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- Roger! - Ô!
Vamos trocar uma ideia, vamos bater um papo aí, vamos lá.
♪
Ô, Roger, deixa eu te perguntar um negócio:
eu tenho um fascínio pela questão da música,
porque eu acho que nunca ninguém vai sair repetindo
minhas piadas como repetem tuas músicas, por exemplo.
Ninguém vai sair cantando ♪ nana, neném ♪
aí eu falo... Não, ninguém vai....
Ninguém vai fazer o que fazem contigo, assim,
de cantarem junto e se sentirem representados e tal.
Como é que é isso, cara?
O que você sente dessa história de,
tipo, os caras entenderem a tua mensagem,
cantarem as suas músicas?
- É uma emoção que eu nunca senti, por exemplo. - É verdade, é...
Assim, é muito gratificante, depois de um tempo,
você passar e ver gente de todos
os tipos cantando a música, sabe?
Faz, sei lá, alguns meses, eu ando de skate também,
e estou lá descendo, tem um pedreiro sentado lá.
E eu, pá, descendoe tal...
Uma hora eu desço e o cara está cantando "Ciúme",
assim, quer dizer... Ele cantou para eu ver que ele:
"Ó, conheço, sei quem você é e tal".
Comigo acontece a mesma coisa.
Eu passo, os caras falam: "É aquele filho da puta"...
É uma emoção um pouquinho diferente.
Mas tem os detratores, também, né?
- Também tem os caras... - Agora principalmente,
por causa do Twitter, que o pessoal fica escondido, né?
Então é tudo corajoso, né?
Tem uma frase do Léo Jaime que é muito boa,
que "o Twitter é uma ferramenta maravilhosa para as pessoas
te odiarem bem de pertinho.".
É!
Twitter é uma maneira de te odiar bem de pertinho.
Verdade!
Como é que você se sente
quando os caras descem o cacete em você, rede social?
Porque você é ativo pra caramba, né?
É, pois é. Eu, no começo, por falta de prática, né?
Eu saía discutindo com o cara.
"Pô, por quê? O que é isso? E você isso, aquilo..."
E eu notei que tem uns que xingavam e na hora
que eu falava com ele, ele
ô, que é isso? Eu sou seu fã".
"Eu achei que você se equivocou nesse ponto", né?
"Não, nesse ponto... Mas a sua carreira é brilhante!"
- É muito bom isso, né? - Pode crer.
Fala o seguinte: você tá desde os...
desde que ano você tá fazendo rock and roll, véio?
Bom, com o Ultraje, desde 81.
31 de outubro de 81 é a data que a gente considera,
porque foi o primeiro show que a gente fez numa festinha.
Você faz música pra agradar o público ou pra ficar feliz?
Não, para ficar feliz, é.
Essa é a ideia, né?
Você dar essa sorte de você fazer o que você gosta
e por sorte é que eles gostaram também.
Sim.
Tipo o cara da Apple também, né?
Pô, que legal, o cara inventou um negócio que eu nem sabia
que eu queria e hoje eu não posso viver sem aquilo.
- Foda. - Não é?
O Ultraje tem uma história, cara,
que tá muito ligada, em alguns momentos,
a protestos, assim, teve uma coisa com a...
É.
Vocês lançaram a música que era meio que tipo
- "acabou a censura"... - Ah, o "Filha da puta", né?
Você acha que é importante?
O que eu tô vendo, assim...
Eu acompanho muito o que tu escreve, tal,
tu é um cara muito engajado politicamente e tudo o mais
e o que a gente vê cada vez mais é a classe artística,
independente de ser músico ou não,
se afastando um pouco de posição política,
talvez por medo, ou talvez porque caga no pau...
- Vaselinice. - O que é isso, cara?
Me explica, o que tá rolando, assim?
Porque hoje em dia ninguém mais fala...
Dos anos 90 pra cá,
principalmente, eu acho, o cara quer...
Ele não quer criar nenhuma polêmica,
ele quer que todos gostem dele.
A polêmica é, assim...
Eu chamo isso de lucianohuckzação de mídia.
- É bem isso. - Você quer ser o amigão
- de todo mundo. - Todo mundo é amigo
de todo mundo, ninguém fala mal,
e é aquela coisa politicamente correta.
Então, tem certas opiniões...
"Não, o cara é a favor, claro. Ecologia?"
"Porra, eu... toda hora, né?".
"Você recicla? Mas, meu, eu ensino.
- Eu ensino". - "Eu ensino ali..."
Exatamente.
Então tem aqueles assuntos que o cara é sempre... não é?
O que você acha que tá pegando hoje em dia?
Eu não vejo ninguém mais abrindo...
Eu não vejo... ninguém mais abre voto, ninguém fala mais...
- É, exato. - O que é?
Será que é desconfiança da classe artística quanto
à classe política que pode ser também?
Porque daqui a pouco você...
Olha o que aconteceu com a Regina Duarte, com a ***...
Pois é, é isso.
Foram achincalhadas pelo resto da vida porque foram corajosos.
Por mais que eram opções equivocadas,
foi lá a ***, apoiou o Maluf durante anos.
Alguém me falou outro dia:
a wilsonsimonalização das pessoas, né?
- Então... - Dessa patrulha que...
que hoje em dia é o contrário a patrulha, né?
Nos anos 80 era uma coisa até bem simples,
- porque era a ditadura... - Sim.
e os que eram contra a ditadura e tal.
Então, eu era meio, vamos dizer, porta-voz da minha geração.
Aprendi com a geração anterior.
Então, tinha isso, tinha essa posição naturalmente.
Sei lá, era meio uma coisa da época, né?
♪
- Você comeu muita gente, Roger? - Muita.
Com esse negócio de rock e tal?
Me fala, porque comediante não sei se come não.
Ah, não?
Bom, é que eu comecei casado já, né?
Vem junto com o pacote do rock, né?
O cara que fala que não é por isso,
ou ele tá na profissão errada, tá meio enganado na motivação...
Porque acho que é meio dança do acasalamento aquilo, né?
Uma menina, ela não precisa de nada.
Ela: "Oh, eu sou menina". Todo mundo: "Oh!", não é?
- "Tem uma *** aqui." - "Quem quer?"
"Ô, eu quero!"
O homem não, o homem precisa ir lá, dançar, fazer uma coisa...
Então, além de eu sempre gostar de música,
tinha essa coisa sim, sem dúvida.
E eu aproveitei.
Além de que eu cresci numa época mais...
mais reprimida também, né?
A maioria do pessoal da minha idade,
por exemplo, começou vida *** na zona,
ou com a empregada, não tinha essa...
Não tinha essa...
Você começou sua vida *** aonde, Roger?
- Na zona, com a empregada. - Na zona com a empregada?
Você foi na zona e encontrou a sua empregada?
É, minha empregada: "Ô, você"...
"Ô, Firmina!"
"Me falavam que eu ia começar na zona
ou com a empregada, eu tô num pacote!"
Veio o combo, eu tô no combo aqui.
Mas depois eu fui para o Rio, e fui lá na...
o que hoje é Vila Mimosa,
na época era Zona do Mangue.
O cara me levou lá, eu falei:
"Eu não quero ir, eu não vou aguentar".
Eu tinha, sei lá, 16, 17 anos, por aí.
E foi lá na Zona do Mangue a primeira transa,
- a primeira doença venérea. - Olha!
Você trabalha em combos, não adianta.
- Caralho, velho! - Foi já direto.
É mesmo? Primeira vez você pegou um bicho?
- Peguei gonorreia. - Gonorreia, brother?!
Coisa que hoje em dia ninguém pega, né?
- Pega sim, pega sim. - Pega?
E era uma coisa...
Não, calma aí, não escapa dessa.
- Calma aí: você vai lá... - Hum-hum.
- Primeira vez... - Pra você ter uma ideia...
Volta bichado.
Peguei, tive que falar com o meu pai, porque ainda não... né?
"É, pai, eu tô..." Eu sabia o que era, já.
"Mas tá estranho, tá meio vazando aqui".
Que conversa boa pra ter
com o pai na primeira experiência ***.
- "Pai, o meu pau tá vazando." - "Eu não sei o que houve..."
Então, isso que eu estou te falando, isso foi o quê?
- Meados do século passado. - É, é...
É muito bom.
Cara, deixa eu te agradecer aqui.
Obrigado.
Eu é que agradeço, muito obrigado.
- Foi um papo muito legal. - Valeu, gostei mesmo.
- Boa sorte em tudo aí. - Pra vocês também.
Boa sorte pro... au, au!
[Risos]
♪
♪