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Eu não estou certo de que eu fui planejado pelos meus pais, mas mesmo que não tenha
sido - o inesperado é especial.
Vivi aproximadamente 3 anos com o casal que me concebeu. Eu era muito pequeno para gravar
as cenas e histórias daquela época, mas eu nunca esqueço do dia em que entendi sua
ausência. O meu pai não estava conosco. Era só eu e minha mãe. Nunca foi fácil
aceitar a partida do homem que deveria ser meu ícone.
Depressão. O diagnóstico do meu pai. Suicídio. O resultado.
Tempo. Pessoas vieram e foram na minha vida, sempre colaborando para minha evolução e
também preenchendo os pedacinhos vazios que meu pai deixou depois de partir.
Mais alguns anos passaram e eu encontrei uma mulher radiante que mudou minha vida. Com
ela tive dois filhos. Eu os amava como eu gostaria de ter sido amado.
Desde criança, eu sonho encontrar meu pai. Sentir sua presença.
Meus filhos perguntavam à vó: "Onde está o vô?". Ela, carinhosa, respondia que ele
morava longe-longe.
Eles cresceram sabendo da verdade, aceitando a situação assim como eu. Até que resolvemos
viajar. Fazer o que eu sempre precisei. Visitar o túmulo do meu pai. Percorremos quilômetros
até chegarmos.
Era um campo. Verde. Cinzas e iluminadas pelo sol radiante, múltiplas lápides brotavam
do chão. Meus filhos e minha mulher acompanharam o momento inesquecível. Eu parei diante do
túmulo. Chorei o choro da aceitação. Eu nunca senti meu pai tão próximo.
Quando, inesperadamente, apoiado numa bengala, vestindo um antigo terno e chapéu, surge
um velho. Inexplicavelmente, eu vi renascer meu pai diante de mim.