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Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo,
cada ramo gritante de um pinheiro,
cada punhado de areia das praias,
a penumbra densa da selva,
cada raio de luz e o zumbido dos insetos
são sagrados na memória e vida do meu povo.
O que aconteceu com as plantas?
Estão destruídas!
O que aconteceu com a água?
Desapareceu!
De hoje em diante, a vida terminou.
Agora começa a sobrevivência.
Outro mundo é possível?
VOZES CONTRA A GLOBALIZAÇÃO
Outro mundo é possível?
A LONGA NOITE DOS 500 ANOS
500 anos depois, estão se apresentando aí, na 1ª fila
e estão dizendo: "estamos aqui.
vai que ter nos levar em conta".
Isso ocorreu na Bolívia,
isso aconteceu na Argentina com os Mapuches
Isso ocorre no Peru.
Apoiamos, apoiávamos e vamos seguir apoiando
aos Zapatistas, por exemplo.
E isso faz de nós um embrião do que poderia ser
como assim dizer, a "Insurreição dos Povos".
Os Zapatistas
O primeiro que vai contra a corrente, nesse sentido,
é os subcomandante Marcos.
Em 1° de janeiro de 1994
Em plena depressão militante internacional,
surge uma guerrilha,
quando se imaginava que as guerrilhas já haviam terminado na História,
surge uma guerrilha da Floresta de Chiapas e ocupa San Cristóban de las Casas
e faz uma série de proclamações onde volta-se a encontrar o lirismo,
diria assim, revolucionário.
Não um programa concreto, uma revolução concreta,
mas a idéia que é possível transformar o mundo definitivamente.
Os insurgentes tomaram as prefeituras, as delegacias de polícia
e as emissoras de rádio.
A voz dos indígenas dos Chiapas foi escutada no mundo todo.
fartos das prisões arbitrárias, das desapropriações, e dos despejos,
dos assassinatos, da marginalização, da extrema pobreza
e da negligência e cumplicidade das autoridades
Hoje estamos mais próximos do que nunca
de resolver um problema de quase 500 anos neste país:
Que é que, para os povos originários dessas terras,
os indígenas deste país,
trataram de exterminá-los como indígenas.
Tratam de obrigá-los a deixar de ser indígenas ou que morram.
Nós estamos pela primeira vez em todos estes séculos,
diante da possibilidade que a nação mexicana reconheça
que os povos indígenas fazem parte dela
e que tem direito de fazer parte dessa nação
sem deixar de ser indígenas.
Quando surgem esses movimentos sociais muito fortes,
A primeira coisa que faz o sistema e muitos dos meios de comunicação
é acusá-los de violentos.
Mas nunca falam da violência estrutural
do que tiveram que suportar durante tantos anos e séculos
e da necessidade de ter um espaço próprio.
Todos somos Marcos!
O sapatismo significou uma sacudida, um despertar
para muita gente que a história, de fato, havia terminado,
que havíamos perdido frente ao poder, qualquer que tenha sido o poder,
que lutar não valia a pena e muito menos pensar coletivamente
que o que valia a pena era que cada um preocupa-se com seu próprio futuro
o Subcomandante Marcos no fundo de sua floresta, La Candona,
indiscutivelmente se não houvesse alcançado essa imagem de ícone
que teve na segunda metade dos anos 90,
se não houvesse utilizado a Internet,
não nos esqueçamos que esses fenômenos são muito paralelos,
A Internet é inventada em 1989, com a queda do muro de Berlim.
Contra esta Globalização
"O Exército Zapatista despertou o México"
Tivemos em Chiapas, o subcomandante Marcos que iniciou,
com as populações indígenas, a revolta.
No dia 1° de janeiro de 1994,
que era o dia da entrada em funcionamento
do Tratado de Livre Comércio entre a América do Norte e México.
E isso era evidentemente muito típico
de uma aliança entre a consciência de identidade indígena
com a consciência da Globalização Econômica.
De alguma outra forma todas essas pessoas que andam pelo mundo todo,
se reconhecem, se olham no espelho das palavras do Exército Zapatista de Libertação Nacional
E reconhecem que há um inimigo, ou há algo, que é o poder.
Que agora se chama neoliberalismo, como este processo de Globalização.
Que antes, acabava te apagando como indivídio,
agora te apaga como nação.
Pelo solo caminha meu povo, pelo solo há um buraco,
pelo solo caminha a raça, mamãezinha, vamos te matar,
pelo solo, pelo solo
esperando a última onda,
Pachamama, eu morro de pena,
Escutando a última rola,
mamãezinha, te convido a bailar.
Para mim, os zapatistas abriram meus os olhos,
tudo que estamos falando hoje em dia...
Eu no final dos anos 80, não fazia a mínima idéia de tudo isso.
Pressentíamos, tínhamos nossas lutas,
mas, isso do neoliberalismo, de tudo isso,
só me esclareceram através da floresta La Candona.
Aí me chegou a mensagem, aqui na Europa, deles.
Para nós não é distintiva, é para a humanidade
contra o neoliberalismo, contra o poder,
ou está com eles, ou está com o mundial.
Finalmente o liberalismo, que iniciou -
ainda que faça grandes discursos sobre suas grandes conquistas econômicas,
seus resultados financeiros - o aniquilamento da humanidade
E não quero dizer o aniquilamento físico,
Refiro-me ao aniquilamento de todos os valores
realmente humanos.
O que nós contestamos é esta globalização,
que uma globalização que se formou em torno dos mercados
e que centrou-se nos interesses econômicos e financeiros de uma minoria,
que continua a aumentar uma situação de pobreza
para um número cada vez maior de pessoas,
enquanto o poder econômico vem centrado num número limitado de pessoas.
Os povos indígenas
Já não acreditamos nos Governos que praticamente só oferecem.
E são ofertas de campanha,
nem sequer são coerentes com suas palavras que vão dizendo.
Por que não se dá, aos povos indígenas, o valor substancial de povos "outros"?
Com outra cultura, com outra história,
e com um direito anterior, primogênito.
E em segundo lugar,
porque o que se pretende é a integração desses povos:
que todos os indígenas da Bolívia sejam "bolivianos"
Não tribos.
Que os indígenas do Brasil sejam "brasileiros"
e não guarani, kaigang, sapiapé, carajá,
uma integração que desintegra os povos.
Para o poder agora você nem sequer é isso,
nem sequer é espanhol ou mexicano,
é um número numa estatística ou num índice de lucros,
ou em um título na bolsa de valores.
Você é um consumidor potencial, é um consumidor no ato,
ou já não é um consumidor, e neste caso é dispensável.
Completamente dispensável.
Neste caso os indígenas não são consumidores, nem produtores,
nem poteciais e são perfeitamente dispensáveis.
E da mesma forma, poderia se aplicar aos grupos minoritários:
aos homossexuais, às lésbicas, aos grupos étnicos minoritários,
tudo isso que na Europa se aproxima muito ao facismo,
apesar que agora em vez de judeus, sejam africanos, turcos
ou o que esteja na moda de se perseguir na Europa.
Acredito que hoje em dia, os homens e as mulheres,
que lutam contra essa globalização,
que tentam manter uma luta cotidiana,
fazem de uma forma concreta e ao mesmo tempo utópica.
Quer dizer que, por um lado, tentam transformar as coisas do cotidiano,
e ao mesmo tempo sonham como o mundo poderia ser.
O que estamos fazendo é mudar a lente para ver o problema,
Quando uma organização política, um grupo, ou uma pessoa faz política,
vê através da lente que o que está em questão é a tomada de poder.
Nós dizemos "o que aconteceria se tirássemos essa lente?"
Como pode-se tirar a lente de uma câmera para ver mais perto ou mais longe.
E, no lugar disso, pusermos não a tomada de poder,
senão o exercício de poder.
ou seja, podemos ver o Governo não como o ator das mudanças,
senão como administrador dessas mudanças que se está buscando.
Marcos insistiu:
"Não queremos armas, nossa força só são as armas em última instância"
se agarra as armas em um momento determinado como poderia se agarrar uma caneta.
Para chamar a atenção, para dizer "bem, atenda isso e tal",
mas se deu simultaneamente com o crescimento da consciência
do que os técnicos chamam: "CIDADANIA"
Porque veja que o programa que os zapatistas propunham
é um programa da máxima normalidade.
Que é o que pedem?
Terra para plantar, habitação, saúde, educação,
reconhecimento do próprio idioma, respeito aos direitos humanos
Até a "democracia" defende isso.
É a hora da palavra,
Guarde então o facão, siga afiando a esperança,
dê 7 voltas em volta da montanha,
7 rios que desce dela,
fale com 7 de nossos mortos,
7 vezes, faça do mar um barco,
7 vezes, feche sua champa
7 vezes vista a cor da sua terra
e 7 vezes vele a palavra.
O subcomandante Marcos adverte imediatamente que não está querendo o poder.
O que está querendo precisamente é transformar a sociedade
porque caso se alcance o poder,
se descobrirá que há mais poder acima do próprio poder.
Então mesmo que seja presidente do México,
não se domina a OMC, o Banco Mundial ou o FMI.
Então, a partir daí, surge essa idéia de que há que se transformar a sociedade,
e que se pode transformar a sociedade, sem tomar o poder,
mas mudando a natureza da sociedade.
Quem tem o poder?
Quem faz as leis?
Quem comanda as CPI's, esses famosos trabalhos de investigação?
Quem controla a própria polícia, o poder judiciário?
Não podemos esquecer que, na América Latina sobretudo,
vivemos sucessivos impérios e sucessivas oligarquias.
E é a oligarquia que está no poder.
Não é necessário vender-se como ser humano para sobreviver.
E que não seja necessário comprar um ser humano, para poder dominar.
Este seria o termo de justiça. O termo de liberdade.
que você possa se atentar a umas idéias políticas
e possa optar por elas, sem intermédio da perseguição,
da prisão ou da morte como acontece no México.
A resistência camponesa
Há um controle cada vez maior dos alimentos,
um abandono cada vez maior dos camponeses.
Estou falando do pequeno e médio camponês, agrícola.
Na produção não somente agrícola, como também a pecuária.
E isso entra nas mãos das grandes transnacionais,
que controlam os alimentos.
E são os que podem decidir sobre os recursos alimentares no mundo.
E por isso, a partir daí, começam surgir a resistência dos movimentos camponeses
como a Via Camponesa
e muitos outros onde tratam inclusive de gerar bancos de sementes
para não ficar passivos frente essa manipulação das transnacionais.
Eles vem deixar os inseticidas, os pesticidas já vencidos, caducados,
que já não utilizam em outros países.
Já não utilizam - como os mais velhos sabem utilizar -
somente adubos orgânicos de animais
ou à base de ervas. Podia-se fazer.
E agora nos demos conta e acreditamos que se a terra dá a produção
e nós não devolvemos nada,
em algum momento, nossos filhos ou nossos netos não terão.
E a terra estará inservível.
...porque nós vivemos da agricultura,
não alimentarão os seres humanos.
Podemos lutar no marco da Via Camponesa
que é um movimento camponês internacional
que agrupa mais de 200 milhões de camponeses em todos os continentes.
E hoje temos a capacidade de fazer pressão sobre as transnacionais.
Como podemos também fazer alianças com os países mais pobres
e fazer pressão sobre os governos.
Podemos dizer aos EUA: "vocês não tem legitimidade
em destruir o bem comum de uma população".
Ligaram muitas vezes para Leonidas para dizer:
"Que vocês querem?!"
Para dizer, se queria ser assessor, que poderiam me dar um bom salário.
Também ofereceram... bem, muitas coisas.
E quando a Leonidas disse não, tentaram nos assassinar.
E por isso seu filho continua mal, na clínica,
meu filho, que é sobrinho de Leonidas,
levou também 5 tiros,
meu irmão igualmente, por defender Leonidas.
Mas as pessoas que não obedecem, são perseguidas e quero dizer
um amigo que era trabalhador de uma empresa petroleira
da mesma forma ia denunciar sobre a corrupção e o assassinaram.
E depois disseram...
que foi por roubar um computador e por isso o assassinaram.
Que segundo eles, ele era ladrão.
Isto é falso, é tudo planejado.
Sempre, o que não está ao lado deles, tratarão de eliminar.
Eu acho que as condições dos zapatistas e as condições dos indígenas
alçados no ZLM, faz com que não tenha nada a perder.
Então podem por qualquer preço sobre suas vidas.
E o preço que pusemos à vida é esse:
A transformação do mundo em troca da vida dos zapatistas.
Alguém dirá: "em troca da minha vida, uma boa casa, um bom carro"
E os zapatistas dizem: "Não, estamos dispostos a dar a vida
em troca de uma transformação mundial neste sentido"
Olhe para o horizonte, combatente zapatista.
Faremos a cerimônia de entrega das armas para o prefeito
para que fique claro que, para o cumprimento da lei para o diálogo, vamos desarmados.
Se nos deixamos de ver na Cidade do México...
Estão todos!
Pela cor da terra
Com a entrada na capital, Marcos cumpriu com a sua promessa de 1994:
Chegar até o México com sua gente.
Fez isso sem armas e mobilizando todo um país em somente 15 dias.
Não viemos dizer o que fazer, não viemos levá-lo a nenhum lado,
viemos lhe pedir, humildemente, respeitosamente, que nos ajude.
Não permita que volte amanhecer,
sem que esta bandeira tenha um lugar para nós.
Porque somos a cor da terra.
Obrigado!
Evidentemente para ele, neste debate, com os poderes dominantes
deveriam participar todos, não só os homens senão, as mulheres,
os homossexuais, os indígenas, etc.
Integrar toda a diversidade chamada "Cores da Terra".
E tudo isso é um pouco a filosofia, que presidiu os Fóruns Sociais.
Esta é a marcha da dignidade indígena,
a Marcha da Cor da Terra.
E começa esta marcha hoje, quando a lua é nova
para que a Terra costure a parte final da justiça,
para os que são a cor da terra.
Se pudesse mudar algo no México,
em vez de não ter medo de ficar aí, na Floresta La Candona.
Talvez o panorama político, sobretudo social da América Latina
seria hoje diferente:
Agora, temos aí Hugo Chavez na Venezuela,
mas no fundo é um homem e se amanhã o matam,
coisa que pode acontecer, talvez, tudo virá abaixo.
Não é um apresentador de notícia qualquer.
Padre Robertson é fundador da Coalisão Cristã.
Foi candidato à Casa Branca e é amigo íntimo da família Bush.
Por isso o porta voz da Casa Branca se apressou
em dar como inapropriada suas declarações pedindo assassinar Chavez.
Temos a habilidade de eliminá-lo, e acho que devemos
Não necessitamos outra guerra de 200 bilhões de dólares
para nos livrar de um ditador.
É muito mais fácil ter um comando encoberto que vá ali fazer o trabalho.
No seu programa de TV semanal, o reverendo evangélico disse
que o presidente venezuelano é um inimigo perigoso para os EUA,
que controla demasiadamente o petróleo.
E que assassiná-lo afastaria o comunismo e o islã.
Devemos ver sempre que quando fazemos uma coisa
que vá contra a lógica do sistema, o sistema vai se defender.
E devemos estudar bem quais são as estratégias do sistema existente.
Quer dizer, dos poderes do capital, dos poderes políticos do Império,
dos poderes militares, etc., etc.
Atualmente, alguns dirigentes estão demonstrando que no poder,
apesar da globalização, e apesar do superpoder
que representam os mercados financeiros,
ainda se pode fazer algo, e sobretudo a favor da sociedade.
O petróleo foi levado pelo imperialismo norte-americano durante 100 anos.
Se levaram petróleo e petróleo até o norte
e nos deixaram a miséria, a pobreza.
Da Venezuela tiraram tanto petróleo,
que a plataforma oriental está afundando,
de tanto petróleo que tiraram de lá.
Bem agora que recuperamos:
Golpe de mídia, Terrorismo de mídia,
a manipulação da nossa indústria petroleira e aí há muitos militares.
E isso o de dificultar as relações com os EUA,
quando Chavez disse que esses recursos petroleiros deveriam ir para o povo.
O caso da alfabetização: mais de 3 milhões de pessoas alfabetizadas,
nos morros, as habitações sociais, os sistemas de cooperativa -
logicamente se criou um monte de inimigos.
E entre eles, as grandes campanhas midiáticas
são da dos meios-de-comunicação venezuelanos,
que se puseram contra Chavez.
Pelo gás e pelo Petróleo.
Na rica região oriental de Santa Cruz e ao sul do estado de Tariga
encontram-se as instalações de gás e petróleo,
objetivos de reinvindicações sociais que foram determinantes a recente crise boliviana.
A nacionalização da indústria de hidrocarbonetos.
Desde 1999 quando uma série de descobrimentos reservas de gás
redesenharam o mapa energético da região,
colocaram Bolívia como uma potência gasífera na América do Sul,
os movimentos sociais começaram a exigir do Estado
que se tenha controle sobre essa riqueza.
Exigência que em menos de 3 anos
resultou na queda de 2 presidentes constitucionais.
Bolívia é um país incompreensível,
Bolivia é um país ingovernável,
Bolivia é um país inviável,
Porque não dizem que Bolivia é um país invisível
para os ignorantes que se ocupam em nos esvaziar a cabeça?
Porque não dizem que essa história do petróleo e do gás vem de longe,
desde do tempo de D. Quixote dizia a Sancho para definir o quanto vale um Potosi?
Porque Bolívia está a rica Serra de Potosi que é o manancial de prata
do desenvolvimento capitalista no mundo.
E o que restou daquela riqueza enorme?
Nada. Os ossos dos índios sacrificados nas escavações.
Os fantasmas que perambulam pelos palácios vazios,
onde se esvaziaram as grandes fortunas.
Há vários sentidos, me parece, o exemplo de Bolívia:
Primeiro, há uma nova consciência dos povos indígenas,
porque se vê nas imagens do que se passa Bolívia,
se vê que a maior parte das pessoas que estão protestando,
fazendo manifestações, bloqueando estradas, etc. são os indígenas
E isso tem um certo sentido:
è um povo, como todos os indígenas do mundo,
foram excluídos de toda a vida pública.
E que começam a sair.
Faz uma ano estas estradas, que ligam La Paz com o norte do país,
viveram um outubro ***, um outubro tingido de sangue.
Que está fazendo?!!
O ato se converteu num catalizador de um série de protestos de vários setores
e no auge de um ano especialmente conflituoso.
Já, em meados de fevereiro foram incendiadas sedes de vários partidos
Ministérios e Tribunais Supremo e Militar.
A prefeitura de El Alto está totalmente destruída pelas chamas.
São dois dias de distúrbios que contam 33 mortos e uns 200 feridos.
Em meados de setembro,
os protetos sobre os latifúndios se extendem por todo o país.
Finalmente, em 17 de outubro, depois de um mês de marchas,
bloqueios, enfretamentos entre manifestantes e forças de segurança,
ondem morrem 67 pessoas e mais de 400 feridas,
o presidente Sánchez de Lozada comunica sua renúncia e abandona o país.
Faz anos, muito anos, passei um tempinho nas minas bolivianas
de estanho naquele tempo.
Então... participei aí na vida dos mineiros durante um mês e meio 2 meses.
E me lembro de uma assembléia de operários que houve em Ayagua,
onde dentre aquela multidão de homens muito políticos e muito polítizados,
que eram os mineiros bolivianos.
Levantou uma mulher, que depois soube que era Domitila Chungara,
e perguntou em voz alta a esses homens: "Qual era nosso inimigo principal?"
Então surgiram vozes: alguém disse que era o imperialismo,
outro, a oligarquia, outro a burocracia, sei lá,
mil e uma respostas possíveis para a pergunta que Domitila havia feito.
E ela disse: "Não, companheiros, nosso inimigo principal é o medo
e nós o temos dentro".
A verdade é que eu nunca esqueci essa resposta
que vale para a vida individual, para coletiva,
vale para as pessoas, vale para os países.
Somos homens prisioneiros do medo.
Penso que a medida de que o mundo possa se libertar dessa prisão do medo,
vai poder sair dessa armadilha em que está metido e poderá sobreviver.
E sobreviver com dignidade.
Vivas a Evo que com suas indumentárias de seus antepassados de mais de 500 anos,
recebeu do sabio Aimar o bastão que lhe transfere o poder da terra e o espírito.
Um ato cheio de simbolismo e reivindicação dos que sempre foram excluídos
e que viveram seu grande dia no Santuário de Tiahuanaco
Controlem-me!
Se não puder avançar, empurrem-me vocês, irmãos e irmãs!
Corrijam-me permanentemente!
É possível poder enganar-se!
Posso me enganar!
Podemos nos enganar, mas jamais trair a luta do povo boliviano!
Um presidente índio socialista que crê, como os que o apóiam,
que outra democracia é possível.
Eu acho que a luta contra a globalização seja a luta pela extensão
dos direitos fundamentais do homem,
e também a todos habitantes do planeta.
E que atualmente um dos principais obstáculos ao bem estar do homem
e a possibilidade de aproveitar todos os direitos, está ligado a globalização.
É um processo que está destruindo de vez o planeta,
as relações sociais, está destruindo a democracia
e está criando uma forma nova de totalitarismo,
que em vez de estar concentrado em um só país,
está extendendo-se a todos os países do mundo.
Desde que dolarizamos, há mais fome, há mais miséria,
há companheiros e companheiras que estão fazendo as "comunitárias",
4 ou 5 pessoas fazendo uma só panela para comer todos.
E isso é indignante!
Mas além do que, hoje em dia, há muita exclusão.
E há muito mais consciência da exclusão.
Muito mais indignação por tudo o que acontece.
E há verdadeiras estruturas de exclusão que provocam a violência,
como é o desemprego no mundo inteiro,
a situação dos imigrantes,
a marginalização de certos povos,
Conhecer cada vez mais o muitíssimo que alguns poucos tem,
e o nada que a imensa maioria tem.
Isso provoca um tipo de reação violenta explicável.
Às vezes parece até justificável.
Nós, que temos uma vida quase de classe média,
só podemos nos indignar com o pensamento, com o coração escrevendo textos.
Mas estes povos, eu compreendo muito bem,
Se livra com os braços e se tem armas, com as armas.
Toda a violência dos pequenos
é uma violência anteriormente provocada pelos grandes.
Essa é a verdade.
O latifúndio hoje, travestido de "agronegócio",
é um latifúndio que arranca todas as riquezas dos solos
e dos subsolos dos nossos países
para pagar a dívida externa,
para obedecer ao FMI e ao Banco Mundial.
Exportação, exportação e exportação...
Sangramo-nos.
O que acontece é que nas negociações, nos tratados onde discutem,
não há regras que favoreçam os pobres,
simplesmente estão dirigidas às grandes multinacionais,
...estão a favor deles somente, e não a favor do pequeno agricultor.
Além do mais não se pode haver representação dos pobres,
dos pequenos agricultores.
Acho que não há uma representação que diga que há pessoas que morrem de fome.
No mundo há 1 bilhão e 200 milhões de pessoas
que vivem com menos de 1 dólar por dia.
Deste 1 bilhão e 200 milhões de pessoas, 2/3 vivem nas zonas rurais,
vivem da agricultura, querem viver da agricultura,
querem exportar seus produtos em condições muito mais justas.
E há um exemplo: o açúcar.
A Europa é o segundo produtor menos competitivo do mundo em açúcar,
mas mesmo assim, exporta 5 milhões de toneladas por ano de açúcar.
Como conseguem?
Fazem vendendo este açúcar abaixo do custo de produção,
Inundaram os mercados internacionais
com o açúcar europeu subsidiado para exportação,
os preços baixaram, nos últimos anos, 30%
e isso gerou muitas consequências negativas para outros países.
Os subsídios
Há um plano do Banco Mundial sendo executado que diz
que o arroz tem que desaparecer do Sirilanca.
Faz 3 mil anos que se cultiva o arroz no Sirilanca.
Ali está, 70% do consumo de cereais, desse arroz.
80% dos camponeses trabalham com o arroz.
O arroz faz parte da história, da cultura, da literatura, da poesia, da paisagem.
Mas o arroz deve desaparecer, por quê?
Porque custa menos comprar do Vietnã ou Tailândia
do que ser produzido no Sirilanca.
Apenas um cálculo econômico.
O que aconteceu com as populações desses pequenos camponeses agora?
No ano de 2002,
o Sirilanca teve a mais alta porcentagem de suicídios do mundo.
E a maioria dos que se suicidam são os pequenos camponeses.
Essa é a lógica do Capitalismo.
E é dada por um organismo como o Banco Mundial.
Os países devem ter o direito
de se proteger contra o dumping das transnacionais.
Que fique claro, que países como a União Européia ou EUA
deixem de exportar matérias primas.
Não se pode atualmente lutar contra a pobreza,
se não se permite à agricultura desenvolver-se aí onde está ou existe.
Que dizer, em todas as partes do mundo.
Atualmente, 55% dos habitantes do planeta são de camponeses.
É a maior atividade, que é repartida pelo mundo.
O comércio injusto
O Comércio Internacional é muito injusto.
Para cada euro que os países em desenvolvimento
estão recebendo como ajuda de desenvolvimento, estão perdendo 2 euros
como consequência dessas regras injustas do comércio internacional.
E isso afeta sobretudo a agricultura e as pessoas que vivem em zonas rurais.
Devemos nos manter muito unidos, devemos ser muito solidários
e devemos buscar outro tipo de alternativa de comercialização.
Nós estamos querendo e em muitas organizações já estão
executanto essa comercialização alternativa.
De fazer "trueque", como antes faziam nossos mais velhos:
de trocar produto por produto.
Trocar produto da serra com da costa, assim, o que necessitamos,
sem pensar no dinheiro,
e também, por assim dizer, oferecer diretamente ao consumidor.
Levar às cidades, oferecer,
porque o intermediário é o que enriqueceu com o suor do camponês,
do pequeno agricultor.
O pequeno comércio alternativo, que não vai mudar o mundo,
que não vai acabar com o sistema capitalista,
mas que começa a introduzir outra lógica
dentro da atuação ainda cotidiana das pessoas.
Comprar seu café em outro lugar onde é café certificado,
produzido diretamente pelo produtor,
utilizando meios sem exploração, por exemplo.
Evidentemente deve-se comprar o café um pouco mais caro.
Mas fazer isso já é um ato político,
que pode fazer mudar a atitude pouco a pouco,
a fazer pensar a maneira como são feitos os produtos.
Mas de fato sim, é uma batalha a longo prazo.
A privatização dos recursos.
Temos 20 anos de privatizações
em países tão diversos como Gran Bretanha,
Rússia, Argentina e, claro,
em todos os países em desenvolvimento,
que tiveram que privatizar, por causa dos programas de ajuste estrutural
do Banco Mundial e do FMI.
Então temos um monte de exemplos
e sabemos que, raras as vezes, estas privatizações
melhoraram as vidas das pessoas
e só raramente reduzem os custos.
Estão suprimindo cada vez mais todo o papel regulador do Estado,
regulador da Economia
ou regulador no sentido de distribuição mais igualitária do produtor social.
Isto estão eliminando.
O privado é o que convém para cada um,
com suas riquezas, com sua inteligência, com seu mérito , etc., etc.
E o público é o que temos em comum
e que temos que proteger porque é a condição essencial do vínculo social,
a condição essencial que faz de uma sociedade, "sociedade"
e não uma sociedade, um conjunto de indivíduos
lutando um contra os outros.
Há inversão de valores que,
tomara que rapidamente possamos tirar o pé dessa armadilha.
Há uma inversão de valores
que justifica a apropriação
de tudo o que é patrimônio público pelo interesse privado
e o desmantelamento dos mecanismos públicos de proteção.
40% da população de Mirzapur não tinha serviço de água.
Muitas dessas pessoas tinham que pagar até 20% dos seus orçamentos
para comerciantes privados
e não tinham garantia de que a água fosse potável.
A água vem sendo privatizada na Itália também pelas pessoas de centro esquerda.
Vem sendo privatizada com os diques na Indía e Turquia,
Em alguns rios estão modificando os seus percursos, como na África.
A luta pela água temos também na América Latina.
Pois bem, construir uma controvérsia geral
em torno da água e da terra, que são os bens necessários para viver.
Nosso país (Uruguay) foi o único que fez um só no mundo,
um plebiscito sobre as privatizações, em geral,
não sobre o tema da água, mas geral:
sobre os serviços públicos.
72% da população se pronunciaram contra as privatizações.
E claro que também isso não teve a menor difusão.
Eu digo que há um controle sobre a mídia,
que converte o mundo num planeta de surdos e mudos.
Estamos condenados a somente escutar
o que quer dizer a minoria que nos manipula.
O Bishi Bosh teve uma segunda oportunidade,
mas muitos mangues no mundo não tem tanta sorte.
Na selva tropical do equador a perda desse ambiente,
devido às fortes pressões do desenvolvimento descontrolado,
poderia ter resultados extremos.
Há ali companhias,
corporações que estão levando oxigênio dos bosques do Equador
para bombeá-los, para levá-los.
E descobriram que os velhos bosques
não dava tanto oxigênio quanto os novos.
estão suprimindo os bosques tradicionais e toda a biodiversidade,
para plantar bosques novos, que dão oxigênio mais rapidamente.
"Para respirar terá que pagar", é o próximo passo,
porque o sentido comum assim está ditando,
porque se privatiza tudo em função
de que tem que se começar mudar os critérios...
Bem, sim é verdade o mundo de hoje já aceitou coisas,
que faz 20, 30, 40 anos eram inimagináveis.
Outras ameaças pendem sobre a biodiversidade e os conhecimentos tradicionais:
a biopirataria e as patentes.
Diante delas, os povos indígenas carecem de meios de defender seu saber,
sobretudo, se se liberaliza o comércio com os EUA,
já que a lei norte americana permite patentear qualquer planta.
Haverá um momento que
os povos indígenas terão que pagar para as multinacionais
para a utilização de suas plantas medicinais,
porque há uma patente.
E agora as patentes valem agora por 20 anos na indústria farmacêutica.
É um escândalo!
Temos que reconstruir o conceito de bem público
e nos opor a esse sistema de mercantilização,
dizendo que há setores que não devem pertencer
ao mundo da mercadoria,
pois: a educação, a saúde, o meio-ambiente,
são algo totalmente fora do sistema mercantil.
Outro mundo é possível?
Eu creio que sim, outro mundo é possível
mas livre de corrupção, livre de injustiças,
livre de que somente uns poucos sejam previlegiados
e que as multinacionais não pensem somente em enriquecer,
que não pensem somente neles, mas também na humanidade também.
Acreditem, o que estamos vendo do lado de cá,
do lado de trás da montanha.
Estamos vendo o movimento mais rico em idéias, em propostas, em lutas,
que este país já conheceu em sua história.
O que se está construindo neste instante
é a lição de amor mais carinhosa que este país vai receber.
Creio que estou totalmente de acordo
com a definição do subcomandante Marcos,
que diz que "outros mundos são possíveis".
E não trata de se criar somente um modelo alternativo,
senão vários modelos que sejam compatíveis com os modos de vida
dos habitantes como eles são.
Em cada continete surgirão respostas diferentes,
os modos de organização deverão ser diferentes.
Eu caminho 10 passos e a utopia se afasta 10 passos,
caminho 20 passos e ela fica 20 passos mais para lá,
Eu pensei que por muito que caminhe,
por muito que caminhe, jamais a alcançarei.
Mas para isso serve: para caminhar!
Tradução e Legendas: www.docverdade.blogspot.com Documentários por um mundo mais justo!