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[VALÉRIA] Eu acho que...
nunca vai existir um laço maior no mundo
do que essa relação mãe e filho.
Realmente, a gente sente, a mãe sente como se fosse...
é um pedaço da gente mesmo, é uma parte da gente.
[LUCIA] E quando houve a gravidez do Leandro, foi maravilhoso.
Foi esperado com muito amor.
[ANA] Foi o momento mais feliz da minha vida, eu acho.
[PAULA] Indescritível.
Mas ele entrava na escolinha com a mochilinha nas costas, e quando ele tava quase chegando lá
ele olhava pra trás assim com o olhinho cheio de lágrima como quem diz "eu vou ficar aqui de novo".
Então... foi duro.
No começo ele chorava entrando e eu chorava saindo, todo dia.
Eu só sei que quando era hora das refeições, que ele tinha que ficar o dia todo
porque eu trabalhava, ele dizia que só queria a comida da mãe dele
que a comida da mãe dele é que era gostosa e tal.
Se atrasasse um pouquinho pra buscar na escola
ela chorava. Manhenta.
[VICENTE] Extremamente carinhosa...
atenciosa.
[DANI] Sempre ela fazia umas coisas, até hoje ela faz.
"Mãe, tô com vontade de comer uma lasanha", ela vai lá e faz.
"Vontade de comer brigadeiro", ela vai e faz.
[LEANDRO] Então ela faz parte de todas as lembranças da minha infância.
São pouquíssimas as que eu tenho sem ela.
Passamos um susto enorme. Ele tinha mais ou menos uns quatro anos e meio, cinco...
e meu marido foi com ele até o escritório de advocacia num prédio lá próximo ao centro
e ele caiu do terceiro andar.
Fui direto pro hospital. Chegando lá, a primeira coisa que ele fez quando eu cheguei...
eu fiquei do lado da cama dele, ele abriu o olhinho e falou: "mãe, quero fazer xixi".
E foi muito bom ouvir ele falar isso porque percebi que ele tava bem.
Ele tinha um tumorzinho. Daí com um ano de vida ele fez uma cirurgia pra remover esse tumorzinho.
Eu só pensava na possibilidade de perdê-lo. Uma anestesia, qualquer bobagem assim
pudesse levar o Pedro de mim. Eu sou muito grudada nele.
Só quem passa. Só quem passa pra poder explicar o tamanho da dor que é.
Eu me fechei dos 11 anos até o final dos 15.
Ele era muito assim, falava bastante...
era extrovertido, gostava de falar, comandar em tudo...
e de repente ele ficou muito calado.
Essa transformação pra adolescência...
Ela teve fases de depressão, assim, que mexeram muito comigo.
Aquela fase que você fica mais rebelde, mais...
eu tive uma fase depressiva e tal.
Foi uma fase muito difícil. Então ele não quis continuar no colégio, e a gente...
por causa dos amigos, ele era tachado de apelidos enormes e a gente não sabia.
Então quando veio a descoberta foi realmente muito duro pra todos nós.
Então essa fase foi... esse dia foi um dia duro.
É uma fase que o adolescente pensa que ninguém me ama e ninguém me quer, e não é verdade.
Aí conversava com ele e falava que ele tinha que enfrentar.
Então a partir daí eu comecei a sair um pouco da barra da saia da minha mãe, sabe.
[PEDRO] Ele sempre tava acostumada comigo em casa, então ela tava um pouco relutante em me deixar sair.
Porque era um apego muito forte. Ainda é.
Eu sofri no começo. E ainda sofro pelo externo. O que o nosso meio pode oferecer de perigo
pra um menino de 14 anos que passa a noite fora?
Preocupação com droga, com bebida, com companhias...
E ao mesmo tempo que você...
gostaria de estar por dentro disso tudo, você sabe que não pode
porque você vai sufocar, isso é uma coisa dele, ele tem que viver isso.
E pode ficar tranquila que eu não vou beber, não vou fumar, não vou cheirar, não vou injetar.
Não vou fazer nada de mais. Depois de muito argumento, consegui convencer.
Ele chegou e falou: "Mãe, foi a noite mais feliz da minha vida!"
Ai a segunda noite dele fora: "Mãe, foi a noite mais feliz da minha vida!"
Todas as noites que passou a noite fora, sempre uma noite superava a outra.
E pra mim foi uma pior que a outra. Sabe, meio...
dava aquelas cochiladas e acordava, e ligava no celular.
Tem que aceitar que ele é um ser independente de você.
E que ele tem que crescer e você tem que deixar.
Mas a cabeça fica a mil. O coração também.
Eu acho que no fundo, lá dentro da mãe...
sempre tem alguma coisa que diz
que o seu filho não vai ser "convencional".
Convencional assim, dentro das regras da sociedade.
Ai eu olhava pra ele e falava "filho, fala pra mim se você tem alguma coisa".
"Ai, eu tenho um bicho aqui dentro que você nem sabe". "Meu filho, fala".
Então a gente entende essas coisas.
A gente conhece.
Mãe conhece.
Então chegou um momento que eu precisava me abrir
com alguém dentro de casa sobre isso que eu tava vivendo.
Não tinha mais como eu esconder.
E ai eu cheguei, chamei ela, sentei e conversei.
Você pensa naquilo que eles vão passar.
Pela sociedade.
E daí você começa a lembrar da opinião daquele seu colega lá não sei de onde
do tio não sei das quantas, da tia dele
do pai dele, dos avós lá do norte de Minas, um lugar tão...
as pessoas são tacanhas e tal. De que maneira eles vão receber o Pedro quando souberem?
Muito choro, muita emoção.
Foi difícil. Não foi fácil.
Porque existe todo aquele medo da sociedade. O que vão fazer com seu filho?
Esse é o lado duro.
Então a mãe, ela sempre tá preparada.
Pra tudo. E isso não é nada.
É um filho como outro, não tem problema. O problema tá nas pessoas.
A gente vai fazer o que, vai condenar um filho por ser assim?
A gente vai continuar amando da mesma forma.
Eu quero que meu filho seja amado, que ele seja uma pessoa de bem, que ele tenha uma profissão.
Filha, eu sei que pra você tá sendo difícil. Mas eu queria que você entendesse que
pra Deus, aqui na Terra, nós somos todos iguais.
E independente da sexualidade de cada um
acima de tudo, nós somos espíritos em evolução.
Então a partir daí ele me deu todas as respostas que eu precisava ter.
E foi isso que me deu força.
Eu me senti aliviada, porque eu achei que fosse uma coisa...
"Faz as suas malas agora e sai da minha frente, sai da minha casa."
"Eu não tenho uma filha lésbica."
Eu pensei que fosse ser uma reação radical.
Eu pensei que fosse ser essa a reação deles, entendeu?
Então quando eu contei e vi que nada disso ia acontecer, foi uma sensação de alívio.
A importância é que eu posso ser mais verdadeiro. Eu posso ser eu, assim.
Sabe, me sentir à vontade de repente se eu tô mal com algum relacionamento
se eu tô bem, ou se eu tô, sei lá...
feliz da vida ou chateado com alguma coisa, eu vou e conto pra ela.
Parei de mentir. Quando me ligava em casa algum amigo meu
eu mentia, falava que era da escola. Agora não, é meu amigo da Internet, é gay também.
Quando eu comecei a namorar dois anos atrás ela conheceu esse meu ex-namorado.
Então ai eu percebi que realmente já não tinha mais nenhum problema.
Aquele bicho que tava lá dentro já não tinha mais.
Eu quero que ela seja feliz, só isso.
Ele é muito inteligente, muito carinhoso...
Ela é tudo na minha vida. Ela me deu tudo.
Ela me deu a vida. Só disso eu já me orgulho.
Tenho muito orgulho dele por ele ser uma pessoa tão maravilhosa como ele é.
Uma coisa muito marcante na minha mãe é assim: por mais que ela esteja sofrendo
por mais que ela tenha dificuldades, ela sempre tá sorrindo.
O que eu gosto muito dele é...
a espontaneidade dele. Ele é muito espontâneo.
Se ele tá feliz ele tá feliz, se ele tá bravo ele tá bravo
se ele tá emburrado ele tá emburrado, ele não esconde
nem pra nós e nem pros de fora.
Ela é muito forte. Muito, muito forte.
É uma menina muito responsável, sempre foi muito adulta pra idade dela.
E é muito querida, muito amada.
Eu amo ela acima de tudo. Ela pra mim
é a coisa mais importante.
Mãe, você sabe que eu te amo muito. Você vai estar pra sempre no meu coração
quero ter você sempre do meu lado.
Pedro, a mamãe te ama e pede pra você
olhar sempre pra frente, não olhar pra trás.
Esquecer todas as coisas erradas que você acha que fez.
Que Deus seja uma presença constante na sua vida e eu também. É isso.
Muito obrigado
por toda a dedicação.
Eu espero que eu tenha correspondido
à altura e eu vou fazer de tudo até
o dia que a gente tiver que se despedir definitivamente
pra retribuir esse amor que a senhora tem por mim. Eu te amo muito.
Desejo pra o meu filho Leandro que ele tenha força
e que vá até o fim com todos esses projetos que ele tem pra fazer.
Porque eu amo muito ele. Te amo.
Eu falo todo dia pra ela...
que ela tá mó bonita.
E que ela parece que tá mais magra.
Todos os dias...
nas minhas orações eu reflito
muito sobre o que eu quero, o que eu almejo pra ele. Eu eu penso
penso e peço muito a Deus pra que ele conquiste todas as coisas que ele gostaria
de ter e de ser na vida, pro futuro dele.
Mãe, obrigado por tudo.
Eu me orgulho muito de você, eu te amo muito.
Te respeito muito como pessoa, como mulher e acima de tudo como mãe.
Eu acho que você se esforça
por mim, pela Gabi, pela Rafa
e acho que você é o melhor que você pode ser.
Eu também tô procurando ser o melhor que eu posso ser.
E eu te amo muito.
Filha...
eu te amo muito, você sabe.
Sou muito orgulhosa de você.
Você sempre foi uma filha muito carinhosa.
Independente de qualquer opção da tua vida...
***, profissional, qualquer caminho que você seguir...
Sua mãe, assim como teu pai, nós vamos estar sempre do teu lado.
Assim como a gente criou
com muito amor e carinho...
Vai ser sempre assim.
Eu te amo.
- Com as outras mães não foi assim, foi?
- Foi. - Foi!?