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O que é feminismo?
O Feminismo; bom, existem vários feminismos,
em primeiro lugar né, eu acho que é preciso dizer.
Mas de uma maneira geral o feminismo é um movimento,
é um movimento social
que tem como objetivo
a igualdade entre homens e mulheres, na sociedade.
Que todos tenham os mesmos direitos
e que possam viver da forma que quiserem,
sem ter, serem condicionados às suas condições de vida,
de trabalho, de políticas,etc.
por uma questão de serem homens ou mulheres né.
Então, eu acho que o feminismo propõe esta questão.
Em 1977, 1975, 76, 77, é um momento, no Brasil,
em que se está discutindo mulheres,
se está discutindo feminismo.
E é justamente em 77 que eu me separei
e passei a viver como mulher separada e passei a ler,
eu te confesso que eu não me dei conta muito disso.
Muitas pessoas que faziam resistência à ditadura,
em grupos armados ou não, muitas mulheres vão para o exterior.
No Brasil, assim como em vários outros países do Cone Sul,
havia várias mulheres participando de movimentos da resistência.
Alguns autores chegaram a fazer a contagem disso,
elas estão em torno de ¼ ou mais,
tem alguns países que chega a ter em torno de 30, 35%
de mulheres participando.
Agora é bom lembrar que a gente sabe destes números
a partir das mulheres que foram processadas e presas.
É possível que muito mais mulheres tenham participado
sem ter sido processadas ou presas, por que?
Porque, como não se esperava que elas participassem disso,
elas conseguiram escapar com mais facilidade. Certo?
Então, há, sim, um contingente bastante forte,
é bom lembrar que muitas são jovens
universitárias ou de ensino médio,
elas tiveram uma atuação muito importante.
É bom lembrar que isso é um movimento que vem vindo.
O que seria gênero? Gênero,
é uma, é essa categoria teórica,
ela surgiu de uma dificuldade
que era colocada pela noção de sexo,
porque sexo é geralmente pensado de um ponto de vista da biologia.
sexo, o sexo viria, vem com a pessoa, a pessoa nasce já
com o sexo determinado pela sua ou pelo seu genital
ou pelo seu DNA, pelos seus cromossomos etc.
O movimento de escolarização das mulheres,
as mulheres estão entrando cada vez mais nas escolas,
no ensino médio, no ensino universitário.
As mulheres, desde os anos 60 desde o inicio dos anos 60,
estão tendo acesso ao controle dos nascimentos mais eficaz,
Por que já havia antes.
A partir dos anos, de 1960, nos Estados Unidos,
a pílula anticoncepcional pode ser vendida, é liberada.
No Brasil, mesmo sem liberação, vai começar a ser vendida,
já em 62.
A França demorou um pouquinho mais,
mas, os países, em diferentes países, ela passa a ser vendida.
A história também ajuda nisso porque coisas que eram feitas,
que as mulheres faziam, muitos anos atrás,
podem não ser consideradas hoje femininas e ou masculinas né.
Então, o que os homens faziam, por exemplo,
Há alguns anos atrás,sei lá, um homem que chorasse era,
considerado, não era considerado masculino suficiente.
Hoje, já você olha nas novelas e tudo, os homens choram, né
faz parte de algo que é, ou um pai que cuidasse do filho,
que ficasse com o filho no colo,
podia não ser considerado suficientemente masculino um tempo atrás
e hoje, a gente já espera que os pais cuidem dos filhos,
troquem fralda e isso não é considerado algo
que vá afetar a sua masculinidade.
Então, eu estava dizendo
de como as mulheres brasileiras e de outros países do Cone Sul
tiveram contato com o feminismo, com o movimento feminista.
Elas tiveram este contato muitas delas no exterior,
mas não só, no Brasil também, porque essas notícias circulavam.
Vamos dar alguns exemplos, no Brasil?
Por exemplo, se eu estou dizendo que em 72
tem alguns grupos de mulheres se reunindo, mas, em 75, por exemplo,
você já tem vários grupos emergindo
e você tem até a televisão falando disso,
os jornais falando disso.
Qualquer pesquisa em revista ou jornal vai mostrar estas discussões,
Entende?
Livros estão sendo publicados, de diferentes lugares
Traduzidos do inglês, do francês, do italiano para o português,
para o espanhol e isso em referência
a mulheres de outros países do Cone Sul.
Então, não é só indo para o exterior que as mulheres tiveram contato.
Eu diria que algumas mulheres militantes de esquerda
tiveram contato com o feminismo no exterior
e isso teve um impacto na mudança de engajamento.
A relação entre feminismo e machismo
é que machismo não é um movimento social como o feminismo.
Machismo é como se fosse uma questão cultural,
que envolve esta nossa sociedade na qual os homens
têm determinados privilégios e normalmente se atribui a eles
maiores possibilidades de se desenvolver, maior poder.
Então, quando uma mulher acusa um homem de machismo, geralmente né.
“Ôh, seu machista!”,
é uma forma de dizer que esta pessoa não está,
ou uma mulher mesmo pode ser chamada de machista né,
significa que esta pessoa não esta vendo as mulheres como iguais,
como numa situação de igualdade, de possibilidades de poder.
A época era de movimento de libertação,
as mulheres adotaram este nome também por isso
elas se autodenominam de movimento de libertação das mulheres!
E a ideia delas era formar vários destes grupos.
Então, todos são, acabam se tornando
aquilo que a gente vai chamar de grupo de consciência,
foi uma metodologia utilizada por mulheres
e a gente pode dizer até que não foram inventadas por elas.
não foi inventada por elas
A gente sabe que há outros grupos que usam isso,
vamos falar, os Alcoólatras Anônimos, por exemplo,
usam isso há muito tempo
e Andrée Michel, por exemplo, que é uma feminista bastante famosa,
diz que esses grupos eram usados na China, antes do comunismo.
Lavradores, por exemplo ,camponeses, se reuniam em grupos
que eles não chamavam de grupos de consciência.
Eles chamavam de “expressando amarguras”,
que é um grupo onde eles falavam
dos problemas que eles tinham
e isso era uma forma de perceber que as outras pessoas
tinham os mesmos problemas que eles,
que eles não estavam sozinhos.
As mulheres também fizeram isso e isso, olha,
a gente encontra estes grupos já nos anos 60
e em meados dos anos 60, nos Estados Unidos.
Mulheres de camadas médias urbanas
se reuniam umas nas casas das outras pra discutir
seus problemas pessoais, falando das relações com o marido,
das relações com os pais, das dificuldades, da questão do aborto,
da questão da menstruação, da questão do prazer,
de como não tinham orgasmo,
de como era a relação com o marido,
que era uma coisa complicada, tudo isso
e como elas se sentiam diferentes dos irmãos.
Então, estes grupos de consciência,
geralmente eram formados por mulheres já de certa idade,
quando eu digo certa idade
é porque elas tem filhos que já vão para o “college” por exemplo,
aquela mulher do ninho vazio.
Os meninos já saíram de casa e elas se encontram nas tardes
e elas vão formando uma espécie de irmandade
porque uma traz a outra irmã para a próxima reunião.
Esses grupos depois foram imitados por moças mais jovens,
que faziam parte de grupos como o “Black Power”,
por exemplo, o pessoal da consciência negra, os hippies,
os que estavam envolvidos na guerra contra o Vietnã
ou contra o armamento, a corrida armamentista,
grupos de esquerda, sempre grupos de esquerda,
essas mulheres se consideravam discriminadas pelos companheiros
Então, eu acho que não é uma relação tão direta.
Algumas pessoas podem dizer,
que o feminismo é uma espécie de reação ao machismo
e não o contrário.
O machismo, o fato de que existe o que
a gente chamaria de machismo na nossa sociedade,
essa predominância dos homens,
essas possibilidades que eles têm de serem aceitos
mais facilmente de ascender a cargos mais elevados,
tanto politicamente quanto no trabalho, de ganhar mais dinheiro.
Porque se a gente for olhar nos dados do IBGE, no censo,
a gente vê os homens tem uma renda mais alta do que as mulheres.
Mesmo quando as mulheres têm,
tiveram mais anos de estudo,
é mais difícil para uma mulher ter uma renda maior
do que para um homem.
Se antes elas eram apenas voltadas para os seus grupos,
seja armados ou não, elas vão para o exterior,
têm contato com este feminismo,
passam a refletir sobre as relações
que elas têm com seus companheiros,
tanto no Brasil quanto no exterior,
e passam a se engajar nestes grupos lá do exterior
e passam a militar no movimento feminista lá
e quando podem retornar ao Brasil, porque,
você veja, depois de 76, quando eles, infelizmente,
eles eliminam vários militantes mortos, presos,
as guerrilhas são exterminadas,
o governo começa a ter certo relaxamento
na censura e na repressão e elas começam a voltar lentamente.
79 mesmo é um momento de anistia,
então todo mundo pode voltar, mas antes disso,
elas já estavam começando a voltar,
já estava havendo numa certa abertura política.
Então, o que a gente vai encontrando?
Pessoas retornando, mas tem um dado importante,ainda:1975,
o Ano Internacional das Mulheres, da Mulher
na época era da Mulher !
Ora, a ONU está dizendo que o ano de 1975
é o Ano Internacional da Mulher.
É interessante notar que é 10 anos depois de 65,
que a gente costuma datar que é um momento
que começam a emergir com mais força os grupos de consciência,
começam a aparecer nos Estados Unidos, é interessante isso.
Ou seja, a ONU não declara o ano de 75
como Ano Internacional da Mulher à toa,
é porque estava muito forte isso a nível internacional.
O Brasil era uma coisinha de nada,
eram aqueles grupinhos de consciência se reunindo, até ali.
Mas nos Estados Unidos e na França,
isso aí era movimento de rua, era passeata. Certo?
Então, não é à toa que é o Ano Internacional da Mulher.
Ora, o Brasil teve que mandar representantes
para estes lugares, ou seja, todo mundo ficou sabendo.
Então, fazer uma reunião de mulheres, em plena ditadura,
tinha legitimidade, por mais que os olheiros da repressão
estivessem presentes nas reuniões, mas um pais com ditadura em que
qualquer reunião era proibida,
reunir para discutir a condição da mulher era permitido,
mesmo assim com cuidado; tanto que em SP, por exemplo,
elas só fazem com o apoio da Igreja, né?
mas não é só no Brasil, não,
no Chile elas faziam com o apoio da Igreja. Certo?
Na verdade, nestas várias ditaduras aqui do Cone Sul,
que, coincidentemente, são todas no mesmo período,
algumas começam um pouco antes,
outras começam um pouco depois,
mas o grosso das ditaduras são os anos 70.
A forma como as pessoas também vão procurar se reunir
e acabar constituindo um movimento de mulheres
é tendo que enfrentar a ditadura
e encontrando mil mecanismos, mas em todas elas,
de uma maneira ou de outra,
por causa do Ano Internacional das Mulheres,
se tornou mais ou menos legítimo,
se reunir para discutir a condição da mulher,
ou das mulheres, no caso.
Se há mulheres que ganham mais do que homens?
Há, mas é minoritário.
Se você for olhar o censo, os dados,
claro existem muitas mulheres que ganham mais
do que muitos homens,
mas dentro de uma faixa, de uma classe social,
de uma profissão, por exemplo,
médicos homens e médicas mulheres, se você for olhar os dados,
vai mostrar que, embora os dois sejam médicos,
os homens normalmente ganham mais do que as mulheres.
Dentro de uma mesma faixa de estudo
e de uma mesma faixa de profissão, de função, de cargos
é muito mais comum você ter homens em cargos
administrativos, executivos
mas existem mulheres que tem esses cargos
e que às vezes ganham mais do que seu marido
e isso em alguns casos gera alguns conflitos
mas eu acho que isso é uma das questões que o feminismo
trouxe de bom, que é essa possibilidade da gente pensar
para além dessa dessas questões de gênero aí, né
de mostrar que são pessoas e que elas podem ter um relacionamento,
mesmo que de uma forma diferente
porque para isso a pessoa tem que aceitar uma forma diferente
de relacionamento porque normalmente,
pela ideologia machista, digamos assim,
as mulheres deveriam ganhar menos do que os homens
teriam que ter...
Numa relação não é tão importante que elas ganhem dinheiro
e isso seria atribuição do homem
e as mulheres teriam que cuidar da família,
dentro dessa perspectiva ocidental,
mas eu acho que isso está se transformando.
A partir dos anos 60 isso foi se transformando cada vez mais.
Dependendo das colorações políticas,
porque elas também se dividiam em vários tipos políticos,
as trotskistas, as comunistas, as socialistas, as liberais, de tudo,
nunca foi uma coisa homogênea, certo?
A ideia delas é que, como eu estava dizendo no inicio,
a cada reunião nova, elas deviam trazer novas companheiras
e quando estes grupos cresciam deveriam se dividir.
Então, a ideia delas é que elas formariam uma grande rede
de irmãs, era uma irmandade internacional,
essa era a grande utopia,
elas achavam que tinham um destino comum,
uma condição comum,
por isso diziam que se tratava da condição feminina.
É interessante que muitas destas palavras
elas também estão adotando a partir de alguns livros
que saíram nesta época ou alguns antes como é o caso do livro
Simone de Beauvoir que é “O segundo sexo”,
onde ela já fala em condição feminina.
Por isso que essa ideia de que
“Aquilo que eu sofro não sou eu só, é uma questão coletiva.”,
elas vão dizer “Isto é da condição feminina”.
Qual seria a importância de mulheres em cargos de poder,
como é o caso da presidenta Dilma, da nossa reitora,
aqui na Universidade Federal em Santa Catarina,
outras mulheres prefeitas, governadoras?
Eu acho que a grande importância,
a maior importância que tem isso,
é mostrar pras outras mulheres que elas podem
participar politicamente, ativamente.
Eu não acho que o fato de ser uma mulher
vai trazer uma diferença na forma de administrar, necessariamente.
Mas eu acho que é importante que metade da população,
que até hoje sempre esteve bastante excluída
dos processos políticos do nosso país,
que elas se sintam à vontade pra contribuírem nesse processo.
Quer dizer, uma democracia só pode ser realmente democrática
se todos puderem participar,
de acordo com o que quiserem e com o que puderem,
também porque as capacidades dessas lideranças,
ela não necessariamente tem que ser dum gênero só ou sexo só,
ela pode vir tanto de uma mulher quanto dum homem
quanto de um índio, duma negra quanto duma pessoa oriental,
isso não importa, não importa o sexo.
Outro trabalho muito importante é o da Betty Friedman,
que também está publicando ali, em 65, nos Estados Unidos
e que vai fazer um sucesso muito grande, um sucesso
tão ou quase semelhante ao da Simone de Beauvoir. Certo?
Mais especifico para as condições dos Estados Unidos
e da época que ela esta escrevendo,
diferente da época da Simone de Beauvoir,
mas é também uma espécie de leitura fundadora,
vamos dizer assim, desta época mesmo, sem ter lido,
muita gente fazia referências da Betty Friedman,
que é “A Mística Feminina” que vai se tornar muito,
muito famoso.
Então, eu estou dando estas referências pra mostrar
como estas coisas vão crescendo e vão se espalhando,
para além dos Estados Unidos.
A gente sabe de autoras, a própria Simone de Beauvoir
esteve nos Estados Unidos, conheceu estes grupos que,
quando ela escreveu
O Segundo Sexo”, ela não achava que estava formando
nenhum grupo de mulheres, nenhum feminismo.
Ela achava que estava usando o existencialismo
para pensar a condição feminina.
Não era isso que ela achava que estava fazendo,
só que o livro, depois de publicado,
ele pertence aos leitores
e vai ser apropriado das mais diferentes maneiras.
E é isso que acontece, as pessoas vão se apropriar
do livro da Simone de Beauvoir e vão fazer outra coisa com ele,
vão acabar transformando ele numa referência
para o movimento de mulheres, na época,
movimento de libertação das mulheres.
A Christine Delphy é uma que vai para os Estados Unidos
e se apropria destes grupos, desse conhecimento,
desta metodologia.
Porque elas tinham uma metodologia,
tem todos os passos para serem seguidos, elas publicaram isso,
folhetos, que eram espalhados, que eram levados para outros lugares.
Ela mesma se apropria disso, vem pra a França e constrói lá.
É bom lembrar que na França vai se chamar inicialmente
de movimento de libertação das mulheres é o MLF,
em diferentes lugares ele vai ganhar este nome
“Movimento de Libertação das Mulheres”,
só depois é que vai ganhando esse nome “feminismo”
Eles tem dificuldades de preencher as cotas
pras mulheres na época das eleições.
Aqui em Florianópolis nesse ano a gente teve eleição
para câmara de vereadores e não foi eleita nenhuma mulher.
Então, o que está acontecendo?
O que acontece nesta nossa sociedade,
que é tão difícil para as mulheres assumirem este papel político?
A primeira mulher a se eleger num cargo no Brasil
foi a Carlota Pereira de Queiroz, que foi em São Paulo,
era uma deputada estadual, foi em 1932
e eu acho que a nossa foi a segunda, que foi a Antonieta de Barros,
aqui em Florianópolis, também foi deputada estadual.
A gente também teve a primeira deputada federal
que se elegeu aqui por Santa Catarina,
que foi a Lígia Doutel de Andrade
e ela foi caçada na ditadura militar
agora faz uns 15 dias, ela recebeu o seu mandato de volta,
simbolicamente ,na câmara dos deputados ela é deputada federal .
porque não ganhou de cara o nome de feminismo?
Pois é isso é uma questão importante.
As sufragistas foram chamadas de feministas.
Aliás, como historiadora eu posso fazer a seguinte afirmação:
em muitos momentos a palavra “feminismo”
foi usada para designar qualquer atitude das mulheres,
ocupando algum espaço que costumeiramente é dos homens.
Por exemplo, querer votar, isso é “coisa de homem”,
era considerada coisa de homem.
Então, se uma mulher reivindicava o voto,
a própria imprensa chamava ela de feminista,
“avanços do feminismo”, eles diziam.
Assim como os movimentos sociais se apropriam de nomes e vão usando,
então isso também tem muito disso,
acho que as sufragistas foram também chamadas de feministas,
só que muito do sufragismo, principalmente o sufragismo inglês,
por uma postura bastante agressiva
e por um preconceito muito forte em relação a elas,
que foram chamadas de masculinizadas.
As mulheres do movimento que começa ali em meados dos anos 60,
esses grupos que vão se autodenominar
Movimento de Libertação das Mulheres,
elas não vão querer ser chamadas de feministas, no começo.
E engraçado como a gente vê isso se repetir, na França,
Movimento Libertação das Mulheres.
No Brasil, em 75,
elas não querem ser chamadas de feministas no inicio.
É também movimento de mulheres, libertação das mulheres,
o grupo “Nós, mulheres”, em 76 vai adotar este nome,
o grupo “Brasil Mulher” em 75,
mas depois de já ter saído alguns exemplares do jornal,
periódico, “Brasil Mulher”. Então,
há uma resistência à palavra,
mas depois elas vão assumir e adotar o nome.
Isso é uma explosão nos anos 70, 75. Principalmente.
Antes disso em 1972, a gente já encontra mulheres brasileiras
que já tinham ido para o exterior, para estudar
ou porque seus parentes foram presos ou por diferentes razões,
passaram a fazer estes grupos de consciência
grupos de reflexão aqui no Brasil.
A gente encontra isso em São Paulo em 72,
no Rio de Janeiro 73, eu acredito.
Branca Moreira Alves no Rio de Janeiro faz isso,
faz um grupo forte,
muitas brasileiras no exterior estão fazendo isso.
Por que elas estão no exterior?
Porque a ditadura militar, desde 64,
está fazendo com que muita gente tenha que fugir para não ser presa,
não ser torturada, não ser morta.
muitas mulheres vão para o exterior,
muitas militantes de grupos armados,
grupos em resistência à ditadura,
armados ou não, são obrigados a ir para o exterior
Ainda bem, né?
O gênero, ele pode mudar,
e é isso que eu acho que é a grande aquisição
que o gênero trouxe pro feminismo e para todos, em geral.
Que é a ideia de que como,
não é uma coisa que vem da natureza da gente,
a gente pode transformar a vida da gente,
a gente pode pensar em outros comportamentos,
em outras formas de viver
que não necessariamente são ligadas a uma biologia,
mas que são construídas culturalmente, historicamente.
Das teóricas feministas,
eu acho que algumas são realmente bastante importantes,
que as pessoas conheçam no meu campo que é a área da historia,
eu recomendo principalmente a Joan Scott,
que tem vários textos publicados inclusive na revista “Estudos Feministas”
e que foi uma das pessoas que elaborou, mais sofisticadamente,
digamos, essa questão do gênero, a categoria de “gênero”
como uma categoria útil de análise histórica, como ela coloca
até em um dos textos mais famosos e mais citados dela.