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O sol, a lua, os planetas e as estrelas
sempre despertaram nossa imaginação
e fomentaram nossas mitologias.
E o estudo do céu, a astronomia,
é certamente a disciplina científica mais antiga que há.
O surpreendente, creio,
é que a astronomia compensou o interesse nela ao longo dos séculos.
Ano após ano, ela foi o lugar onde novas ideias surgiram,
e muitas vezes liderou o resto das ciências.
Sou professor de Física na Universidade de Surrey,
e as ideias e teorias dos grandes cientistas europeus
como Galileu, Newton e Einstein
estão no centro do meu trabalho.
Mas há um outro lado para mim.
Sou meio iraquiano, e estou disposto a investigar
histórias que ouvi quando estudava em Bagdá
de grandes astrônomos do mundo islâmico medieval
cujo trabalho definiu as descobertas desses cientistas ocidentais.
Irei viajar através da Síria e do Egito,
às montanhas remotas do norte do Irã,
para descobrir como o trabalho desses astrônomos islâmicos
teve consequências dramáticas e a longo prazo.
Lá, descobrirei como eles foram os primeiros a atacar
as aparentemente inabaláveis ideias gregas
sobre o movimento dos corpos celestes ao redor da Terra.
Foi o Islamismo que abriu caminho
para uma das maiores reviravoltas da história da ciência.
MUSKETEERS Albattroz Capejuna Kakko
A CIÊNCIA E O ISLÃ
O PODER DA DÚVIDA
Esta é a Universidade de Pádua, norte da Itália.
Estou aqui para ver provas incontroversas
que um dos maiores avanços da ciência europeia
remonta aos trabalhos pioneiros dos estudiosos islâmicos.
A astrônoma Dra. Luisa Pigotti e eu estamos subindo
até um observatório do século XVIII.
Lá em cima, ela promete me mostrar
um dos mais importantes livros da história científica.
O que temos aqui?
Certo. Esta é a segunda edição do
- "De Revolutionibus". - Copérnico.
Este é o "De Revolutionibus Orbium Celestium",
que foi publicado em 1543
pelo astrônomo polonês Nicolau Copérnico.
A importância deste livro é enorme.
Nele, Copérnico afirma pela 1ª vez desde a Grécia antiga,
que todos os planetas, inclusive a Terra,
giram em torno do sol.
Durante milhares de anos, todos acreditaram numa visão diferente,
que a Terra era estática e que tudo,
incluindo as estrelas, sol e planetas,
movia-se em torno dela.
E aqui está o sistema dele.
Aqui está. Sol. O sol no centro.
Tem a Terra... com a lua. Com a lua ao redor dela.
Este é um livro surpreendente.
E muitos historiadores atribuem a ele
o início da revolução científica europeia.
O primeiro passo crucial de uma jornada que levou à Física moderna.
Bem, concordo.
Mas parece um pouco estranho que ninguém ouça muito sobre
de onde Copérnico tirou suas ideias e informações.
A impressão é que elas surgiram do nada.
- O início... - O início é todo em árabe.
Certamente é uma revelação para mim
que ele cite explicitamente um muçulmano do século IX
por proporcionar-lhe muitos dados de observação,
um astrônomo que viveu em Damasco, chamado Al-Battani.
Como todos os grandes cientistas do Império Islâmico,
Al-Battani vivia numa cultura sem retrato.
Tudo que temos são impressões posteriores de como ele seria.
E aqui ele cita Hiparco,
Ptolomeu e outros.
Ele começou citando o que chamou
"Machometi Aracenfis", ele quis dizer Al-Battani.
E então o segundo livro aqui...
- Podemos ver o início em latim. - Notei.
Copérnico fez grande uso das observações de Al-Battani
acerca da posição dos planetas, sol, lua e estrelas.
Ela trabalhou com traduções em latim, similares a esta,
dos dados do astrônomo sírio.
Kitab Al-Zij Al-Battani. Este é o "Zij" de Al-Battani,
seu livro do mapa das estrelas.
De um lado tem o árabe...
Isso. E depois uma versão em latim.
Muito conveniente.
Mas, certamente, ele tinha os dados observacionais de Al-Battani.
E o livro de Copérnico está cheio de pistas
que indicam outras fontes pretéritas.
Embora Al-Battani seja o único astrônomo islâmico
citado por Copérnico, uma recente investigação revelou indícios
que Copérnico baseou muitas de suas ideias
no trabalho de outros estudiosos islâmicos.
O exemplo mais claro é o uso por Copérnico de uma ideia matemática
criada pelo astrônomo islâmico do século XIII, Al-Tusi,
chamada elo-Tusi.
Na Inglaterra, comparei uma cópia do
"Tadhkirah Al-Hay Fi'ilm Sl-hay'ah" de Al-Tusi
a outra edição do "Revolutionibus" de Copérnico.
Nele, há um diagrama do elo-Tusi,
e há diagrama quase idêntico no livro de Copérnico.
Até mesmos as letras que marcam os pontos nos círculos.
Em Al-Tusi há o árabe "alif", que é a letra A.
Tem "baa", o B. "Gheem", bem aqui, o G.
E "dal" no meio, D.
Uma semelhança notável.
Pode ser apenas coincidência,
mas é um prova bastante convincente.
Realmente acredito que Copérnico
conhecia o trabalho de Al-Tusi
e de outros astrônomos islâmicos.
Outra investigação também mostra que Copérnico usou
ideias matemáticas para o movimento planetário
que são incrivelmente similares
àquelas desenvolvidas por outro astrônomo islâmico,
um sírio do século XIV, chamado Ibn Al-Shatir.
Para alguns historiadores isto não é coincidência.
Para mim, Copérnico... não tenho prova irrefutável.
Mas para mim parece, ao analisar as palavras dele,
que ele trabalhava a partir de diagramas.
Alguém deu a ele um diagrama geométrico
do que foi feito por Ibn Shatir para resolver
o problema da lua, por exemplo, o problema dos planetas superiores,
solucionar o problema do movimento de Mercúrio,
ele tinha diagramas e era esperto o bastante
para descobrir a partir deles
qual teoria os alicerçava.
Assim, longe de ter surgido do nada,
parece que o trabalho de Copérnico
seria melhor descrito como o ponto culminante
dos 500 anos de astronomia islâmica antecedente.
Eu queria investigar esta história,
descobrir mais sobre esses astrônomos e suas ideias.
Mas antes, eu queria investigar uma questão mais profunda.
O que motivou
o interesse dos estudiosos medievais islâmicos na astronomia?
Esta é a mesquita de Umayyad,
no centro da capital síria, Damasco,
e uma das mais antigas do mundo.
Estou aqui numa espécie de caça ao tesouro.
Dizem os livros que há um relógio solar no topo do minarete de Arus.
Aquela torre clara ali. Veremos se há ou não.
Esta é a Dra. Rim Turkmani,
astrofísica e especialista em astronomia medieval
do Colégio Imperial de Londres.
Procuramos um dos relógios solares mais precisos
feitos no mundo medieval.
Igualmente emocionante para mim
é o fato de que ele foi feito por um dos astrônomos islâmicos
que tanto influenciou Copérnico. Ibn Shatir.
Vejamos...
Funcionários na mesquita alegam
que o relógio solar foi removido no século XIX,
mas a pesquisa de Rim sugere que uma réplica exata ainda existe,
bem no alto de um dos minaretes, escondida da vista.
Não é como a arca da aliança perdida,
mas a ideia de descobrir um artefato de 150 anos
ainda representa muito.
Reconheceria algo se você...
Preciso ver da outra janela. Desculpe.
- Não. - Nada.
- Fica mais para cima... - Isso.
Marcar o tempo com precisão é essencial para o Islamismo.
O Alcorão exige que o fiel reze
5 vezes ao dia, em 5 horas exatas.
No momento exato do amanhecer,
quando o sol está a pico,
à tarde,
ao pôr-do-sol
e novamente no momento do anoitecer.
Para o Islamismo, um relógio solar preciso
era um objeto muito importante em muitas mesquitas.
Lá está. Achei! Achei!
Lá está ele, veja!
- Como descrito no livro. - Está escondido pelo pilar.
Dá para entender por que não sabiam da existência dele.
Está todo coberto por fezes de pombo.
- Cocô de pombo. - Isso.
- Ótimo, obrigada. - Use isto.
Consiste em 3 relógios solares.
O principal, o maior.
E há o do norte e o do sul.
Tem uma linha aqui para a Dhuhr, a prece do meio-dia,
e tem uma para a da tarde.
Ibn Al-Shatir calculou o arranjo dessa linhas
para que o relógio solar permaneça preciso durante todo o ano,
mesmo que a duração dos dias mude.
Eles tinham um cronometrista.
Um trabalho muito importante.
Ele ficava sentado aqui observando a sombra...
- Isso mesmo. - No momento da prece,
ele sinalizaria para o muezim para iniciar a oração.
O relógio solar de Ibn Al-Shatir, com precisão de minutos,
mostrou-me como o Islã precisava de seus estudiosos
para fazer observações meticulosas dos corpos celestes.
E comecei a entender por que Copérnico ficou tão impressionado
com o trabalho de seus antecessores islâmicos.
Eles deram padrões de rigor e precisão à astronomia
que eram desconhecidos anteriormente.
Eles haviam calculado o tamanho da Terra
com uma margem de 1% de erro.
E criaram tabelas trigonométricas
com precisão de três casas decimais.
E quando reencontrei com Rim Turkmani
no Monte Kassioun nos arredores de Damasco,
ouviria acerca do astrônomo islâmico
que personificou a observação precisa,
o homem cujas tabelas astronômicas e cálculos
Copérnico explicitamente se refere.
Al-Battani.
Nascido em 858, no sul da Turquia,
Al-Battani fez da precisão dos cálculos astronômicos
uma obsessão pessoal.
Diz a história que Al-Battani costumava observar
aqui desta montanha, como observatório.
Durante 40 anos, começando em 877,
aqui e na cidade de Raqqah,
o grande projeto de Al-Battani foi calcular,
com a maior precisão possível, a duração do ano.
Esta é uma cópia do manuscrito original.
Mostrarei o capítulo no qual ele explica a duração do ano.
O capítulo 27.
Ele primeiro cita os antigos números dos egípcios e babilônios.
E indica a duração do ano para eles.
A estimativa deles quanto ao ano
era 365 dias, 6 horas e pouco mais de 10 minutos.
Para melhorar isto,
Al-Battani usou sua engenhosidade e um dispositivo como este.
Uma esfera armilar. Ele a usou para medir
a variação do comprimento das sombras ao longo do ano.
Com essa informação ele calculou o dia exato
em que o dia e a noite tinham a mesma duração.
O chamado equinócio.
Ele repetiu seus cálculos ao longo de 40 anos.
Agora vem a parte interessante.
Ele examinou um texto grego escrito 700 anos antes,
e descobriu o dia exato no qual o autor também mensurou o equinócio.
Ele agora tinha dois dados importantes.
O número de dias entre as duas observações e o número de anos.
Ele dividiu o primeiro número pelo segundo
para chegar a um resultado surpreendente.
Um ano tinha 365 dias,
5 horas, 46 minutos e 24 segundos.
Ele obteve um novo número.
Apenas dois minutos a menos que as observações modernas.
A duração do ano com precisão de apenas 2 minutos.
Exato. O que ele calculou.
O que surpreende na precisão dos cálculos de Al-Battani
é que ele não tinha telescópio.
Ele usou um braço armilar, o olho nu e aparelhos como este.
Um astrolábio.
Movemos o ponteiro e o disco junto,
para apontar para a Estrela do Norte.
Estes pequenos ponteiros
nos darão a localização do resto das estrelas e planetas.
Apesar disso, entre suas muitas outras observações
está um número incrível para a inclinação da Terra,
de pouco menos de 24 graus,
cerca de meio grau do número atualmente conhecido.
Ele não parou por aí.
Ele mediu as variações no diâmetro do sol com tal precisão
que isso o levou a uma conclusão surpreendente.
A distância,
o ponto mais longe que o sol alcança da Terra durante o ano,
conhecido por apogeu, muda de um ano ao outro.
Ademais, suas tabelas que mostram a posição do sol e da lua,
as quais Copérnico se referiu cerca de 600 anos mais tarde,
definiram um novo padrão de precisão e rigor.
Al-Battani e seus colegas astrônomos islâmicos eram bons observadores.
Mas e daí, poderiam questionar.
A resposta é que suas observações começaram a sugerir a eles
que a teoria grega dominante
que descrevia que tudo no céu girava em torno da Terra
tinha graves falhas.
Essa tradição grega,
que permaneceu inquestionável por mais de 700 anos,
baseou-se principalmente na obra
de um dos maiores astrônomos da antiguidade.
Cláudio Ptolomeu, ou Ptolomeu,
foi um astrônomo grego que viveu em Alexandria, no século II d.C.
Ele escreveu um dos maiores textos sobre astronomia, o Almagesto,
que era basicamente a essência do conhecimento grego
sobre o mundo celeste.
Ptolomeu acreditava que o sol, a lua, os planetas e as estrelas
estariam fixados sobre esferas de cristal
que giravam ao redor da Terra.
A lua ficava na esfera mais próxima,
seguida do sol e dos planetas,
e finalmente, uma miscelânea de estrelas na esfera mais externa.
O homem estava bem no centro do universo,
com o resto dele girando ao nosso redor.
Mas, como o próprio Ptolomeu notou,
há um problema na tentativa de descrever o céu
como lugar de esferas perfeitas matematicamente idealizadas.
Que os planetas não se acomodam.
Conforme se movem pelo céu noturno,
mudam de velocidade,
parecem ficar maiores e menores
e até mudam de direção.
Ptolomeu tentou explicar isto
dizendo que os planetas se moviam
em pequenos círculos chamados epiciclos
que giravam em torno de um círculo maior chamado deferente.
Isto explicava por que eles pareciam mudar de tamanho
e por que às vezes mudavam de direção.
Infelizmente, isso ainda não resolvia tudo.
Não explicava facilmente
por que os planetas pareciam acelerar e desacelerar.
No desespero, Ptolomeu alterou seu modelo
movendo a Terra para longe do centro da deferente,
e pondo esta para girar em torno de um ponto arbitrário no espaço.
O equante.
Mas agora os trabalhos de astrônomos como Al-Battani
começavam a contrariar as ideias de Ptolomeu.
Suas observações meticulosas começavam a sugerir
que os equantes e deferentes de Ptolomeu,
o real comportamento dos céus não se encaixava aos dados.
O que fariam se fossem um astrônomo vivendo em Bagdá
e tivessem todos estes resultados sobre sua mesa?
A primeira coisa seria dizer que:
"Esta tradição grega
"não é tão confiável como parece."
E agora eles começavam a dizer,
"Se os valores básicos dos cálculos astronômicos gregos,
"que pudéssemos checar e descobrir que estão errados,
"o que mais está errado?"
Eles começaram a questionar
as bases astronômicas e cosmológicas
da tradição grega.
E foi o que eles fizeram.
O que surpreende nos escritos dos estudiosos islâmicos do século IX
é o crescente uso do termo "shukuk", que significa "dúvidas".
Eles mostraram que às vezes é necessário duvidar de uma ideia
que todos ao seu redor têm como inquestionável.
As dúvidas islâmicas acerca da astronomia grega
iniciaram o lento processo de enfraquecer a noção
de que a Terra era o centro do universo.
Duvidar requer grande coragem e imaginação,
mas o diálogo entre os astrônomos islâmicos e europeus mostra
que a dúvida, ou "shukuk",
é o motor que impulsiona a ciência.
Um dos primeiros grandes cientistas questionadores
chamava-se Ibn Al-Haytham.
Ele nasceu na cidade iraquiana de Basra em 965 d.C.
E estava entre os primeiros a defender fervorosamente
que as ideias científicas só são válidas
se forem matematicamente consistentes
e refletirem a realidade.
E quando aplicou sua inteligência feroz e rigorosa à astronomia grega,
ele logo percebeu que havia uma contradição em seu centro.
De um lado, a cosmologia grega afirmava
que tudo no céu girava em torno da Terra.
Do outro, Ptolomeu, em seu Almagesto,
defendia que se quiséssemos prever matematicamente
o movimento do sol e dos planetas,
devemos fingir que eles giram em torno
de um ponto arbitrário no espaço. O chamado equante.
Esta é claramente uma contradição.
O céu não pode girar em volta da terra
e não girar em volta dela ao mesmo tempo.
Ibn Al-Haytham odiava esta contradição absurda.
No início do século XI, ele escreveu um livro,
"Al-Shukuk Ala-Batlamyus", ou Dúvidas sobre Ptolomeu.
Nele, ele escreve com uma frustração pouco contida,
"Ptolomeu assume um arranjo que não existe."
Ibn Al-Haytham diz: "É um completo absurdo.
"Não podemos aceitar isso." E mais à frente completa,
"Não foi um erro de expressão. Ptolomeu sabia que era absurdo."
Ele nos mostra que o próprio Ptolomeu
estava constrangido em apresentá-la.
Ele diz que há um problema fundamental de raciocínio,
significa que os gregos sabiam que Ptolomeu sabia que estava errado,
mas ele não tinha como fazer melhor,
e agora o desafio era fazer algo melhor
e poder consertar isso. Isso, em minha opinião,
começa a ser o objetivo de pesquisa dos astrônomos vindouros.
Para atingir esse projeto, tinha de ser convencido.
Tinha de ser convencido
que era possível criar modelos de alta precisão matemática
da forma que os planetas e estrelas se movem,
que expressassem como eles estão no céu.
Ibn Al-Haytham, com efeito,
lançou o desafio para todos os astrônomos seguintes,
que foi criar uma explicação para o movimento celeste
que fosse matematicamente consistente
e condissesse ao que observamos.
A resposta final viria da distante Europa, com Copérnico e outros.
Mas o próximo avanço crucial viria de um lugar mais perto.
O topo desta montanha ao norte do Irã foi o lar
do homem que foi a próxima influência islâmica de Copérnico,
Nasir Al-Din Al-Tusi.
Ele obteria êxito em reescrever a teoria de Ptolomeu,
que acabaria por levar ao fim da visão geocêntrica do universo,
e ao nascimento da era científica moderna.
Este é o remoto castelo de Alamut,
o segundo lar de Al-Tusi.
Por anos, foi o lar de uma seita muçulmana chamada os ismaelitas.
E um lugar encantador e isolado,
e foi o centro do movimento ismaelita.
Não é de surpreender que Al-Tusi encontrado um lar aqui.
E não foi apenas ele.
Muitos estudiosos se reuniam aqui e parece ter sido uma biblioteca.
Um centro de aprendizado como também uma fortaleza militar.
Este é o portão principal,
o portão norte do castelo superior de Hashshashin.
Uma nova escavação arqueológica
está revelando sob o castelo, talhados na rocha,
um aglomerado de quartos e salas de estudo, uma mesquita
e alojamentos para uma extraordinária comunidade
de soldados e cientistas.
Este é o pátio da mesquita,
ou o centro de comando do castelo.
E foi sob essas condições difíceis
que Al-Tusi começou sua obra-prima do "shukuk" ou as dúvidas.
O "Tadhkirah".
Nele, ele acha uma resposta para o primeiro desafio de Ibn Al-Haytham.
Como eliminar o equante de Ptolomeu.
Em vez da esfera girando em torno de um ponto arbitrário no espaço,
Al-Tusi criou uma série de dois círculos nidificados,
que giravam um em torno do outro
de tal forma que eliminavam o equante.
Os círculos nidificados ficaram conhecidos como o elo-Tusi.
Este é o sistema matemático
que aparece no trabalho de Copérnico,
300 anos depois.
Ao achar a solução para o problema do equante,
Al-Tusi agora queria completar a tarefa
que Ibn Al-Haytham tinha iniciado há 200 anos.
Achar uma descrição matemática consistente
do movimento dos corpos celestes.
Mas para fazer isso, ele precisava de dados melhores.
Maiores e melhores equipamentos do que ele encontraria em Alamut.
Então surgiu algo que mudaria a vida de Al-Tusi para sempre.
Os mongóis.
Vindo do Oriente,
um exército de mongóis liderado por Hulagu Khan
marchou ao Irã, destruindo tudo no caminho.
Em 1255, chegaram ao sopé de Alamut,
na intenção de destruí-lo.
Então, num brilhante ato de diplomacia,
Al-Tusi conseguiu salvar a própria pele
e satisfazer sua ambição científica.
Ele visitou o líder mongol,
e explorou sua profunda superstição astrológica.
Convenceu-lhe que poderia prever o futuro se tivesse equipamento novo,
Al-Tusi persuadiu Khan a torná-lo seu cientista-chefe
e construir para ele, a alguns km de distância,
no topo de uma colina onde o ar era límpido,
o maior observatório já visto no mundo.
Isto é tudo que resta do Observatório de Maragheh.
O principal instrumento está oculto sob este domo protetor.
O novo centro astronômico de Al-Tusi
estava localizado ao redor de um único grande prédio.
Dentro havia um enorme arco de metal,
um braço armilar, com 10 metros de diâmetro.
Na circunferência estavam marcados ângulos em graus e minutos.
Os cientistas alinhavam o objeto celeste em estudo
a um ponto central no arco,
de depois liam a marcação nele,
obtendo a posição definitiva e precisa do objeto no céu.
O prédio também era cercado por equipamento astronômico menor,
bibliotecas, escritórios e alojamento.
O observatório tinha sua própria mesquita.
Creio que é decepcionante que pouco tenha restado do lugar,
por isso temos de imaginar como ele era em seu auge.
Afinal, o que Al-Tusi construiu aqui foi nada menos
que o maior observatório do mundo durante 300 anos.
E como qualquer instituto internacional de pesquisa moderno,
ele reuniu os maiores astrônomos do mundo,
de lugares tão distantes como Marrocos e China.
Aqui devia ser um ambiente de trabalho agitado.
Com seu novo observatório e uma equipe de nível mundial,
Al-Tusi estava pronto para realizar o sonho de Ibn Al-Haytham.
Tentar fazer o modelo de Ptolomeu cientificamente rigoroso.
Primeiro, eles abordaram a matemática.
Assim como o elo-Tusi,
criaram outros sistemas do movimento planetário.
E com esses novos sistemas, puderam calcular modelos
matematicamente consistentes para muitos dos corpos celestes.
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, o Sol e a Lua.
Al-Tusi e os astrônomos que ele reuniu
criaram o que ficou conhecido como a revolução de Maragheh,
uma completa mudança de paradigma na astronomia,
derrubando a antiga visão ptolomaica.
O que os estudiosos islâmicos e astrônomos como Al-Tusi fizeram
foi organizar e explicar a astronomia matemática
a um nível de precisão sem precedentes,
usando instrumentos mais precisos que os construídos anteriormente,
no curso de longo tempo,
com previsões das posições dos planetas e estrelas
que ninguém tinha alcançado anteriormente.
O que vemos em Maragheh ou em Alamut
creio que são verdadeiras revoluções
em nível, escala e intensidade da astronomia matemática.
Mas ainda havia um problema.
Os novos modelos eram matematicamente coerentes
e dispensavam o equante de Ptolomeu.
Mas ainda colocavam a Terra no centro do universo,
e isso significava que suas descrições do céu
eram intrincadas e complicadas,
com epiciclos, deferentes e elos,
como uma grande caixa de engrenagens cósmicas.
Seria necessário um grande salto de imaginação
para dar o próximo passo em nossa história.
E esse passo seria dado a 3.200 km daqui.
Na minha opinião, o último estágio da revolução Maragheh
ocorreu não no Irã ou em outro lugar do Império Islâmico,
mas aqui, no norte da Itália.
Baseado no trabalho dos estudiosos muçulmanos,
locais como a Universidade de Pádua
já iniciavam um novo movimento científico.
A Renascença.
Em Pádua, onde iniciei minha viagem,
agora entendia por que os astrônomos islâmicos
foram tão importantes para Copérnico.
Eles lhe deram motivação.
Ele foi o primeiro europeu a comungar
da profunda aversão de Ibn Al-Haytham
pela cosmologia ptolomaica.
E isso faz de Copérnico não o primeiro grande astrônomo
de uma nova tradição europeia, mas o último de tradição islâmica.
Como vimos, muitos dos modelos matemáticos complexos
usados por Copérnico em seu novo modelo heliocêntrico,
como o elo-Tusi, foram copiados de astrônomos islâmicos.
Mas o mais importante, foi o profundo desejo de Copérnico
de levar consistência matemática à cosmologia
que ele deve aos seus antecessores islâmicos.
As ideias de Copérnico iniciaram diversas revelações científicas
que levariam a Isaac Newton e à descoberta da gravidade.
Nas mãos de Newton, o sonho de Ibn Al-Haytham
de uma astronomia com matemática rigorosa e coerente,
condizente com a observação experimental,
finalmente se concretizou.
Mas isto suscita duas questões cruciais.
Por que o grande projeto astronômico
iniciado pelos astrônomos islâmicos
foi concluído na Europa e não no Oriente Médio?
E como o conhecimento da ciência islâmica chegou à Europa?
As respostas a essas questões
estão numa das cidades mais belas da Terra,
na "rainha do Adriático", Veneza.
Veneza foi fundada sobre um pântano na costa da Itália,
e sentia-se separada da Europa,
e não presa às suas leis e tradições.
E como Shakespeare bem registrou,
os dois mais importantes aspectos de Veneza eram seus mercadores
e suas ligações duradouras com os árabes, ou mouros.
Era uma relação complicada,
às vezes baseada na pirataria e roubo.
Segundo a história, em 828,
dois mercadores venezianos roubaram os ossos de um famoso santo cristão
da cidade rival de Veneza do outro lado do mar, Alexandria.
Os ossos pertenciam a São Marcos Evangelista,
eles foram trazidos aqui, à praça de São Marcos.
Mas sem dúvida, o comércio com o Oriente
trouxe grande riqueza para Veneza
e o intercâmbio de ideias, costumes e gente,
como a especialista em Veneza, Vera Costantini, me mostrou.
Chama-se Praça dos Mouros porque, como pode ver,
nos cantos, há estátuas dos chamados mouros.
- Tem outra... - Uma outra com turbante.
A barba era recomendada aos mercadores venezianos,
mesmo quando iam para o Oriente.
Havia manuais escritos para os mercadores venezianos.
- Como se integrar? - Sim. A ser respeitado no Oriente.
Conforme os venezianos comercializavam mais
com os vizinhos muçulmanos,
a influência do Islã era sentida mais fortemente.
A cultura árabe do café tornou-se muito popular.
Assim como os estilos arquitetônicos islâmicos,
com seus arcos e decorações característicos.
A próxima coisa que quero lhe mostrar é o Palácio do Camelo.
Quando os venezianos comercializavam no Oriente, a unidade de medida,
o que pudesse ser carregado num dromedário, chamava-se "carrico".
Era a mesma unidade de medida usada no Oriente.
Era chamada "yook".
Não é coincidência que tenham importado essa unidade de peso.
Da medida do peso.
E com o comércio árabe vieram os livros árabes.
O grande texto árabe do século IX sobre álgebra
surgiu em latim no século XII.
O mesmo século viu a chegada das tabelas astronômicas árabes,
e, no século XV, o famoso cânon da medicina
foi publicado pela 1ª vez no Ocidente.
E esse fluxo de conhecimento
parece coincidir com uma grande mudança histórica.
A locomotiva da ciência começava a rumar para o oeste,
do mundo islâmico para a Europa.
Onde os grandes avanços a partir do século XVI iriam acontecer.
Encontrei um símbolo impressionante e tangível dessa mudança,
e uma pista surpreendente de o porquê isso ocorreu,
graças a profª Angela Nuovo, da Universidade de Udine.
Há 20 anos, nesta biblioteca em uma das ilhas de Veneza,
Angela descobriu a única cópia remanescente
de um livro de 500 anos.
E como se sentiu? Foi uma grande descoberta!
Foi uma grande emoção.
Lembro que era julho, muito quente, como hoje. Até pior.
E senti calafrio naquele instante.
Foi uma grande emoção.
Ela descobriu a primeira cópia impressa
do livro sagrado do Islamismo, o Alcorão.
Esta é a 1ª vez que ela vê o Alcorão
desde que o descobriu há 20 anos.
Mas me pareceu estranho que o primeiro Alcorão impresso do mundo
tenha sido produzido em Veneza, e não no mundo islâmico.
Fica óbvio à primeira vista,
que foi impresso por quem não falava muito bem o árabe.
O que me impressiona é que está escrito
no que considero uma escrita quase infantil.
Desajeitada.
É a primeira tentativa de reproduzir a escrita em tipos móveis.
Sabemos que o idioma tem uma enorme quantidade de tipos diferentes.
As letras mudam de acordo com as combinações e posição.
Claro, é difícil.
A palavra "dalika", que significa "para que".
O traço devia estar abaixo do L, mas está em cima.
Ao invés de "dalika" lê-se "dalaka". Está errada.
Provavelmente não eram pessoas da língua materna na prensa.
Por isso, há alguns erros no texto, que, claro, são pecados.
Claro, pois todo muçulmano crê que o Alcorão é a palavra de Deus.
É a palavra de Deus. Quando a altera, é pecado.
Como acha que ele foi recebido quando foi publicado?
A hipótese, que creio seja verdadeira,
é que foi um enorme fracasso do ponto de vista comercial.
Os muçulmanos não aceitaram a tipografia durante séculos,
e talvez todos os exemplares deste livro tenham sido destruídos.
Não temos outro exemplar.
Talvez o único que reste no Ocidente seja este livro.
Achei que o fracasso deste Alcorão impresso
no mundo islâmico expressava muita coisa.
800 anos antes, a razão do sucesso da ciência islâmica
foi a precisão do idioma árabe,
com mais de 70 formas diferentes de escrever as letras
e símbolos extras para definir a ***úncia e o significado.
Ele permitiu que estudiosos de nações distintas
se comunicassem numa única língua comum.
Agora, com a chegada da impressão,
as ideias científicas poderiam viajar ainda mais livremente.
No Ocidente, livros impressos em latim
aceleravam o renascimento científico.
Por causa dos seus símbolos e letras extras,
o árabe era mais difícil para ser posto em tipo que o latim,
e assim uma aceleração similar no mundo islâmico não se materializou.
Creio que a rejeição a essa nova tecnologia, a tipografia,
marca o momento histórico em que a ciência árabe
sofre uma mudança sísmica.
A Europa aceitou o conhecimento grego e árabe e a nova tecnologia.
E Galileu e sua turma estavam à frente do Renascimento.
Foi um momento decisivo na história da tipografia veneziana,
que era extremamente poderosa, o limite da expansão, digamos,
e na história da relação cultural e geral
entre o Oriente e o Ocidente.
A aceitação da impressão teria representado
a aceitação da primeira tecnologia importante,
assim as duas histórias começaram a diferir muito.
A rejeição inicial à impressão foi uma das muitas razões
que levaram a ciência do mundo islâmico
a ser superada pelo Ocidente.
Coincidiu com uma série de mudanças globais,
que afetaram o modo de desenvolvimento da ciência.
O primeiro e mais óbvio motivo
para a desaceleração da ciência islâmica
é que o próprio Império Islâmico
entrou em declínio em meados do século XIII.
Uma das razões para isso é que ele era atacado por todos os lados.
Do leste, vinham os mongóis.
Em 1258, eles invadiram a capital, Bagdá,
e dizem que as águas dos rios Tigres e Eufrates
ficaram escuras durante dias com a tinta dos livros que destruíram.
Mas o problema também crescia no extremo oeste do império.
A Espanha Islâmica, já fragmentada em cidades-estados,
agora enfrentava nova ameaça.
Uma ofensiva unida e determinada do norte cristão.
"A Reconquista", como foi chamada, durou centenas de anos,
mas culminou no século XV, quando Fernando II e Isabela
lideraram um exército que forçou os últimos muçulmanos em Granada
a capitularem em 1492.
Os cristãos estavam determinados a remover até o último vestígio
da civilização e cultura islâmicas da Espanha.
Em 1499, ordenaram a queima, nesta praça em Granada,
de todos os textos árabes das bibliotecas locais...
exceto um pequeno número de textos médicos.
Em cerca de 100 anos,
todos os muçulmanos da Espanha foram mortos pela espada,
queimados na fogueira ou banidos.
E os cristãos do leste europeu
estavam determinados a retomar a Terra Sagrada.
As Cruzadas.
Empenhados em criar um Levante sagrado cristão
e retomar a cidade sagrada de Jerusalém,
os cruzados lançaram enormes ataques ao norte da Síria.
Rapidamente capturaram este castelo
e o transformaram em uma de suas fortalezas.
Depois, com fervor missionário implacável,
marcharam sobre Jerusalém.
E conforme o império lutava com seus vizinhos,
ele se desfazia em feudos beligerantes.
Os mamelucos, escravos que originalmente pertenciam ao Egito,
tornaram-se seus líderes.
Os Bourbon Almohads governavam Marrocos e Espanha no século XIII.
E o norte da Síria e Iraque
dividiu-se numa série de cidades-estados.
Mas para muitos historiadores da ciência,
a principal razão para o declínio da ciência islâmica
foi um fato muito famoso ocorrido em 1492.
Naquele ano, a geografia política do mundo mudou drasticamente
quando um certo Cristóvão Colombo chegou às Américas.
Explico isso com o fenômeno da descoberta do Novo Mundo em 1492.
O resultado imediato foi uma imensa quantidade
de ouro e prata chegando às casas reais europeias
e os aventureiros, impérios e casas reais da época
estabelecendo colônias pelo mundo.
E a ciência sempre acompanha o dinheiro.
Com o passar dos séculos XVI e XVII,
o dinheiro, o poder e a força científica
passam pela Itália, Espanha e Inglaterra.
No século XVII, a Inglaterra,
situada no centro da lucrativa rota do comércio Atlântico,
podia custear a ciência de ponta.
E isso acaba por explicar por que o maior livro no mundo científico,
"Princípios Matemáticos" de Sir Isaac Newton,
o livro que explica o movimento do sol, lua e planetas,
não foi publicado em Bagdá, mas em Londres.
Era necessário que ele tivesse dados de precisão impressionante
reunidos ao redor do mundo.
Registros mundiais
de números, observações, posições.
As alturas das marés, as posições de cometas e planetas,
o ritmo em que o pêndulo bate...
Um projeto global. Ciência de primeira linha.
E muitas dessas observações, desses modelos matemáticos
foram inicialmente desenvolvidos por astrônomos islâmicos
no Egito, no Oriente Próximo e na Ásia Central.
Mas há uma última reviravolta na história.
Conforme a riqueza das nações islâmicas eram consumidas
pela guerra, isolamentos político e religioso
e perda do seu lucrativo comércio,
sua ciência declinava.
Mas não explica por que os avanços científicos foram esquecidos.
Isso em parte porque conforme os europeus colonizavam
grandes faixas do Oriente Médio e Ásia,
eles encorajavam a ideia
que as civilizações que encontraram estavam moribundas e em declínio.
Parece que ingleses e franceses não se sentiam bem
em subjugar povos cujo conhecimento e ciência
pudessem ser tão sofisticados quanto os deles.
Assim, era importante retratar o mundo islâmico
de uma maneira muito específica,
dizendo que outrora foram muito sofisticados
e tinham grandes cientistas e filósofos,
mas agora estavam em declínio.
De alguma forma, essa visão
fez todo o empreendimento colonial parecer mais palatável.
Um dos desenvolvimentos mais fascinantes,
na história do encontro entre
os europeus ocidentais e outras culturas
foi o tipo de mudança que teve
consequências fundamentais e terríveis
entre os europeus ocidentais,
quando começaram a refletir sobre por que eram superiores.
Não costuma passar pela cabeça deles
que não possam ser superiores aos demais.
Afinal, por um longo tempo,
os europeus ocidentais no geral, os britânicos, por exemplo,
achavam que sua superioridade estava em sua religião.
Mas em torno do século XVIII,
começamos a notar uma mudança.
E a mudança foi de afirmar que a razão
de a superioridade europeia era sua religião
para justificá-la com sua ciência e tecnologia.
Isso desembocou na famosa frase,
"Temos a metralhadora, e eles não."
Os europeus naquele período
estavam prontos para reconhecer que na antiguidade,
o Islã, por exemplo, tinha obtido grandes feitos nas ciências.
Mas ele não conseguia isso agora.
Mesmo as recentes astronomias islâmica e sânscrita
eram tidas como antigas, pois se fossem antigas,
significava que a cultura que os ingleses conquistavam,
estava em declínio.
E, para os ingleses, isso era muito bom.
E alguns especialistas creem que o efeito disso
na história científica islâmica
ainda é sentido no mundo islâmico atual.
Os povos islâmicos e árabes ainda não descobriram a sua história
porque sua história foi apagada intencionalmente
no período de colonização.
E, infelizmente, quando eles a redescobrem hoje,
fazem isso aos pedaços.
Hoje, por muitas razões diferentes,
os grandes observatórios do mundo medieval islâmico são meras ruínas.
E é correto dizer que a maioria dos grandes avanços científicos
dos últimos 4 séculos ocorreu no Ocidente.
Mas não se pode afirmar
que a ciência era completamente inexistente no mundo islâmico.
Hoje, no século XXI,
há muitos exemplos de pesquisas de ponta sendo realizadas.
Vim ao Instituto Royan, em Teerã,
onde realizam pesquisa com células-tronco,
tratamento de infertilidade e pesquisa de clonagem.
Fiquei surpreso em saber que no Irã, um estado islâmico,
ciência potencialmente polêmica
como a modificação genética e clonagem é tolerada,
até mesmo financiada por um governo teocrático.
Um dos usos é quando uma parte do coração para de funcionar,
o que levará a uma parada cardíaca...
As células dessa parte do coração
são substituídas por células clonadas.
Outro uso da clonagem terapêutica
é gerar um animal que possua o remédio em seu leite, por exemplo.
Assim, quando bebermos o leite, receberemos o remédio necessário.
Considerando que a pesquisa genética
tem muitos adversários vociferantes nas comunidades cristãs,
fiquei intrigado ao ver que aqui em Teerã,
eles têm seu próprio imã para oferecer apoio e conselho
nesta pesquisa, por vezes, bastante polêmica.
Temos um conselho de ética médica aqui no Instituto Royan,
e todo projeto proposto
é investigado pelo conselho,
e vemos seus diferentes aspectos,
e têm de justificar o projeto para nós.
Não sou um especialista em genética
para avaliar a qualidade do trabalho aqui,
mas uma coisa que posso dizer é como me senti em casa.
Quaisquer que sejam as diferenças culturais e políticas
que temos com o estado iraniano,
dentro das paredes do laboratório,
foi incrivelmente fácil achar pontos comuns com os colegas cientistas.
As leis naturais são livres do preconceito humano.
Isso é algo que os cientistas do mundo medieval islâmico
compreendiam e articulavam tão bem.
No século IX, Al-Khwarizmi
sintetizou as ideias gregas e indianas
para criar um novo tipo de matemática. A álgebra.
O sábio Ibn Sina
reuniu as tradições mundiais sobre saúde em um livro,
contribuindo para a criação da medicina.
Nas remotas montanhas iranianas, astrônomos como Al-Tusi
abriram caminho para cientistas que trabalhariam
centenas de anos depois, na Europa Ocidental.
A busca desses cientistas pela verdade,
de onde quer que viesse,
foi resumida pelo filósofo do século IX, Al-Kindi, que disse:
"É conveniente para nós não sentir vergonha de reconhecer a verdade,
"e assimilá-la a partir de qualquer fonte que ela chegue a nós.
"Não há nada mais valioso que a própria verdade.
"Ela nunca desvaloriza ou humilha aquele que procura."
Uma lição surge desta história épica
da ascensão e queda da ciência no mundo islâmico
entre os séculos IX e XV.
Que a ciência é a linguagem universal da humanidade.
Os números decimais são tão úteis na Índia quanto na Espanha.
Mapas das estrelas feitos no Irã
são importantes para astrônomos no norte da Europa.
E o livro de Newton é tão verdadeiro
em árabe, como em latim ou inglês.
O que os cientistas islâmicos medievais perceberam
e articularam tão brilhantemente
é que a ciência é a língua comum da humanidade.
As leis humanas podem variar de um lugar para outro,
mas as leis naturais são verdadeiras para todos nós.
MUSKETEERS Legendas Para a Vida Toda!