas pílulas,
eu morrerei.
E tenho que tomar uma decisão.
Essa é a decisão mais pessoal, mais íntima,
que eu poderia tomar em minha vida.
Nada se compara com isso.
Ninguém está envolvido nessa decisão, exceto eu.
O que eu vou fazer?
Não estou pensando em mais ninguém.
Agora vou dizer para vocês o que um sociólogo diria.
Um sociólogo diria: "Olha,
esta pode até ser uma decisão pessoal, e é, de certo modo,
mas também é um profundo momento sociológico".
E existem duas ideias que podem ajudar a entender isso.
Primeiro, as taxas de suicídio são estáveis ao longo do tempo.
Elas não mudam muito.
Então na comunidade desta pessoa,
digamos que em média,
digamos que 100 pessoas cometeram suicídio no ano passado.
Este ano serão em torno de 100 pessoas.
No próximo, aproximadamente 100 pessoas.
No ano seguinte, praticamente 100 pessoas.
Então essa pessoa está sentada aqui, neste momento de desespero,
pensando que elas estão tomando uma decisão de livre vontade,
mas estão inseridas em uma estrutura.
Uma estrutura que reúne todas as pessoas como elas,
que estão sentadas em seus momentos de desespero,
para tomar decisões coordenadas, de certa forma.
Cem dessas pessoas decidirão tomar as pílulas.
Como isso é possível?
Como isso é possível, se são livres e estão agindo sozinhas?
Segunda ideia: quaisquer que sejam os grupos que esta pessoa faça parte,
sejam eles religiosos, socioeconômicos,
suas famílias, raça, sejam eles homens ou mulheres,
se vivem em cidades ou em uma área rural,
o que quer que seja, todas elas têm taxas diferentes de suicídio.
Como isso é possível?
Se cada uma dessas pessoas
que estão pensando em tirar a própria vida
está fazendo um ato livre e individual, uma decisão livre,
como é possível que todos esses grupos tenham diferentes taxas de suicídio?
A taxa de suicídio para humanos deveria ser a mesma.
Mas não é.
Porque, de alguma forma,
estamos profundamente envolvidos em uma estrutura de vida que nos molda;
até mesmo a ação mais privada e pessoal.
Então essa pessoa está sentada aqui, sem pensar sobre sociologia,
sem pensar que o ano está chegando ao fim
e que tudo indica que a taxa de suicídio
será a mesma do ano passado,
sem pensar sobre nada disso.
Sem pensar em como essas coisas movem todas essas pessoas para frente.
Não. Estão pensando que essa é uma decisão pessoal e privada.
Mas, e se eles olhassem para a sociologia?
E se eles pensassem como um sociólogo?
E se todos nós pensássemos como sociólogos?
O que aconteceria?
Primeiramente,
nós veríamos que nunca estamos sós.
Estamos extremamente conectados.
Absolutamente conectados com os outros.
Veríamos que nossos problemas não são nossos problemas.
Meus problemas não são meus problemas.
Eles não são meus, eles são nossos.
Qualquer problema que eu tenha, qualquer sofrimento em que eu me envolva,
é um problema e um sofrimento que eu compartilho com todos.
Na sociologia, falamos sobre a imaginação sociológica:
problemas pessoais,
questões públicas.
A outra coisa?
Nos sentiríamos fortalecidos.
Eu costumava pensar que me fortalecia
por estar separado de outras pessoas.
Mas, na verdade, o que descobri como um sociólogo,
é que me fortaleço ao ver a interconectividade,
ao ver a mim mesmo nessa grande rede.
E a outra coisa é a inspiração.
Eu me sinto inspirado quando penso como um sociólogo,
e por estar conectado com todas essas outras pessoas.
Minhas ações são as ações que outras pessoas estão tomando,
e meus pensamentos e preocupações, são os mesmos de outros.
Então estou fazendo isso por eles, e eles estão fazendo isso por mim.
E finalmente, a parte mais interessante,
o que acredito ser a parte mais interessante,
é que os grupos com os quais estou mais conectado
talvez não sejam aqueles com os quais me preocupo e que vejo regularmente.
Talvez não seja minha família.
Talvez não sejam pessoas que são como eu,
na minha comunidade, na minha cultura.
Talvez os grupos com os quais estou mais conectado sejam invisíveis.
Talvez não conheça nenhuma dessas pessoas,
mas estou realmente conectados a elas.
Essa é a sabedoria da sociologia.
Mas agora gostaria de dar outro exemplo para vocês.
Este é bem próximo a mim.
Vocês se lembram de minha namorada?
Eu tive sabedoria o bastante para casar com ela.
E por 25 anos, temos vivido juntos,
somos muito felizes.
Nós nos amamos muito.
Trabalhamos juntos, nos divertimos juntos.
É um casamento maravilhoso.
E cinco anos atrás, ela passou por um rito de passagem.
E seu rito de passagem é aquele momento turbulento,
aquele redemoinho que as mulheres enfrentam
que chamamos de perimenopausa,
a época que antecede a menopausa.
Muita dor, muito sofrimento.
É uma luta.
E nós passamos por isso juntos.
Aqui, este casamento, este amor, e de repente, começamos a questionar.
Nós dissemos: "O que está acontecendo?"
E a luta.
Estávamos em nosso momento de reflexão,
estávamos a sós.
Estávamos olhando um para o outro, e dizíamos:
"Como isto pode estar acontecendo? Nos empenhamos tanto.
O que está acontecendo?"
E nós sempre aplicamos a sabedoria da sociologia.
E aqui está o que entendemos.
Nós não estamos sozinhos.
Somos membros de uma tribo invisível.
E a tribo invisível são todas as pessoas,
todas as mulheres, todos os casais, que estão passando por isso,
assim como nós.
Não os vemos.
Mas somos membros.
Nós somos uma grande comunidade.
E, de repente, nos identificamos, e somos parte desta rede global.
Então nos imaginamos, naquele momento difícil,
imaginamos nós mesmos
de mãos dadas com todas essas pessoas
ao redor do mundo,
que estão passando o que nós estamos passando.
E aqui estamos, em nossa intimidade,
mas não, estamos de mãos dadas, estamos conectados com a vida,
e quando estamos conectados com a vida, nos sentimos poderosos,
nos sentimos como: "Sim, nós podemos fazer isso!"
Outras pessoas precisam que façamos isso, e nós precisamos que eles o façam.
Isso é muito maior do que nós.
É lindo.
E então...
a sabedoria da sociologia.
(Português) Eu sou humanidade.
Eu, sempre, eu sou humanidade.
(Português) Somos humanidade.
Nós somos humanidade.
(Português) Muito obrigado.
(Aplausos)