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Uma das maiores crenças é de que a guerra é um erro.
Não essa guerra ou aquela guerra. Guerra, toda guerra, é um erro.
Repórteres me perguntam porque eu estou aqui,
eles questionam se algum dia haverá alguma conclusão.
O que eu respondo é que eu não quero que haja uma conclusão.
Eu vi o que aconteceu, eu era um protestante,
mas o mais importante é que eu fui testemunha.
Eu vi o que eles fizeram. Eles pararam, viraram e começaram a atirar em uma multidão de alunos desarmados.
Existe uma coisa sobre a qual quero ser bem claro.
Nós não fomos lá sozinhos, nós fomos solicitados a ir
pela lei e pelo prefeito da cidade de Kent e foi assim que acabamos indo.
A cultura de protestos está ligada ao instinto humano de reclamar daquilo que não se adequa aos ideias de um pequeno ou grande grupo social.
Em 2013, foi a vez dos jovens brasileiros liderarem os protestos
e saírem às ruas para mostrar sua insatisfação com ações do governo e o estado atual do país.
Em 1970, algo parecido aconteceu na Universidade de Kent, Ohio.
A história é basicamente a história da guerra do Vietnã .
Aconteceu que no dia 30 de abril o presidente Nixon
foi à televisão e anunciou que estávamos invadindo a Cambódia
ele nomeou a medida de "Incursão" e isso mostrou aos estudantes duas coisas:
a primeira foi que a guerra não estava começando, pelo contrário, estava se espalhando.
Eles estavam cometendo genocídio com o povo vietnamita, cambojiano e laociano.
Todos estavam muito cansados, não fazia sentido e as pessoas estavam chateadas.
Mas quando eu fui para a faculdade, no outono de 1967
eu comecei a escutar que meus professores e colegas questionavam a guerra no Vietnã
então eu comecei a questioná-la.
E então finalmente no dia 4 de maio, no dia em que os tiroteios aconteceram
tudo começou bem silencioso mas então os protestantes começaram a se acumular no campus
e logo foi virando algo grande.
Nós mandamos tropas para a área porque não sabíamos o que a multidão poderia fazer.
Então o grupo se reuniu, por volta de 300 alunos anti-guerra
com cabelos compridos, eram protestantes.
Nós estávamos perto do sino, aplaudindo e cantando hinos anti-guerra com os pulsos para cima
basicamente expressando nossa oposição à guerra.
Meio dia a Guarda Nacional jogou gás lacrimogênio e começou a marchar em direção a nós.
Quando eles subiram a colina, eu podia vê-los se mexendo e vi muitas pessoas se dirigindo a eles.
Eu pensei que eu estava seguro
eu achava que eles não iam atirar.
E quando eles atingiram o topo da colina eles viraram, abaixaram os rifles
e começaram a atirar.
Eu podia escutar as balas atingindo o chão e pensei
"Meu Deus! Por que estão atirando em mim?"
Eu me joguei no chão, cobri minha cabeça e fiquei lá por uns segundos escutando as balas acertarem o chão.
Lembro de ter pensado "Eles estão mirando em mim?"
Eles dispararam 67 tiros, a maioria por um rifle de alta potência chamado M1
o rifle pode atingir até duas milhas e pode atravessar o aço, as árvores e os carros.
De repente percebi que fui atingido, parecia uma picada de abelha
não sabia onde tinha sido atingido, mas senti que era nas costas.
Treze estudantes foram baleados, quatro foram mortos e nove ficaram feridos.
Eu fui um dos feridos, a bala entrou pela frente do meu pulso e atravessou para o lado, perfurando meu braço.
Quatro estudantes foram mortos e alguns foram feridos
isso aconteceu praticamente na minha frente.
Sandra Scheuer e Bill Schroeder foram mortos e não eram protestantes
eles estavam apenas observando.
Algo aconteceu com a outra companhia policial, algum desentendimento, algo, eu realmente não sei
algo fez com que eles virassem e atirassem.
Eu estava trabalhando em um livro que eu estava escrevendo
e fiquei surpreso ao achar uma fita com o áudio dos estudantes protestando, do gás lacrimogênio
da perseguição dos guardas, deles subindo a coluna e do incidente com os tiros.
A polícia estava totalmente despreparada para lidar com o que estava acontecendo na universidade.
Os direitos civis desse país permitiam que eu praticasse o que eu estava fazendo.
A Universidade de Kent está fazendo o possível para manter isso vivo
com os memoriais, a memória e este tipo de lembrança.
O poder simbólico do dia 4 de maio nunca irá embora.