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MORRER EM MADRI
Espanha, 1931.
503.061 Km², quase uma França.
24 milhões de pessoas.
Neste ano, 1931, a metade da população,
12 milhões, é analfabeta.
Há 8 milhões de pobres,
há 3 milhões de camponeses sem terra.
20 mil pessoas possuem a metade da Espanha.
Provincias inteiras são propriedade de um só homem.
Salário médio de um trabalhador: de 1 a 3 pesetas por dia.
O quilo de pão custa 1 peseta.
20 monges, 31 mil sacerdotes,
60 mil religiosas e 5 mil conventos.
15 mil oficiais, entre os quais 800 generais.
1 oficial para cada 6 homens, 1 general para cada 100 soldados.
Um rei, Alfonso XIII,
o décimo-quarto soberano desde Isabel, a Católica.
Em 2 de abril de 1931,
os candidatos monárquicos perdem as eleições municipais.
O rei Alfonso XIII se retira.
É a República,
a República de surpresa.
O povo descobre que existe.
Tem direito a palavra, tem direito ao discurso.
Mas os camponeses seguem sem terra,
os trabalhadores seguem sem trabalho.
Todo mundo passa ao mesmo tempo à ação direta.
Os monarquistas contra a República,
os catalães pela autonomia,
os anarquistas contra o Estado,
os camponeses contra a guarda civil.
A esquerda se organiza.
A direita endurece.
José Antonio Primo de Rivera funda a Falange.
Outubro de 1934.
É o levantamento de Asturias.
Os mineiros resistem 15 dias em Oviedo e em Gijón.
A repressão é rápida.
1.500 mortos, 3 mil feridos, 50 mil trabalhadores presos.
Um general se distingue,
e Alcalá Zamora, presidente da República,
chama-o de "salvador da nação".
Esse general se chama Francisco Franco.
1936, eleições gerais.
Duas frentes: a Frente Popular e a Frente Nacional.
A Frente Popular ganha com 4 milhões de votos,
contra 3,5 milhões da direita
e obtém a maioria absoluta no Parlamento Espanhol,
as Cortes.
Pela primeira vez na Espanha, a Frente Popular chega ao poder.
Os camponeses se apropriam das terras improdutivas.
Os mineiros de Astúrias se libertam.
Todos os salários aumentam em 15%.
200 igrejas destruídas, 300 assassinatos políticos,
130 greves espontâneas,
10 jornais saqueados.
Os generais protestam e são exilados.
Franco nas Canárias,
Godet em Baleares.
A pessoa sagrada da Espanha está em perigo.
Em nome da Espanha inteira, os carlistas, os monárquicos,...
a Falange, unidos atrás do estandarte da igreja,
preparam a rebelião.
Desde o exército da África até os quartéis de Burgos
circula a ordem de complô,
a palavra de ordem: "À frente, Espanha!"
O 16 junho de 1936, nas Cortes, o líder da direita,
Calvo Sotelo, ameaça o governo.
"Contra este estado estéril, proponho o estado integral.
Muitos o chamarão fascista.
Mas se o estado fascista é o final das greves,
o final das desordens,
o final dos abusos contra a propiedade,
então declaro com orgulho que sou fascista.
Eu declaro louco todo soldado, que frente a eternidade,
não se levante contra a anarquia se for necessário."
Três semanas depois, Calvo Sotelo é assassinado.
A rebelião encontrou seu pretexto e seu mártir.
Madrid, 19 de julho de 1936.
Greve dos garçons do café.
De repente a notícia.
Na véspera, os militares de Marrocos
se levantaram contra a República.
Francisco Franco declara na rádio de Tetuán:
"Todos vocês, que sentem o santo amor pela Espanha,
que juraram defendê-la de seus inimigos até perder a vida,
a nação os chama para defendê-la.
O exército decidiu restabelecer a ordem na Espanha."
Por traição, por artimanha ou por convicção,
caem de imediato Sevilha, Algeciras, Córdoba,
Granada, Andaluzia, Navarra, Oviedo e Zaragoza.
As províncias bascas, Málaga, Barcelona, Madri,
resistem vitoriosamente e desarmam o modelo.
Franco declara: "A Espanha está salva."
O presidente da República, Manuel Azaña, proclama:
"A República continua."
Começa a guerra civil.
Começa com os massacres.
Ricos, pobres, patrões, trabalhadores,
oficiais, guardas civis, sacerdotes, religiosas,
nada está a salvo.
7.937 religiosos são mortos.
Alguns são queimados vivos.
Ambos os bandos esperavam desde muito tempo.
Em ambos os bandos se executa sem julgamento prévio.
200 mil mortos em duas semanas.
O escritor Saint-Exupéry informa:
"Aquí se fuzila como se desmata."
O crime tinha lugar em Granada.
Mataram o que dizia:
"Verde, que te quero verde. Verde vento. Verdes ramas.
O barco sobre o mar e o cavalo na montanha."
Amava os jardins secretos de Granada, amava o vento.
Disse: "Estou e sempre estarei ao lado dos que tem fome."
Disse: "Se morro, deixem a janela aberta."
Disse: "Não, esse sangue não quero ver."
Em Granada, em sua Granada, foi detido,
julgado, condenado à morte,
executado no dia seguinte Federico García Lorca.
Senhor de milhões de homens,
a guerra civil é a esperança.
Para os braseiros que trabalham o dia por meio salário,
para os junteros que são contratados com suas mulas,
para os rebaixadores que são despedidos quando a vinha morre,
para os camponeses da Galícia, de La Mancha, da Andaluzia,
de Extremadura que os impostos oprimem há muitos séculos,
o imposto ao Estado, o imposto aos senhores,
o imposto do sangue,
para todos que têm fome há muitos séculos,
para todos que não têm nada,
a guerra civil é a esperança.
Para otros, a guerra civil é a fé.
Para os que velam sobre a Espanha eterna.
Para os que velam sobre o império de Carlos V e de Cristo Rei,...
para os descendentes dos conquistadores,
para os místicos de Teresa de Ávila,
para a Espanha da cruz e da espada,
para os que sempre necessitam de cruzadas,
é necessária a guerra.
Queipo de Llano lança através do radio em Sevilha
o lema nacionalista.
O general Mola organiza o exército do norte
Franco, o exército da África.
A burguesia nacionalista aprende o novo gesto de moda,
a saudação fascista.
E a maior força da Espanha, a Igreja,
toma abertamente parte pelo lado da rebelião.
Franco diz:
"Somos católicos.
Na Espanha, se é católico ou não se é nada."
O chefe da Ação Católica diz:
"Cruzada na Espanha.
Temos que vencer.
Vencer como sempre venceram os espanhóis,
com a espada em mãos e com o heroísmo no coração
e a oração nos lábios."
O reverendo padre, Ignacio Méndez de Reigada diz:
"O levantamento não só foi justo, foi um dever!
A guerra nacional espanhola foi uma guerra santa,
a mais santa que a história conheceu."
O arcebispo de Burgos diz durante a missa:
"Vocês que escutam, Vocês que se chamam cristãos,
nenhum perdão para os destruidores da Igreja,
e os assassinos dos santos sacerdotes.
Que sua semente seja esmagada.
A má semente, a semente do demônio.
Porque os filhos do Belzebu são também inimigos de Deus."
"É melhor morrer em pé do que morrer de joelhos."
Disse em Madrid Dolores Ibaburri, esposa de um mineiro,
chamada a "Pasionaria", deputada comunista.
Ela chama a união.
Anarquistas da CNT e da FAI,
catalães de Companys,
socialistas da UGT e do Largo Caballero,
bascos de Aguirre, marxistas do POUM,
todos unidos como os dedos da mão.
O punho fechado se converte no símbolo da unidade.
Do lado dos rebeldes, a rebelião.
É o fim do civismo.
A justiça é controlada por tribunais militares.
A greve é sucetível a pena de morte.
Os mercenários muçulmanos são 40 mil.
A República já não tem exército.
Uma multidão de camponeses, trabalhadores, mulheres e crianças
estão dispostos a defendê-la.
Votam a seguite resolução:
"Queremos ser os milicianos da liberdade,
não soldados com uniformes.
Milicianos? Sim! Soldados? Jamais!"
No entanto, é necessário ter soldados.
Na Espanha, todos sabem morrer.
A República deve ensinar-lhes a viver, ensinar-lhes a vencer.
Durutti diz aos anarquistas:
"Devemos deixar para amanhã muitas reformas.
Primero a vitória!"
Apenas os treinados, apenas os armados,
estes combatentes partem a frente.
Todos estão decididos a vencer o fascismo
e morrer pela República.
No outro lado, há que morrer pelo Cristo Rei.
As duas metades da Espanha se lançam uma contra a outra.
22 de julho de 1936.
A primeira batalha ocorre no porto de Somosierra,
defesa natural de Madrid.
Os falangistas do general Mola e as milícias populares madrilenhas
se enfrentam com fúria.
Cada pedra, cada árvore é defendido com raiva.
Se fuzila aos prisioneiros, os feridos são mortos no local.
A primera ameaça a Madrid é detida em Somosierra.
Nos outros frontes:
triunfo em Aragón dos milicianos de Barcelona.
Mas o mais importante acontece no sul.
O general Yague, se dirige ao Norte e conquista Badajoz.
2 mil pessoas são fuziladas em 24 horas.
No Norte, o general Mola ataca a Irún.
Objetivo: bloquear a fronteira francesa das províncias bascas.
Imersos no fogo, os defensores morrem no lugar.
A população foge para a França pela ponte internacional.
Nas praias francesas, os turistas,
como toda a Europa, observam.
De Biarritz,
o embaixador americano Bowers escreve a Washington:
"A guerra será longa.
Eles levantaram o exército contra o povo. "
Esse povo cujos primeiros refugiados conhecem o exílio.
Os rebeldes conseguem sua primeira vitória estratégica.
Todo o norte da República está cercado,
bloqueram a fronteira francesa.
Em Toledo, capital dos antigos reis,
as milícias republicanas são donas da cidade.
O coronel rebelde Moscardo se refugiou em Alcázar
com 1.300 soldados, 550 mulheres e 50 crianças.
O chefe dos milicianos telefona para o coronel Moscardo:
"Se Alcázar não se render, vamos fuzilar seu filho.
Fale com ele."
"O que acontece, filho?"
"Dizem que vão me fuzilar se Alcázar não se render."
"Encomenda sua alma a Deus, meu filho.
E grita: 'Viva a Espanha' e morre como um herói."
"Adeus, pai. Um beijo grande."
"O Alcázar não se rende."
O Alcázar se converte em um símbolo.
A República quer terminar com ele.
Trazem de Asturias especialistas em dinamite.
Largo Caballero, chefe do governo republicano,
vem pessoalmente presenciar o golpe final.
Franco, a caminho de Madri, dá a ordem ao coronel Yague para primeiro
libertar Alcázar.
Em 27 de setembro de 1936, Alcázar é libertado
depois de 68 dias de cerco.
Franco vai pessoalmente parabenizar os defensores.
"Defensores do Alcázar, Vocês são a honra da Espanha."
A guerra civil leva três meses.
17 de julho de 1936.
O exército se levanta no Marrocos espanhol.
Em 18 de julho, a rebelião se extende para toda a Espanha.
O exército da África chega a Sevilha.
A mancha da rebelião se estende pela Espanha.
Os rebeldes atacam.
Pelo norte, contra Madri.
Por Sevilha, contra Andaluzia.
A República ataca em Aragón.
Em Somosierra, a primeira grande batalha.
Os milicianos de Madri bloqueiam o ataque franquista.
A República tenta ganhar chão em Mallorca.
Iorún ao norte, Badajoz ao sul, são ocupadas pelos franquistas.
O Norte fica separado da França.
Em Talavera, o exército franquista se desvia,
ataca Toledo e libera Alcázar.
No norte, os franquistas ocupam Oviedo.
Em 1 de outubro de 1936, em Burgos,
o general Franco se converte em Chefe de Estado.
Todos os partidos da rebelião são fundidos em um partido único.
Um lema único: "Um estado, uma nação, um chefe."
Em 18 de novembro,
a Itália e a Alemanha reconhecem o governo de Burgos.
Franco declara:
"Este instante é um marco na história do mundo."
Para vencer o povo, é necessário armas e mercenários.
Franco encontra ambos na Itália fascista.
A contribuição italiana será de 70 mil homens.
Quatro divisões completamente equipadas.
Para a defesa da República, era necessário, sobretudo, armas.
Chegam menos do que necessitam.
Da França, do México, da União Soviética.
O Marechal Goering faz bem as coisas.
A Alemanha doa a elite do Luffwaffe e do exército alemão.
A Legião Condor.
Profissionais da guerra, altamente treinados,
estes homens serão os artífices da vitória.
Mas os melhores, os aliados mais eficazes da República
são estes: advogados, torneiros, estudantes, trabalhadores,
são as brigadas internacionais.
Não recebem salário, não buscam a glória.
Chegaram do mundo inteiro.
Vão morrer em Madrid.
Madrid é o coração.
Aos generais rebeldes: Franco, Mola, Queipo de Llano, Jara, Yague.
A Falange, a Igreja, lhes falta Madri.
O governo republicano abandona a capital.
Gritam nas ruas: "Viva Madrid sem governo!"
"Todos os homens a frente! Não passarão!"
O mundo intero espera a caída de Madri.
Madri não é mais do que uma mão tensa sobre o fusil.
O General Mola prepara o assalto final.
4 colunas convergem em Madrid.
Em 7 de novembro, o General Mola ataca.
É um milagre!
Os franquistas ficam bloqueados na Ciudad Universitaria.
A 11ª e a 12ª brigadas internacionais resistem.
Colocam-se bombas nos elevadores,
os vizinhos se degolam,
se fuzilam à queima-roupa.
Prontamente a frente se imobiliza.
Madrid resiste.
Debaixo de chuva, com frio e com fome,
mas atrás de cada janela, tem um homem e um fuzil.
As crianças são retiradas.
As mulheres devem ficar para levar comida aos homens.
As crianças são retiradas.
Já não se sorri em Madrid.
Franco instrui aos alemães da Legião Condor
a bombardearem Madrid metodicamente.
Pela primeira vez na história do mundo,
poderão exercitar uma nova experiência:
a desmoralização do inimigo
através dos bombardeios aéreos sistemáticos da população civil.
Um milhão de habitantes: 500 mil refugiados.
Os sótãos e o metro só podem abrigar 10 mil pessoas.
A radio franquista de Salamanca declara:
"A Espanha não está nos povoados nem nas cidades.
Está nas ideias e no gênio de Franco.
Estamos em guerra!
Avante, até que estejamos por cima de nossos mortos!"
Também para a República,
nos céus, a aventura é internacional.
Vindos de todos os céus do mundo,
os pilotos de aviões russos
e os pilotos da esquadrilha "Espanha", organizada por André Malraux,
desafiam o adversário
e ganham quase sempre os combates individuais.
Madri resiste.
É necessário tentar cercá-la.
5 brigadas do exército da África e a artilharia da Legião Condor
atacam no vale de Jarama.
Objetivo: cortar a rota Madri-Valencia.
As brigadas internacionais:
os batalhões Thaelman, André Marty,
Abraham Lincoln, Garibaldi,
Dimitrov e o batalhão britânico começam o contra-ataque.
Vallé du Jarama, Jarama Valley... Valle del Jarama.
Os que morreram aqui falavam todas as línguas.
Sobre 15 Km: 45 mil mortos, 10 dias de combates.
Mas a rota Madri-Valencia segue sendo da República,
Madrid não está cercada.
Mussolini quer triunfar onde Franco fracassou.
Quer para si a glória de derrotar Madrid.
Em 8 de março de 1937, 30 mil italianos
apoiados por 20 mil legionários marroquinos e carlistas,
precedidos por 250 tanques de assalto
atacam e derrubam o front republicano em Guadalajara.
Frente ao perigo, a divisão Lister se põe no front,
agrupada atrás dos tanques russos do General Pavlov, contra-atacam.
Desmoralizados pela violência do contra-ataque,
os camisas negras fogem.
É a derrota.
Deixam no terreno 30 canhões, 150 metralhadoras e 1.300 caminhões.
1 contra 5, os republicanos chegaram a vitória em Guadalajara.
12 batalhões italianos são feitos prisioneiros com seus comandantes.
Frente a derrota em Guadalajara, Mussolini declara:
"Todos os italianos que regressem sem ser vencedores, serão fuzilados."
Para os diplomáticos, a guerra da Espanha é prematura.
O eixo Roma-Berlim quer a vitória de Franco,
mas os exércitos alemão e italiano
não estão prontos para a guerra mundial.
França e a União Soviética desejam a vitória da República,
mas não querem a guerra.
Inglaterra e Estados Unidos, isolacionistas por princípio,
se refugiam na neutralidade absoluta.
Léon Blum, presidente do Conselho Francês,
solidário socialista da República espanhola,
deve sacrificar tudo pela paz civil na França.
Inventa a fórmula:
"Não intervenção na guerra da Espanha."
Adolfo Hitler aprova a não-intervenção.
Isto serve ao propósito de ganhar tempo.
Joseph Stálin trabalha pela vitória da República espanhola,
mas assegura antes tudo a segurança de seu país.
Franklin Roosevelt preserva os princípios da vida americana.
Sua doutrina: a neutralidade.
Benito Mussolini proclama abertamente seu apoio a Franco.
Está disposto a lutar, mas não sozinho.
Neville Chamberlain, o premier britânico,
quer um acordo com as ditaduras para garantir a paz.
Para conciliar todas estas contradições,
se reune um comitê em Londres.
Todos os países membros aceitam oficialmente
não intervir na guerra da Espanha.
Alemanha envia a Legião Condor a Franco
e acusa a União Soviética
de enviar tanques à República espanhola.
A Itália envia um corpo expedicionário a Franco
e acusa a França de tráfico de armas para a República espanhola.
Inglaterra e Estados Unidos desaprovam a todos.
E durante este tempo,
a Legião Condor e o corpo expedicionário italiano
contribuem ativamente para a vitória de Franco.
Franco rechaçado em Madrid, ataca pelo sul.
Os milicianos da República
são superados pelos batalhões italianos do General Roata
e pelas tropas nacionalistas sob o mando do Coronel Duque de Sevilha.
As defesas republicanas são quebradas.
Málaga é sitiada.
Nos sete dias que sucederam a queda da cidade,
milhares de simpatizantes da República:
militantes, trabalhadores, mulheres, camponeses,
são executados sem julgamento prévio.
Todos os dias, ao amanhecer ou ao entardecer,
veículos estranhos faziam a entrega das vítimas.
Os grandes massacres indignam a uma testemunha direta, Georges Bernanos.
Escreve no "Os grandes cemitérios sob a lua":
"Eles eram presos toda noite nos vilarejos distantes
na hora em que regressavam dos campos,
partiam para sua última viagem,
com suas camisas agarradas nos ombros pelo suor,
os braços ainda cansados do trabalho do dia,
deixando a sopa servida sobre a mesa
e a mulher que chega um pouco atrasada, no jardim,
sem ar, com seu pequeno amarrado pelo pano.
"Adeus, recordações. "
"Não acorde as crianças. Por quê?"
"Me leve para a prisão, senhor?"
"Mas é claro", dizia o verdugo que às vezes não tinha nem 20 anos. "
Queipo de Llano declara:
"Buscarei aos inimigos onde estão.
E se estão mortos, fuzilarei de novo."
Nada protesto, exceto um homem,
o filósofo viajante Miguel de Unamuno,
autor do "Sentimento trágico da vida",
reitor da Universidade de Salamanca,
mestre pensador de sua geração,
permaneceu à frente de sua universidade em território nacionalista.
O dia da "Raza", em Salamanca, no anfiteatro da universidade,
o franquista Milan Astray, mutilado de guerra,
fere a Catalunha e as provincias bascas,
enquantos seus partidários gritam: "Viva a morte!"
Unamuno se levanta lentamente e diz:
"Há momentos em que se calar é mentir.
Acabo de ouvir um grito mórbido e sem sentido:
"Viva a morte".
Este paradoxo é bárbaro e para mim repugnante.
O Gen. Milan Astray é um inválido.
Não é indelicado. Cervantes também não era
Infelizmente, hoje há na Espanha muitos inválidos.
Sofro ao pensar que o Gen. Milan Astray
poderia firmar as bases de uma psicologia da "***".
Mas um inválido que não tem a grandeza espiritual de um Cervantes
busca alívio nas mutilações que pode infligir ao seu redor.
Você vence porque possuem mais força bruta do que a necessária,
mas não convence.
Pois, para convencer, deveria persuadir.
E para persuadir, deveria ter o que falta:
a razão e seus direitos na luta.
Considero inútil estimulá-lo a pensar na Espanha.
Acabado.
Preso em sua residência, Miguel de Unamuno
morre com o coração destroçado semanas depois.
Bloqueadas por Madrid, bloqueadas por Barcelona,
...longe do governo de Valencia, as províncias bascas estão sozinhas
na defesa da democracia patriarcal,
de seu direito à liberdade e a sua língua.
Há séculos os bascos lutam por sua autonomia.
Franco os nega.
A República os concede.
As províncias bascas são republicanas.
Dirigidas pelo presidente Aguirre,
as províncias bascas se transformam em Euskadi
e vivem sua própria guerra.
O clero basco, originário do povo, apoia a luta da Euskadi.
É o único clero da Espanha que apoia a República.
Para as províncias bascas, vizinhas de Astúrias,
o começo da guerra civil foi bastante fácil.
Combates rápidos, conduzidos vitoriosamente
pelas milícias bascas e pelos mineiros asturianos,
conservam o norte da Espanha para a República.
22 de março de 1937. Franco decide pela ofensiva contra os bascos.
O Gen. Mola lança um ultimato:
"Decidi terminar rapidamente a guerra no norte.
Aqueles depuserem suas armas, salvarão sua vida
e conservarão seus bens.
Mas se a submissão não for imediata, arrasarei com toda Vizcaya."
A Legião Condor utiliza um novo método chamado "tapete de bombas".
Os resultados, cuidadosamente fotografados,
foram passados a Berlim e julgados "muito interessantes"
pelo Marechal Goering, chefe da Luftwaffe.
Havia no país basco uma cidade santa chamada Guernica.
Durante séculos, diante do velho carvalho de Guernica,
os reis da Espanha vinham uma vez por ano
julgando respeitar a liberdade dos bascos.
Embaixo do carvalho de Guernica Santa, os anciãos passavam justiça.
26 de abril de 1937, um domingo, era como todos os domingos,
dia de feira em Guernica.
Às 5 da tarde, as quatro colinas ao horizonte de Guernica
Às 5 da tarde...
Os aviões eram Heinkel 111 e Junker 52.
O bombardeio durou 3 horas.
As ondas se sucediam com precisão de 20 minutos.
As bombas pesavam 500 kg.
1654 mortos.
889 feridos.
Havia 7 mil habitantes em Guernica.
O general alemão Galant,
comandante da ofensiva alemã, logo diria:
"Guernica não foi um objetivo militar,
só um lamentável erro."
Fizeram uma guerra para ser um povo unido.
A guerra os obrigou a se separar de seus filhos.
Esses filhos que queriam lutar.
Esses filhos aos quais se proibiu qualquer valor.
Essas crianças que sabem morrer como soldados,
choram como as outras crianças.
A maioria dessas crianças não voltaria a ver seu país.
Cresceram em outro lugar.
No México, na Rússia, na Inglaterra, na França.
Derrubadas no começo da ofensiva,
as tropas bascas se retiram para trás o círculo de ferro:
a linha fortificada de Bilbao.
A artilharia ítalo-alemã do exército franquista
rompeu o círculo de ferro.
O exército basco, abatido pela superioridade mecânica,
lança 1 contra 3, um combate de retaguarda.
Bilbao cai, mas o massacre do povo basco,
culpado do crime de não-rebelião,
provoca um escândalo no mundo católico.
Para responder a esta indignação, e a pedido de Franco,
o cardeal Goma y Toma, primado da Espanha,
envia uma carta coletiva aos bispos de todo o mundo:
"Hoje não há outra esperança de reconquistar a paz e a justiça
senão através do triunfo do movimento nacional."
Na noite de 27 de outubro, 16 sacerdotes bascos são executados.
278 são encarcerados, 1300 qualificados como indesejáveis.
Seu crime? Haver mantido a presença de Cristo na República.
Logo após esses assassinatos, François Mauriac responde:
"Dizemos que os assassinatos cometidos pelos mouros
que têm o Sagrado Coração furado em seu albornoz,
pelos aviadores alemães e italianos
a serviço de um chefe católico que se diz soldado de Cristo,
dizemos que isso é um horror cujas consequências são temíveis
pelo que deveria importar-nos mais do que tudo
que é o reino de Deus sobre a terra."
Em oito semanas,
o norte é completamente ocupado por forças de Franco.
Os italianos ocupam Santander.
Os legionários e os marroquinos ocupam Gijón.
Na terra da Espanha, a guerra não é composta por uma série de batalhas.
É uma sucessão de tragédias.
O tranquilo povoado de Brunete,
como alvo da ofensiva republicana.
O objetivo: afroxar o parafuso entorno de Madrid...
.e obrigar Franco a abandonar a frente do norte.
Incapazes de aproveitar seu triunfo inicial,
os republicanos perdem tempo
e se permitem contra-atacar o general franquista Varela.
Brunete foi tomada e recuperada.
Em suas ruínas, sob o sol, 12 dias de batalha,
40 mil mortos, a República ganhou 5 Km.
Um mês depois de Brunete, a República volta a atacar.
Centro do ataque: a pequena cidade fortificada de Belchite.
Desde o começo da rebelião,
Belchite e Zaragoza resistem às milícias da República.
Belchite é a fascinação.
O general republicano Jaujo declara:
"É a luta do valor contra o valor,
é uma batalha de espanhóis contra espanhóis."
O general franquista Yague, declara por seu lado:
"Os vermelhos lutam com firmeza.
São espanhóis e, portanto, valentes."
A República conquistou Belchite.
Ganhou tempo.
Perdeu homens demais.
"A guerra, é fazer o impossível para que pedaços de ferro
entrem na carne viva."
Enquanto se luta no País Basco, em Brunete e Belchite,
enquanto se combate en Madrid,
o governo da República estabelece sua sede em Valência.
Os conselhos de ministros se sucedem,
um presidente do conselho substitui o outro,
segundo o jogo clássico das democracias:
Giral, Largo Caballero, Negrín.
Para um, para outro é a mesma política
ou a mesma impotência de política.
O poder de decisão está em outro lugar.
O Gen. Lleja, em Madrid,
o Presidente Companys, em Barcelona,
o presidente Aguirre em Bilbao.
Os problemas reais também são múltiplos.
A República deve fazer guerra e fazer a reforma agrária.
Deve alimentar-se e alimentar os que combatem.
Deve dar ao mesmo tempo o prazer da liberdade e da cultura.
Deve enfrentar, ao mesmo tempo, em nome da luta comum,
os partidos exclusivos que são muitos e estão divididos.
O POUM, partido de extrema esquerda,
quer ao mesmo tempo a vitória e a revolução.
Os anarquistas da CNT e da FAI,
que são em sua maioria trabalhadores,
querem a vitória sem disciplina.
O povo sem o Estado.
O partido socialista e o partido comunista detêm o poder.
O partido socialista pelo número de deputados,
o partido comunista, por seu dinamismo e pelas armas russas.
Mas os conflitos políticos se dão com armas na mão
e pela mobilização nas ruas.
Nestas condições junta-se a falta de armas,
com estas contradições,
o governo da República deve ganhar militarmente
a guerra contra o governo rebelde de Burgos,
dirigido por um soldado de ofício.
Em pleno invierno, agraciados pelas dificuldades internas,
afetados pelo temor de outra ofensiva de Franco sobre Madri,
os republicanos atacam Teruel.
Teruel logo é superada,
mas a tempestade de neve torna mais lentos os combates.
Con 18º negativos, o material está imobilizado,
os homens congelados.
Franco, surpreendido a princípio, contra-ataca com violência.
180 mil combatentes estão concentrados no frio,
abaixo da neve em um espaço reduzido.
Quando o tempo permitiu,
100 republicanos tomaram por assalto Teruel.
Em 8 de janeiro de 1938,
o comunicado oficial anuncia
que Teruel pertence por completo à República.
10 dias depois, Teruel está novamente sitiada.
O exército da África com o apoio de tanques italianos contra-ataca.
Em dois dias, a República perde 15 mil homens.
Sobre as ruínas de Teruel, está a bandeira franquista.
A guerra civil dura dois anos.
15 de dezembro de 1937. Teruel.
A República ataca o ponto de avanço da zona franquista.
Teruel é tomada.
7 de fevereiro de 1938.
Contra-ataque vitorioso dos franquistas.
A frente é derrubada em Aragón.
Chegaram ao mar em Vinaroz em 15 de abril.
A Espanha republicana está dividida em duas.
O equilíbrio definitivamente se rompeu.
O exército republicano esgotado, mal equipado,
empreende a retirada em todas as frentes.
As tropas de Franco chegam ao Mediterrâneo em Vinaroz
em 15 de abril de 1938.
A República fica dividida em duas. Madri separada de Barcelona.
Sobre dois terços da Espanha, agora reina a Nova Ordem,
a ordem franquista.
Os três pilares do estado nacional sindicalista são:
o exército, a igreja, o partido.
Os militares têm o direito e o dever de julgar
a falta de capacidade e os defeitos morais dos civis.
Os militantes da Falange são chefes de quartéis,
.chefes de subquartéis, chefes de quadras, chefes de casas.
As metas da vida são as seguintes:
combate, sacrificio, disciplina, luta, austeridade.
Sob a tutela das três polícias: a segurança, a polícia secreta
e a polícia da Falange, recita-se a nova oração nacionalista:
"Creio na propiedade e na grandeza da Espanha
na qual se seguirá a rota tradicional.
Creio no perdão dos arrependidos de coração,
creio na ressurreição dos antigos corpos de ofícios
organizados em corporações
e na tranquilidade duradoura. "
Não temem a morte,
mas temem morrer, pois são civis.
Soldados do povo, soldados da vida e não da morte.
Esses civis se converteram no exército da República.
A República os lança para sau última batalha.
Negrín, presidente do conselho lhes diz:
"Só se perde uma guerra se a considerar perdida."
O vencido se proclama o vencedor."
100 mil homens, todo o exército do norte,
estabelesce a operação tática mais audaciosa da guerra da Espanha.
O Gen. Modest conduz suas tropas para a última ofensiva da República.
El paso del Ebro.
A divisão Lister perfura as defesas nacionalistas
e avança até Gambeza, 40 km para trás das linhas inimigas.
Lister diz a seus oficiais:
"Se alguém perder uma polegada de terreno,
deve recuperar-la pela cabeça de seus homens ou será executado."
O presidente Negrín quer aproveitar a vitória do Ebro
e a crise internacional de Munique para obter a paz.
Propõe a Europa e a Franco as bases de um compromisso.
Para demonstrar sua boa vontade, retira do fronte,
em plena batalha, as brigadas internacionais
e as devolve a seus países.
A partida das brigadas internacionais
fui emocionante para Espanha.
La Pasionaria se despede em Barcelona:
"Falam línguas diferentes, mas nos entendemos.
Conhecem o perigo e o enfrentam cantando.
Podem partir com a cabeça levantada.
Quando as olivas da paz voltarem a estar verdes, regressem.
E vocês, mulheres da Espanha, falem a seus filhos.
Falem das Brigadas Internacionais.
Digam como, atravessando mares e montanhas,
estes homens chegaram a nosso país.
Abandonaram todo para vir aqui e dizer-nos:
"Sua causa, a causa da Espanha, é a nossa. "
Muitos deles, mil deles acabaram aqui
com a terra espanhola como mortalha."
Rechaçando o oferecimento de paz de Negrín,
Franco quer e prepara a vitória total.
Obteve de Hitler o reforço da Legião Condor.
Suas tropas de reserva,
treinadas por instrutores italianos e alemães,
sobem ao fronte.
As novas armas recebidas da Alemanha
asseguram uma superioridade mecânica absoluta.
23 de dezembro de 1938.
Quando o núncio apostólico
pede em nome do Santo Pai uma trégua para o Natal,
Franco começa o ataque.
600 peças de artilharia e mil aviões abrem o ataque.
O fronte chega a toda parte.
O exército nacionalista barra na Catalunha,
mas Serrano Zuña, secretário geral da Falange, desconfia.
Diz: "A recepção entusiasmada que a população
deu a nossas tropas não deve nos iludir.
A população, cuja conduta se pode observar pessoalmente,
está enferma moral e políticamente.
Barcelona será depois tratada por nós,
desde o começo, como um ser enfermo."
200 mil soldados republicanos são presos na Catalunha.
São interrogados, julgados.
Os que se presume culpados são executados.
Os outros, liberados ao cabo de alguns meses,
serão os párias do regime.
O fim da Catalunha foi o começo do grande êxodo.
300 mil fugiram pela fronteira.
Na mão cerrada de alguns, um punhado de terra.
As tropas franquistas fecham a última fronteira.
Os vencidos já não poderão escolher o exílio.
As crianças catalãs aprendem uma nova saudação.
Resta Madri.
Negrín e os comunistas querem resistir até a morte.
Os oficiais superiores da República se rebelam.
Franco exige a rendição incondicional. Eles se rendem.
No meio dia de 27 de março de 1939,
as tropas rebeldes do general Franco entram em Madri.
Para Franco é o momento do triunfo.
Mussolini telegrafa:
"Agradeço-lhe por ter dado às tropas legionárias
a grande honra de desfilar em frente do senhor em Madri,
reconquistada para a Espanha unida, livre e grande
que está construindo.
Berlim, junho de 1939.
Hitler passa em revista a Legião Condor.
São a elite do exército alemão.
Três meses depois estarão em Varsóvia.
Um ano depois em Paris.
Espanha, 1939.
503.061 Km2, quase uma França.
Há 2 milhões de prisioneiros, 500 mil exiliados.
Em 3 anos, 1 milhão de mortes violentos.
1 único partido: a Falange.
1 único chefe: o caudilho.
Em 31 de dezembro de 1939, Franco proclama:
"O que necessitamos é uma Espanha unida, consciente.
É necessário liquidar os ódios a as paixões
deixadas por nossa guerra passada.
Mas isso não deve ser feito de maneira liberal
com uma anistia monstruosa e funesta,
o que é um engano mais que um gesto de perdão.
Deve ser cristã, graças à redenção pelo trabalho,
acompanhada por arrependimento e penitência."
No porto de Somosierra, onde tantos homens morreram por Madri.
No porto de Somosierra, ao amanhecer, como todos os dias,
um homem regressa a seu trabalho.
Ripeado por Initah para www.clan-sudamerica.com.ar
Este filme é dedicado
aos correspondentes de guerra mortos em Madri
e a todos aqueles, jornalistas, repórteres, cinegrafistas,
que cumprindo seu trabalho na Espanha,
nos permitiram fazer este filme.
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