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Olá América,
Eu sou Pat Condell, e eu sou seu amigo
porque eu vivo no Reino Unido e nossos dois países têm muito em comum
além do fato de que todos os outros no planeta nos odeiam.
Falamos a mesma língua, vocês e eu, compartilhamos a mesma cultura, mais ou menos,
e adoramos o mesmo deus,
um deus justo, um deus ciumento, um deus psicótico
cuja vingança é terrível de se ver, especialmente se nós não temos nada a ver com isso.
Louvado seja o Senhor.
O seu presidente é um cristão renascido, assim como Drácula renasceu quando ele se levantou do túmulo —
ou foi Jesus?
Nós bebemos o seu sangue, ou ele bebe o nosso? Eu sempre me pergunto sobre isso.
O nosso primeiro-ministro também é um cristão, embora eu não tenha certeza se ele renasceu.
A verdade é que muita gente no meu país agora lamenta que um dia ele tenha nascido, para começar.
Mas vocês têm um tipo particular de cristandade na América que é único e extremamente criativo
porque não porta absolutamente nenhuma semelhança com a mensagem do profeta que ela supostamente reverencia
e de fato é completamente oposta a cada coisinha que ele já disse, sem exceção,
o que, no mínimo, América mostra incrível descaramento de sua parte.
Na Inglaterra nós temos uma igreja estabelecida, o que significa que somos oficialmente um país cristão.
Mas, como vocês, nós não discriminamos. Vendemos armas para qualquer um.
E realmente não ligamos para quais atrocidades elas serão usadas.
Louvado seja o Senhor.
Como Deus está do nosso lado, ambos sabemos que quando o nosso país faz o mau
é um “mau bom”, oposto ao “mau mau”.
E sabemos que o “mau bom” sempre derrota o “mau mau”,
exceto quando o “mau mau” astutamente se disfaça de “mau bom”
e se torna renascido. Aí você tem uma situação totalmente diferente.
E o seu presidente joga este jogo em particular muito bem.
Todos conhecemos sua história:
sabemos como ele costumava ser só um inútil beberrão filhinho de papai rico, cheirador de cocaína, que dirigia bêbado e fugiu do alistamento militar,
até que um dia, depois de um bate-papo com Billy Graham, ele teve uma revelação
de que ele tinha sido escolhido por Deus, para ser um perigoso intolerante iludido.
Ele foi rapidamente colocado como governador do Texas, onde ele finalmente descobriu que tinha um talento para algo —
autorizar execuções, louvado seja o Senhor,
e daí foi só um passinho para George W. Coração-de-Leão, presidente de toda a Cristandade.
Porque dizem que ele tem boas conexões, o seu presidente,
e isto não significa que suas articulações são especialmente reforçadas com cabo de aço — nada tão sinistro assim.
Simplesmente significa que ele tem muitos amigos corruptos e poderosos
que não pararão para chegar a seu objetivo.
E, como ele mesmo admitiu, ele invadiu o Iraque porque um desses amigos,
neste caso Deus, o instruiu a fazê-lo.
Bem, eu não vou tentar lhe dizer que o seu presidente George W. Bush é insano,
porque na minha opinião não é realmente preciso ser insano quando se é George W. Bush.
Se você fosse um desagradável hipocritazinho renascido de mente pequena com uma Bíblia na mão,
então, francamente, você já teria um Royal Flush, e não precisaria de mais nenhuma carta.
E além disso, ele é mais do que habilmente assistido em todas as suas empreitadas por nosso insano primeiro-ministro cristão,
outro homenzinho com sangue nas mãos
que ele não ganhou por ter pregos martelados através delas,
embora eu tenha certeza de que seu escritório de imprensa gostaria que pensássemos o contrário.
E todos nós sabemos que ele se uniu à invasão do Iraque
porque ele sentiu “a mão da história” em suas genitais
e porque ele quer um chapéu de caubói.
O jeito como ele anda quando está com Bush, é como se eles estivessem se dirigindo ao OK Corral,
ou algum outro clube gay.
Mas acontece que algumas pessoas no Iraque, por alguma razão inexplicável,
na verdade não querem que a liberdade e a democracia lhes seja imposta de fora,
o que prova a verdade do velho ditado, América, que você pode levar um cavalo para a água,
mas não pode fazê-lo chupar o seu pinto.
Mas não liguem, porque ainda estamos aqui, e ainda amamos vocês, sim, é verdade.
E deixem-me só dizer que nós não nos sentimos de modo algum usados ou adulterados por vocês, América.
Bem, talvez só um pouco. Na verdade, talvez muito,
mas vale a pena pelo privilégio de sermos amigos de vocês,
mesmo que vocês insistam em tomar nossas impressões digitais
antes de nos deixarem entrar em seu país.
Porque, francamente, América, vocês salvaram a nossa pele.
Se não fosse por vocês, não seríamos o país importante que somos no mundo hoje.
Tendo perdido um império, estávamos prontos para sermos jogados para o plano secundário da história, e esquecidos
mas agora, graças a vocês, e sua gloriosa missão de Deus,
descobrimos que ainda temos um papel a cumprir no mundo,
metendo o nosso nariz onde não somos chamados,
roubando e gastando cada recurso precioso no qual conseguimos colocar nossas mãos ávidas,
e socando a porrada em gente marrom, do jeito que Jesus queria.
Então obrigado por isso, América.
Não consigo expressar o quão orgulhoso isso me faz sentir.
Eu realmente, realmente não consigo.
Mas é da natureza humana viver com esperança,
então deixem-me dizer para terminar, América,
como de um amigo para o outro:
fiquem curados logo.
Estamos todos rezando por vocês.
Paz.