Tip:
Highlight text to annotate it
X
Para falar a verdade, eu não gosto muito de colaborar.
Mas você abre exceções para pessoas que tem a
posse de uma chave verdadeira para o zeitgeist.
Quero dizer, eu só posso falar por mim mesmo que
eu trabalho bem quando estou em um
desafio prazeroso.
Eu sinto que o Daft Punk curte desafio prazeroso também.
Era só ver a feição deles enquanto eles escutavam novamente
algumas das gravações que eles tinham feito quando eu estava no estúdio.
As gravações brutas de algumas das sessões de músicos
e ver aquela felicidade na cara deles.
E falar ao mesmo tempo: "ah sim, nós estamos pelo menos no começo de
um processo de dois ou três anos agora.
Lá você tem isso. Você tem a alegria e o desafio,
então eu tenho certeza que eles gostam de juntar essas duas idéias também.
Eu sempre fui um turista no universo de produção eletrônica e
algumas vezes eu estive em uma bateria eletrônica fazendo umas coisas.
Mas na maioria das vezes eu tenho alguém me ajudando e quando eu fiz
um disco eletrônico chamado Ivory Tower,
eu tinha o Boys Noise produzindo tudo para mim,
então eu raramente uso aquelas
maneiras de fazer música, então é exótico para mim.
Então no contexto de ir lá e trabalhar com um rapper como o Drake
ou uma cantora/compositora como a Feist ou Daft Punk,
só para citar três músicos de alto nível cada um em sua própria cena,
o que acontece é o fato de que eu sempre terei que estar no
piano se eu for contribuir com alguma coisa.
Geralmente eu estou tentando realizar a minha função musical específica
que tem a ver principalmente com harmonia.
A harmonia é uma arma musical que ainda é subutilizada na cena pop nos dias de hoje.
Ela tem a reação emocional mais forte,
apesar do fato de ter muita ciência e matemática envolvida.
E mesmo assim é com certeza uma coisa que frequentemente
vai fazer os pêlos de trás do seu pescoço se arrepiarem involuntariamente.
Mesmo não tendo sido muito treinados harmonicamente,
eles claramente sabem que a harmonia tem o poder.
E...
Foi muito emocionante para mim. Eu tenho um
amor verdadeiro pela matemática da música.
Eu acho que eles sabiam disso sobre mim e isso foi a maneira deles de tentar me usar
de uma forma muito apropriada.
De uma forma na qual eu dificilmente sou usado nos dias de hoje.
-Tem algumas coisas favoritas de harmonia na carreira do Daft Punk?
Sim, claro, quero dizer, tem...
É uma harmonia clássica que tipo nunca se resolve.
É um ótimo exemplo de quando se pega uma parte de uma progressão de acorde
que é muito, muito maior em sua forma original e eles simplesmente sampleiam
a parte que
implora por uma resposta que nunca chega. E então você tem aquela
sensação maravilhosa de harmonia pendente que nunca se resolve.
Umas das coisas mais específicas que eles me pediram para fazer foi
construir uma ponte musical entre um grupo de músicas que eram em Lá menor
e tinha um outro grupo de músicas que eram em Si bemol menor e/ou maior,
então há maneiras de negociar aquela mudança de nota, mas
algumas delas são mais diferentes que as outras.
Você literalmente escuta aquele tipo de mudança de nota em muitas power ballads
incorporada na música, tipo uma música do Barry Manilow vai ter esse tipo de:
Esse tipo muito brega que distorce a a emoção da mudança de nota, então
essa era um pouco mais sutil porque tem um grupo de músicas
que você sente que está numa certa categoria harmônica e você tem que mudar.
As primeiras três faixas são todas baseadas em Lá menor.
E isso vai até o fim da faixa do Moroder
que é basicamente:
e nós acabamos fazendo
para a progressão de acorde de Within, que é a faixa número 4.
Que é:
Então eu tive que procurar um acorde comum que pudesse existir perfeitamente
no universo de Lá menor das três primeiras faixas,
mas que também existisse em Si bemol menor no próximo grupo de músicas.
Então o acorde Fá foi o que eu escolhi. Então saindo do Moroder:
Aqui é o Fá:
Ainda estamos em Lá menor:
Dessa vez o Fá:
Fico nisso:
E daí guia para:
Então é o tipo clássico de barganha e troca da música.
O fato deles pedirem que essa ponte musical acontecesse
simplesmente mostra que eles tem absorvido muito do que os
compositores clássicos eram obcecados
desde 1700 até o começo do século 20,
que é aquela nota musical que dita muito o que uma pessoa sente.
E...
Existem muitas cores maravilhosas no universo da música clássica que eu escuto
e acho que ainda são muito comovedoras para ouvidos modernos.
Ser dirigido pelo Daft Punk é
simplesmente uma versão extrema do que eu sempre tento
realizar em todo processo colaborativo.
Eu não sou muito do tipo de produtor capitão. O que eu realmente faço,
basicamente estou também no piano apenas tentando
contribuir com o que eu posso contribuir.
No final eu estava tocando meio cegamente e era tipo mais um ator extra
do que um ator principal de qualquer tipo.
E é preciso um ótimo diretor de filme, como o Daft Punk,
para usar uma pessoa apropriadamente.
Eles são um grupo muito carismático e familiar, apesar da imagem misteriosa deles.
Todos músicos tem uma conexão sentimental com eles.
E sempre temos a sensação de que eles estão a nossa frente.
Eles realmente não precisam de nenhuma ajuda e então quando eles pedem por ajuda
é porque eles são tão de alto nível, tão avançados
e tem um bom senso de auto-consciência,
o que você deve ter para operar naquele nível
que você pode
pedir ajuda para certos detalhes que irão
fazer o trabalho ser transcedente.