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Tá fora do ar, mas daqui a pouquinho arranca. Olá, muito boa noite! Eu sou João Varella
e estou aqui para apresentar o primeiro Hangout Rio do ano. O tema de hoje talvez seja o mais
importante de todos: transparência. Afinal, como vamos poder acompanhar os investimentos
que estão sendo feitos nos Jogos Olímpicos Rio 2016? Hoje contamos com a presença de
Leonardo Gryner, diretor-geral de operações de Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
Antes de ocupar esse posto Leonardo atuou na realização dos Jogos Pan-Americanos Rio
2007 e no comitê de candidatura do Rio 2016. Leonardo, eu queria já nessa saudação inicial
saber quais são as suas expectativas para os Jogos Olímpicos. Boa noite! Boa noite,
João. É, olha, são as melhores possíveis. Eu sou um animado com esse projeto, sou um
fã desse projeto, participo dele desde a candidatura, compromissado com os seus valores,
os seus princípios, as ideias lá nas bases desse projeto. Acho que a gente pode entregar
um belo projeto para o nosso país, um projeto que o país todo vai se sentir orgulhoso e
um projeto que vai deixar um legado importante aqui para a cidade e para o país.
O nosso segundo participante é Quintino Gomes, criador de diversos blogs, sendo o seu principal O Diário
do Rio, um dos maiores blogs do país. Ele também já esteve a frente da Subprefeitura
da Ilha do Governador, é um grande apaixonado pelo Rio de Janeiro. Quintino, eu queria também
saber as expectativas para os Jogos Olímpicos de 2016. Boa noite! Boa noite, João. A expectativa
é a melhor possível, né? A gente teve a experiência de 2007, que teve tanta crítica
e no final foi o sucesso que foi e agora a cidade, acredito que ela esteja mais do que
pronta para receber os Jogos Olímpicos. Tá certo! Bom, uma das novidades dos Jogos
Olímpicos Rio 2016, que a gente viu há pouquíssimos dias é o portal de transparência.
Gryner, você já navegou pelo portal, quais foram as suas impressões iniciais dessa nova página,
que tende a falar para onde está sendo direcionado os recursos dos Jogos Olímpicos?
Olha, já passei pelas páginas, né, já ajudei aqui com a equipe, participei com a equipe na criação
nessa parte de transparência e a grande preocupação, Quintino, era, João,
era tentar conseguir traduzir de forma muito simples
de forma bem direta, toda a complexidade do projeto. É um projeto enorme, considerado
por todos como o maior evento em tempo de paz, não tem um projeto maior em tempo de
paz do que os Jogos Olímpicos e traduzir isso em poucos gráficos, em poucas palavras,
em poucos números é um grande desafio. E eu espero que a gente tenha conseguido, a
gente está aí ansioso por ter o retorno dos nossos internautas que vão estar navegando
pelas nossas páginas, eu acho que a gente conseguiu, acho que tá bem simples, tá bem
direto e as pessoas rapidamente conseguem entender como é que a gente está conduzindo
nosso projeto, como é que são os nossos números de receita, como é que são os nossos
números de despesa, como é que são nossas contratações, seja de pessoal, seja de produtos e serviços.
Tá certo! Quintino, as suas impressões iniciais sobre a página de transparência
Rio 2016. O que eu mais gostei na página foi da que tá no site do Rio 2016 é que
ela é bem simples de ver, ela tem uns gráficos, a visualização é muito mais visual, você
não tem dados muito detalhistas, principalmente para o público comum, são vários infográficos,
então acho que isso simplifica e ajuda ao cidadão comum conhecer mais sobre os gastos
que tá tendo do Comitê Olímpico, né? Você tem o outro portal, que seria o portal já
do governo, que é um pouquinho mais complicado, né? É mais detalhado.
Mas é importante também incentivar que as pessoas naveguem no portal, né? Você acha, Quintino, que
as pessoas efetivamente vão buscar entender o orçamento dos Jogos Olímpicos, que é
grandioso e muito importante? Eu acredito que sim. Assim, depois de todas as manifestações
de Junho a população em geral ficou muito mais atenta aos gastos, né? Então, acredito
que um portal como esse vai ajudar pelo menos a saber o tipo de gasto que tá tendo. Você
tem, to nele aqui agora, você vê o tipo de receita, o gasto que tá tendo, pelos menos
durante o evento a receita vem toda do COI, dos patrocinadores, então você não tem
um grande gasto governamental. É, eu acho que passando o carnaval, um pouquinho depois
das eleições, deve estourar o acesso. Agora, no carnaval, não acredito que tenha muita
gente vendo não. Pelo menos aqui no Rio! Depois do carnaval
...alô?
Leonardo, eu queria perguntar para você, aproveitando essa questão que o Quintino levantou dos protestos, os
protestos agora falam que não vai ter Copa e a Copa, claro, é o que tá mais próximo,
é o grande evento esportivo que tá mais próximo da gente. Será que nós vamos ter
protestos "Não Vai Ter Olímpiadas" depois de passar a Copa, será que esse sentimento
vai chegar aos Jogos Olímpicos e a gente vai ter esse tipo de problema, esse tipo de
questão a ser resolvida?
Olha, João, a gente tem, desde Junho, claro, como grande parte
Olha, João, a gente tem, desde Junho, claro, como grande parte
da sociedade, a gente tem feito várias pesquisas e monitorado, é, e tentando tirar um termômetro
para entender exatamente o que que tá acontecendo, qual é a expectativa das pessoas e da sociedade
de uma forma geral. O que a gente percebe é o seguinte: todo mundo quer a Copa, todo
mundo quer os Jogos Olímpicos. Todo mundo digo a grande maioria, mais de 70% da população
brasileira gostaria, apoia a realização da Copa do Mundo aqui no Brasil, apoia a realização
dos Jogos no Brasil. Mas querem sim ter acesso a mais informações, querem ter mais transparência.
Essa é uma das coisas que motivou a gente a ter o portal de transparência. A maior
parte das informações que nós estamos colocando nessa seção do nosso site já estava lá
no nosso site, mas de forma distribuída, meio espalhada. Então, a gente facilitou
o acesso das pessoas a essas informações. Então, acho que a sociedade brasileira, no
seu processo natural de maturidade, tá mais desafiadora, ela quer entender melhor essa
coisas, ela não vai simplesmente aceitar que alguém chegue pra ela e diga assim: olha,
isso aqui é bom para vocês! Ela vai dizer: ó, me mostra por que que é bom, me mostra
como é que vocês estão fazendo, me mostra que isso está sendo feito de forma séria.
E a gente está aberto aqui para mostrar que isso está sendo feito de forma séria, que
isso está sendo feito de forma pensada na população, a maneira com que a gente
tá, inclusive, informando o orçamento, a gente teve muito esse cuidado na discussão
com os governos da gente fazer uma, uma divulgação segmentada para que ficasse bem claro o papel
de cada um. Então, primeiro a gente divulgou os números do comitê Rio 2016 informando
o seguinte: olha, nós trabalhamos com recursos privados, com recursos de patrocínios, os
recursos que vem dos direitos internacionais de televisão e patrocínio internacional,
direitos de bilheteria e esses estão lá os sete bilhões. E a gente gasta esses sete
bilhões dessa maneira. O governo foi lá e disse assim: olha, tudo que a gente precisa
fazer exclusivamente por causa dos Jogos tá aqui, todo aqui os projetos que a gente
tem que fazer, quanto é que custa, os prazos, e a gente vai atualizar isso para vocês a
cada seis meses. Em março, a gente vai colocar...Leonardo, Leonardo! É, dessa, aproveitando o gancho
do que você tá falando, dessa questão que os gastos serão privados, o mesmo foi
dito da Copa do Mundo, que seria a Copa da iniciativa privada, aí o evento começou
a ficar cada vez mais próximo, cada vez mais próximo e o que a gente vê é um grande
gasto de dinheiro público, será que isso não vai acontecer no Rio 2016? Não,
Mas não é isso que nós estamos dizendo. Nós estamos dizendo o seguinte: nós temos
recursos privados na ordem de sete bilhões de reais. E nós estamos explicando para a
sociedade de que maneira a gente usa esses sete bilhões que vem de recursos privados.
O governo vai entrar sim com dinheiro e é esse dinheiro que foi anunciado nessa terça-feira
que é chamado de matriz de responsabilidade. Tá lá o que que o governo vai colocar para
os Jogos, que são a construção do centro olímpico de treinamento, o parque olímpico
de Deodoro. São as instalações esportivas que vão ser utilizadas. Tá lá! Tá lá
explicado direitinho. Onde o governo vai colocar o dinheiro, quem coloca que dinheiro, o governo
federal, o governo municipal, o governo estadual, tá claro. A gente não tá dizendo que só
tem dinheiro privado, a gente tá dizendo o seguinte: olha, tem um bom dinheiro privado,
tá aqui como a gente gasta. O governo tá dizendo: olha, o meu dinheiro, o dinheiro
público, a gente vai gastar assim. E ainda tem um terceiro orçamento que vai ser o de
março, que eles vão apresentar, que são todos os, o que eles chamam de política
pública, que é aquilo que está sendo investido em metrô, em transporte, em saneamento, que
são projetos para a sociedade que servem também aos jogos. Claro, é...Quintino, você
que é aí do Rio, um apaixonado pelo Rio de Janeiro, essa conversa, esse, esse,
essa fala do Leonardo me lembra bastante a fala dos Jogos Pan-Americanos, que falou muito
em legado nos Jogos Pan-Americanos e eu não sei, qual que é o legado dos Jogos Pan-Americanos
para o Rio de Janeiro? A gente pode apontar? O Rio de Janeiro melhorou muito depois dos
Jogos Pan-Americanos? Melhorou sim. Eu acredito que o Pan-Americano foi um típico
point para o carioca. O carioca estava em uma fase de pessimismo e a partir dos Jogos
Pan-Americanos viu que a cidade poderia receber grandes eventos, quer dizer, recebia já Carnaval, Réveillon
mas a partir dos Jogos Pan-Americanos que...Eu acompanhei, o Diário do Rio ele
surgiu nessa época, era uma série de críticas, que a cidade não ia aguentar, que a cidade
ia sofrer uma onda de criminalidade e o que a gente viu foi o contrário. Quer dizer,
é, o próprio problema de trânsito foi pequeno em relação ao que diziam. A cidade não
teve um grande investimento em trânsito, tirando ali na, em frente ao autódromo, que
duplicou a Abelardo Bueno. Mas você teve o, o Parque Maria Lenk, teve o Engenhão,
que hoje tá fechado por outro motivo, mas... O Engenhão teve problema de reforma em tempo
recorde, né? Teve que sofrer uma reforma, teve problema de rachadura, né? Teve, mas
ele foi um legado porque todo mundo dizia que a cidade não aguentaria dois estádios
e, po, são quatro grandes times que a cidade tem, então, é lógico que ela consegue ter
outro estádio. O próprio Engenhão, ele vai servir para as Olimpíadas. O grande legado
do Pan-Americano foi os Jogos Olímpicos. É...Tem para mim que se não fosse o Pan-Americano
você não teria Olimpíadas. Leonardo, acho que congelou um pouquinho aqui o final da
sua fala Quintino, mas enfim. Leonardo, você tem algu...Oi?...Olha, é, a gente tem o seguinte.
O Pan-Americano deixou alguns legados...
Não sei dei agora uma travada aqui
Leonardo, vamos de novo do início da sua fala. Tá, é...João, olha, o grande legado, primeiro,
que eu apontaria dos Jogos Pan-Americanos foi a política de segurança. Toda essa política
de segurança nova no Rio de Janeiro começou por causa dos Jogos Pan-Americanos. Quando
se decidiu adotar um novo, uma nova política de segurança pública para a cidade do Rio
de Janeiro, em cooperação com o governo federal e o governo do estado estabeleceu-se
uma parceria que nunca existiu aqui no Estado e que permitiu esse avanço tremendo. Esse
avanço, que não só beneficia a população em geral - porque está mais seguro - mas
permite um ambiente de negócio diferente na cidade do Rio de Janeiro, porque agora
as pessoas se sentem atraídas para vir aqui fazer negócio um pouco mais segura, atraí
turista porque é uma cidade turística e com um ambiente inseguro ela não conseguiria
atrair turista, voltou o turismo no Rio. Novos hotéis sendo construídos, muito investimento
nessa área, porque a cidade ficou mais segura. Então, isso é um legado assim incomensurável
para a cidade. O segundo, foi o legado da área esportiva. Vários, em equipamentos
foram construídos, lá em Deodoro, o próprio Engenhão como o Quintino mencionou, a arena
da Barra que tá sendo usada plenamente lá para shows, para esporte e tal. Então. E
que permitiu que a gente apresentasse uma candidatura bastante sólida e vencesse a
disputa pelos Jogos Olímpicos aqui para 2016. Houve um legado importante no processo do
Rio de janeiro. O legado agora, nos Jogos Olímpicos, é maior ainda, porque partindo
desse patamar a gente consegue ter um grande legado na área de transporte, acho que vai
ser o maior legado aqui dos Jogos Olímpicos. Tem a questão da transformação da Zona
Portuária do Rio de Janeiro, que vai ter um impacto imenso na cidade e o avanço nas
obras de saneamento. Assim, só para criar, só para citar alguns exemplos. Nesse momento
do Rio de Janeiro, vou citar um exemplo na área de turismo. Tem 75 novos hotéis sendo
construídos no Rio de Janeiro. O impacto disso em termos de emprego, desenvolvimento
do turismo aqui do Rio de Janeiro e para o Brasil, que o Brasil é a porta de entrada
do turismo nacional é tremendo. Tá certo...Quintino,e a gente tá falando bastante desse legado
dos Jogos Pan-Americanos, mas o que que foi feito que poderia ter sido melhor, que lição
a gente pode tirar dos Jogos de 2007 e que pode ser aprimorado nos Jogos de 2016 na sua
opinião? Eu acho que em 2007 teve, o Rio de Janeiro teve pouco investimento realmente
da União e do Estado, a prefeitura acabou arcando com muito dos gastos, não era esperado
na época, eu tava na prefeitura então eu sabia disso. É, tudo que tá acontecendo
não tá acontecendo no Rio 2016, né. Rio 2016 tá tendo investimento estadual e investimento
federal, então a chance de ser um sucesso maior ainda vai acontecer. E faltou realmente,
acho que, em 2007 investimento em transportes. Para 2016 a gente esperava um investimento
no metrô, né, que não vai acontecer para os Jogos Olímpicos, que já não tem mais
tempo. E o saneamento também é uma questão que acho me preocupa um pouco mais para 2016.
É, a queda do Eike ajudou nisso né, que era esperado, ele teria um investimento alto
ali na despoluição da Lagoa e a Baia de Guanabara eu não sei como anda, mas teve
recentemente o, uma competição de Vela aqui e foi uma vergonha, né, porque a Baia de
Guanabara a última coisa que ela é é limpa, né. Você pode encontrar de tudo ali, menos
peixe. Eu acho que o Leonardo comentou do saneamento e eu acho que minha maior preocupação
e o que seria para mim o legado mais querido seria uma lagoa, uma baia mais limpa possível
para o pessoa voltar a velejar ali, como velejava alguma décadas atrás. Tá certo. E será
que vai haver algum tipo de sinergia com as obras, que pelo menos deveriam ter sido entregues
há tempo da Copa deste ano? Será que alguma coisa vai ser aproveitada em termos de melhorias
públicas, Quintino? O que você está observando ai? Para a Copa, realmente, todos os investimentos
que eu tenho visto aqui no Rio, da prefeitura, tem sido mais visando o Rio 2016. Não me
lembro quem falou, acho que foi o presidente do COI, né, que a Copa é para o futebol
e as Olimpíadas é para cidade, né. Então, para a Copa, tirando o maracanã, né, que
vai ser palco do futebol e de alguns outros esportes, eu não vejo um grande investimento
da Copa que fique para 2016. Vai ter, Leonardo, alguma coisa que você diga que fica?
Tem, tem
Realmente eu não enxergo assim. O BRT e a Transcarioca, que liga a Barra ao aeroporto
do Galeão que vai ser inaugurada agora em Maio. E o BRT é importantíssimo para a cidade,
porque ele interliga com todos os modais de transporte, com todas as linhas do trem e
com a linha dois do metrô e com a linha um do metrô. Ele é um sistema importante para o futuro sistema de transporte
do Rio de Janeiro. Esse é um ótimo legado que a Copa deixa.
Eu sempre vi a BRT mais
como legado dos Jogos Olímpicos. É, ele foi planejado nos Jogos Olímpicos, mas vai
ser entregue na Copa.
Mas só para entender, para quem não é do Rio de Janeiro, qual
que é a importância dessa conexão, tem previsão de quantas pessoas devem usar, vocês
tem alguns dados sobre isso ou alguma impressão sobre essa obra?
Olha, João, é o seguinte,
eu vou dar um número aqui que eu acho que vai explicar bem, por si só, o impacto disso.
Hoje, das pessoas que se utilizam de transporte público na cidade do Rio de Janeiro, cerca
de 16% , aproximadamente, se utilizam de transporte de alta capacidade, metrô, trem e tal.
A partir de 2016, com o novo sistema que vai estar implementado, BRT e extensão do metrô,
60% das pessoas vão estar sendo transportadas em transportes de alta capacidade, permitindo
uma redução de mais de 50% do número de ônibus circulando na cidade. Então, isso,
por si só, já explica, o impacto desse novo projeto. O BRT foi uma novidade, assim, impressionante
na cidade do Rio de Janeiro e a gente tem depoimento de pessoas, ali o primeiro trecho
do BRT que é o BRT da transoeste, que liga Santa Cruz até a Alvorada, ali na Barra,
as pessoas que moram ali na área de Santa Cruz, Campo Grande e tal, que se utilizam
desse meio de transporte reduziram o seu tempo de viagem em 35 minutos em cada sentido.
Imagina o impacto na qualidade de vida dessas pessoas. Qualquer usuário, quando você entrou ali
na transoeste, pode perguntar para qualquer um que utiliza lá, como é que aquilo melhorou
a vida das pessoas e elas vão te falar o impacto que isso teve. A transcarioca que
é essa que eu mencionei que vai ficar pronta para a Copa é a primeira ligação transversal
da cidade. O Rio de Janeiro tem uma tradição de só ter transporte pelas bordas, assim,
né. A gente só anda assim pelas bordas, vai pelas praias e tal, vai acompanhando as
praias. A transcarioca é a primeira ligação transversal, que vai ligar o sul da cidade,
ali da Barra da Tijuca, com o norte da cidade, que é o aeroporto do Galeão, passando ali
por todos os ramais, se interligando com os ramais da supervia, que a gente chama de trem
suburbano da cidade e com a linha dois do metrô, que é o sistema de metrô da cidade
do Rio de Janeiro. Então, isso por si só, já é um impacto tremendo no sistema de transporte
aqui da cidade. Aqui no Rio acho que é a única cidade do mundo que tem um metrô que
é uma linha reta, né. São duas linhas retas que fazem uma ligaçãozinha, né. No mundo
todo você tem ali ligando uma estação a outra, é redondo, e aqui não, aqui só vai
de ipanema a pavuna e tijuca, não tem uma ligação. O carioca, acho, não gosta de
descer no ponto, né? E pegar outro transporte... É, pode ser. Mas é quase, a situação que
você descreve do Rio, é quase um padrão brasileiro. Porque os gestores públicos eles fazem a
obra, fazem a linha reta, né, como você bem colocou e, às vezes, esquecem que o usuário
precisa chegar, talvez, da Zona Leste à Zona Sul e aí, seja de qual cidade for, o eixo
vai de leste a oeste e organiza bem e deixa de pensar nessa...Tem um site, acho que um
blog chamado o metrô que o Rio precisa e ele tem um mapa lindo de como seria o metrô
da cidade, com as ligações, a tijuca ligando a barra, a barra ligando a Zonal Sul. Uma
ligação inteligente, né. O grande problema que eu vi com o BRT é que, assim, o sonho
dos cariocas não seria uma linha de ônibus, né. Quer dizer, o BRT não é bem uma linha
de ônibus, mas seria um trem, um bonde, né, alguma coisa que levasse muito mais gente.
Mas o BRT fica entre o ônibus e o trem, é um meio termo. É, ele roda sob pneu, mas
acontece que ele tem um sistema de sinalização que automatiza ele, né. Ele tem um sistema
de sensores para os sinais, que garante que ele tenha uma velocidade média de percurso
mantida, ele navega sempre a 50 km/h, enfim, ele é um sistema semi-automatizado. Agora,
eu tenho uma dúvida sobre a questão do orçamento, porque eu to vendo aqui o orçamento. Ele
é basicamente para o período dos Jogos, né? Eu vejo que...deixa eu entrar aqui nas
despesas. A grande maioria é, por exemplo, o evento no maracanã, quando for apresentar,
tanto de chegada dos atletas quanto a despedida, a cerimônia.
O gasto é total do comitê?
É o seguinte...
Os shows, não o externo.
O show de abertura, a cerimônia de abertura, né, como é chamado, a abertura de encerramento
é feita pelo Comitê organizador e tá dentro do nosso orçamento. Para você entender um
pouquinho assim o que que é que o Comitê faz, você pode entender o seguinte: nós
vamos ter que organizar aqui no Rio de Janeiro, durante os Jogos, nós vamos organizar 65
campeonatos mundiais. Então, 42 campeonatos mundiais em 17 dias, no período Olímpico
e 23 campeonatos mundiais no período Paralímpico. Então um total de 65 campeonatos mundiais,
que a gente realiza ai nesse espaço de 29 dias.
Por preparar 65 campeonatos mundiais
para serem realizados em 29 dias, você vê, a Copa é um campeonato em 30 dias. Nós vamos
fazer 65 em 29 dias. Isso requer muito planejamento, uma logística muito delicada e complexa e
você tem que tentar otimizar o máximo os recursos para essa coisa não custar um bizilhão
de reais. Além dos 65 campeonatos mundiais, nós temos que fazer 48 eventos ***, porque
nós vamos testas todas as instalações com antecedência. Nós fazemos quatro cerimônias,
porque são duas de abertura, uma Olímpica e outra Paralímpica, e duas de encerramento,
uma Olímpica e outra Paralímpica. Nós temos ainda o revezamento da tocha, que são mais
ou menos 100 dias percorrendo o Brasil todo. Então, preparar tudo isso demanda muito tempo.
Então como você disse né, se você olha nosso orçamento parece que é só para o
tempo dos Jogos, mas você tem que pensar preparar isso tudo e planejar isso tudo leva
tempo, né? Mas vou te dar alguns números aqui, vou ter dar alguns números pra você
entender. Nesses campeonatos, nesses 65 campeonatos de que a gente vai realizar, a gente tem 17.200
atletas e delegações. Delegação tem técnico, massagista, médico e tal, né. Então, nos
Jogos Olímpicos são 17.200 pessoas nas delegações. De mídia são 25.100 profissionais de mídia
credenciados, que a gente tem que cuidar, 45 mil voluntários e mais 3.200oficiais técnicos, são os árbitros, as
pessoas que trabalham nas competições. Esse grupo de pessoas que eu acabei de mencionar,
né, esses 17.200 mais os 25 mil de imprensa mais 45 mil voluntários mais os 3.200 eu
tenho que hospedar, transportar e alimentar. Você imagina a complexidade desse negócio,
aí doze dias depois a gente tem que receber 7.350 pessoas e delegações Paralímpicas,
7.200 profissionais de mídia para a cobertura dos Jogos Paralímpicos, mais 25 mil voluntários,
mais 1.300 árbitros, né, e oficiais técnicos para as competições Paralímpicas. Então,
mexer com esse pessoal todo, hospedar, transportar, alimentar todo esse pessoal é que dá todo
esse trabalho todo. Por isso é que a gente precisa de sete anos para se preparar para
entregar isso. Tá certo. Bom, falando nessa questão de preparo, em números, houve um
aumento no valor do orçamento, né. O que que justifica esse aumento, que, em geral,
a gente lamenta no Brasil e os Jogos Pan-Americanos foram um exemplo de um aumento surreal, sempre
que você explica para uma pessoa dá vontade de rir e de chorar, não dá vontade de acreditar.
Houve um aumento, claro, nada tão grave quanto nos Jogos Pan-Americanos, mas houve um aumento
no orçamento das Olimpíadas. Por quê?
Olha,primeiro, o seguinte: o orçamento dos Jogos
Olímpicos fechou, a gente fechou o orçamento em Outubro de 2008, tá? Foi quando a gente
teve que fechar para começar a preparação da entrega do procedimento de candidatura
ao COBE, então nós estamos falando de um real de outubro de 2008 e nós vamos realizar
os Jogos em Agosto de 2016. Então, haverá aí um efeito inflacionário nessa história.
Desde a candidatura até aqui, e eu estou computando a inflação só a partir de janeiro
de 2009, a gente já teve uma inflação de aproximadamente 32%. Então, de cara, se você
pegasse aquele orçamento e atualizasse só pela inflação geral do país, só a inflação
geral do país, aquele orçamento de 4,2 significaria, hoje, em valores atualizados15,5 bilhões.
Então, na verdade, o orçamento hoje seria 5,5 e cresceu para 7 bilhões, que é o orçamento
que a gente tem hoje de realização. Então, aumentou aproximadamente 40%.
Eu vou citar
aqui os pontos principais onde houve mudanças. Primeiro, entraram quatro novos esportes em
relação à candidatura. Quando a gente se candidatou e fomos eleitos, uma semana depois
eles botaram o golfe, o COI, né, e botaram o rugby de sete, chamado rugby sevens,
que entrou no nosso programa Olímpico e depois o Comitê Paralímpico colocou mais dois esportes
que é o paratriatlo e a paracanoagem. Então, quatro novos esportes, obviamente tem quatro
novas instalações, mais atletas, mais tudo, enfim, as despesas crescem proporcionalmente.
Depois você teve um aumento na área de tecnologia. A tecnologia vai cada vez demandando novos
recursos, quer dizer, a gente falava, um exemplo que eu dei outro dia aqui na coletiva de imprensa,
a gente falava, na época da candidatura, em circuitos de 10 GB que é uma coisa exagerada
e hoje a gente está falando em circuitos de 100 GB. Naquela época não tinha nem cotação
para 100 GB, não existia, mesmo que você quisesse cotar, nenhuma empresa de telefonia
ia te cotar um circuito de 100 GB, mas hoje já é dado, né, um circuito desse tipo.
Tecnologia é, então, um impacto importante. Outro impacto importante foi, por exemplo,
o custo da vila, o custo da vila subiu muito. A gente tinha lá na candidatura, a gente
considerou apenas um aluguel , estimado em 36 milhões de reais, aproximadamente e, na
verdade, a operação dos Jogos é bem mais complexa, o número de prédios é muito mais
complexo, a gente teve que assumir, na verdade, o custo dos juros do empreendimento no período
que a gente usufrui da vila e isso elevou esse custo para 254 milhões, que é o juros
que a Caixa cobra pelo período que a gente vai estar usando a vila. Custo dos salários,
os salários subiram mais do que a inflação. Eu falei que a inflação foi 32%, né, mas
os salários cresceram mais do que a inflação. Então, esses quatro itens aqui, que foram
os principais, claro que tiveram várias outras coisas que se comportaram acima da inflação,
mas esses quatro foram os grandes direcionadores do aumento. E nada barateou nesse meio tempo,
Leonardo? Porque, por exemplo, você menciona a questão de evolução tecnológica. Evolução
tecnológica, às vezes, barateia muita coisa, deixa mais simples, né. Nessa mesma época
da candidatura, uma conexão de 5 MB custava alguma coisa, custava x e agora custa x menos y, quer
dizer, não teve nenhum ponto ai para poder reduzir os custos, não houve um esforço
para tentar reduzir custos? Seria uma novidade bárbara a gente ver no Brasil um grande evento
começar por x e terminar com talvez menos, mas eu acho que é inédito na história brasileira
a gente ver economia.
Olha, a gente está forçando economia em tudo que a gente pode.
Vou dar um exemplo para você, que estava nos jornais, enfim, acho que já é bem conhecida.
Na competição de canoagem de slalom a gente tem que construir uma das instalações que
é considerada uma das mais caras, porque ele tem um legado difícil, na operação
da instalação de canoagem de slalom o sistema de bombeamento dele gasta muita luz e tal,
ele é uma instalação complexa. Londres gastou com essa instalação o equivalente
a 75 milhões de reais para construir a instalação de canoagem de slalom. Nós pegamos a federação
internacional de canoagem de slalom, desafiamos ela nessa questão: olha, não é possível
a gente reduzir isso? Reduzir o tamanho dos tanques de água para reduzir as bombas que
movimentam essa água toda, para a gente reduzir a complexidade? Claro que sem afetar o grau
de complexidade técnica requerida obviamente pelo padrão Olímpico. E com o esforço cooperado
a gente conseguiu reduzir o custo dessa instalação para 25 milhões de reais. Então, em vários
pontos a gente tentou reduzir sim, fez reduções em vários itens, mesmo na vila, para citar
um exemplo, a gente conseguiu, se você pegasse o que era o projeto original apresentado na candidatura
e tivesse trazido exatamente como ele estava custaria muito mais caro, nós fizemos um
baita exercício, discutimos com o COI, alteramos certos paradigmas e premissas do COI para
operação da vila Olímpica e conseguimos reduzir o custo, mas ainda assim o custo financeiro
cresceu nesse período. Todos os preços são questionados.
Acho que não cabe tudo ao COI, né, que foi o velódromo, que
tinha sido construído para o Pan e o COI insistiu depois que mudasse, que tivesse outro.
Talvez ali poderia ter aberto uma exceção?
Não, a história do velódromo é outra,
a história do velódromo é a seguinte: quando o velódromo foi construído para o Pan-Americano,
quando se tomou a decisão de fazer um velódromo definitivo, porque tem que lembrar o seguinte,
o projeto original do velódromo para o Pan-Americano era um velódromo temporário, aí na última
hora decidiu-se fazer um velódromo definitivo e para se fazer um projeto de um velódromo
definitivo no tempo que se tinha para executar, tinha que fazer um projeto bem mais simplificado.
No projeto simplificado ele já não atendia ao conceito de um projeto Olímpico. Ele foi
aprovado pela federação internacional para uma prova Pan-Americana, foi aprovado, para
Pan-Americano pode, mas isso não é uma pista Olímpica e foi assim que foi feito. Mas todo
mundo sabia disso desde o início. Ele foi feito, porque quando se decidiu construir
ele de forma permanente ele teve que sacrificar, teve que fazer alguns sacrifícios por causa
do tempo que restava para se completar a obra.
Alô? João? Travou?
Deu uma travada aqui rápida,
deu uma engasgadinha, mas vamos lá. A gente recebeu uma uma pergunta, por meio do canal
do Rio 2016 no Youtube. Aliás, fica o convite para quem...
A hashtag #HangoutRio2016 pode
postar com a hashtag no Twitter, no Facebook ou no canal pelo Google Plus. Bem, a pergunta
que nos chegou é de Hilário Júnior e a pergunta toca no tema que a gente já conversou,
mas eu acho que é o tema mais sensível dessa conversa.
Travou de novo?
É, enfim, de novo
a questão do legado. Leonardo, qual é o principal legado das Olimpíadas Rio 2016?
Essa é a pergunta de Hilário Júnior.
Olha, o principal legado, como eu mencionei ainda
há pouco, é o transporte, a revolução do transporte da cidade do Rio de Janeiro.
Vai ser um baita legado para cidade. É uma revolução que vai acontecer em termos de
transporte público na cidade do Rio de Janeiro. Vai deixar um benefício para a cidade, para
o cidadão mesmo. Agora, tem vários outros legados, como eu mencionei. Avanço do turismo,
construção de novos hotéis, nova capacitação na área de serviços no Rio de Janeiro, a
reforma da área do porto do Rio de Janeiro, tem vários outros legados, mas o principal
é, aí é um ponto de vista pessoal, é na área de transporte mesmo, transporte público.
Quintino, na sua opinião, o que que pode ficar de bom para o Rio de Janeiro depois
dos Jogos Olímpicos?
O que eu tenho para mim, além da questão que ele falou de hotel,
é a cidade tentar voltar a ser um ponto turístico, né? O Rio de Janeiro é conhecido por, desculpa.
É o principal cartão postal do Brasil, mas o turismo acho que ainda deve muito, a cidade
tem um potencial turístico enorme e não vejo ele aproveitando. Talvez com o aumento
no número de quartos você vai ter uma queda no valor da diária, sem esse absurdo atual,
né. Criou-se até a página Rio surreal para mostrar como tá caro aqui, tá caro para
o carioca e tá caro para o turista. Então, o que eu espero realmente é isso, com mais
parte de hotel, com a cidade aparecendo mais na mídia internacional, que o turista, né,
em 2017, 2018 e aí pra frente ele venha mais para a cidade, que a cidade possa aproveitar
o potencial turístico e virar uma indústria mesmo aqui, porque hoje parece mas não é,
né. Hoje o turismo, você vê muito pouco turista para o que a cidade poderia ter.
Tá certo. Bom, voltando a falar na questão da transparência com os recursos públicos,
houve uma demora para a divulgação no orçamento, né. A gente esperava esse orçamento muito
antes, ele vinha sendo prometido desde 2010 essa divulgação. O que que houve? O que
que houve que travou o esclarecimento do quanto seria gasto nas Olimpíadas, Leonardo?
Olha, foram basicamente três fatores. O primeiro, a gente trabalhava sempre com a ideia de um
orçamento equilibrado, né, receita igual a despesa. Aí a gente teve que esperar um
pouco para amadurecer a nossa receita para a gente ter certeza assim: olha, o valor de
receita que a gente vai ter, o patamar de receita que a gente vai ter é x, agora a
gente tá fixando em 7 bilhões, para a gente ter certeza que a gente podia apostar nesse
número, né, a gente precisava ter alcançado pelo menos metade para a gente dizer "é possível
chegar lá". Então, a gente hoje está confortável. A gente já passou da metade desse valor,
a gente já tem mais da metade garantido, já assegurado em contratos e, portanto, nós
estamos confortáveis. E olha, sete é uma meta alcançável perfeitamente. O segundo
ponto era fechar o que a gente chama de plano geral das instalações. Durante muito tempo
houve troca de lugar ainda, se o hóquei ia ser na barra ou se ia ser em deodoro, enfim,
houve o polo aquático, por exemplo, em que a fase preliminar passou para o Instituto
Delamare, o basquete que a fase preliminar também passou para a área de Deodoro. Até
fechar o plano geral das instalações, que só fechou no final do ano passado, e aí
finalmente você pode começar a fechar o orçamento de despesa. E terceiro aspecto,
um aspecto super importante, que aí tem a ver com a relação com os governos é o seguinte:
quando você olha o orçamento de candidatura do Rio 2016 você vê que tinha lá previsto
em nosso orçamento 1,4 bilhão de recursos em real, né, de recursos aportados pelo governo
federal dentro do Rio 2016.
Nós analisamos, nós junto com o governo, as áreas jurídicas,
tanto do Rio 2016 quanto as áreas jurídicas governamentais, como é que você faz para
ter uma prestação de conta de uma entidade que tem recursos privados e recursos públicos.
É muito complicado. Depois de muita quebração de cabeça, tanto do lado dos governos, quanto
do lado do nosso, chegou-se a conclusão o seguinte: a melhor coisa é separar. Então
não tem recurso público dentro do Comitê, o governo vai aportar esse dinheiro na forma
de serviço, ou seja, naquilo que é, ao invés dele passar dinheiro para a gente para a gente
executar ele executa diretamente o equivalente a esse dinheiro. As contas ficam completamente
separadas, a gente trabalha com o dinheiro privado e presta conta dentro do modelo do
dinheiro privado e o dinheiro público é gasto e é prestado conta dentro do domínio
público. Leonardo, Leonardo, deixa eu fazer um rápido a parte. Deixar para o poder público executar
não é uma coisa temerária? Afinal, o poder público no Brasil tem a tradição
de gastar muito e gastar mal. Vocês tem certeza que esses serviços vão ser executados? Será
que no meio desses processos solicitatórios não vão entrar questões judiciais, questões
jurídicas, gente contestando? Em ano de eleição também, né. Ano de eleição municipal.
Olha, na verdade, as grandes compras, o volume de compras nossa foi feito 2014 e 2015, mas
eu vou dar um exemplo aqui que eu acho que ilustra um pouquinho esse ponto e talvez possa
esclarecer. Vou pegar um caso típico desse, que já está bem avançado as nossas contas
pelo governo. Nós precisamos para operar esses 65 campeonatos mundiais a gente precisa
de rádio, de rádio móvel, aquele radiozinho que a gente precisa falar na cidade toda e
tem 27 mil rádios. Imagina só uma rede de rádios com 27 mil aparelhinhos. Não faz
sentido o comitê Rio 2016 comprar um sistema desse, e nós somos uma entidade temporária,
e no final dos Jogos ter que vender um negócio desse de volta. Ou alugar um sistema desse
que é caríssimo. Então, faz mais sentido que o governo, por exemplo, o exército brasileiro,
as polícias do Brasil, que usam esse sistema e que tem necessidade de comprar ou renovar
o seu parque de rádio, compre esse sistema, emprestem para o Rio 2016, nós usamos durante
aqueles 29 dias que eu mencionei e a gente devolve para eles e eles vão poder ter um
legado e um uso para a sociedade. Então, não tem, é um bom uso do dinheiro público,
deixa um legado para a sociedade e é o governo fazendo o que ele já faz normalmente, não
é nenhuma coisa estranha a sua performance normal. Leonardo, Leonardo, mas esse é o
ponto, que o governo faz normalmente geralmente atrasa, por regra no Brasil há atraso, por
regra no Brasil a coisa não anda.
Olha, eu vou ousar aqui um pouquinho. Primeiro que
eu sou um otimista, né, você vai ver...
Não, tudo bem, eu sou um realista, eu sou um realista.
Mas um diferencial aqui desse projeto é que na candidatura o COI exige que você tenha
todo o projeto pronto e coberto por garantias. Então, quando você ganha, conquista o direito
de sediar os Jogos, você só tem que executar. Quer dizer, o projeto já estava lá, todo
mundo já conhecia, os governos participaram conosco na elaboração do orçamento de candidatura,
no projeto de candidatura e, portanto, esse assunto já vem sendo lidado, por exemplo,
esse, vou voltar aqui o exemplo do rádio, esse exemplo do rádio nós já estamos discutindo
com os governos no detalhe da especificação, checando preço, quantos rádios, o sistema,
modelos existentes e tudo mais com três anos de antecedência. Isso só é possível porque
tem um planejamento bem executado com bastante antecedência, porque o COI exige que seja feito dessa maneira.
A gente começa a fazer o planejamento, a gente fechou o planejamento nosso em 2008,
oito anos antes dos Jogos e isso ajuda muito. Talvez as coisas aqui no nosso país, eu reconheço,
nem sempre são feitas com essa antecedência toda.
Leonardo, mas assim, eu vou pegar outra
vez sobre a questão da baia de Guanabara, né. Falta menos de três anos para os Jogos,
dois anos e meio, e a Baía de Guanabara eu não consigo ver ela limpa o suficiente para
ter uma competição de vela lá. E eu acho, se eu não me engano, que na época que a
gente venceu, conquistou as Olimpíadas aqui para o Rio era informado que lá seria limpo
o suficiente para ter ali os Jogos, a própria lagoa ia poder ter o remo ali, a cidade vai
estar pronta para, pelo menos, os esportes náuticos?
Vai.
Vai? Olha, tá gravado. Vou gravar, hein!
Pode gravar.
O Quintino, olha aqui
eu vou apelar um pouquinho para a sua memória. Nós realizamos aqui a competição
de vela com várias classes durante o Pan-Americano e nenhum barco foi parado por nenhum saco plástico
durante as competições.
Olha o nível da discussão, hein!
Vamos lá, desculpa.
Essa é a ameaça que as pessoas...
A ameaça é o saco plástico?
Os barcos vão ser parados
por um saco plástico. Nenhum barco foi parado por nenhum saco plástico. O problema da limpeza
da Baía de Guanabara é um problema super complexo. Se disser assim: a Baía de Guanabara
vai estar limpa em 2016? Não. Eu posso te afirmar que não vai estar. Por quê? Porque
você para limpar a Baía de Guanabara você tem que completar o sistema de saneamento
de 15 municípios cujos rios contribuem para a Baía de Guanabara. Ou seja, enquanto esses
15 municípios não pararem de jogar, e o Rio de Janeiro é um desses 15, os seus esgotos,
tanto dejeto industrial quanto esgoto residencial, nos seus rios que desaguam na Baía de Guanabara
você não tem como limpar. Então não é um desafio simples, não é um projeto simples.
No dia em que a gente resolver todo esse problema a gente pode partir para o problema de limpeza
da Baía de Guanabara. Por enquanto, nós estamos em uma etapa de desenvolver vários
sistemas para parar de jogar esgoto e dejeto na Baía de Guanabara. A outra coisa, que
nós temos que parar de jogar é lixo nos rios, que aí é um problema que aí já não
tem mais a ver com a rede de esgotos e tal, mas tem a ver também com uma educação populacional,
porque a gente, nós, e aí não é ele joga lixo não, nós todos, cidadãos aqui fluminenses
temos o hábito ruim, péssimo, temos que mudar esse hábito, de jogar coisas no rio.
Os rios são uma grande lixeira e aí não tem jeito. Então o que que a gente tá fazendo
aqui especificamente para os Jogos? O projeto de implementação de saneamento básico na
cidade do Rio de Janeiro e estações de tratamento de esgoto para esse esgoto que vai ser coletado
pelas redes de esgoto está em andamento. Vai estar completado 100% até 2016? Não.
Mas vai ter mais de 80% implementado até 2016. Dois: você vai ter no Rio, em Niterói
e é mais ou menos por aí, porque as outras cidades não estão evoluindo nessa velocidade.
Aí a outra solução, aí já são soluções mitigatórias, é o seguinte: o Estado está
planejando a instalação do que é chamado de UTRs, Unidades de Tratamento de Rios, são
unidades que você bota flutuantes no rio, a água passa pelo rio, ele é limpo por um
processo químico e a água sai limpa. Esse é um processo temporário, não é uma solução
definitiva, é um processo caro, isso não pode ser encarado como um projeto definitivo,
porque é um processo caro. O ideal é você ter realmente redes de esgoto com estações
de tratamento, mas esse é um processo que vai levar mais tempo. Então, o Estado hoje
está desenvolvendo e instalando uma série de UTRs para 2016 para garantir que a água
que vai estar chegando na Baía de Guanabara, 80% dela, seja limpa. E, por fim, vai ter
nos rios que contribuem para a Baía de Guanabara as famosas ecobarreiras. Como no período
de Julho a Setembro é a época de seca no Rio de Janeiro as ecobarreiras seguram. Nessa
época do ano, que é a época de cheias e chuvas aqui, as ecobarreiras, os rios passam
por cima das ecobarreiras. Então, todo o lixo jogado nos rios ultrapassa e chega na
Baía. Todas essas matérias que a gente vê de sofá, saco plástico, é sempre no verão,
é mais difícil você ver essa matéria em Agosto e Julho. Aí o Estado, além disso,
comprou aqueles, que é uma coisa horrível, eu reconheço, mas enquanto não tem uma solução
definitiva é isso que a gente tem, aqueles barquinhos que vão coletar lixo, as lixeiras
aquáticas que vão recolher as coisas que estiverem flutuando em cima da água. Então,
a área de competição náutica para os Jogos vai estar limpa. Ninguém vai ser parado por
um saco plástico.
Ou seja, em 2016 eu vou ver Leonardo e Quintino nadando na Baía, é isso?
Olha que se tiver saco plástico você vai nadar igual, hein, Leonardo.
Eu vou, mas nenhum barco vai ser parado por um saco plástico, mas a água da Baía não vai estar limpa.
Não vai estar 100% limpa.
E vai poder ter remo na lagoa também?
Vai poder ter remo na lagoa. Hoje a água da lagoa, na verdade, hoje a água da lagoa já é,
não me lembro agora o termo técnico, nível 2 ou nível 3, você pode ter contato com
a água que ela não contamina. Você não pode mergulhar ainda, mas se você for atingido
pela água não tem problema nenhum.
Gente, rapidamente aqui uma outra pergunta que veio
por meio das redes sociais, essa veio por meio do nosso canal no Youtube, Cecíla pergunta
que erros de planejamento feitos em outros eventos esportivos não serão cometidos no
Rio 2016? A gente já passou por esse tema, mas, Leonardo, de uma forma bem sintética,
que erros que você já viu que foram cometidos e que não serão repetidos na Rio 2016?
Olha, na verdade, não dá para a gente indicar quais não vão ser repetidos. Eu posso te
dizer como é que a gente vai evitar erros. É o seguinte: você tem que - isso a gente
aprendeu com Londres e Londres fez isso muito bem - você tem que planejar o plano A e o
plano B e tem que treinar as equipes no plano B, porque o plano B, você tem que mudar de
plano A para plano B com os Jogos em andamento. Deu errado? Você tem que dizer para todo
mundo que está espalhado, são 200 mil credenciados, você tem que dizer para todo mundo "Olha,
pessoal, atenção! Mudou para plano B!", não tem tempo de reunir as pessoas, explicar
"olha, vou explicar para vocês o plano B". Todo mundo tem que estar treinado no plano
B, porque você só dá uma ordem "Atenção, pessoal, agora é o plano B que está valendo!".
Fazer isso é o que garante o sucesso, porque você não sabe exatamente qual é o problema,
o que vai acontecer. Então, você tem plano A e plano B para tudo e as equipes bem treinadas
para quando tiver o problema você ter a equipe treinada para mudar rapidamente e o problema
ser miticado.
Tá certo
É que a minha conexão aqui está engasgando, pessoal, desculpa.
Mas a gente já está chegando ao encerramento aqui da nossa conversa e eu queria mais uma
vez pedir, a gente já está com o tempo bem estourado, por favor, Quintino, como seriam
os Jogos Olímpicos ideais pra você? Mas de uma forma clara e bem rápida.
Tá. Eu imaginava o ideal uma cidade já com metrô, né, os turistas chegando no galeão, um galeão
digno, né, não esse que a gente tem hoje, pegando o metrô, descendo no maracanã, indo
até a Barra, mas como isso não vai ter, pelo menos eu esperava que a gente chegasse
em um maracanã digno, né.
Ainda há esperança para isso.
Não, para o metrô não tem, mas
para um galeão digno, quem sabe. Ainda tem uns dois anos e meio e chegando no hotel podendo
pagar um valor razoável, sem que tenha que deixar o filho ali o valor do filho, ter que
vender o filho para poder pagar o hotel. É mais ou menos o que eu esperava de ideal e
o Brasil ganhando algumas medalhas, deixando um legado aí que eu digo esportivo, né,
que o Brasileiro não jogue só futebol, né, que curta outros esportes. Curta o handebol,
volte a gostar de vôlei, aprenda a jogar rugby, que seja. Era o que eu esperava.
Golfe?
Golfe, né? A classe média joga golfe nos Estados Unidos, porque aqui não? Mas o que
eu esperava era que o futebol deixasse de ser o monotemático do esporte. Que a cidade
pudesse e desse espaço, né, que uma criança carente não é só o futebol que ela pode
crescer no esporte, tem tanto esporte aí que ela poderia, que pode surgir e ela ter
um bom investimento nisso, era o que eu gostaria para a cidade mesmo. Acho que é o mais pé
no chão que eu posso esperar e acho que...Fui eu que cai, não né?
Não, não, fui eu de novo.
Pois é, o que eu espero é o futebol deixar de ser o único esporte brasileiro.
Tá certo, maravilha.
Leonardo, você está trabalhando nos Jogos. Então, eu vou fazer a mesma pergunta.
Disso que o Quintino falou, o que é viável, o que dá pra fazer dos outros esportes também,
tão atrativos quanto o futebol eu diria que é quase impossível, mas pelo menos um pouco
mais atrativos, é possível fazer isso trazer esse espírito esportivo para outros esportes
também, hein, Leonardo?
Olha, eu acho que é. Voltando aí atrás em uma questão dessa
que a gente teve no início do nosso papo, um dos legados esportivos do Pan-Americano
foi o crescimento do badminton, que ninguém conhecia e na época do Pan-Americano todo
mundo passou a conhecer o badminton e aqui na favela da chacrinha, aqui no Rio de Janeiro
é uma favela muito famosa, criou-se um núcleo de desenvolvimento de badminton com a garotada
que já foi para os Jogos Olímpicos na juventude e está crescendo aqui o movimento de badminton.
O handebol está crescendo muito, é hoje um dos esportes mais praticados nas escolas,
já chegamos aí a, fizemos um belo papel no campeonato mundial. Eu acho que está crescendo
bastante o papel dos outros esportes e os Jogos Olímpicos eu acho que vão certamente
contribuir para que o conhecimento do brasileiro de outros esportes, que eles curtam outros
esportes, vai crescer bastante. Haja vista, nos últimos Jogos Olímpicos de inverno que
a gente ganhou uma torcida enorme para curling por exemplo.
É verdade. É verdade.
Bom, muito obrigada, Leonardo. Muito obrigada, Quintino.
Para encerrar esse Hangout eu gostaria de fazer um convite para todos
que estão nos assistindo agora, seja ao vivo seja por meio da gravação, que participe
dessa discussão. Nas redes sociais ou em casa com a família, com os amigos, no trabalho,
em mensagem aos políticos, não importa. O importante é que a população brasileira
tome para si esse debate e exija cada vez mais transparência. Certamente assim teremos
mais um evento histórico e digno de orgulho da nossa população. Tenham todos uma boa noite!
Boa noite.
Boa noite.