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Subtitulado por Jonatan Artal 1 00:01:01,461 --> 00:01:04,692 ARGENTINA LATENTE
Dedicado aos jovens homens e mulheres, trabalhadores
e cientistas dispostos a recuperar a Argentina latente.
No extremo sul da América Latina...
desdobra-se o triângulo da Argentina,
uma superfície quase tão grande como a Europa Ocidental...
mas com apenas 15% de sua população.
Da Terra do Fogo à Quiaca,
4.000 Km de extensão com todos os solos e climas.
Uma costa marítima de 900.000 quilômetros quadrados...
e uma das maiores reservas de água potável do planeta.
Cultiva 30 milhões de hectares...
e mantêm outros tantos de terras fiscais,
mas sem uma legislação que a proteja frente ao latifúndio...
e sua crescente "estrangeirização".
É um dos grandes produtores mundiais de alimentos,
mas um terço da população vive em condições de pobreza.
Uma indústria petroleira estatal que obteve a auto-suficiência,
mas foi privatizada com manobras fraudulentas.
A Argentina guarda a sexta reserva metalífera do planeta,
mas as corporações extraem sem nenhum controle público...
e deixam as reservas de água poluídas.
Uma indústria que fabricava mais de 90% do que consumia o país,
mas a aventura neoliberal levou-a a quebra...
e a maioria das grandes empresas passaram às mãos estrangeiras.
Mantém um alto desenvolvimento científico...
mas apenas um terço da população têm o ensino médio...
e 3 milhões de argentinos padecem do mal de chagas.
Um país tão poderoso em recursos e matérias primas...
é incapaz de defendê-los.
38 milhões de habitantes desconhecem ser sócios...
do milionário consórcio da Argentina.
Vamos lá, pessoal, a Argentina é um país rico ou pobre?
- Pobre. - Uma nação pobre.
E que recursos lhe ficaram?
É...
- Não entendo muito bem a pergunta. - Não entendo.
Recursos de que tipo?
O que tem a Argentina?
Nada.
Eu diria que o Estado não tenha nada.
Não, acredito que seja nada. Não me lembro de nada ter sobrado.
Infelizmente nos resta pouco, o mar,
que não cuidamos, a terra, que não cuidamos,
a mineração, que demos de presente, o petróleo... Já está bom...
O petróleo nós sabemos que é espanhol.
- Há riqueza mineral, sim. - Muita ou pouca?
- Não me pertence. - E, por quê?
E... acho isso porque estou desempregado.
- Você nota que há riquezas? - Como assim riquezas...?
É um tema difícil de avaliar mas...
Aqui na faculdade de ciências Econômicas,
têm alguma matéria que ensine sobre o patrimônio público?
Não. Concretamente, não.
- Não? - Não.
Mas os bens e recursos públicos que foram privatizados...
não foram vendidos, são concessões...
e podem recuperar-se.
Que capacidades industriais e científicas...
conserva a Argentina para sua reconstrução?
Qual é seu projeto de país?
O que pode contribuir aos seus irmãos do continente...
para realizar o sonho da Grande Nação Latino-Americana?
ESTALEIRO RÍO SANTIAGO
Este é o maior centro de mecânica, do maior estaleiro...
da América Latina, que é o Rio Santiago.
Nós fabricamos grandes motores a diesel...
de até 400 toneladas de peso, chassi para locomotivas,
componentes hidráulicos, turbinas como as de Yacyretá,
fabricamos peças para centrais atômicas,
fabricamos tudo o que seja passível de se fabricar...
em uma oficina de alta complexidade como esta.
Fabricamos graneleiros, petroleiros, fabricamos até navios...
de 60 mil toneladas de peso bruto, de 230 metros de comprimento.
E fabricamos também navios militares de muito alta complexidade...
como por exemplo a Fragata Santíssima Trindade.
Tudo isto se quis privatizar.
Nós fomos das 27 empresas da área de Defesa,
a primeira que estava sujeita a privatização,
e nunca conseguiram pôr um pé.
E bom, foi a enorme luta dos companheiros,
que permitiu manter este patrimônio nacional,
100% nas mãos do Estado,
disponível neste momento para a reativação...
e com uma capacidade potencial de gerar 9 mil empregos.
Diga-me Cadelli, há quantos anos está no estaleiro?
Desde 1974. Eu limpava banheiros, carregava peças, varria,
ajudava no que podia, é o que fazem os peões.
E deste então trabalha junto com o Russo?
Naquela época, ele era mais alto que eu.
O chefe era o Russo.
Quando finalmente cheguei a engenheiro...
passei para o pessoal superior e depois fiz toda a minha carreira.
RESISTÊNCIA ÀS PRIVATIZAÇÕES
No ano 91 e 92, fizemos mais de 20 mobilizações nos 2 anos.
Invadimos a Sociedade Rural, invadimos a Bolsa de Comércio,
invadimos a Catedral de Buenos Aires,
com monsenhor Quarracino dentro,
o Ministério de Economia, com o Cavallo lá dentro.
Isso tinha pouca transcendência porque naquela época...
a Argentina estava com os pés nas nuvens,
as pessoas acreditavam nas privatizações,
não havia piquete, não havia grande desocupação e...
AS VÍTIMAS
Que episódios difíceis viveram aqui?
Suicídios de companheiros muito queridos.
Companheiros que se atiravam das gruas, em armazéns.
Deprimiam-se com as brigas,
com tantas injustiças que tínhamos que agüentar,
e se suicidavam.
No ano de 1992 perdemos 27 companheiros,
nenhum dos quais superavam acima de 55 anos de idade.
Eu me lembro, Angelito da fundição, que voltou muito deprimido...
de uma mobilização que nos enfrentamos com a polícia federal...
e disse: "Eu não agüento mais isto, este fim de semana dou um jeito",
e infelizmente. Cumpriu com sua palavra,
suicidou-se naquele final de semana.
Era a luta contra as privatizações?
Contra a privatização, sim.
Finalmente derrotamos a privatização.
Mas também produziu nossos mortos, nossos feridos, não é?
E os desaparecidos?
70 pessoas desapareceram durante a ditadura.
Luciano Sander, um deles, foi cruelmente...
torturado, inclusive depois de morto.
Mas há reivindicações.
Há momentos em que... Há revanche de tudo isso.
- Por exemplo? - Por exemplo...
quando o Major Alberte, através de seu filho...
lança "As memórias do Major Alberte",
para mim... Bom, já era...
Bom, este...
Agradecem-me que...
graças a Beatriz Rouco...
agüentou em silêncio a tortura, enquanto...
os companheiros conseguissem escapar.
Então, isto... Estas são pequenas vinganças que a vida dá,
feridas que não fecham, mas, isto...
de alguma forma são reivindicações para companheiros...
que foram conseqüentes com seu compromisso popular,
ainda sob tortura.
Então, que haja companheiros que tiveram a vida salva...
graças a alguém que resistiu algumas horas a mais antes de morrer,
e ser parte disso, isto... enche-me de orgulho.
Apesar da dor.
Não esquenta!
Estava indo bem...
COMPLETA LEALDADE
Olá, mamãe!
Senhora, este Engenheiro deu-lhe muito trabalho?
Não, pelo contrário, era muito bom.
Não me deu nenhum trabalho.
Cresceu. Cresceu sozinho, sem regá-lo.
- Sem regá-lo? - Sem regá-lo.
E o caráter? Porque é um cabeça dura, apesar de que tem...
É um obstinado no que tem razão, mas está bem que seja assim.
Isso sim, recebemos dos dois.
Isso vem da mamãe.
Russo, desde quando está aqui?
Eu vivo aqui faz 54 anos.
Meu veio da Ucrânia, em um navio,
como todos os imigrantes que vieram da Europa,
conseguiu trabalho no frigorífico Armur,
e se instalou aqui neste bairro que se chama Vila Zula.
E sua mãe?
A minha mãe era descendente de imigrantes poloneses.
Estou ampliando porque tenho uma família numerosa,
tenho 4 filhos e minha esposa...
é professora aqui, na escola 18 de Vila Zula.
Estão lindíssimas de costas.
E o que representa esta relação com o Russo?
Somos inseparáveis. Nós não nos concebemos...
fazendo política ou militando separados.
Nós já passamos tantos anos juntos, e sofremos...
tantas coisas juntos, que é um vínculo já inquebrável.
- E você Russo? - Sempre digo que ele tem...
o título de Engenheiro profissional e eu tenho o título da rua.
Acho que é uma maneira de coordenar,
e além disso sei que é o tipo que banco sempre,
e que é uma obrigação moral e ética...
É a lealdade total.
Cada vez que o Russo esteve em "maus lençóis",
Deus me deixou de fora para pudesse resgatá-lo.
E cada vez que estive cansada, Ele deixou o Russo de prontidão...
para que pudesse me resgatar. Sempre é assim.
A REATIVAÇÃO.
Os navios que estão em construção são:
Este, que é um Bull Carrier para a Alemanha,
que é um navio de multiuso.
O outro que temos em construção é aquele cinza que está lá abaixo,
que é um rebocador para a Argentina,
para a empresa Tranzona,
e depois temos lá ao fundo, que dá para ver os mastros,
a Fragata Liberdade, em sua reforma de meia vida.
Os navios Venezuelanos são dois com opção de dois mais,
são navios de 47 mil toneladas de peso bruto.
Qual é o projeto, Angel?
O projeto é construir uma empresa multimodal, moderna,
nos moldes do que é o transporte internacional neste momento.
O transporte argentino está hoje em mãos das multinacionais.
3 bi, 4 bilhões de dólares por ano, é o que gasta a Argentina...
somente em seu comércio exterior, em fretes.
Poderíamos ter 50% disso com uma lei de reservas de cargas...
que usam todos os países do mundo,
inclusive os que não têm mar territorial.
A Argentina pode e deve reconstruir todo seu sistema de transporte...
multimodal. Há milhares de trabalhadores, de técnicos e de engenheiros...
que estão esperando ser convocados para esta tarefa.
Se foi capaz de fazer na década de 40, das mãos...
de um governo nacional e popular, pode fazê-lo em qualquer momento.
E hoje com mais facilidades.
INDÚSTRIA AERONAUTICA.
Córdoba foi o centro da indústria...
e das pesquisas metalúrgicas.
A Fábrica Nacional de Aviões, criada em 1927 pelo Brigadeiro Da Colina,
foi o motor de um desenvolvimento que no final dos anos 40...
converteu-se na mais avançada indústria aeronáutica do hemisfério sul.
Museu industrial
Nossa história aeronáutica começou no ano de 1930...
quando o Brigadeiro Da Colina teve a audaz idéia...
de fazer um projeto para fabricar um avião nacional.
Totalmente nacional.
Foi uma idéia realmente muito audaz.
Tão audaz, que na época valeu-lhe até uma interpelação...
do Congresso Nacional.
Produziram-se até o ano 55, mais de trinta modelos de aviões...
de projeto e produção nacional.
Estes aviões...
para citar exemplos podemos nos referir ao AS-1,
que foi o primeiro avião que Da Colina projetou.
O ET1, que foi um avião comercial...
que operou linha aérea entre Córdoba e Buenos Aires.
O primeiro vôo do IA 35, traçou a rota...
de nossa prosperidade crescente.
No ano de 1944, não se podia importar aviões por causa da guerra,
meu pai, diretor da fábrica de aviões nesse tempo,
encarregou-se da fabricação de um avião o DL, e seu motor o "Gaúcho".
Convidou, antes do começo de tudo, avião e motor,
a todos os trabalhadores, para que escolhessem...
que parte gostariam de fazer.
107 destes operários, responderam ao desafio...
para produzir 200 aviões, nesse avião.
Mas a história não termina aí, continuou com o Pulqui-1...
no ano 1947, que foi o primeiro jato fabricado no hemisfério sul,
o oitavo no mundo, e com o Pulqui 2, em 1950,
um avião de combate similar ao MIG-25 dos russos,
que nos pôs ao nível da França em nossa tecnologia aeroespacial.
Ex-fábrica militar de aviões. Córdoba 2003
Nos anos 90, o avançado setor aeronáutico...
é desmantelado pelo governo Menem.
Se abandona o projeto Embraer, com o Brasil,
para construir aviões de passageiros,
e a Fábrica Nacional é entregue ao maior consórcio norte-americano...
de armas e mísseis.
Estamos aqui, frente a este avião, o Pampa, o último produto...
que tirou nossa Fábrica Militar de Aviões, daqui, de Córdoba.
Que características tem o Pampa?
O Pampa é um avião de treinamento avançado,
com outras capacidades, também, que lhe podia acrescentar.
Isto nós estamos falando do ano de 1988.
Quando saiu este avião era um dos mais avançados nesse aspecto.
Uma fábrica que chegou a ser, a maior fábrica...
de indústria aeronáutica de toda América do sul e central.
Chegou a ter mais de 10 mil empregados,
engenheiros, pesquisadores, com laboratórios próprios,
e onde se fez a indústria, mas a indústria genuína.
Nós fomos proprietários de tudo isso.
Essa fábrica está reduzida a uma oficina de manutenção de aviões.
A Lockheed não investiu absolutamente nada,
não precisou investir absolutamente nada,
já está tudo feito aqui.
Já tinha pessoal capacitado, tinha suas instalações, tinha tudo.
O Estado Nacional cede a Lockheed todas as patentes,
toda a propriedade intelectual da fábrica.
Todo o desenvolvimento de anos.
Inclusive deste avião, o "Pampa",
foi cedida a Lockheed.
- Em troca do que? - Em troca de nada.
Absolutamente nada.
O Pampa é da Lockheed
Neste momento é da Lockheed, efetivamente.
No meu ponto de vista um plano totalmente programado...
de desindustrialização da República Argentina...
e onde aqui não se fabrica absolutamente nada.
Você acha que se pode reconstruir a indústria aeronáutica?
- Sim, estou convencido que sim. - Por quê?
Pode-se reconstruir porque a vontade existe.
A capacidade existe. Está instalada ainda em Córdoba...
e está instalada em outros lugares do país.
Que se pode trazer para cá de forma imediata.
INDÚSTRIA AEROSPACIAL E DE FOGUETES
Instituto universitário aeronáutico. Córdoba - 2003
O nível tecnológico alcançado pela aeronáutica nacional...
permitiu o desenvolvimento aeroespacial para múltiplas aplicações...
em meteorologia, agricultura e comunicações.
Ingressamos no espaço em 1961.
O aporte de tecnologia nacional, fabricação de nossos próprios...
propulsantes permitiu-nos configurar...
um veículo, onde a primeira etapa...
era um foguete Antares, totalmente nacional, propulsante,
e toda sua tecnologia associada.
E a segunda etapa de desenvolvimento era feita...
com a configuração do foguete Castor.
Depois da Rússia, Estados Unidos e França,
A Argentina foi o quarto país ao colocar um ser-vivo no espaço...
e retorná-lo a terra.
Os primeiros lançamentos foram feitos com ratos,
e depois com o macaco Juan, que terminou seus dias...
no zoológico de Córdoba.
O projeto Condor, foi um projeto de avanço com tecnologia própria.
Era um vetor, nada mais.
O que ocorre é que... culposamente,
premeditadamente, algumas potências o enquadraram...
como um míssil bélico. Quando a Argentina estava fazendo...
um desenvolvimento tecnológico de um vetor.
Isto é o que antigamente foi a fábrica de mísseis...
que fabricava o Condor.
Que no ano de 1991 foi abortado e parou de ser produzido.
"Falda de Carmen" tem 500 hectares.
São 48 edifícios no total, com uma área de 11 mil metros quadrados.
Edifícios construídos com uma tecnologia de ponta,
e chegamos a trabalhar com cerca de 800 pessoas.
E o que retiravam daqui?
Tudo o que havia em produção era levado, via Espanha,
para os Estados Unidos.
Tudo o que é maquinaria continua aqui.
Sim, contam que o embaixador americano Toodman esteve por aqui.
Em duas oportunidades ou três, não sei quantas, o embaixador veio...
fazer uma inspeção para ter certeza de que...
não tinha movimento, que não estava em funcionamento.
A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
No começo dos anos 50, o automobilismo era...
uma grande paixão nacional.
Inaugurava-se o Autódromo Municipal...
e Juan Manuel Fangio reinava como campeão mundial de Fórmula 1.
Eram os tempos em que nascia a indústria automobilística...
impulsionada pela Fabrica Nacional de Aviões.
Em 1952 se fabricava o primeiro automóvel argentino,
o "Justicialista".
Um veículo de tecnologia simples e econômico.
Depois veio o "Graciela",
o trator "Pampa"...
e o utilitário "Rastrojero".
E o coitado "Rastrojero" morreu porque era muito bom...
e competia com uma "pickup" de uma multinacional...
motivo que levou Martínez de Foice, a cancelar o projeto.
- Quantas unidades foram feitas? - Perto de 200 mil.
Mas além disso o pior de tudo foi que quando se fechou a fábrica,
a Comissão Liquidadora convidou os fornecedores...
para um drinque, para festejar o fechamento da fábrica.
Meu nome é Leopoldo López Orozco,
sou um técnico de San Juan,
formei-me em San Juan, mas realmente,
o centro industrial do país estava em Córdoba.
Isso fez que me radicasse nesta província...
que é um verdadeiro centro científico.
Que época era?
A época gloriosa das "corridas de estrada".
Tive a sorte de começar com Oscar Gálves.
Novamente as serras opõem aos competidores...
a dura missão de transpor sua áspera topografia,
entretanto a qualidade e o entusiasmo...
superavam todos os obstáculos e andavam depressa.
O "turismo de estrada" foi para mim,
a melhor escola que recebi.
Todas estas contribuições aplicamos em nossos motores...
e acredito que esteja refletido em nossos projetos.
Estes são os modelos e matrizes...
pensadas para conseguir fazer um motor plenamente Argentino.
Nisto, Pino, está a minha vida, desde que fiz 15 anos...
que estou nisto, 50 anos trabalhando no automobilismo,
procurando fazer um motor plenamente argentino.
Este é o motor que fizemos para o "Rastrojero" Diesel.
Não tinha motor nacional, tínhamos que pagar o "log house" ou royalties.
O veículo tinha o valor de 2 motores, aproximadamente,
também pensando em uma necessidade evidente latino-americana...
que é um veículo 4x4 para estradas auxiliares.
Que toque uma ambulância, que atue em um grupo gerador de energia.
Este motor está pensado para a América "morena"...
e da América "morena" exportá-lo ao exterior.
E infelizmente para todos os argentinos,
a fábrica foi fechada e nos deixaram sem possibilidades...
de poder produzir cavalos de nossa força.
O abandono da fábrica automobilística e a redução das ferrovias...
com dezenas de milhares de demissões, eram importantes ao desembarque...
das multinacionais automobilísticas.
Desde os anos 70, o governo dos Estados Unidos...
e a Comissão Trilateral, traçavam que a Argentina e Chile...
deviam desarticular suas indústrias para ser fornecedoras...
de matérias primas.
O Brasil seria o pólo industrial do cone sul.
MULTINACIONAIS E ROBOTIZAÇÃO
No ano de 1991 a idéia foi de que as fábricas se agilizassem...
e pudessem competir. Então foi toda uma enorme mudança...
que se produziu na fábrica, pensando justamente em ter...
produtos para exportar.
Hoje estamos trabalhando com uma equipe total...
entre operários e empregados de 2500 pessoas.
Mas Ford chegou a ter 12 mil pessoas trabalhando na fábrica.
Utiliza-se cada vez mais quantidade de robôs,
mas não pensando exclusivamente em uma economia de mão de obra,
mas também pensando em um padrão de qualidade.
Isto lembra o filme do Chaplin "Tempos Modernos", não é?
Esse tipo de tarefas não é feita mais pelo homem.
A face negativa possivelmente é que há menor quantidade de emprego,
mas é um emprego mais seleto, hoje.
A maior parte dos operários que trabalham em nossa linha...
operam sistemas de computador.
Como é isto de trabalhar com estes "seres" mecânicos?
Positivo em parte, e em parte perdemos muitos companheiros.
Por quê?
Cada "ser" destes trabalham por 5 de nós.
E não vão ao banheiro, não vão ao médico...
- Isso é o chato mas depois... - Eles têm ritmo...
Sempre no mesmo ritmo.
E trabalham com a perfeição.
São programados via computador em todos os pontos que têm que dar,
não erra uma.
Uma jóia o cara.
É bom.
São japoneses, essa é a sacanagem.
Se fossem nacionais.
Parece que saíram de uma guerra bacteriológica, não é?
Porque ficou o prédio e desapareceu...
Está desaparecendo o ser humano.
O robô está nos chamando.
O robô está nos chamando.
REATIVAÇÃO INDUSTRIAL
Com robotização ou sem ela, a indústria nacional...
começou a recuperar-se e a substituir importações...
com a ruptura da paridade cambial e a volta...
ao sistema de câmbio tradicional.
A ex-fábrica de tratores Zanello, hoje Pauny,
quebrou com a crise do 2001.
Os trabalhadores e concessionários constituíram-se em cooperativa...
e recuperaram a fábrica.
Hoje são líderes no mercado interno,
produzem 800 máquinas ao ano...
e fabricaram o primeiro trator a gás liquefeito.
Esta empresa fabrica a maioria dos componentes...
dentro desta mesma fábrica.
E não só são fabricados, mas também são projetados e desenvolvidos aqui.
exportamos para a Holanda, Cazaquistão,
Peru, e nos consolidando já no mercado da Venezuela.
E vocês trabalham contentes, satisfeitos?
Sim, sim, muito diferente da época passada.
Começamos juntos e somos todos companheiros,
assim estamos muito satisfeitos aqui, com todo mundo.
Bom, me mostre as garotas agora.
THE EMPLOYMENT DEFENCE
A experiência inovadora realizada na fábrica de alumínio I.M.P.A,
recuperada por seus trabalhadores depois da quebra,
demonstra que há alternativas possíveis...
à redução do emprego e ao custos trabalhistas.
Eles eliminaram o custo empresário e os salários de executivos.
Nós tomamos a fábrica por que...
não cobrávamos nada. Vínhamos... Era como um hobby.
Desde quando não cobravam?
Entre 7 ou 8 meses, por aí.
- E o que sentiram? - Dignidade.
A capacidade dos companheiros de auto-gestão,
faz que todos sejam responsáveis por tudo.
Ou seja, aqui não há ninguém para pegar no pé...
como eu uma estrutura repressiva.
Há coordenadores e não capatazes.
Não há uma estrutura disciplinadora vertical...
como há em uma indústria clássica ou como em uma empresa privada.
Então o coordenador dirige um critério de consenso...
para buscar a produção, não de disciplina.
O consenso é que é claro que aqui estamos trabalhando todos para todos.
Graças à experiência prática de todos os companheiros e a audácia,
logramos hoje reconverter todo o processo produtivo...
a reciclado de sucata.
Então hoje uma sucata, uma latinha que você vê jogada em uma esquina,
entra no I.M.P.A e em 10 dias sai transformada em um produto útil...
para a sociedade. Então os trabalhadores têm podido realizar...
tudo isto sem nenhum tipo de apoio profissional,
porque não temos um engenheiro, não temos...
um técnico em metalúrgica, tampouco, mas sim simplesmente...
a experiência prática acumulada de 40 anos de ofício...
de cada companheiro que estão em cada máquina,
fez que pudéssemos nos desprender de um poder monopólico.
Aqui dentro não é um mecanismo competitivo,
como é o que nos expõe o mercado.
Então esse poder de cooperação, que é contraditório...
ao paradigma da competência que nos impõe o liberalismo,
foi o que nos fez estar em pé.
E então sente e defende isto como se fosse proprietário.
E o defendeu da violência exterior,
da violência das empresas privatizadas,
porque quando por exemplo aqui vinham as empresas, EDESUR,
que queriam nos cortar a luz por que não tínhamos dinheiro suficiente...
para lhe pagar. Aqui esse companheiro que tinha 8 filhos...
prendeu-se a caminhonete da EDESUR e disse que até que não nos devolvessem a luz
a caminhonete não partiria. E estava presa aqui na porta...
...e nós negociando... - Com o que prendeu?
Com correntes. Mas esse companheiro estava defendendo o dele.
A verdade é que foi muito maltratado.
Não, a esposa dele.
Para poder voltar a reinstalar a luz,
o grupo "Filhos dos Desaparecidos" nos emprestou uma grana...
da indenização de seus pais.
ENGENHARIA SOCIAL
Em nossa experiência, aqui no I.M.P.A,
que é uma fábrica com máquinas velhas, ou seja a mais moderna...
tem 30 anos, demonstra que ainda sendo máquinas obsoletas...
são produtivas. Mas foram produtivas pela engenharia social
que se gerou entre o conjunto dos companheiros.
Aqui mais vale se um companheiro com 10 filhos,
do que uma máquina moderna com maior produtividade.
E para quem vendem?
Em um caso concreto, Johnson e Johnson,
uma multinacional americana,
no ano passado nos falaram: "Vocês não estão dentro dos padrões ISO,
não tem como trabalhar com vocês".
Junho, eles chamam: "Bom, olhe estivemos pensando...
que com a desvalorização e a mudança da política monetária...
não podemos importar mais o produto,
então já qualificamos vocês na norma",
sem que tivéssemos que mudar nada.
Hoje chega um email onde nos dizem que...
não somente querem que produzimos para cá,
mas querem que daqui abasteçamos toda a América Latina.
Então um pedido que era zero no ano passado, em dezembro,
hoje são 10 milhões ou seja um milhão de aerossóis por mês.
FÁBRICA DE IDÉIAS
Digamos, aqui há uma crise que é a crise da globalização,
que no fundo é esta idéia do problema entre o tempo disponível...
e o tempo produtivo que provoca a evolução tecnológica,
e dissemos por que não fazemos mais nada nas horas livres...
Que o I.M.P.A tem uma fábrica de idéias.
Quantos oficinas funcionam aqui?
35 oficinas, em disciplinas que vão do trapézio...
até percussão africana ou massagem para bebês.
Isto soa a heroísmo.
Se um não se sente ligado aos heróis anteriores,
não tem força para ser um depois.
A isso eu referia quando eu te falava de uma geração.
Ou seja, sou sobrevivente da geração dos desaparecidos
e isso me obriga.
Como obriga a muitos, não?
Eu por exemplo, assim como vocês dizem...
há um discurso que sempre diz: "Não se pode, não se pode",
há também um discurso que se diz todo desaparecido caiu...
e cantou.
Bom, sou filho de 5 desaparecidos...
que caíram e não abriram o bico.
Poderiam ter...
Conhecendo todos meus dados, meu domicílio, meu nome e demais,
eles suportaram à tortura...
E bom, resistiram e não abriram o bico.
Sempre digo que eles são meus pais.
Tenho pais que me deram vida, e pais que me negaram a morte.
Daí nasce a força.
UNIVERSIDADE E EDUCAÇÃO
Universidade Nacional de Córdoba
Nas últimas décadas,
as universidades foram golpeadas pelas ditaduras militares...
e logo sofreram a perseguição econômica do plano neoliberal, cuja meta...
era desmantelar o potencial fabril e cientista do país.
Na universidade estamos formando profissionais para...
construir shoppings, hotéis de 5 estrelas,
Locais como "Porto Madeiro" em Buenos Aires...
ou fazer os shoppings de Córdoba...
e entretanto, nem pensamos com que tecnologia resolver...
o problema da moradia.
Hoje a evasão é impressionante.
Não é só uma discussão interna mas a universidade...
parece estar dirigida a um modelo de mercado...
Tarifas, quotas, dificuldades para permanecer...
e nem pensam que quando a gente se forma...
que a emigração seja a única saída.
A faculdade de medicina não se sentia em condições de respaldar...
sua própria autonomia frente aos grandes laboratórios.
A faculdade de engenharia não se sentia em condições de respaldar...
sua autonomia frente às grandes construtoras.
A faculdade de ciências sociais, podia não sentir-se...
com a suficiente autonomia intelectual para respaldar-se...
frente às reclamações dos grandes meios de comunicação.
De algum jeito nossas vidas intelectuais, culturais,
docentes, devo dizê-lo... lamentável,
lamento profundamente, converteram-se em vidas...
que embora não se declaravam como tais, estavam privatizadas.
Na década de 1990 a engenharia eletrônica virou...
para as telecomunicações, a engenharia industrial...
para a administração de empresas.
O que se formaram foram engenheiros para o mercado, digamos.
O mercado demandava técnicos de manutenção,
engenheiros de venda,
alguns gerentes das multinacionais, e isso se formou.
E isso repercutiu nesta faculdade e em todas as de engenharia.
A pergunta chave é para que formamos engenheiros,
para que trabalhem para quem paga mais...
para que desenvolvam sua carreira profissional no exterior,
ou para defesa dos interesses nacionais.
O debate foi sempre o mesmo. Maggi já o expôs em sua época.
O Engenheiro Juan Eugenio Maggi, formado nesta faculdade,
pioneiro no tema da energia hidrelétrica,
o tema de transporte, nacionalização das ferrovias,
dizia: "Não podemos formar tecnocratas que saiam para trabalhar a quem paga melhor".
Temos que formar engenheiros que defendam os interesses nacionais.
Uma sólida formação científica, mas vinculada com o desenvolvimento...
nacional estratégico.
Essa é a pergunta chave naquele momento...
e essa é a pergunta chave hoje.
Engenheiros argentinos construíram as grandes obra públicas...
e a infra-estrutura estratégica do país
Luis Huergo construiu pontes, rodovias e portos,
entre eles, o de Buenos Aires.
Os generais Mosconi e Baldrich... à frente da YPF,
em 7 anos multiplicaram 400 vezes o capital da petroleira estatal.
Julho Canessa, Diretor de Gás do Estado...
construiu o gasoduto que une a Patagônia com Buenos Aires.
O general Manuel Savio, mentor do plano siderúrgico...
construiu os Altos Fornos Zapla e Somisa,
as maiores siderúrgicas do país.
A FUSÃO DO CONHECIMENTO
Antes de uma central nuclear teve que haver siderúrgicas,
engenheiros eletrônicos, técnicos eletrônicos, eletricistas,
químicos, que não nasceram 5 dias antes da central nuclear.
Nasceram de uma história que começou por exemplo com o Huergo mesmo,
100 anos atrás. Ou antes possivelmente.
E isso se passou como um bastão, de mão em mão.
Sabiam por exemplo vincular-se com as universidades para que...
os laboratórios universitários, os especialistas universitários...
De que época está me falando?
Estamos falando provavelmente da década de 30.
A faculdade de engenharia química do litoral,
que é a primeira faculdade de engenharia química da América Latina,
nutriu-se de um monte de imigrantes perseguidos pelo fascismo italiano,
que são os primeiros desenvolvedores de toda a indústria química Argentina
e de onde podemos explicar a origem de tecnólogos...
em engenharias químicas, em petroquímicas, em refinação...
- Este torno é argentino? - Exatamente.
Amatistis, foi uma marca emblemática de tornos.
Não existe mais. Provavelmente, talvez, a gente poderia imaginar...
que deveria ser reconvertido,
mas o importante não é a máquina,
é a pessoa que inventou a máquina.
O que se fez dessa pessoa?
Ou seja, o que perdemos e o que destruímos é o capital humano.
Isso é o mais grave.
Hoje é necessário ter também a viga mestra...
que é o Projeto Estratégico Nacional e Industrial.
E há ou não há?
QUAL É O PROJETO DE PAÍS?
Hoje na Argentina se está consolidando um modelo...
agro-mineiro-exportador, de onde todo o desenho da política econômica,
creditícia, impositiva, beneficia aos grandes grupos monopólicos...
em qualquer item que falemos.
A política de privatização mantém-se,
aumentam os subsídios às privatizadas nos serviços,
dão-se concessões aos grandes grupos e créditos...
aos grandes grupos e que se negam por outro lado às pequenas e médias empresas.
Há 60 anos também se expôs que não era possível industrializar o país.
Hoje esse debate, os "cipaios" voltam-no a expor,
mas a Argentina é capaz.
Foi capaz, é capaz e será capaz.
Faculdade Nacional de Buenos Aires
Um milhão e 300 mil estudantes estudam em 38 universidades nacionais...
e 41 privadas.
O orçamento do ensino superior público...
não é suficiente para cobrir suas demandas básicas.
A Universidade Nacional do México e a Universidade de São Paulo...
investem 6 vezes mais por aluno que a de Buenos Aires.
Um professor titular com dedicação exclusiva...
e mais de 20 anos de experiência, recebe pouco mais de 1800 reais.
Milhares de docentes trabalham "de graça".
Doutor, em 2005, qual a realidade sócio econômica...
dos que estudam e ensinam na Argentina?
Neste momento a principal falência está...
na distribuição do ingresso.
Há 30, 40 anos atrás, na Argentina a relação,
a participação nos frutos do crescimento,
eram quase 50% entre o capital e o trabalho.
Hoje estamos em uma relação do trabalho de 21%.
A diferença entre o que mais ganha e o que menos ganha é 30 vezes.
- E quanto era nos anos 70? - 6, 7 vezes.
EVASÃO ESCOLAR
Aqui estamos no conjunto habitacional 18 da Cidade Evita,
em uma zona de alto risco. A escola está inserida...
em um bairro de alto risco, e o alto risco determina...
a problemática das famílias da qual procedem as crianças.
Há muita gente presa, muitos pais ou mãe que não...
são capazes de cuidar de seus filhos...
E por que não tomam conta?
Porque há muitas mães muito jovens, não é?
Com... com maridos presos ou mortos, não é?
Há muita mortalidade por parte dos pais,
e a pobreza, fundamentalmente, porque aqui a maioria das pessoas...
não tem trabalho.
Meu nome é Dante Alfaro,
sou diretor deste estabelecimento desde 1998.
Já faz 42 anos que vivo na Cidade Evita,
ou seja, que sou parte desta paisagem,
e luto dentro desta paisagem.
Aqui há mais de 300 alunos neste estabelecimento.
A desocupação é o problema.
Aqui a maioria das pessoas vive de bolsas.
O clientelismo político tem feito e continua fazendo estrago...
nesse esforço da família por recuperar sua dignidade.
O que está acontecendo com a educação é muito perverso para todos.
Com esta educação como a que temos,
não se beneficia o aluno, não se beneficia a família,
não se beneficiam os educadores.
Nós todos, é como que estivéssemos trabalhando contra...
nós mesmos.
É como que as crianças fossem jogadas para dentro da escola...
e agente fosse obrigado a resolver todos os problemas.
Não se pode trabalhar com uma criança faminta,
com uma criança que não tem normas.
Se detectarmos uma criança muito violenta,
que está mal psicologicamente, não temos para onde enviá-lo.
Quando vamos à família, a família não pode.
Não há um hospital onde pode atendê-la.
Quer dizer, se forem atrás de uma consulta...
conseguirá apenas depois de vários meses.
As pessoas não têm nem dinheiro para o ônibus.
Então depois as crianças, quando vemos os resultados,
quando fazem essas provas avaliadoras,
o que não presta é a escola pública, entre parênteses.
A escola pública não recebe nem 100 pesos por mês.
Nem 100 pesos por mês!
Entre a privação de tudo,
olhando o mundo que se desenvolve ao redor deles,
quando chegam estas crianças aos 11, 12 anos,
a conclusão que têm de sua vida, é uma vida miserável,
e que não merece ser vivida.
Essa criança, quando vê a mãe que não o que comer,
quando vê seus irmãos doentes e que não têm dinheiro para um remédio,
a primeira coisa que faz é dizer: "Eu vou, sair por aí, roubar, matar alguém,
mas este remédio eu levo a minha mãe ou a meu irmão".
Apesar de tudo, os professores ainda conseguem que as crianças aprendam.
Portanto hoje ser professor é uma tarefa heróica.
E ainda bem que a escola está ensinando valores quase contrários...
aos que pregam a sociedade.
O projeto teria que ser no máximo para hoje ou amanhã...
no caso de alguns alunos. Quem faltou?
Os valores dominantes são o hedonismo, a fuga, o prazer,
o "se dar bem", e a escola continua ensinando, relativamente,
o valor do esforço, da cooperação...
E a televisão como interfere?
A televisão é virtualmente a inimiga do que pode fazer...
a escola. Parece que há uma confrontação de valores contraditórios
entre o que transmite a mídia e o que transmite a escola.
É muito difícil que a escola possa estimular o interesse...
pelo conhecimento, quando a televisão faz justamente o contrário.
É muito difícil que a escola possa ensinar a falar bem,
quando a mídia e em particular a televisão,
seus protagonistas não sabem construir uma oração completa.
Falamos sobre Rodrigo, "bailanta".
Ensinamos sobre "bailanta", "cumbia",
não está bem nem mau, supõe-se que a escola deve ensinar o diferente.
Aquilo ao qual o povo cotidianamente não tem acesso.
Temos que oferecer-lhes Bach, Beethoven,
junto com Atahualpa, junto com John Lennon,
temos que dar-lhes uma cultura universal.
Eu não acredito que haja uma contraposição...
entre a cultura nacional e a universal,
ao contrário, há uma fuga, tanto da cultura nacional...
como da universal.
O querido Simón Rodríguez, professor de Bolívar, dizia:
"Ou inventamos ou erramos".
Em vez de procurar modelos na Europa, pensemos em nós mesmos,
na América Latina, e eu acredito que aí está a chave da questão.
Valer-nos da cultura universal,
do patrimônio universal do conhecimento, para inventar...
a sociedade, o mundo novo que precisamos construir aqui.
Temos milhares de garotos desprotegidos.
Desprotegidos de afeto,
porque aqui vou introduzir uma categoria política,
mas bem, aqui vou recorrer ao Che, quando Che dizia:
"Bom, embora pareça ridículo, vou falar do amor", não é?
Aqui as mudanças profundas são também, fundamentalmente,
uma questão de amor.
Não somente aqui haja uma destruição das questões materiais...
mas também das questões afetivas.
Tudo isso tem que ver com uma coisa, eu a sintetizaria...
em uma frase:
"Projeto de país e de sociedade".
Como dizia Eddie From, bom, os professores têm também...
o dever de lutar por uma sociedade...
onde se construam as condições sociais para que o amor impere.
Adivinhador adivinha, adivinha, adivinhador.
Adivinhador adivinha, adivinha, adivinhador.
Como aceitar a evasão da escola pública...
havendo no país fartura de recursos naturais...
que são do povo?
Como admitir que haja milhares de fábricas vazias de trabalhadores...
e prisões repletas com mais de 20.000 jovens
se no Banco Central há mais reserva em dólares do que nunca?
RECURSOS MINERAIS
O governo Kirchner, conseguiu reduzir o desemprego pela metade,
e obteve um bem-sucedido crescimento econômico de 8,5% ao ano...
com superávit fiscal.
Mas o essencial do modelo agro-mineiro-exportador...
iniciado pelo Menem continua.
O país continua entregando a fabulosa renda do petróleo e a mineração...
às multinacionais.
As corporações extraem sem nenhum controle público,
e a metade das concessões estão violando a lei.
Estamos no centro da bacia do Golfo de São Jorge.
Isto abrange desde o sul de Chubut, até o Norte de Santa Cruz.
São centenas de quilômetros ao oeste,
centenas de quilômetros ao leste e ao sul desta região.
É a segunda bacia de importância do país.
Há milhares de poços.
Produzem 5 mil, 10 mil, até 30 mil e 40 mil...
litros por dia de petróleo.
A 70 dólares, são vários milhões de dólares por dia...
que produzem estes poços.
A maior parte da renda fica em mãos das companhias privadas,
e infelizmente como dizia Mosconi,
o petróleo se vai pelo mar, outra vez.
Também na mineração, ninguém sabe o que levam.
Deixam 1,5% pelo que extraem,
e ainda por cima o subsidiam.
Só a renda petrolífera supera os 15 bilhões de dólares ao ano.
A riquíssima plataforma marítima que não se privatizou...
foi entregue para sua exploração,
livre de qualquer imposto.
Até quando tanta impunidade?
Sim, a Argentina pode recuperar sua riqueza...
aplicando as leis atuais.
Para ter um país ao serviço de seu povo, terá que apropriar-se...
e ter em suas mãos, os recursos naturais do território.
E isso significa para um país que quer fazer tudo,
energia, comida, moradia, vestuário, educação.
Quer dizer, apropriar-se das coisas que tem o território...
ao serviço de seu povo.
E em todo país que quer desenvolver a indústria,
necessita de energia abundante e barata.
E começa pelo que mais tem um país, que neste caso é o petróleo.
PESQUISA CIENTÍFICA
Instituto Malbrán - Buenos Aires
A Comissão Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas,
CONICET, sustenta uma comunidade de 12.000 pesquisadores,
bolsistas e técnicos, que trabalham em todas as disciplinas.
Apesar de sucessivas crises, Argentina não deixou de contribuir...
ao desenvolvimento das ciências.
Seus lucros mais relevantes foram no campo da biomedicina,
sendo reconhecida com 3 prêmios Nobel.
Bernardo Houssay,
Federico Leloir...
e César Millstein.
Houssay foi o fundador da Escola de Fisiologia Argentina...
e criador do CONICET.
Um de seus discípulos é o Doutor Charreau.
Doutor, e de onde vem o saber do Houssay?
Deve ter sido inato, por isso digo-lhe que era um autodidata.
Ele estudou o trabalho de Claude Bernard,
que foi o primeiro, digamos, fisiologista experimental do mundo.
Ele apenas leu, não é que chegou a trabalhar com o Claude Bernard,
na França. Ele o leu, e aí aplicou o método científico.
Experimentar, não é certo? E o *** e erro,
*** e erro, *** e erro.
Acreditava que da pesquisa científica também se podia viver.
Que a pesquisa científica era uma profissão.
Não existia a dedicação exclusiva, dentro dos cargos...
para fazer pesquisa no país.
E bom, Houssay o impôs.
O que lembra dele?
Decidi fazer minha pós-graduação em Harvard.
Estando lá, me ofereci para ficar como professor.
Quando escrevi ao Houssay, ele me disse: "Muito bem,
quero lembra-lhe que seus pais fizeram muito por você,
seus professores fizeram muito por você,
todos nós fizemos muito por você, por conseguinte...
vou escrever a seu chefe pedindo um mês a mais...
para que resolva seus problemas familiares, e volte para casa".
Bom, e voltei para a Argentina.
A PERSEGUIÇÃO DA CIÊNCIA
Doutor, mas como se pode explicar que estejam congeladas...
as promoções na CONEA?
Esse é um problema crítico para todo o sistema...
cientista tecnológico argentino.
Não tenho os dados exatos, mas entendo que houve quase 4 mil técnicos
que perderam suas promoções no INTA, sem poder recuperá-los durante muitíssimos anos.
A CONEA é exatamente igual.
O país faz todo um investimento de formação de pessoal,
de recursos humanos, e esses recursos humanos...
depois não são retidos.
A pessoa está obrigada a ir embora do país porque não tem...
não tem outra opção. No caso pontual da CONEA,
desde 1996 não há ingresso regular de pessoal.
Se calcularmos que em 5 anos vai haver na ordem...
de 500 buracos no escalão, que não estão sendo preenchidos.
São essas medidas que ninguém entende do famoso congelamento,
onde você de repente se encontra com instituições muito, muito boas,
onde por alguma razão, não pode entrar gente jovem.
Isso é o mesmo que dizer... alguém dentro de uma sociedade diga:
"As mulheres não podem parir filhos por 20 anos".
Você faz isso, matou uma sociedade.
Isso é não entender o que é um país.
Centro Atômico de Bariloche (CAB)
Sou engenheiro nuclear,
minhas responsabilidades estão na área neutrônica,
quer dizer, cálculos numéricos com computadores do que é o coração,
o núcleo de um reator nuclear.
E qual é sua remuneração por esse trabalho?
1400 pesos.
- Menos de 500 dólares. - Menos de 500 dólares.
E fazendo uma conta rápida seriam menos de 3 dólares...
a hora de trabalho. É uma forma de castigo...
do país para as pessoas que querem ficar.
O país tende à expulsão...
de profissionais altamente qualificados.
E por que se vão?
E se vão porque estão muito bem formados,
porque são pessoas muito inteligentes,
porque são captados por diferentes lugares,
porque em muitas partes do mundo se entendeu...
que o recurso humano é o bem mais importante neste momento...
na sociedade mundial.
O governo sabe o que deseja com a ciência e tecnologia?
Isto... acredito que sim, mas o assunto mais grave...
é que se não tenho um plano estratégico nacional,
quando lhe peço à ciência e a tecnologia,
peço em função do conhecimento universal.
- Há um plano estratégico ou não? - Ao nível de Nação, eu creio que não.
E quantos andares há?
São 7 com o entrepiso, mas é o dobro altura dos de hoje.
Mas, acontece seguidamente isto?
INSTITUTO DE PESQUISA Acontece, acontece, sim. Infelizmente. FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAS - UBA
O cardiologista disse que isso não me faz bem.
É sob o orçamento argentino para a pesquisa?
Muito baixo. Está em 0,4% do produto interno bruto.
No Brasil está acima de 1%...
E na França ou Estados Unidos?
Estão acima de 2% do produto interno bruto.
O grosso da pesquisa científica, ainda nos países...
mais privatistas do mundo, são financiadas pelo estado.
Diga-me Enrique, quanto é a total de pesquisadores...
que se foi do país?
Aproximadamente, 50, 60 mil.
- Para o estrangeiro? - Sim.
Graduei-me físico na Faculdade de Ciência Exatas em Buenos Aires,
trabalhei para a Comissão de Energia Atômica.
Cheguei aos Estados Unidos, fiz uma pós-graduação e voltei para a Argentina.
Não queria ficar aqui. Eu queria voltar...
e viver lá na Argentina.
A economia e o desastre era tão grande, que realmente...
qualquer um se vai por medo.
O que você quer dizer com "ir por medo"?
Medo de não poder avançar,
medo a não poder desenvolver-se profissionalmente,
medo de não poder dar aos filhos uma educação,
medo de chegar pobre à velhice.
Para os cientistas, em particular, medo é não poder desenvolver-se.
O problema do cientista argentino é que se vê obrigado...
a fazer pesquisas em temas que são interessantes...
para os centros econômicos, mas não para o país,
porque o país não desenvolve seus próprios temas.
Fiz meu doutorado aqui no instituto Balseiro,
e depois fiquei um tempo no exterior,
estive na Itália, Espanha, França e América do Norte,
e finalmente retornei.
Há quantos anos que retornou, Raúl?
- Retornei no ano de 1991. - E por que motivo?
Decidi que aqui era onde eu queria trabalhar.
Queria pôr meu esforço aqui no país, e não no exterior.
Por quê?
Senti que tinha que devolver ao país o que o país me tinha dado,
que era esta formação. Esta formação livre e gratuita.
A tendência está se revertendo?
As pessoas estão retornando.
Um argumento que se escutou muitas vezes é que aqui no país...
não se pode fazer uma carreira científica porque está isolado do mundo.
Isso não é certo e acredito que cada vez é menos certo.
INVENÇÕES DESPROTEGIDAS
A Argentina conta com 20 mil pesquisadores que trabalham...
em universidades e institutos tecnológicos,
mas carece de um projeto estratégico que oriente a ciência...
às necessidades do país, a *** crítica se desperdiça,
emigra ou serve às multinacionais.
Na década de 1990 se definiu aos centros de pesquisa...
como unidades de negócios.
fomos muito afetados pela desnacionalização...
da indústria Argentina.
Se hoje sobre as maiores 1000 empresas produtivas,
podemos identificar que aproximadamente 800...
são filiais de corporações multinacionais, isso significa...
que essas 800 empresas não fazem pesquisa na Argentina.
Como nascem as investigações do INTI?
Trabalhamos em função de que nos pedem.
Não estou dizendo nenhuma heresia se disser que não tem...
uma política produtiva oficial, estável, há algum tempo.
No Brasil foi consolidada ao longo dos anos...
uma legislação que, por exemplo, utiliza um imposto...
muito significativo sobre royalties e remessa de lucros ao exterior...
para financiar a pesquisa no Brasil.
Aqui simplesmente pagamos royalties por marcas...
e por uso de conhecimento desenvolvido no exterior,
por milhares de milhões de dólares, mas além disso pagamos royalties...
até para fabricar um detergente.
A falta de uma política de amparo e patenteamento...
da invenção nacional, faz com que muitas pesquisas...
que são pagas pelo estado, são feitas a pedido das corporações...
que terminam as patenteando.
DESENVOLVIMENTO NUCLEAR
O mais ambicioso projeto tecnológico encarado pelo país,
foi o desenvolvimento nuclear.
Em 1950, cria-se a Comissão Nacional de Energia Atômica,
que chega a ser a maior concentração científica nacional.
6000 técnicos e pesquisadores trabalhando em centenas de projetos...
no campo da ciência de materiais, clima, espaço,
medicina, e a metalurgia, que teve como incentivador...
o talentoso físico Jorge Sábato.
Em 1974, começa a funcionar em Atucha...
a primeira central nuclear do continente.
Anos depois, a central de Empoce, em Córdoba.
Em 1981, consegue enriquecer urânio com tecnologia própria...
em sua fábrica de Pilcaniyeu, e se adere ao tratado...
de não proliferação de armas nucleares.
Mas o desenvolvimento nuclear foi desarticulado,
e o pessoal da CONEA reduzido na metade...
pelo governo de Carlos Menem.
Fábrica de Água Pesada - Arroyito - Neuquén
A tentativa de privatizar as centrais nucleares...
e a fábrica de água pesada, foi impedido por uma forte resistência.
O que não pôde evitar-se foi que dezenas de físicos...
e pesquisadores abandonassem o país.
Bom, nesta fábrica produz-se água pesada,
que é um insumo básico para o funcionamento...
das centrais nucleares, que como as nossas, funcionam...
com urânio natural.
Quantas fábricas há como esta?
Bom, como esta, realmente nenhuma.
Esta é a fábrica de maior capacidade de produção no mundo.
Produzimos 200 toneladas por ano,
e além disso produz com a maior qualidade de água.
Ou seja, a maior qualidade, o maior grau de pureza, que é 99,8%.
E para quem produzem?
Estamos por começar a produção para a Atucha 2,
que vai implicar no funcionamento desta fábrica com exclusividade...
de aproximadamente 4 anos.
Exportamos a países como a França, Coréia do Sul,
Estados Unidos, Alemanha.
O plano nuclear foi relançado pelo governo Kirchner para terminar...
a central Atucha 2, reiniciar o enriquecimento de Urânio,
e fabricar o primeiro reator argentino de potência, Karem,
que pode abastecer de energia a cidades de 100 mil habitantes.
É a contribuição de centenas de físicos e engenheiros da CONEA...
que desenvolveram os reatores para pesquisa científica...
como o RA6.
Venha por aqui.
Bom, eu sou Carlos Go,
sou o Chefe da Unidade de Atividade de Engenharia Nuclear...
do Centro Atômico Bariloche,
e dentro dessa unidade de atividade está o reator RA6,
que é o primeiro construído e projetado integralmente...
pelos argentinos.
Para que serve o reator?
O reator inicialmente foi orientado...
como uma ferramenta de treinamento dos engenheiros nucleares...
e posteriormente fomos introduzindo um uso...
muito variado no campo do meio ambiente, por exemplo,
e no campo da saúde.
Neste momento estamos funcionando...
como podem notar olhando para o corrimão...
do reator, verão que aparece uma radiação azulada,
que é a única diferença que alguém pode notar...
se o reator está funcionando ou não.
INSTITUTO BALSEIRO
No Centro Atômico Bariloche, funciona o Instituto de Física,
onde se formaram gerações de cientistas,
que conseguiram dominar o ciclo completo da energia atômica.
Edgardo Bisogni, foi um de seus primeiros formados.
Estamos nas salas de aula do Instituto Balseiro,
onde cada ano se forma um pequeno número de alunos,
ao redor de 30, para as carreiras de física e engenharia nuclear.
depois de 2 anos de estar aqui, os alunos já fazem trabalhos...
de pesquisa e se incorporam ao grupo de pesquisadores.
É maior a quantidade de docentes que a quantidade de alunos.
Como é a relação com os alunos?
Realmente acho que é uma mão-dupla, não é?
E eles também propõem-me coisas novas.
Tive que revisar muitos temas, aprendi muitíssimo.
- O professor aprende? - Sim, sim, claro. Claro.
Sobretudo que estes cursos são temas abertos nas pesquisas atuais.
E por que é bom este curso?
Esta geração? Não sei. Deve ser sorte.
Onde se inicia o núcleo de física na Argentina, Lito?
A atividade da física na Argentina se inicia...
na Universidade de La Prata, lá pelos anos de 1910 e 1920.
Enrique Gaviola, foi um destacado físico argentino...
que se graduou na Universidade de La Prata,
e teve o privilégio de fazer seu doutorado na Alemanha,
na década de 1920, quando se estava gerando...
a mecânica quântica, que depois revolucionou...
todo o campo da física moderna.
E Balseiro toma uma das idéias fundamentais que tinha Gaviola,
de fazer um instituto do máximo nível...
para formar pesquisadores, ao lado de pesquisadores em atividade.
E que pudessem tomar certos valores que fazem à prática...
...da pesquisa científica. - Por exemplo?
Está o tema de nossa idéia intelectual,
da independência de critério, a formação de um espírito crítico...
que permita ao pesquisador ter idéias próprias.
Transmitiu valores éticos que marcaram a todos...
em nosso desenvolvimento profissional.
Retidão, sua integridade, quando Balseiro falava de ética,
não era uma declamação, ele era um cara...
totalmente aderido aos valores da ética.
Balseiro tinha muito clara a idéia de que nós cientistas...
temos que devolver ao país, toda a formação, todo o esforço...
que a sociedade tem feito para contribuir com nossa formação.
Tinha apenas 43 anos e morreu de uma leucemia...
que em poucos meses foi minando sua saúde.
DESENVOLVIMENTOS TECNOLÓGICOS
Uma das empresas públicas mais bem-sucedidas é a INVAP,
criada pela Comissão de Energia Atômica e a província de Rio ***.
Em 30 anos ficou na vanguarda nas áreas nuclear e industrial,
demonstrando uma vez mais que o Estado é capaz...
de administrar empresas rentáveis e ambiciosas.
A idéia era mostrar que se podiam fazer desenvolvimentos tecnológicos...
apoiados em ciência básica Argentina.
A idéia do líder fundador deste grupo, o doutor Conrado Barotto,
foi de que se podia utilizar essa capacidade...
para resolver problemas concretos que têm a ver com a indústria,
com a atividade econômica.
Quais foram as obras mais importantes?
Eu diria que a nível nacional, de longe, a tecnologia...
de enriquecimento de urânio. A fábrica que está em Pilcaniyeu.
A fábrica de produção de zircônio. Zircônio é um metal especial...
que se usa na indústria nuclear.
Muito difícil de obter, há poucos países no mundo que dispunham...
dessa tecnologia. Isso nos permitiu começar as exportações...
no caso do reator da Argélia.
Depois um projeto no Egito, na década de 1990.
Isso nos permite começar com o projeto da Austrália.
De novo uma licitação internacional onde aí competem...
8 empresas das mais importantes do mundo.
Como a Siemens, a General Atomic dos Estados Unidos.
Novamente é um reator para produzir radioisótopos.
De novo será o reator mais moderno...
e mais seguro em seu tipo no mundo.
A partir de uma tecnologia nuclear, a INVAP construiu equipes...
para radioterapia, automatização industrial, radares e satélites.
Bom, aqui estamos nas instalações que chamamos "Vila Golfe", do INVAP.
Este é um... poderíamos descrever como um laboratório...
no qual há umas 70 pessoas trabalhando.
Primeiro está toda a parte de integração via satélite.
Quanto satélites há em órbita?
O satélite que está voando é nosso terceiro satélite.
Os 3 satélites foram fabricados totalmente aqui na Argentina,
em Bariloche, e todas as cargas úteis...
que a Argentina colocou, basicamente são as câmeras,
também fabricadas neste laboratório.
Entramos ao lugar onde se fez...
a integração dos 3 satélites argentinos.
Há uma sala. Esta é uma sala de pré-integração,
e aquela é a sala de integração, onde vemos uma réplica,
que é a que se usa para fazer os ensaios ambientais.
O desenvolvimento de um satélite leva 4 ou 5 anos.
600 mil horas de trabalho.
Neste momento estamos fabricando 2 satélites.
Um satélite que se chama Saocom...
e outro satélite que se chama Sac-D, que é uma missão conjunta...
entre os Estados Unidos e a Argentina. Participa a agência NASA,
e pela Argentina está a Comissão de Atividades Espaciais.
Se hoje quiséssemos vender aos Estados Unidos...
satélites, podemos fazer com igual qualidade que eles,
em igual tempo, e muito mais baratos não podemos,
porque 100% do dinheiro federal dos Estados Unidos,
do dinheiro do governo americano, gasta-se em empresas americanas.
Vamos comparar com o que nós fazemos...
e com o que temos feito durante toda a história.
É uma vergonha. Se a gente olhar para o Brasil, por exemplo, ou Austrália,
que é nosso cliente, 50% do projeto...
que estamos fazendo na Austrália, o mesmo faz o Brasil,
tem que ser feito por empresas australianas, nesse caso.
Quer dizer, por empresas nacionais. Quando a gente compra, impõe condições.
Quem compra, impõe condições. Nós não as impusemos.
Sempre nos são impostas condições.
O "colonialismo mental" é que, em nossa área,
na área tecnológica e científica, quer dizer que estes temas não são para...
países como a Argentina. E nós dizemos isto desde o começo...
através da liderança de Barotto e todo mundo que o sucedeu,
e a equipe que seguiu adiante, quer dizer definitivamente NÃO...
ao colonialismo mental. Aqui se podem fazer as coisas,
se estiverem os elementos, se houver objetivos claros e haja políticas...
que se mantêm no tempo.
A Argentina comprovou ser capaz de realizar...
objetivos tecnológicos complexos, e pôde fazer um milionário...
e desproporcionado investimento em seu plano nuclear.
Mas os ranços do colonialismo mental,
lhe impedem de gerar um projeto estratégico próprio.
Frente ao ocaso da civilização do petróleo,
continua alienada ao modelo poluente e depredador...
do capitalismo do norte.
O país não desenvolve as energias renováveis e não poluentes...
das quais está repleta.
Energia solar, biomassa, maré-motriz, eólica.
ESTAÇÃO TERRESTRE DE CORDOBA
Aqui estamos na estação terrestre Córdoba.
É o lugar onde captamos as imagens...
de mais de 10 satélites que recebem-se, aqui na estação,
e também podemos controlar nosso satélite Sac C,
e ter informações do mesmo.
Esta é a sala de operações,
recepção e controle em tempo real dos dados,
controle das antenas,
e mais à frente, o centro de controle de missão...
do Satélite Argentino Sac C.
Neste momento o Sac C está sobre o território da Antártida.
Toda órbita demora, aproximadamente, 90 minutos...
em percorrê-la, e quando encontre-se nesta zona,
nesta circunferência que vocês vêem aqui,
brinda-nos... Quer dizer, podemo-lo ver...
da estação terrena Córdoba,
e vai dar uma volta completa à terra em 90,
aproximadamente, 90 minutos.
Em 10 minutos pode cobrir todo nosso país.
O doutor Conrado Barotto é um dos físicos mais relevantes do país.
Dirige a Comissão Nacional de Atividades Espaciais.
Nós estamos acostumados a nos definir como arquitetos espaciais.
O eixo do Plano Espacial Nacional é não olhar para cima,
a não ser olhar para baixo. Estar acima, para observar nosso território.
A característica de toda a atividade espacial da Argentina...
é que tem um alto conteúdo científico,
um alto conteúdo tecnológico. Terá que desenvolver tecnologia,
terá que desenvolver ciência, mas tem um objetivo final...
que é diretamente de tipo sócio-econômico.
Por exemplo?
Por exemplo, otimizar tudo o que tenha que ver...
com o que se chama questões de saúde.
Por exemplo a tecnologia panorâmica. Que é uma área completamente nova,
onde a CONAE foi pioneira.
E uma das necessidades importantes é a determinação...
da salinidade do mar. A salinidade do mar...
tem a ver com várias questões climáticas...
acarretando problemas de ordem ictiológica.
Este é um satélite de muito alta resolução da ordem de 1,8 metros,
quase 2 metros de resolução. O que isso quer dizer?
Que coisas que estão a mais de 2 metros de diferença entre elas,
da ordem de 2 metros, você pode diferenciá-las.
Todo nosso plano espacial, está desenhado...
para que nossos satélites preencham buracos de informação.
Os satélites atualmente que estão em construção, de tipo radar,
demonstram que a Argentina terá um dos sistemas de observação...
da terra mais avançados do mundo,
porque fazer instrumento radar tem a grande vantagem...
de que não importa que seja de dia ou de noite,
não importa que haja nuvens, etc, nós temos a mesma informação, certo?
Quais foram os projetos mais difíceis?
A Argentina desenvolveu, por exemplo, a tecnologia...
de enriquecimento de urânio. Fez completamente sozinha,
sem ajuda de ninguém, com seus próprios pontos de vista,
suas próprias tecnologias desenvolvidas... desenvolvidas, olha,
com garotos como estes que vêm para cá, porque o coração...
de toda esta capacidade que tem o país, é a rapaziada, não é?
Todo mundo fala da deficiência das universidades.
Tudo bem, temos várias deficiências,
mas por algum milagre Dele lá em cima, que não sei por que,
a rapaziada que sai é fabulosa.
Há países que têm algo, um motor próprio onde a rapaziada...
têm uma criatividade tal qual enguias...
que se movem no meio da confusão. E nisso,
criam, e criam, e se houver algo fabuloso nestes garotos...
O que quer dizer "confusão", Barotto?
Quer dizer o seguinte: Que apesar de que...
Cada país tenha suas características. Não tem que esperar ter...
um país ultra estruturado, com toda uma ordem perfeita,
para que coisas importantes sejam feitas.
Coisas importantes se fazem quando há criatividade.
E o pessoal argentino é de uma criatividade ímpar.
Frente a um problema não se esgotam,
e sempre saem imaginando algo novo para solucionar.
O importante é que haja uma classe dirigente que entenda...
que este país pode. Eu sempre dou um exemplo.
Se não tivesse sido por esses malucos, que um dia,
um 25 de maio... entre um 22 e 25 de maio,
plantaram-se em uma praça, há muito tempo atrás,
estou falando de 1810, com idéias inovadoras,
porque dizer: "Ah não, nós agora somos da coroa,
não há mais coroa, então nós também..."
Quantos eram 100, 200? Quantos eram? Hoje não teríamos pátria.
São nesses momentos em que você precisa ter...
essas mentes brilhantes que se animam...
a propor soluções totalmente diferentes,
e que além disso alguém acompanha-os e toma a decisão.
Nossa Argentina tem que ir à sociedade do conhecimento.
Esta preparada, tem tudo para isso.
E tem o essencial que é a rapaziada.
Se eu não dou oportunidade aos mais jovens, não há esperança.
O que é que estão fazendo aqui?
Estamos fazendo o projeto de um computador...
para vôo de aplicações em satélites.
Estamos trabalhando aqui em um dispositivo...
que fica em algum veículo, um satélite por exemplo,
e o que faz é processar e calcular em que posição...
encontra-se o veículo em cada momento.
Sim? Posição, velocidade e para onde está olhando.
Se você pegar o espectro do conhecimento,
A Argentina tem fortes linhas em quase todo o espectro.
O desafio maior, o desafio maior não é ter linhas fortes...
em todo o espectro. É fazer a aproximação entre elas.
Aprender a trabalhar juntas as especialidades.
Conjunta. Ou seja, o que se chama de equipes interdisciplinares.
O que são as equipes?
Uma equipe interdisciplinar é quando você tem um problema,
e o problema é problema para todas as especialidades.
Cada um contribui com sua própria capacidade e seu próprio conhecimento.
E na interação, a sinergia não é dois mais dois igual a quatro,
a não ser dois mais dois igual a cem. Este é o ponto chave.
- Dois mais dois... - Igual a cem.
- A cem! - Sim, sim.
Se a gente quer pensar na Argentina, nas ciências,
na tecnologia, etc., pode ir para trás até onde quiser,
basta pensar que todo o Exército dos Andes se armou...
em Plumerillo, digamos.
Podemos pensar como San Martín decidiu ir ao Chile, Peru,
e ainda por cima desenvolver todo o armamento e tudo, lá em Plumerillo?
Alguém pensou no Frei Beltrán. Esse tipo de coisas?
Este é um país que sempre fez as coisas. Não é que...
Pelo amor de Deus, temos que pensar no que é este país.
Que traz profissionais de primeira linha de fora.
A ciência Argentina que continua crescendo...
com a escola alemã e a escola italiana,
que os trazemos para o país.
Há toda uma coisa, que a vivemos. Mas ao mesmo tempo...
de viver a formação, vivemos uma espécie de mística.
Essa espécie de mística era: "Aqui ninguém diz que não se pode".
- Como? - Ninguém diz que não se pode.
Aqui as coisas podem. Não há colonialismo mental aqui.
- As coisas podem ser feitas. - Um exemplo?
Olhe, o enriquecimento de urânio. Quer dizer...
terá que desenvolver a tecnologia de urânio...
em condições completamente próprias,
virtualmente sem acesso sequer à pouca bibliografia aberta.
E a ninguém lhe ocorreu que isso não podia ser feito aqui.
E se fez.
E se combina com o fato de que temos uns garotos...
que são maravilhosos.
- Trabalhavam garotos? - Sim.
Olhe eram... eu lhe digo, quando nós começamos...
eu mesmo quando começamos o projeto de enriquecimento de urânio,
eu tinha 35 anos, acho, 36. Quando começamos.
E os que trabalharam comigo eram todos menores que eu.
Eu não nasci na Argentina, digamos. Nasci na Itália...
e vim à Argentina quando tinha pouco mais de 9 anos.
E tenho que reconhecer que a mim a Argentina me deu tudo.
Foi um país que... digamos, vou-lhe dizer algo bem claro,
quando escrevi minha tese a dedicatória dizia:
"A um país extraordinário, a meus pais por me trazer para viver nele".
Ou seja, eu sou cria do Balseiro.
E isso realmente escrevi, e o escrevi convencido,
e continuo pensando o mesmo. É um país maravilhoso.
Por quê?
Olhe, para qualquer menino que nasceu em meio de uma guerra...
e viveu um pós-guerra, e chega à Argentina...
a princípios da década de 50,
A Argentina era um paraíso.
Um país que o recebe com os braços abertos.
Que lhe dá todas as oportunidades, que jamais o discrimina,
e que bom, permitiu-me chegar onde cheguei.
Que me formou no exterior quando eu precisei.
Quer dizer, esse é um país único.
E temos que tomar consciência que essa é a Argentina.
Independentemente das tolices ou das mentiras...
que de vez em quando aprontamos.
Essa... Eu sempre digo: Terá que separar a palha do trigo.
A essência da Argentina é a que eu vivi, e a que vivo.
O resto, eu diria que sempre é anedótico, circunstancial,
que às vezes nos faz sofrer muito.
Mas a essência da Argentina continua sendo forte.
Somos da gloriosa banda descontrolada,
a que luta e trabalha contra a "gorilada".
Apesar dos mortos, dos momentos vividos,
continuo te seguindo, estaleiro querido.
Estaleiro! Estaleiro! Estaleiro! Estaleiro!
Nossa história independente...
nasceu da certeza dos homens que afirmavam: "É possível".
E o demonstraram junto ao obstinado esforço de seu povo.
Logo depois de décadas de escuridão,
renasce do Caribe à Patagônia a utopia dos povos originários...
e as maiorias que vieram lutando pela emancipação.
América Latina conta com todos os recursos e saberes,
junto a seus originais patrimônios culturais.
Não é hora de nos integrar em uma grande comunidade de nações...
para superar as deficiências de nossas pequenas pátrias?
É tempo de retomar os ideais do Tupac Amaru,
San Martín, Bolívar, Fidalgo,
Artigas, Solano López, Martí,
Zapata, Yrigoyen, Sandino,
Perón, Gular, Além de,
Che, Fidel...
e os líderes do século XXI...
que retomam as bandeiras da pátria grande.
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