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Eles chamam a Grã-Bretanha de vastidão desconcertante.
Um lugar tão bonito quanto inóspito.
As ilhas e montanhas da Escócia, parecem existir à beira da fantasia.
Mas nem sempre foi assim.
Por séculos, a Escócia gaélica foi o coração do reino escocês.
Aí, tudo mudou.
Tornou-se algo diferente.
Algo separado.
Outra coisa.
Quando as terras baixas pensam nos gaélicos, eles lembram de ovelhas e casas de colmo.
Eles não acham o gaélico legal. Eles não dão importância.
Por que algumas pessoas querem destruir o gaélico? Foi a nossa primeira língua.
Em muitos aspectos, a Escócia é uma nação de 2 culturas. Uma das montanhas e outra da planície.
E uma parte simplesmente não aceita compreender a outra.
Poucos falam gaélico. Falamos em inglês e, querendo ou não,
nós mesmos incentivamos o anglicismo.
E quando vamos às Highlands e Ilhas, nos deparamos com uma linguagem e cultura
completamente incompreensíveis e não damos a mínima.
É uma visão dupla desconcertante.
É a consciência escocesa pesando.
E tudo começou com uma rixa entre duas famílias.
BBC A History of Scotland
Episódio 4 - O poder da língua
Neil Oliver.
Transcripted by Nephilim.
Na Escócia do século 15, a família era tudo.
Esta é a história de duas dessas famílias,
e como seus destinos se entrelaçaram.
A ascensão de uma levou à queda da outra.
Uma peleja épica.
Seus nomes viraram lenda.
Os Stuarts e os Macdonalds.
Tem uma história de um viajante medieval espanhol, que foi visitar Edimburgo.
Quando retornou, lhe perguntaram qual foi a coisa mais maravilhosa que ele havia visto.
O viajante pensou um pouco e respondeu:
"Um grande homem chamado de Macdonald, com um grande rastro de homens atrás dele,
que não eram nem duques nem marqueses."
Seu nome era Alexander, Senhor das Ilhas, Conde de Ross, o rei das Hébridas.
A família de Alexandre, os Macdonalds, faziam o dever de casa com precisão.
Eles haviam apoiado "The Bruce", torrencialmente.
Terras, riqueza e poder.
Um exército de 10.000 homens.
Um poderio sobre as ilhas,
um poderio sobre o mar.
Esta é a "Birlinn", usada nas Hébridas, uma galé oriunda das embarcações vikings.
Qual a área que este barco poderia, efetivamente, cobrir?
Eu diria uns 80 km por dia.
Você poderia ir das ilhas ao norte até o Cabo Wrath em 2 ou 3 dias,
com o vento a favor.
Qual a importância destas embarcações para o senhorio?
Vital. Quem controlasse as rotas no mar detinha o poder.
Nenhuma promessa seria mantida.
Se não fosse por elas não existiria nenhum senhorio nas ilhas.
Com uma centena de barcaças sob seu comando, Alexander dominou a margem atlântica da Escócia.
Não é à toa que era conhecido como o rei das Hébridas.
O ponto central destes longínquos territórios era Finlaggan, situado em Islay.
Foi aqui que Alexander convocava seus chefes, fazia negócios, formava alianças e mantinha a paz.
Como arqueólogo, o que me impressiona neste lugar, é o fato de não ser fortificado.
Claro, nem precisava ser.
Quando Alexander assumiu, seu clã já desfrutava de um século de estabilidade.
Com essa paz e sob o patrocínio do Clã Donald,
floresceram a arte, a escultura, a música e a poesia.
"Para Macdonald dos olhos majestosos, lhe dou este presente.
Um presente maior do que a taça de ouro dada a mim.
Embora eu tenha recebido a taça livremente, do lobo dos gaélicos,
eu a restituo da mesma forma. Meu amor é o pagamento."
Difícil saber o que acontecia em Finlaggan ou Annait, mas os achados arqueológicos
descobertos posteriormente, nos dão uma ideia daquele período.
Isto é a coleira de um cão de caça e, pelo seu estilo, vemos que o dono
estava orgulhoso do seu cão e queria o melhor, pois os chefes dos clãs eram grandes caçadores.
Estas são as peças de um jogo, talhadas em osso. As regras do jogo há muito esquecidas, mas aqui,
nota-se o contorno de um veado com seus chifres, a boca aberta e sua língua de fora.
E, finalmente, esta última peça, é um emblema ou símbolo de um peregrino.
É feita de chumbo, proveniente de Roma.
Assim, alguém ligado ao chefe das ilhas, foi a Roma e trouxe este suvenir
com a imagem de São Pedro, carregando as chaves do céu.
Alexander, Senhor das Ilhas, tinhas as chaves de reinos mais terrestes.
Seu dominío atlântico lidava com duas direções distintas.
Ao sul, estava a Irlanda.
Onde família e laços culturais estavam arraigados.
A leste, estava a Escócia.
O senhorio se situava nas barbas do reino escocês.
Um ponto muito central.
O mundo gaélico dos senhorios estava no coração de toda Escócia.
Foram os gaélicos que forçaram a unificação do reino.
Dando-lhe seu nome gaélico, Alba.
Agora, a Escócia gaélica desfrutava de uma segunda idade de ouro.
Se Finlaggan era o coração do senhorio, então Iona era a sua alma.
A ilha de St. Columba foi um dos mais importantes sítios espirituais da Escócia.
Aqui eram enterrados os corpos dos lordes das ilhas.
Alexander cobria a Abadia e sua comunidade de dinheiro e presentes.
Claro, ele tinha bons motivos.
Tal qual um padrinho medieval, ele tinha uma série de amantes,
e uma pilha de cartas de advertência do Papa para pô-lo à prova.
Toda construção de uma igreja era uma espécie de apólice de seguro espiritual.
Mas se Alexander temia pela sua alma, agora ele tinha muito mais o que temer.
Ele era um "rei gaélico" que reinava apenas em suas terras.
Em uma terra onde não havia um rei de verdade.
Nessa época, a Escócia era um reino com um trono vazio.
Havia um hiato na linha de sucessão.
Seu jovem rei estava nas mãos do inimigo, apelidado de "O Cativo".
James Stuart, rei da Escócia, foi capturado pelos ingleses, aos 12 anos de idade.
Sua família lutou ao lado de Robert Bruce durante as guerras de independência.
Quando se esvaiu a linhagem de Bruce, os Stuarts tomaram o trono escocês.
Mas a alma dos Stuarts nunca tinha ficado refém.
A barganha política.
Era sempre o velho jogo.
Se o magnata escocês quisesse retornar, teria de se submeter à soberania inglesa.
Esqueça Bruce, desista da sua independência.
Mas os escoceses não queriam jogar sob as regras inglesas.
"Não, muito obrigado", eles disseram.
"Estamos indo bem sem um rei", daí James foi deixado como um cativo, em sua superfluidade.
Por um tempo, James era levado de uma prisão miserável para outra.
Porém, em seguida, os seus privilégios reais foram restaurados.
Foi lhe dado salvo-conduto na corte de Henrique V.
Você pode imaginar a gratidão de James
por este ato de benevolência.
Mas os motivos de Henry não eram exatamente benévolos.
Estava em guerra contra a França, e precisava de um aliado para lutar contra um inimigo antigo.
Por outro lado, Henry não lutava apenas contras os franceses.
Havia os escoceses.
O papel dos escoceses nas guerras de independência, era algo que os franceses jamais esqueceram.
Nestes desfiles de verão na França, as multidões celebravam a chegada das tropas escocesas.
Uma luz num momento delicado na história daquele país.
Henry V derrotara os franceses em Azincourt, e a vitória decisiva estava muito próxima,
enquanto os escoceses aguardavam a favor do antigo aliado (auld alliance).
Agora, os escoceses e franceses se uniriam contra o rei inglês.
que tinha uma arma perfeita para balançar os escoceses, James.
Agora, os planos de Henry começam a ficar claro.
James era o rei dos escoceses.
Então James poderia lhes dizer para fazer as malas e ir embora.
Mello seria o *** de fogo.
Em 1420, Henry cercou este sítio estratégico,
a montante de Paris.
As paredes eram defendidas pelas tropas escocesas.
James sabia exatamente seu papel.
Ele ordenou a rendição escocesa.
Reis ingleses e franceses esperam obediência cega de seus súditos.
Mas esses soldados eram escoceses.
E na Escócia, rei e reino não significam a mesma coisa.
A Escócia estava acima do individualismo.
Era uma comunidade.
Uma rígida rede de lealdade.
"Abaixem suas armas", James ordenou a seus soldados.
E os escoceses seguiram lutando.
700 defensores contra uma força sitiante de 20 mil.
Hoje em dia, as galerias subterrâneas são utilizadas para armazenar vinho.
Mas em 1420, foi palco do perverso combate mano-a-mano.
Os ingleses cavavam túneis sob as fortificações, para miná-las.
Os defensores abriam seus próprios túneis para contra-atacar.
E assim que, numa claustrofóbica escuridão, a batalha de Mello foi travada.
Mas apesar de toda a tenacidade, os defensores de Mello não aguentaram.
Quando Henry finalmente sufocou a cidade, ele experimentou a vingança.
Os escoceses sobreviventes foram apartados e executados,
por alta traição ao seu rei, James I.
James jamais esqueceria a vergonha de Mello. Ele foi ordenado para agir como um fantoche.
Ele havia sido desafiado por seus súditos.
Sua humilhação foi imensurável.
Extrapolou tudo.
Mello moldaria o tipo de homem que James se transformaria.
Intolerante, inflexível, impaciente.
Dois anos após Mello, Henry V estava morto.
Seus sucessores não viam nenhum valor político em James.
Mas o prisioneiro ainda valia o resgate de um rei.
Em 1424, houve um acordo com a Casa de Lancaster.
Aos 30 anos, James Stuart estava a caminho de casa.
A Escócia só existia na sua memória.
Ele passou mais da metade de sua vida no cativeiro, então havia muita coisa a ser feita.
Em outras palavras, era um rei com pressa.
Alexander Macdonald foi um dos que lhe deram boas-vindas.
Rei das Hébridas e Senhor das Ilhas.
Ele deve ter sido cauteloso com a chegada do rei.
Junto com outros magnatas escoceses, Alexander havia pago um resgate colossal.
O que eles queriam com aquele resgate?
Fabricar um rei que entendesse que a superioridade era tudo.
O Palácio de Linlithgow foi o começo para James I.
Seria uma novidade na Escócia.
Não era uma fortaleza.
Era uma grande residência para a realeza escocesa.
Seria um ode à suntuosidade,
e não à força.
James tinha um compromisso.
Ele queria mesmo elevar o conceito de realeza.
O Palácio atesta a ambição de James como um monarca europeu.
Antes de James I, o rei era considerado igual aos magnatas.
E, às vezes, nem isso.
Mas James não achava ser equivalente.
James I era educado e talentoso.
Ele seria o rei do renascimento escocês.
Entre muitos outros talentos, ele tinha um verdadeiro dom para a poesia.
Num poema intitulado "The Kingis Quair", descreve o momento no qual se apaixona.
"Então lancei meus olhos para baixo novamente"
"Onde vi, caminhando sob a torre, Secretamente, como uma elegia"
"A mais bela e a mais viçosa flor que havia visto, pensei"
"Que subitamente fez meu corpo tremer e jorrar sangue para o meu coração."
James era um cativo na Inglaterra quando ele escreveu estas linhas.
Ele não aprendeu esta língua na corte de Henrique V,
foi pela sua mãe, imagina como ele deve ter ficado confuso.
O rico dialeto do seu local de nascimento na Baixa Escócia.
A Escócia no século 15 era um mosaico de diferentes línguas.
Na Baixa Escócia falava-se um distinto vernáculo com raízes anglo-saxônicas.
Pelo menos metade da população do reino falava gaélico.
E na Escócia gaélica não havia uma figura mais influente e
poderosa do que Alexander, o Senhor das Ilhas.
Enquanto James contruía o palácio, Alexander edificava o império.
As galés de Alexander lhe deram controle sobre as ilhas, mas ele queria o continente.
Ross, trecho que une o Atlântico às ricas terras da costa do Mar do Norte.
Ao conquistar Ross, Alexander tornou-se um dos mais poderosos proprietários de terra no reino.
Ross era a joia da coroa de Alexander.
Mas logo James começou a expulsar olhos invejosos sobre os tesouros do Norte.
O rei começou a ficar sem dinheiro. A construção do palácio teve um preço.
Ele mesmo já havia distorcido as contas.
O dinheiro usado para cobrir seu resgate foi conseguido através de ouro e escultura,
e mesmo assim não foi suficiente para tapar o rombo. Ele precisava de dinheiro, e muito.
O território de Ross começou a ficar tentador.
James convidou Alexander para encontrá-lo em Inverness.
E isso seria conhecido como a Festa do Guardião Real.
Alexander estava acampado fora da cidade.
Com uma grande comitiva, incluindo sua família, ele finalmente foi convocado pelo rei,
Alexander, sua mãe, alguns seletos seguidores, todos bem apresentados.
Delícias em abundância. Regalos aos montes.
Assim que adentraram os portões, foram todos atacados e desarmados pela guarda do rei.
Os Macdonalds não tiveram como reagir.
A mãe de Alexander, Mariota, foi empurrada, insultada e desonrada.
James avistou os Macdonalds sendo rebocados como criminosos comuns.
Parecia inspirá-lo.
Ele entreteve a corte com um verso improvisado.
Desta vez, o devaneio não foi romântico, não foi um suave poema de amor.
"Vamos aproveitar a oportunidade para conduzir esta trupe a torre,
por Cristo morto, que estes homens merecem a morte."
As coisas ficaram violentas.
James executou alguns prisioneiros sem julgamento.
Mas ele não matou Alexander... ele não sentiu necessidade disso.
James pôs as mãos em Ross e suas benesses.
Depois de uns meses, com um show de misericórdia, ele soltou o Senhor das Ilhas.
Mas se ele pensou que Alexander seria grato, ele estava enganado.
Alexander reuniu seus homens, voltou para Inverness, destruindo-a.
A vingança foi doce, mas com vida curta.
Alexander permitiu a raiva embotar seu discenirmento.
Um exército real se aproximava.
Em desvantagem, Alexander calculou que só restava uma opção.
Em 1429, no Palácio de Holyrood, Alexander, Senhor das Ilhas, capitulou.
Ficou nú diante do rei e entregou sua espada, seu título e suas terras.
Alexander foi levado para o cativeiro.
As regras do jogo mudaram.
Era uma vez, uma Escócia partilhada pelos magnatas. Não mais.
Agora o rei estava no comando.
Ou assim pensava o rei.
Alexander podia estar preso, mas sua família desafiava a autoridade real, abertamente.
James enviou um exército para lidar com eles.
Mas os homens de Alexander não virariam as costas.
"Filhos de Conn, lembrem-se da coragem na hora do combate."
"Estejam atentos, audaciosos, ágeis e ambiciosos."
"Sejam corajosos, bonitos, fortes e beligerantes."
"Desdenhosos, corajosos, inteligentes, combativos."
"Deliberados, destrutivos, mortais, duradoiros."
"Sejam ansiosos, peritos, bem equipados, elegantes..."
De cada território destituído, vieram os partidários de Alexander.
E partiram para encontrar o exército real em Inverlochy, na entrada do Great Glen.
Os insulanos aportaram seus birlinns algumas milhas lá embaixo, onde situa-se Fort William,
e marcharam ao longo do rio em direção
ao exército real, o qual estava acampado em torno do Castelo de Inverlochy.
O comandante estava no meio de um jogo de cartas quando recebeu o relatório da aproximação inimiga.
Ele tripudiou dizendo que conhecia muito bem as ações dos barrigudos insulanos.
Nesse momento, um corpo de arqueiros encobertos apareceu nesta colina,
disparando uma saraivada de flechas em cima das tropas reais desprevenidas.
Os insulanos partiram para o ataque.
Em poucos minutos, mais de 900 homens da tropa real caíram mortos.
Seus atônitos comandantes escaparam para as montanhas.
Inverlochy foi uma lição brutal para os limites do poder real.
James percebeu que era tão perigoso manter Alexander preso como tê-lo à solta.
Um mês após Inverlochy, ele liberou Alexander.
Alexander obteve quase tudo de volta.
Suas terras, seus títulos e, principalmente, o seu prestígio.
Os Macdonalds estavam de volta no topo.
Os Stuarts, porém, estavam em apuros.
Para muitos dos magnatas, a libertação de Alexander foi um sinal de fraqueza.
Eles pressentiram sangue.
Finalmente acabou levando à conspiração.
Em 20/02/1437, os inimigos de James se confrontaram com ele.
Foi depois da meia-noite quando eles invadiram os aposentos reais.
Com os assassinos à sua porta, James buscou uma saída.
Mas não havia uma.
Freneticamente, tentou fazer um buraco no piso de madeira, para fugir rumo ao esgoto.
Mas, tal saída, havia sido bloqueada (evitar a perda das bolas de tênis).
James tentou enfrentar seus perseguidores.
Mas ali, na escuridão da sujeira, ele foi esfaqueado até a morte.
A Escócia prendeu a respiração.
O assassinato de um rei era chocante, quase um sacrilégio.
Com a dinastia Stuart combalida, os Macdonalds seriam intocáveis.
Quando Alexander of Islay, morreu em 1449, o seu sonho de
governar um império que se estendia de costa a costa havia sido concretizado.
Ele foi enterrado, não em Iona como seus antepassados, mas no continente, em Ross.
Alexander não clamava antigos direitos, ele almejava ambições futuras.
O reino estava em um período de transição.
Sem James e Alexander, a nova geração seria responsável pelos seus legados.
No lado dos Stuarts, James II assumiu o trono de seu pai.
Uma notável marca vermelha em seu rosto, apelidou-o de James "cara flamejante".
Do lado dos Macdonalds, John tornou-se Senhor das Ilhas.
Sua posse seguiu um ritual com séculos de idade.
Assim como os antigos reis, John esculpiu sua pegada, unindo-o à terra, que ele governaria.
"Louvemos Macdonald, herói, dirijamos louvores ao herói de todos os conflitos."
"Sol dos Gaélicos, descendentes de Colla, às margens do Bann, com suas velozes galés."
"A Babel de Meath, o lobo de Islay, a raiz da bondade, o defensor de cada terra."
"Ninguém cresceu a sua volta, só reis e rainhas, juízo veraz, meu verdadeiro louvor."
Os bardos rasgaram elogios a John Macdonald.
Mas isso só contribuiu para aumentar a expectativa em torno dele.
A situação de John era delicada. E até mesmo precária.
Seria melhor expandir o seu território ou consolidar seu império já sobrecarregado?
Na ocasião, ele optou pelo "status quo".
Enquanto isso, James II agiu de modo incisivo.
O novo rei deveria selar a sorte da sua família.
E não seria através da violência, mas no altar.
Casando-se em Edimburgo, em julho de 1449, com Mary of Guelders.
Sobrinha-neta do Duque de Borgonha, Philippe le Bon, um homem rico e poderoso.
Os Stuarts definitivamente chegaram ao topo do poder europeu.
Havia um preço a pagar, é óbvio.
James queria impressionar seus poderosos convidados estrangeiros, com tudo do melhor.
E valeu a pena.
O casamento trouxe aos Stuarts, prestígio internacional e influência política.
Além de outros itens tangíveis da lista de presentes.
Um regalo para um rei adolescente?
Sim, foi uma espécie de matrimônio forjado
e, certamente, foi um importante casamento dinástico relativo aquele período.
James ganhou uma dos mais impressionantes peças de tecnologia disponíveis naquela época.
O quão perigoso ou eficaz era esta arma?
Esta arma (mons meg) podia disparar 18 bolas de pedra grande até 1.6 km,
especialmente com o vento a favor, o que representava um perigo para os castelos.
Um grande presente se você quisesse destruir as paredes dos mesmos.
O que isso tem a ver com a atitude que James tomaria?
Entende? Pois quem a possuísse poderia "limpar" o pó da mesa?
O colocaria num plano superior, entre os líderes europeus.
Então, James queria fazer barulho?
Completamente.
As pretensões de James II denotavam uma grande insegurança.
Ele parecia hesitante, paranóico.
O rei se sentia preso. Com as mãos atadas.
De norte a oeste, John Macdonald dominava um território em forma de arco.
Enquanto isso, ao sul, havia um outro grande rival.
The "Black" Douglas.
William, o jovem e 8º Conde de Douglas.
Ele era popular, famoso e rico.
Sua família, os Black Douglas, tinham um grande poder nas fronteiras.
Quando William e John Macdonald selaram um pacto, isto colocou-os em rota de colisão.
Com James II.
Pactos como estes eram rotina, tanto quanto um aperto de mão.
Mas James não viu como uma cortesia. Ele pensou em conspiração.
O rei ficou cismado, tinha que lidar com os dois magnatas.
E ele não ficaria preocupado por muito tempo.
Em 1452, James pediu a presença do Conde de Douglas em Stirling.
William sentiu cheiro de rato.
Só apareceria caso recebesse uma carta garantindo sua segurança.
Foi um jantar do inferno.
James estava nervoso e volátil. William estava mais nervoso ainda.
O fato de que estavam bebendo desde cedo, fez a situação ficar ainda mais imprevisível.
Só uma coisa estava garantida.
A confrontação.
Em algum ponto, James exigiu que William desistisse da sua aliança com John.
William recusou. Atitude errada.
James explodiu.
Ele puxou uma faca e atacou William.
Com a ajuda de seus cortesãos.
Diz a lenda que no auge do frenesi, eles o atiraram pela janela.
Quando o corpo foi reavido pelos homens de William, verificaram 26 perfurações.
Sua cabeça foi partida ao meio com um machado.
Foi um ato chocante.
Tanto para as violações dos conceitos de honra, como a sua brutalidade.
Os homens de William mostraram uma cópia de salvo-conduto do rei antes de saquear a cidade.
Mas James foi mais do que uma partida para os Black Douglas.
Confrontado pela artilharia pesada do rei, os castelos dos Douglas se renderam sem revidar.
A família de William fugiu para o exílio.
Na Inglaterra.
Este episódio foi mais um grande salto nas fortunas dos Stuarts.
Aproveitando-se das terras dos Black Douglas, James enriqueceu.
Grandes armas, relações ricas e um assassinato brutal coroariam a futura dinastia escocesa.
Para James foi um sonho.
E para John, um pesadelo.
O que aconteceu com os Black Douglas, poderia suceder a ele.
John tinha que encontrar uma maneira de ficar do lado certo do poderoso rei.
Quando James lutou contra a Inglaterra, em 1460, John estava entre seus tenentes mais leais.
John prometeu que os seus homens lutariam um par de milhas à frente do exército principal.
Foi uma ostentação, de tamanha lealdade ao rei.
Foi também um voto, no qual John, não teve como cumprir.
James adorava armas. Na verdade, adorou-as até a morte.
James estava no meio de uma campanha, quando viu que sua rainha, Mary estava chegando.
Pegou um canhão e disparou uma saudação. Mas seu nobre gesto, atingiu-o em cheio.
A arma explodiu em mil pedaços matando James II, aos 29 anos de idade.
Ningúem suspeitava que os Stuarts iriam prosseguir.
A dinastia parecia inatacável.
Como uma grande parte da Escócia, com as suas rochas e morros.
Mas o novo rei, James III, era apenas um garoto.
Para alguns, a oportunidade bateu à porta.
Alguns meses após a coroação do pequeno James, um emissário chega
ao Castelo Ardtornish de John Macdonald, numa missão secreta.
Ele representa os derrotados da Família Douglas, e traz consigo uma oferta
do rei inglês, Edward IV.
Edward propõe o seguinte: John volta à rebelião na Escócia.
Os Macdonalds e os Douglas dividirão o butim.
John fica com o norte do país. E os Black Douglas, com o sul.
E Edward assegura seu trono inglês, mas é claro que, para ficarem com tudo,
John e os Douglas devem reconhecer Edward como seu suserano.
Isto seria traição.
Eles estavam tramando a alienação da dinastia real escocesa.
As velhas suspeitas do rei agora apareceram, menos como paranóia e mais como profecia.
Então, por que John arriscaria tudo o que seus antepassados haviam conquistado?
A resposta é que ele não tinha escolha.
John estava sob pressão por seus próprios parentes, que queriam a expansão contínua
do Clã, e o líder desta facção linha-dura era seu filho ilegítimo, Aonghas Óg.
Aonghas pressionou seu pai a assinar o tratado com os ingleses.
A tinta nem estava seca, quando Aonghas e seus homens fizeram uma exigência.
Os impostos para o rei inglês, deveriam ser pagos diretamente aos Macdonalds.
Mas o rei inglês não queria apenas se aliar ao norte.
Quando Edward resolvesse seus problemas internos, não precisaria mais dos escoceses.
A decisão agora, estava nas mãos de John, Lorde das Ilhas.
Só lhe restava esperar que, James III, não descobrisse o tratado secreto.
Difícil. A história do pacto chegaria aos ouvidos de todos, inclusive James.
John ficou encurralado.
Em uma cerimônia humilhante que ecoa as de Alexander, anos antes, foi forçado a se render.
John queria apenas ser como seu pai.
Este foi o desejo mais bem realizado.
Como seu pai, subestimou o poder dos Stuarts e pagou um alto preço.
Isso foi muito mais do que uma falha pessoal. As consequências foram sentidas amplamente,
repercutindo através dos séculos e afetando a Escócia até hoje.
John tirou o chapéu. Ele ainda conseguiu manter algumas das suas terras.
Mas a humilhação sofrida foi demais para os outros membros de sua família.
Aonghas lembrou os dias de glória, época em que sua família impunha respeito.
Os Macdonalds queimaram Inverness e desbarataram o exército real em Inverlochy.
Ninguém, nem mesmo reis, foi capaz de subjugá-los.
E agora, eles aguardariam para ver o que iria acontecer.
A questão dividiu a família.
No processo, ele dividiu a Escócia gaélica.
Quando Aonghas mediu forças com seu pai, irrompeu em uma guerra civil.
Os birlinns que criaram o senhorio, agora reuniam-se para destruí-lo.
Filho contra o pai.
O campo de batalha foi numa baía, na costa de Mull (cerca de 1480).
Esse trecho de água aí em frente é chamado de Bloody Bay.
Onde os birlinns de John e Aonghas entraram em confronto.
Parece que a vitória foi das forças de Aonghas.
Mas a verdade é que foi uma derrota para todo o senhorio.
Algo mais do que homens, morreu naquele dia.
A ideia de um mundo gaélico coeso, que pudesse lidar em termos iguais
com o resto da Escócia, também morreu.
Foi um momento sísmico, a tênue linha entre o Planalto e a Planície, se ampliou.
O gaélico na Escócia, o lugar, o povo, a língua pareciam centrais para a identidade coletiva escocesa.
Mas agora, começou a ser visto como ameaçador e estranho.
A Escócia estava mudando. E mudando rapidamente.
Só uma coisa parecia imutável, Os Stuarts.
Alguns anos após a implosão dos Macdonalds, outro James sentou sobre o trono da Escócia.
Extravagante, charmoso e capaz de inspirar afeto, bem como o respeito, James IV foi
tudo o que os seus antepassados não conseguiram.
Ele tinha um traço dos Stuarts, um desejo ardente de deixar uma marca.
O Palácio Falkland era a casa de campo de James IV.
Uma fuga das pressões cotidianas da corte.
Onde quer que você olhe, há cardos.
Este seria o novo emblema dos Stuarts, uma imagem adotada por James.
Era um logotipo brilhante. Tão simples, tão memorável, que o cardo tornou-se o
símbolo definitivo não apenas dos Stuarts, assim como da Escócia.
James queria criar uma nova identidade escocesa.
Mas isso foi uma identidade muito particular, quiçá restrita.
James IV foi o último rei escocês a falar gaélico.
Mas gaélica, não era a língua natal do rei.
Era a escocesa.
E sob o patrocínio de James IV, os escoceses estavam no topo.
Esta é uma das primeiras publicações impressas na Escócia em 1587, 1588.
Está escrito na língua da planície, "lowland scots".
O que está acontecendo, aqui?
O duelo de Dunbar, ocorrido entre dois poetas, este é o de Dunbar.
O que é "flyting"?
Geralmente quando um poeta desafia outro para um duelo de rimas, cheios de vitupérios.
Você pode ler um trecho do duelo entre William Dunbar e seu adversário?
"Vagabundo irlandês bardo, mendigo vil com seus trapos, Kennedy covarde, como seus parentes."
"Feios e magros, como se um urubu tivesse se deleitado em seu nariz amarelo."
"Monstro, louco a cada lua cheia, renuncia à sua rima, canalha, você só faz elogios."
"Sua língua traiçoeira, um imbecil da planície faria melhor barulho."
Não tem muita camaradagem?
Não.
Consigo perceber a partir da sua declamação, que o ponto central do duelo
é que o poeta da planície acusa o outro de usar a língua irlandesa,
a língua gaélica?
Do que se trata?
Acho que Dunbar se baseia nos estereótipos que existiam na época.
Como parte da agenda política de James IV, agenda cultural e social.
Vê-se que ele tenta impelir a língua da planície como a língua do povo escocês.
E usar isso como uma língua oficial, mostra claramente que o gaélico estava sob pressão.
Então, a língua tem poder?
Acho que sim.
Sob James IV, a "lowland scots" tornou-se a língua oficial da literatura e da lei.
E estas eram o poder.
O gaélico, todavia, tornou-se politicamente contaminado.
Poderia muito bem, ter sido a língua daqueles escoceses, mas pela
aflição dos "lowlanders", era a língua dos traidores e bandidos.
Sem a cola do senhorio para uni-las, as Highlands e Ilhas haviam se tornado uma espécie de faroeste.
Todo mundo estava lá para pilhar o que podiam, velhas contas foram liquidadas.
Aonghas Óg, filho arrivista que tentou dominar o senhorio, teve um fim brutal.
Estrangulado até a morte, por um de seus servos.
Isto era contrário à razão.
Para o mundo exterior, parecia que todo tipo de ilegalidade pertencia aos Gaélicos.
Como se oprimido pela violência que havia liberado, John recuou para a penitência.
Pelo menos, ele ainda era o rei das Hébridas, Senhor das Ilhas.
Mas, na nova Escócia, só poderia haver um rei.
E um único suserano.
Em 1493, James lhe deu o título para si mesmo.
Os Stuarts, e não os Macdonalds, eram os senhores das ilhas agora.
Era o seu mundo, a sua lei. Sua regra.
James montou uma expedição e navegou para o norte para impor sua autoridade.
A última vez que um rei escocês se aventurou no labirinto das Hébridas, ele estava fugindo.
Diferente de "Bruce", há 200 anos, James não veio como fugitivo, mas como suserano.
O tempo dos Macdonalds havia acabado. O tempo dos Stuarts havia começado.
Eram ricos, poderosos e estavam no comando.
Os Stuarts agora, pareciam ter assegurado o futuro.
Em 1503, James IV casou-se com Margaret Tudor, a filha de Henrique VII de Inglaterra.
Foi outro casamento espetacular para os Stuarts.
Mas com uma diferença crucial. Desta vez, os Stuarts não apenas
se aproveitaram de um joguete real como passaporte para o poder e respeitabilidade.
Desta vez, era a Casa dos Tudors.
A dinastia Tudor só despontou após a Guerra das Rosas,
quando começaram a exercer o controle definitivo do reino inglês.
Este casamento na família Stuart traria legitimidade aos olhos da monarquia europeia.
Uma reviravolta do destino.
Antes, eram reféns e prisioneiros políticos. Agora, os Stuarts tornam-se agentes do poder.
Capazes de ditar a reputação de seus rivais.
E com o nascimento de um menino, em 1507, os Stuarts se aproximaram
do trono de seu antigo inimigo...os ingleses.
O mundo mudou. O centro se moveu.
Enquanto os Stuarts floresciam, a corte de Finlaggan sumia.
"Não há alegria sem o Clã Donald, não há suporte sem eles."
"As melhores pessoas do mundo, toda boa pessoa está relacionada a eles."
"Pilares nobres da verde Alba, as mais firmes pessoas batizadas."
"Cujas vitórias sobre outras nações, pelo heroismo, são os falcões de Islay."
Esta divisão nas Highlands acertou como um golpe de espada, o coração da Escócia.
De costa a costa, dividindo o país em duas partes distintas.
O Planalto e a Planície.
É uma divisão nítida.
Assaz nítida.
É muito fácil agora, ver as diferenças entre os gaélicos e escoceses.
Mas o sentimento de separação tem alguns séculos de idade.
Foi a história, e não a geografia que nos dividiu.
Nossa dupla personalidade é o resultado de uma luta de família que partiu o reino em dois.
O projeto gaélico evoluiu de membros comprometidos a rebeldes e forasteiros.
Não deveria existir a diversidade.
Tinha que ser uma única entidade política.
E também, uma única entidade cultural.
Foram os Stuarts que levaram o reino escocês a esta nova direção.
Aos olhos deles, a Escócia garantiu sua independência, firmando-se na Europa.
Mas isso foi apenas o início do que se dispuseram a alcançar.
Nos anos seguintes, suas ambições alçariam voo.