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Tradutor: Viviane Ferraz Matos Revisor: Nadja Nathan
Vou falar com vocês
sobre sair do armário,
não no sentido tradicional,
não apenas do armário gay.
Acho que todos nós temos um armário.
O seu pode ser dizer a alguém,
pela primeira vez, que a ama,
ou contar que está grávida,
ou que tem câncer,
ou qualquer conversa difícil
que temos na vida.
O armário é uma conversa difícil,
e ainda que os assuntos variem tremendamente,
a experiência de viver no armário
e sair dele é universal.
Dá medo, nós a odiamos e ela precisa acontecer.
Muitos anos atrás,
trabalhei no South Side Walnut Cafe,
um restaurante daqui,
e nesse período, passei por fases
de intensa militância lésbica:
não depilava as axilas,
citava as músicas de Ani DiFranco como religião.
E conforme a largura da bermuda cargo
e de ter raspado a cabeça recentemente,
a pergunta era lançada a mim,
geralmente por uma criança:
"Umm, você é menino ou menina?"
E havia um silêncio desconcertante à mesa.
Eu contraía mais a mandíbula,
segurava a cafeteira de um modo mais vingativo.
O pai desconcertado folheava o jornal
e a mãe lançava um olhar gelado no filho.
Mas eu não dizia nada,
e fervia por dentro.
Cheguei ao ponto em que sempre
que ia a uma mesa com crianças de 3 a 10 anos, estava pronta para a luta.
(Risos)
E é um sentimento terrível.
Então, prometi a mim mesma, que, na próxima, diria algo.
Teria a conversa difícil.
E em poucas semanas, aconteceu de novo.
"Você é menino ou menina?"
Um silêncio familiar, só que dessa vez eu estava pronta,
e quase discursando toda a aula de estudos femininos
na mesa. (Risos)
Sei frases de Betty Friedan.
Sei frases de Gloria Steinem.
Citarei até um trechinho de Os Monólogos da ***.
Então inspiro bem fundo, olho para baixo
e vejo uma menina de vestido rosa, de 4 anos, me encarando.
não era um desafio a um duelo feminista,
apenas uma menina com uma pergunta:
"Você é menino ou menina?"
Respirei fundo novamente,
agachei perto dela, e falei:
"Oi, sei que é meio confuso.
Meu cabelo é curto como o de menino,
e uso roupa de menino, mas sou uma menina,
e sabe como gostamos de vestido rosa,
e, às vezes, de pijama confortável?
Sou mais o tipo de menina que prefere pijama confortável."
E a menina me olhou nos olhos,
sem se distrair, e disse:
"Meu pijama favorito é roxo com peixes.
Traz uma panqueca, por favor?"
(Risos)
E foi isso: "Ah, ok. Você é uma menina.
E a minha panqueca?"
Foi a conversa difícil mais fácil
que já tive.
Porque a menina da panqueca e eu,
fomos sinceras uma com a outra.
Assim como muita gente,
vivi em alguns armários na vida, e sim,
muitas vezes, minhas paredes eram um arco-íris.
Mas lá dentro, no escuro,
não dá para saber a cor das paredes.
Sabemos apenas a sensação de viver no armário.
Meu armário não é diferente do seu,
do seu ou do seu.
Claro, darei a vocês 100 razões
de que sair do meu armário foi mais difícil,
mas esta é a questão: o difícil não é relativo.
O difícil é difícil.
Quem diz que explicar a alguém que sua falência foi decretada
é mais difícil do que contar que você o traiu?
Quem diz que a sua saída do armário
é mais difícil do que contar ao filho de 5 anos sobre seu divórcio?
Não há mais difícil, há apenas difícil.
Temos que parar achar que nosso difícil é o maior de todos
para nos sentirmos melhor ou pior sobre nosso armário,
e nos solidarizarmos por termos algo difícil.
Em um momento da vida, vivemos no armário,
e talvez sintamos segurança,
ou mais segurança do que há do outro lado da porta.
Mas estou aqui para dizer
que não importa do que são feitas as paredes,
o armário não é lugar para se viver.
Obrigada. (Aplausos)
Imaginem-se 20 anos atrás.
Eu usava rabo de cavalo, vestido tomara-que-caia
e salto alto.
Não era a lésbica militante
pronta para lutar com uma criança de 4 anos que entrasse no café.
Estava paralisada pelo medo, agachada em um canto
do meu armário escuro
agarrada a minha granada gay,
e mover um músculo foi a coisa mais aterrorizante
que já fiz.
Minha família, meus amigos, completos estranhos...
Passei a vida inteira
tentando não decepcioná-los,
e agora eu estava virando o mundo de cabeça para baixo
de propósito.
Estava queimando as páginas do script
que seguimos por tanto tempo,
mas se não lançamos a granada, ela nos mata.
Um lançamento memorável de granada meu
foi no casamento da minha irmã.
(Risos)
Foi quando muitos convidados
souberam que eu era gay, então na função de dama de honra,
com um vestido preto e salto alto,
andei ao redor das mesas
e cheguei a dos amigos dos meus pais,
que me conheciam há anos.
E depois de uma ligeira conversa, uma mulher falou:
"Adoro Nathan Lane!"
E a guerra de identificação gay começou.
"Ash, já foi no Castro?"
"Sim, temos amigos em São Francisco."
"Não fomos lá, mas dizem que é fabuloso."
"Ash, conhece meu cabeleireiro Antonio?
Ele é ótimo e nunca falou em namoradas."
"Qual o seu programa favorito de TV?
O nosso? Favorito: Will e Grace.
Sabe quem adoramos? Jack.
Jack é o nosso favorito."
E logo uma mulher, desconcertada,
querendo desesperadamente mostrar apoio,
para eu saber que era a meu favor,
finalmente disse:
"Às vezes, meu marido usa camisa rosa."
(Risos)
E tive a chance naquele momento,
como todo lançador de granada.
Poderia voltar para a minha namorada e nossa adorável mesa gay
e ridicularizar seus comentários,
punir seu desconhecimento e inabilidade
de saltar as politicamente corretas argolas gay que eu trouxera,
ou poderia compreendê-los
e entender que pode ter sido uma coisas mais difíceis que fizeram,
esse início e essa conversa
foram eles saindo do armário.
Claro, seria fácil apontar onde falharam.
É mais difícil entender a posição deles
e reconhecer que tentaram.
E o que mais podemos pedir a alguém senão que tente?
Se você vai ser verdadeiro com alguém,
tem que estar preparado para o retorno da verdade.
Conversas difíceis ainda não são o meu forte.
Pergunte a qualquer um que tenha namorado comigo.
Mas estou melhorando, e sigo o que chamo:
os 3 princípios da menina da panqueca
Por favor, vejam isso pelas coloridas lentes gay,
mas saiba que sair de qualquer armário
é essencialmente igual.
Número um: Seja autêntico.
Tire a armadura. Seja você mesmo.
A menina no café não tinha armadura,
mas eu estava pronta para a batalha.
Se quer que sejam sinceros com você,
eles precisam saber que você também sangra.
Número dois: Seja direto. Diga logo. Arranque o Band-Aid .
Se você sabe que é gay, diga.
Se você diz a seus pais que talvez seja gay,
eles terão esperança de que isso mude.
Não alimente falsa esperança.
(Risos)
E número três, e o mais importante...
(Risos)
Não se desculpe.
Você está expressando sua verdade.
Nunca se desculpe por isso.
E algumas pessoas podem ficar magoadas,
então, claro, desculpe-se pelo que fez,
mas nunca se desculpe pelo que você é.
Algumas pessoas podem se sentir decepcionadas,
mas isso é com elas, não com você.
São as expectativas delas, não as suas.
A história é delas, não sua.
A única história que importa
é a que você quer escrever.
Por isso quando estiver
num armário escuro com uma granada,
saiba que nós já estivemos lá um dia.
Você pode se sentir só, mas não está.
sabemos que é difícil, mas precisamos de você aqui fora,
não importa do que suas paredes são feitas,
porque eu garanto que há pessoas
olhando pelo buraco da fechadura dos seus armários
a espera da próxima alma corajosa que derrube a porta, então seja essa pessoa
e mostre ao mundo que somos maiores que nossos armários
e que armário não é lugar para uma pessoa
viver de verdade.
Obrigada, Boulder. Aproveitem a noite. (Aplausos)