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Bom dia, Sofia.
Não consigo fazer nada direito!
As torradas estavam maravilhosas!
-Não se preocupe, estou sem fome. -Os ovos estavam no ponto!
-Quer uma massagem? -Por favor.
Queria lhe dar uma surpresa agradável, querida.
Imagine só, aquele cão horroroso voltou
Latia como se quisesse avisar-me de algo.
Não pare.
Você conhece o dono?
Sofia, você sabe quem é o dono?
-O que sabe desse cão? -Vou levá-lo para a casa dele.
G.M.K?
Quem poderia ser?
"Querida Hilde, Sofia acaba de chegar à casa do filósofo.
Lamento que tenha perdido sua cruz de ouro.
Você tem que cuidar melhor de suas coisas.
Um beijo de seu pai, que sempre está perto de você.
Olá.
Bom menino.
Olá?
"Bem vinda à minha humilde morada"
Eu odeio isto. Ouviu?
Comer sobras, andar de quatro, não poder falar e...
comer só um torrão de açúcar de vez em quando...
O vinho está azedo! Sabia que...
o "Chateau de Siècle" é um dos melhores vinhos da região?
Certamente não está bom pois não lhe puseram a rolha.
Por falar nisso, olá.
Sofia, não tema.
Estará a salvo enquanto estiver no curso de Filosofia.
Bem, nunca se sabe o que fará o major...
É nosso criador.
-Ele é o autor. -O autor?
Escreve nossa história.
Mas, vamos por ordem.
Sabe o que é isto?
-É uma bússola. -Então você já sabia.
A bússola foi um invento chave para a Era do Renascimento.
A bússola permitiu aos exploradores encontrar novos continentes.
Durante o Renascimento, os Filósofos se dedicaram à ciência.
A palavra "Renascimento"...
implica em um retorno.
-O que foi o que renasceu? -Os ideais da antiga Grécia.
Permitiu-se às pessoas voltar a ter curiosidade pelas coisas.
Foi-lhes permitido pensar.
Boa tarde.
Não temam.
Meu nome é Rocco Spinotti, sou o arquiteto da obra.
Não temam.
Queria usar um novo explosivo, mas temo que fosse demais
-Muito enxofre, acho eu. -Peço-lhes desculpas.
Bem vindos. Entrem.
Espera!
Vamos entrar.
O que é isto?
Esta é a idéia que tem o major do Renascimento.
A idéia do major?
-Olá, Alberto! -Olá, Pedro!
-Tudo bem? -Bem, obrigado.
Apresento-lhe Sofia.
-Até mais tarde. -Até mais tarde.
-Conhece esse homem? -Não.
O curso da história européia...
é como o transcorrer de uma vida. A Antigüidade é a infância.
A Idade Média é a etapa escolar.
O Renascimento é como o décimo quinto aniversário...
depois do qual a Europa se abre ao mundo.
É uma época de experimentação e investigação das questões vitais.
-Isto foi obra do major? -Sim.
-O Renascimento. -O Renascimento.
Pega!
Pega o ladrão!
Pare aí!
Felipe, Hamlet, não faria isso. Sabe que seu tio matou seu pai.
Hamlet tem que estar transbordado de raiva e a dor.
-O que faria Hamlet? -Contenha sua ira.
-Sabe quem é Shakespeare? -Escrevia dramas.
-Nos conhecemos, cavalheiro? -Desculpe, meu nome é Alberto.
-William Shakespeare, encantado. -Sofia Amundsen.
-William? -Dentro de um momento continuamos.
Não poderíamos usar a caveira na obra?
"Ser ou não ser,
eis aí a questão."
-Cortamos essa linha? -Deveríamos deixá-la, Felipe.
Ser ou não ser. Essa é a questão, Sofia.
-William, por favor. -Me desculpem.
Ensaiam "Hamlet". William Shakespeare...
escreveu "Hamlet", "Romeu e Julieta", "Macbeth", "O rei Lear"...
Não. Pare. Parem. Detenham-no.
É meu clarinete.
Obrigado, é meu clarinete.
Primeiro vocês, meus senhores. Toquem antes.
Aí vai! Pare, ladrão!
-Aonde foi? -Quem?
O ladrão que me roubou a carteira.
-Bom dia. -Bom dia.
-É polonês. -Também fala polonês?
Não, mas...
apresento ao Nicolaus Copérnico.
Proclama que a terra gira ao redor do sol.
-E não é? -Antes do Renascimento...
pensava-se que a terra era o centro do universo.
O clero decretou que esta crença deve permanecer.
A Igreja é infalível.
Temem que as novas idéias troquem a imagem que a gente tem de Deus.
-Mas é a verdade. -A Igreja proíbe divulgá-la.
As idéias do Copérnico demorarão 300 anos para serem aceitas.
-300 anos? Temos que avisá-lo. -Não pode ser feito.
O passado já foi escrito.
Aí está Leonardo Da Vinci.
Artes, Ciências...ele fez de tudo
Foi arquiteto, matemático e engenheiro.
-Seu sorriso tem algo especial. -Chama-se...
Mona Lisa.
Aqui está Michelangelo, o maior rival do Leonardo.
Como sabe quando deixar de esculpir?
"Detenho-me quando... alcanço a pele."
"É você, Sofia."
Johannes Gutenberg...
acaba de inventar a imprensa.
Este é Gutenberg, Sofia.
Antes de Gutenberg os livros eram escritos à mão.
Ele inventou os tipos móveis, letras de metal que são ordenadas
A imprensa contribuiu com a difusão das idéias, começou-se a ler mais.
Deu-se fim ao monopólio cultural da Igreja.
-Francis Bacon disse que... -..."o conhecimento é poder".
Disse há 250 anos.
Por que roubou a carteira? Meu dinheiro não servirá por 400 anos.
Olhe, um dos primeiros bancos da história.
Os Bancos Populares, o banco do povo.
Se tivesse aberto uma conta aqui, teria tido muito lucro.
Quem é você? Dolores Carmencita Ponce Leon
Sofia, apresento-lhe Carmencita.
Alberto? Olá?
Coca-Cola
Coca-Cola
-Melhor pedir um chá para mim. -Chá.
O neto de Vasco de Gama está descarregando as mercadorias.
Vai olhar, é interessante.
Acaba de chegar a Europa a 1ª carga de chá da Índia.
Vinho e chá.
Carmencita, estava pensando que...
Olá.
-É uma viajante de muito longe? -Isso.
-Meu nome é Giovanni. -Jorge?
Como se chama?
-Onde tinha se metido? -Giovanni e eu...
Temos que ir, Spinotti vai fechar o buraco da parede.
Adeus, Sofia.
Que bela é, Sofia.
Marcelo, trabalha! Volto em seguida!
Desculpem.
Que Deus lhes abençoe.
Alberto, foi um prazer.
Bela Sofia, você é bela como a Virgem Maria.
Serão sempre bem-vindos. Adeus.
-Muito interessante. -Adeus.
O Renascimento foi esplêndido. Foi estranho.
Isto não é seu?
Você perdeu isto, não?
-Obrigado, papai. -Chamou-me de "papai", Hilde.
-Eu sou Hilde? -Ou talvez...
Hilde é você?
Significa que não existimos? Não somos reais?
Me responda, Alberto!
Há diferenças entre a fantasia e a realidade.
Conheci o Shakespeare,Gutenberg, Copérnico e Michelangelo.
Olá, Giovanni.
Bom,
ao menos, isso é o que está em seu plano de estudos.
Sofia, de onde tira suas idéias?
-Ela estuda Filosofia. -Entendo...
"O conhecimento é poder".
Jorge.
-Francis Bacon. -Quem disse isso?
Francis Bacon.
É um garoto simpático.
-Jorge, certamente! -É muito bonito.
-Vai convidá-lo à sua festa? -Sim.
-Também seus amigos. -Porque Kurt e Tullen Johnsen?
Para que minha mãe e Alberto não sejam os únicos adultos.
Jorunn, acredita que existimos?
Olá?
-Quantos anos tem Alberto? -Cinqüenta.
Meu Deus, pensei que tinha arrumado um noivo.
-Cinqüenta anos? -Disse que só era um amigo.
Nós não existimos de fato. Sabia disso, não?
Penso que somos apenas personagens em uma história.
Mas ainda pode convidar o Alberto para sua festa.
-O que acontece, querida? -E se for verdade?
E se não existir? E se formos personagens em uma novela?
"Scentio ergo sum." Sabe o que significa?
"Sinto, logo existo."
"Scentio, ergo sum"?
Sabe de uma coisa?
Hilde usa óculos.
O telefone está tocando. Pode ser o Ivar.
Hilde Maller Knag.
Como vão seus estudos de Filosofia?
Não tenho certeza.
Olá, Knag. Escrevendo outra vez?
Vamos jogar bilhar.
-Vem conosco? -Não, agora não, Berg.
Vamos, Sevaldsen.
Quem sou eu? Existimos?
Sim... ou não.
Depende.
Você alguma vez sente medo?
-Me responda, Alberto! Sente? -"Era uma vez na Rússia...
um neurocirurgião...
e um astronauta falavam sobre religião."
Sim, posso sentir medo.
"O neurocirurgião era cristão...
e o astronauta ateu. E este disse: "estive no espaço muitas vezes...
e nunca vi Deus ou anjos."
Então o neurocirurgião replicou:
"Operei o cérebro de muitas pessoas sábias,
mas nunca vi um pensamento."
Descartes viveu no século 17. Ele disse algo sobre o pensamento...
Onde poderá estar? Aqui, no "Atlas de Anatomia".
Descartes disse "Cogito ergo sum".
"Cogito ergo sum".
"Penso, logo existo".
-Como sabia? -É latim.
-Tenho uma alma? -Olhemos no 'Atlas'.
Olhemos em 'A'...
-Onde fica a alma? -Aqui, suponho.
Ou aqui, talvez.
Descartes sustentava que havia uma fronteira evidente...
entre o espírito e a matéria. Entre a alma e o corpo.
-Pegue uma maçã, por favor. -Obrigado.
Rápido, lance-a para mim.
-Atirou-a sua alma ou seu corpo? -Eu atirei...
A Descartes interessou profundamente este problema.
Pensava que devia haver uma conexão entre o corpo e a alma.
Algo que influenciava os processos mecânicos.
Descobriu alguma coisa?
Para Descartes era a Razão.
Pensava que a gente devia duvidar de tudo.
Duvidar de tudo?
-Ele não questionava sua existência. -Mas você sim.
-Mas se eu penso, existo. -Exatamente!
Descartes...Venha, venha aqui. Venha.
Ele opinava que o corpo e a alma funcionam de forma autônoma.
O corpo é como um computador. A alma é o sistema operacional.
Mas os computadores não têm alma.
Continua!
-"Como se chama?" -"Quem é Hilde Maller Knag?"
"É de Lillesand. Tem a mesma idade que você,
Sofia Amundsen."
"Quem é o pai da Hilde?"
Não...
-"Quem é o pai da Sofia?" -"Olá, Sofia."
-"Sou o major Alberto Knag." -É o major!
-O major! -Está falando conosco
O autor.
"Por quanto tempo ficará?"
"Já conhece a resposta. Até o final da história."
Até o final da história.
Viveremos se continuar escrevendo sobre nós.
Até que termine a história.
"Sou real?"
Srta. Amundsen.
-Fala inglês? -Sim.
Preste atenção, querida menina.
-É real esta mesa? -É real.
O que sentiria ao golpeá-la?
Algo duro.
É você real, Srta. Amundsen?
Acho que sim mas quem é você?
Meu nome é Berkeley.
Meu nome é Sofia.
A única coisa real é o poder do Senhor, minha criança.
O Senhor?
O Senhor, Deus.
Obrigado, Sr. Knox.
Todas suas percepções se originam no poder de Deus.
A questão é... o que somos?
Somos gente de carne e osso ou somos apenas consciências?
Sr. Knox, confio que você possa prosseguir daqui.
-Adeus a ambos -Adeus, Sua Graça.
Berkeley,
bispo anglicano irlandês...
que viveu entre 1685 e 1753.
esteve aqui, Sofia.
Quis dizer que a mesa não é real? É que não somos reais?
O mundo é como o percebemos.
As coisas existem apenas se podem ser sentidas ou percebidas.
-O poder de Deus? -Berkeley era um bispo.
Ele e Tomás de Aquino opinavam que a Filosofia e a fé se entrelaçavam.
A percepção do espaço e do tempo...
só existe em nossa mente.
-Uma semana para nós... -Pode ser diferente para o major?
-O major é uma espécie de deus? -Mais ou menos.
-Quem é Hilde? -É um anjo.
É a ajudante de Deus, e Deus é o major.
-Mas pode ser que não seja... -O que?
Descartes escreveu que o ser humano possui a idéia de um ser perfeito,
mas nenhum ser humano é perfeito.
Por isso, o conceito de Deus Deve vir de outra fonte.
Como o major não é perfeito...
ele também deve ser dirigido por um poder superior.
O major não é Deus.
Olá, Knag, descansando de seus escritos?
Ouça, Berg, pode colocar isto no correio?
-Hilde Maller Knag. -É minha filha.
Parabéns a você, nesta data querida...
-Quinze, não posso acreditar nisso. -Por acaso tem dúvidas?
Dúvidas?
Claro que não, de nada.
Alguns filósofos duvidam de tudo.
-Quinze anos! Quem diria! -"Tempus fugit".
Sim, "o tempo voa".
Recordou uma frase em latim.
-Por que deixou de estudá-lo? -Para que ia me servir?
-Encontrou o presente. -"O mundo da Sofia".
Ele está escrevendo um livro só para mim.
Não vejo nada.
Sofia, sabe por que existimos? Somos o presente de aniversário...
do major a sua filha. Feliz aniversário!
-Por isso temos que fugir. -Sofia!
O major controla o que dizemos e fazemos. É inútil.
-Quanto falta para o final? -Onde estávamos?
Berkeley,
que pensava que o espírito é superior à matéria.
Tem que continuar, Alberto.
Temos que enganar o major.
Não, não, não... Não dará certo.
Se continuar, seguiremos existindo.
Algumas décadas depois da morte de Berkeley,
em 1789, houve a Revolução Francesa.
O povo se rebelou contra o rei e a nobreza.
Lutaram para se libertarem da opressão.
Isto é a Revolução Francesa?
Alguns tinham privilégios que eram pagos por outros.
Pessoas eram tratadas diferentemente segundo seu nascimento.
Era uma sociedade de classes, não existia igualdade como aqui.
-Como era organizada? -A Igreja dominava.
Os nobres também desfrutavam de enormes privilégios.
Quem era esse? Você o conhece?
Eram isentos de pagar impostos, os cidadãos tinham poucos direitos.
Lutaram para acabar com a opressão e terminar com o sistema de privilégios.
Aboliram a monarquia absoluta.
-O que significa isso? -Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
-Isso não é Filosofia. -Tudo é Filosofia.
"Os frutos da terra pertencem a todos...
mas a Terra não pertence a ninguém."
-Quem disse isso? -O filósofo Rousseau.
Acreditava que o homem possuía certos direitos naturais.
-Os direitos humanos? -Sim, e todos estavam de acordo.
O curso da história mudou devido a uma idéia.
Perdoe, Sr. Knox.
Negar-se a obedecer à vontade geral é fazer-se inimigo do corpo social.
-Isso é do Rousseau? -Obrigaremos todos a ser livres.
-Esse é o Rousseau? -Não, é Robespierre.
Líder da revolução e admirador de Rousseau.
Me desculpem, é Danton.
Viva a França! Viva o Povo!
-Os filósofos foram mal representados. -O que aconteceu?
Em vez de métodos democráticos empregaram a violência e o terror.
Robespierre condenou à morte aos que chamava "inimigos do povo".
-Quais eram esses inimigos? -Vê aquela mulher ali?
É Olímpia de Gouges. Criticou o uso da violência.
-Por isso vão matá-la? -Muita gente foi executada.
Foram acusados de trair a Revolução. Que tragédia!
Em 1791, Olímpia escreveu "A declaração dos direitos das mulheres",
explicando que o poder pertence ao Povo,
mas que o Povo compõe-se de homens e mulheres.
Foi a primeira mulher que, publicamente, exigiu a igualdade entre sexos.
Pensava que se as mulheres têm direito de morrer na guilhotina,
também deveriam ter o direito a falar em público.
Ela nunca fez esses discursos.
Major Knag.
Seu telefone já está consertado.
Wisnes, Sevaldsen e eu vamos vários a jogar bilhar.
-Quer nos acompanhar? -Não, obrigado, estou ocupado.
Ocupado? Sim, estou vendo
-Tem filhos, Berg? -Não, sou um solteiro feliz.
-Sobre o que escreve, chefe? -Sobre a Revolução Francesa.
-E sobre por que estamos aqui. -Certo...
Entendo.
Venha conosco. Todo o grupo irá.
Major?
Eu atendo.
Aqui é a Hilde. Alô?Alô?
-Você disse "Hilde". -Disse?
-Terá sido um lapso, suponho. -Onde esteve?
Não!
Junho, 1945.
As Nações Unidas foi fundada em 24 de outubro.
O princípio de liberdade, igualdade e fraternidade...
unirá às nações obrigadas ao trabalho da ONU.
A Revolução Francesa foi obra de grandes homens...
-...e mulheres! -O que disse?
-E mulheres. -Perdoa, Sofia...
mas a Revolução Francesa foi basicamente uma coisa de homens.
-Olímpia de Gouges. -Olímpia de...?
Olímpia de Gouges.
-Foi guilhotinada. -Quer continuar você?
-Em 1791. -Em 1791?
Sou o decano do Depto. de História,
se por acaso lhes interessa saber.
Eu sou o professor. Você só tem quinze anos.
Está dizendo que se cale, Sofia.
Supõe-se que não deve saber mais que o professor Jacobsen.
-Quem te deu permissão, Jorunn? -Não era a liberdade de expressão...
um dos ideais da Revolução Francesa?
-Deveria lhe deixar terminar! -Acha isso, Jorge?
Sente-se.
Estão começando... a me incomodar...
suas contínuas interrupções durante a aula.
-Por favor! -Olímpia de Gouges.
Escreveu em 1791 "A declaração dos direitos das mulheres".
Liderou as mulheres destituídas de seus direitos políticos.
Adeus.
Cheguei até a Revolução Francesa. Pobre Olímpia de Gouges!
Guilhotinada por escrever sobre os direitos das mulheres.
Na realidade foi por que criticou Robespierre...
e defendeu Luis XVI, o que não foi nada inteligente.
-Não se deve dizer o que se pensa? -Sim,
mas às vezes é melhor calar e viver. Lembra de Sócrates.
Papai,
Sinto muito pela Sofia, está muito confusa.
Querida, só é uma... Já sabe...
Sinto muito, tenho que desligar.
-Se cuida. -Se cuida, docinho.
Não nos deixará em paz até que termine o livro.
-Teremos que distraí-lo. -Como?
Faremos...
-Certeza que funciona! -Não, Sofia...
-Faça, por favor! -Está frio!
Estou lhe avisando.
Não farei isto!
É ridículo! Onde está?
Funcionou, Alberto!
É "bom dia" em italiano.
-Entre. -Jacobsen pediu a baixa.
Por que usa esses óculos vermelhos?
-Quem é essa mulher vermelha? -Olá, Tullen.
-Parece familiar. -Estou ocupada, posso ligar depois?
Vê tudo como de costume, mas na cor vermelha.
Os óculos alteram sua percepção da realidade.
Vê o que lhe rodeia,
mas os óculos alteram sua percepção. O mundo não é vermelho.
-Isso é Filosofia? -Emanuel Kant.
-Legal...Filosofia é legal -É claro que sim.
Kant disse que só podemos estar certos de nossas próprias percepções.
Uma coisa é o objeto e outra a percepção que temos dele.
Nunca saberei de que cor é minha mãe na realidade?
Nunca saberemos a verdadeira natureza de nenhum objeto.
-Nem mesmo sem os óculos? -Não.
Isto é legal...
Tem visita. É Jorge.
Não sei o que ele quer.
Olá.
-Queria lhe dar isto. -Obrigado.
-"Iniciação à Filosofia". -Obrigado, Giovanni.
-Por que me chama de "Giovanni"? -Você me lembra de um menino...
do Renascimento.
Era neto de Vasco de Gama e tinha viajado ao Extremo Oriente.
Contou-me uma piada. Vocês dois parecem gêmeos.
"Um chinês chamado Chuang sonhou que era uma borboleta.
A borboleta não sabia da existência de Chuang e vivia feliz.
Depois, Chuang, não sabia se tinha Sonhado que era uma mariposa...
ou se era uma mariposa sonhando que era Chuang."
-Onde ouviu essa piada? -Não sei, apenas conhecia.
-Quer entrar? -Sim, quer dizer...
Melhor outro dia.
-Tenho que ir. Adeus! -Sim, até logo.
Adeus!
"Deus morreu".
Pelo menos segundo Federich Nietzsche.
Não há nada a que agarrar-se na Nossa complicada sociedade moderna.
Nietzsche pensava que deveríamos re-examinar todos os valores...
para que os fortes não fossem detidos pelos fortes.
-Somos débeis, nem sequer existimos. -Não temos escolha.
Bobagens, todos podemos escolher!
Todo indivíduo deve tomar decisões durante sua vida.
Essa é a essência da existência.
A decisão é sua, Sofia.
Você decide.
-Quem era esse? -Soren Kierkegaard, um dinamarquês.
Às duas, então
-Onde estamos? -Na Alemanha.
Escuta, é uma ária a ópera "Don Giovanni" de Mozart.
-Estamos na Era do Romantismo. -No Romantismo?
Foi uma era focada na natureza e no gênio criador do artista.
Mozart escreveu uma sinfonia inteira, ainda quando menino.
Sofia,é Goethe!
Um escritor. O melhor poeta da Europa depois de Shakespeare.
-Aonde ele vai? -Ao seu quarto, para escrever.
"As Tristezas do Jovem Werther" influirá em toda uma geração.
-Houve gente que até se suicidou. -Por ler um livro?
Têm tanto poder os livros?
Tese, antítese, síntese. Isso dizia Hegel.
Nosso pensamento são dialéticos.
Nossos pensamentos surgem de pensamentos anteriores, entende?
Estes pensamentos entram em contradição, gerando uma tensão.
Como quando lhe disse para fugirmos e você disse que não podíamos?
-Se refere a isso? -Mais ou menos.
Mas a síntese combina o melhor de ambas.
Formulemos uma síntese.
Claro.
Jorge? A síntese.
Podemos usar uma personagem secundária.
"Podemos usar uma personagem secundária para enganar à principal.
E já sei qual."
Teatro de sombras.
Sombras na caverna.
Adiante.
Não quer ver televisão?
Não vem? O programa já começou.
Prefiro ler.
Pensava que veríamos juntas.
-São muito chatos. -A que se refere?
Aos programas da televisão, mãe. Sempre sabemos o que vai acontecer.
É como um teatro de sombras.
Um teatro de sombras?
-Um teatro de sombras? -Como o mito da caverna.
-Parece cansada. -Sim, sinto-me cansada.
-Acho que vou deitar. -É uma excelente idéia.
Podemos conversar depois.
"Ninguém...
chega a conhecer..."
"Querida Hilde, desejo muito lhe encontrar...
e lhe entregar o último capítulo do livro."
O último capítulo?
"Está quase pronto. Com amor, papai."
"Espero chegar na véspera do solstício do verão."
Véspera do solstício do verão!
Há alguém aqui? Olá?
"Para a frente, excluídos da Terra. Em pé, esfomeada legião."
Os documentos.
"Do passado terá que fazer pedaços, legião escrava em pé para vencer."
"O gênero humano é a internacional."
Sofia, ou Hilde, suma daqui.
"Nem em deuses, reis e nem tribunos, está o supremo salvador."
"Nós mesmos realizemos o esforço redentor."
"O gênero humano é a internacional."
Estão filmando. Olhem para a câmera.
Jorge?
Olá, camarada.
-De onde é? Meu nome é Misha. -Meu nome é Sofia.
-É da Geórgia? -Não, da Sibéria, camarada.
-Por que disse da "Geórgia"? -Não disse "camarada".
-Recorda um amigo. -Da Geórgia, camarada?
-Por que diz "camarada"? -Porque todos somos iguais.
-Por que fazem a revolução? -Porque o povo morre de fome.
As classes altas monopolizam tudo. O povo está oprimido.
Lênin diz: "Pão para o povo, terra para os fazendeiros,
paz ao país e poder para os soviéticos."
-Que valente é! -Não.
Tenho medo, mas morreremos se não fizermos nada.
A dialética de Hegel é a base do Marxismo.
Está brincando?
Tenho que ir, Sofia.
Aí está você! Adormeci no sofá.
-Onde estava? -No sótão...
O que fazia lá?
Participei da Revolução Russa.
Foi viajar até a Rússia?
Está toda suja... É pólvora!
O que tem aí? "O Manifesto Comunista".
Tomara que Ivar volte logo.
-Boa viagem, major. -Obrigado, Berg. Cuide-se.
"Querido amigo Alberto, temos que agir agora.
O major chegará amanhã, trazendo o último capítulo.
Teremos êxito se eu conseguir a chave e convencer o Jorge.
Só tem que pronunciar um discurso.
Prometa que não me abandonará.
Meu nome é Freud, Sigmund Freud.
Ao divã, ao divã!
Meu Deus. Deite-se no divã, por favor.
Falemos de sua infância.
Me fale de seus sentimentos. Vamos, deite-se.
Ultimamente estive um pouco confusa.
Ouviu falar de hipnose?
Está confortável?
-Sabe o que é a psicanálise? -Não...
A psicanálise.
A psicanálise é um método terapêutico...
que inventei para tratar mentes doentes.
-Mas não estou doente. -É possível.
Mas a psicanálise também é uma forma...
de descrever a mente...
-...da pessoa comum. -Mas eu não sou comum.
Por isso sou a pessoa adequada para ajudá-la.
-Vai hipnotizar-me? -Todas suas experiências ficam...
registradas no subconsciente.
-Você não é uma garota comum. -Se você soubesse...
-Então tem um problema, certo? -É, certo.
O tempo está se esgotando, e estou fugindo de uma história.
Isso é difícil, terá que fugir quando o autor não estiver olhando.
-Terá que penetrar em seu... -...subconsciente.
-Distraí-lo. -É óbvio... Freud.
Eu te vejo na festa.
-Saúde! Que festa mais divertida. -Feliz aniversário, Sofia.
-Feliz aniversário. -Obrigado, camarada.
-Toma, peguei-as na cabana. -São lindas!
Queridos amigos, bem-vindos à festa do 15º aniversário da Sofia.
Cresceu tanto. Lembro-me de quando conheci Ivar
-"Tempus fugit". -Exato, "Tempus fugit".
Vamos festejar com um Banquete filosófico hoje
porque Sofia está fascinada com os grandes pensadores.
Por isso quero dar as boas vindas ao Antonio.
-Alberto. -Desculpe.
É amigo da Sofia e também um filósofo.
-Prazer, Sra. Amundsen. -Me chame de Brígida, por favor.
-Meu nome é Tullen. -Somos casados.
Para lhe agradecer pelo Empréstimo de sua filha
eu gostaria de pronunciar um breve discurso. Sofia e eu...
-Olá, bela Jorunn. -É nossa filha.
-Você deve ser o Jorgen. -Como sabe meu nome?
Alberto sabe tudo. Este é Jorge.
Olá, Giovanni.
Jorge, perdão.
Ultimamente, Sofia e eu
estivemos explorando a fundo a História da Filosofia.
Da antiga a Grécia até os tempos modernos.
E descobrimos...
que somos ficções, produtos da mente subconsciente...
de um certo major
chamado Alberto Knag.
Ele está escrevendo nossa história em um livro para a filha dele
Ela também faz quinze anos.
O livro será o presente de aniversário de sua filha Hilde.
-Pega o carro do Johnsen. -Somos um mero entretenimento.
-Está louca? -É questão de vida ou morte.
Não somos reais. Não existimos.
-Não sou real? Tenho 40 anos. -Não existimos!
Somos parte da estrutura de um relato filosófico.
Mas isso não quer dizer que não possamos nos divertir.
Comam, bebam e sejam felizes! Obrigado por sua atenção.
-Tullen! -Corre, idiota!
-Agora ou nunca! -Estamos na última página.
Pode ser perigoso.
Não, é perigoso!
-Não, Sofia! -Vamos, Alberto!
Abaixo o burguês!
Olhe!
Sou real?
"Ser ou não ser,
eis a questão."
A seqüência se inverteu.
Isto já vimos antes, mas a seqüência está invertida.
"Diógenes."
"Afaste-se para que eu receba o sol."
"Assim fala um autêntico cínico."
Vamos!
"É fácil escapar da morte... mas não da maldade..."
Sofia. Onde estamos?
Hilde, viu a toalha branca?
Está no térreo, na mesa de passar.
Já vou descer
Chegamos.
É o quarto que vi através do espelho. É o quarto da Hilde.
Em Bierkely... Estamos em Bierkely.
Onde pode estar?
Hilde,
existencialismo?
A palavra fundamental da Filosofia do Kierkegaard é "existência".
Mas não significa "ser" por que plantas e animais também são vivos.
Juan Pablo Sartre, outro existencialista,
dizia que o homem é o único ser que tem consciência de si mesmo.
Dizia que os objetos físicos são "em si", mas o homem é "para si".
-Interessante, não é? -Quem disse isto?
O telefone está tocando.
É impossível conectar com ela?
A palavra "impossível" não existe no vocabulário de uma filósofa.
Mãe, papai chegou!
Alberto!
-Quase não lhe reconheço. -Você é um belo escritor
E você é uma bela mulher.
Papai está em casa, tudo volta ao normal.
Esse é o meu marido?
É apenas um homem comum. Pensei que pareceria "divino".
Teve o poder de nos criar com sua imaginação.
-Aonde vai? -Tenho que saber como termina.
"Somos parte da estrutura de um estudo filosófico.
Mas isso não quer dizer que não possamos nos divertir.
Comam, bebam e sejam felizes! Obrigado por sua atenção.
Fim."
Fim?
Mas não pode terminar assim!
-Nada sobre o Jorge e o carro? -Conseguimos escapar.
Impressionante.
-Há vida lá fora? -Ninguém sabe com certeza.
O universo é tão grande que se mede em anos-luz.
1 ano-luz equivale a quase 10 trilhões de quilômetros.
10 trilhões de quilômetros!
10 trilhões de quilômetros!!
Faz 15.000 milhões de anos...
o calor do universo se concentrava em uma minúscula área.
E isto provocou uma grande explosão.
Apareceram os átomos, que formaram moléculas.
Formaram-se sóis, que por sua vez...
deram lugar a planetas como este em que nós vivemos.
Assim foi o Big ***.
-Deve ter sido enorme! -Com certeza muito grande
Sinto que alguém nos acompanha.
Talvez sejam Sofia e Alberto, o que acha?
-Sinto algo. -Impressionante!
Por que não entram? É muito tarde.
Está certo.
Aquilo que explodiu há tanto tempo, de onde procedia?
-Essa é a grande questão. -Fizeram a mesma pergunta a Sofia.
Mas Sócrates disse que a pergunta é mais importante que a resposta.
E o mundo dela eu é que criei.
Todas as personagens do livro são figuras históricas.
-Sim, vivem eternamente. -Exato, igual a nós.
O que acontecerá se retornarmos?
-Silêncio! Escutou isso? -O que?
É música.
Vem de lá de cima.
Chegamos.
-O que acha de ter voltado? -Genial.
Estava pensando sobre Hilde e seu pai.
Vamos viver mais que eles. Eles são apenas humanos.
enquanto que nós...
somos idéias, Alberto. Formas eternas.
-Viveremos eternamente. -Como as idéias de Platão!
Sofia, você converteu-se em uma autêntica filósofa.
Quer fósforos, Sofia?
Tradução: Pinguim-SP e LIno46
Revisão final: LIno46
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