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Oi todo mundo, gostaria de te falar sobre esse robô. Nos últimos dois meses, esse
alien foi para um mundo estranho para descobrir novas formas de vida que nem sonhamos. Mas
esse mundo estranho é aqui na Terra no fundo do nosso oceano. Antes de contar essa história,
quero dar o status de um jogo de futebol. Alguém falou: pessoas no Brasil gostam de
futebol? Então, estamos no fim do primeiro tempo, e estamos assim: Marte, 1, Fossa das
Marianas, 0. Marte, como você sabe, é outro planeta, talvez sem vida, cheio de pedras.
A Fossa das Marianas é o lugar mais fundo do oceano e não temos um robô nele hoje,
mas, como eu disse, estamos no fim do primeiro tempo. Ao longo da próxima década, você
vai ver uma série de explorações com robôs no fundo desse lugar no oceano para nos dizer
sobre todas as coisas maravilhosas que vivem na Terra que não conhecemos.
Então, onde fica a Fossa das Marianas? A Fossa das Marianas está no canto esquerdo
da foto, aqui, perto da ilha Guam. E a Fossa das Marianas é um pedaço cumprido da crosta
da Terra, que é onde se encontram duas placas tectônicas que estão se mexendo. E onde
essas placas se juntam, temos lugares muito fundos. E ao longo da Fossa das Marianas,
há muitos buracos pequenos, todos eles muito profundos. Um desses, chamado de Depressão
Challenger tem 10,6 km de profundidade e é o lugar mais profundo do oceano. Nos últimos
meses, vimos uma expedição muito famosa para voltar à Fossa das Marianas. Qual é
a profundez disso mesmo? Bem, a Fossa das Marianas é mais profunda do que a Monte Everest
é alta. É duas vezes a altura do Monte Matterhorn. E existe uma pressão muito alta no fundo
dessa fossa. Sabem, as pessoas falam que ir para espaço é difícil, você vai de um
atmosfera para zero atmosfera. Bem, isso não é tão difícil quanto ir até o fundo do
oceano, onde vamos de uma atmosfera a 10.000 atmosferas de pressão.
Essa é uma imagem de um submarino pilotado feita pelo diretor de cinema James Cameron.
E James Cameron também foi parcialmente responsável por financiar a expedição dos robôs construídos
pelos meus colegas Doug Bartlett e Kevin Hardy. E juntos, dois meses atrás, eles voltaram
para o fundo do oceano. Este é um ofício muito especial, você vê que na parte inferior
direita há uma pequena esfera. Esta embarcação está a poucos metros de altura, e à direita,
na parte inferior, há uma esfera minúscula que é mantida a pressão de uma atmosfera.
E dentro dessa esfera pequena há espaço suficiente para uma pessoa, ou talvez haja
espaço para dois terços de uma pessoa. O resto da embarcação sofre os impactos da
alta pressão que ocorrem enquanto a unidade vai para o fundo do oceano. Você também
vê que isso é o tipo de unidade desenhado por um diretor de filme porque tem várias
luzes para fazer vídeos. E é meu privilégio te mostrar hoje algumas cenas destes vídeos
que foram feitos dois meses atrás.
Aqui é uma foto desta unidade, o submarino James Cameron, tirada do robô que mostrei
antes. E porque o robô e o submarino pilotados foram para o fundo do oceano ao mesmo tempo,
eles fizeram vídeos um do outro. E isso é bem mais divertido do que fazer o vídeo sozinho.
Piccard e Walsh foram para o fundo do oceano numa nave chamada de Trieste, uma nave muito
grande, muito cara. E isso foi só alguns meses antes de Yuri Gagarin, que foi para
espaço pela primeira vez. E cientistas nos anos 60 estavam muito animados, pensamos que
fosse uma época para duas grandes explorações, do espaço do fundo do oceano. Bem, estávamos
corretos, pela metade. Estávamos certos em relação à era de exploração do espaço,
mas demorou 52 anos para voltarmos ao fundo do oceano. E isso foi feito por James Cameron,
há apenas dois meses.
Isso deve ser um pequeno vídeo, você pode começar para mim? Esse é um vídeo tirado
do robô. E ali no fundo você vê a nave de James Cameron. Em um segundo, deve começar
a mexer e andar pelo fundo do oceano. Está vendo? Está começando a andar agora. A luz
no canto direito da tela é um braço robótico que Cameron colocou para fazer os vídeos.
E pode ver que está levantado um pouco de poeira do fundo do oceano.
Pode passar o segundo vídeo? Vou mostrar uma montagem tirado de dentro do robô de
James Cameron. Isso é através de uma câmera Imax. Se não é 3D, não é real, segundo
Cameron. Esse é um pequeno braço robótico da nave pilotada. E no fundo, você vê o
robô. Esse é o segundo piloto da embarcação, um cara chamado Rod Allen. Ele não conseguiu
dirigir muito, James Cameron queria fazer tudo sozinho. Ali vocês vêm o braço do
robô deitado no fundo do oceano. Isso era um *** com aproximadamente 4 km de profundidade,
não no fundo do oceano.
Deixe-me contar um pouco mais sobre esse robô e o que ele foi projetado para fazer. Este
robô é projetado para ir a locais que não vamos há 52 anos e é feito para tirar amostras
de vida. Existem muitos experimentos a bordo. E tenho que dizer que os tipos de vidas mais
interessantes que vamos achar são as viroses e as bactérias e os protistas, que você
ouviu hoje, mais cedo. Na verdade, só tem por volta de 200 pessoas no mundo que sabem
o que é um protista e a maioria está aqui hoje. É claro que temos interesse em outros
tipos de vida. Então, nesse robô, tem um pequeno braço que vem para baixo e dobra-se
quando se chega ao fundo do oceano, com uma armadilha com isca. E essa armadilha é projetada
para capturar qualquer tipo de novas formas de vida, sejam elas invertebradas, ou talvez
uma enguia ou, em ocasiões favoráveis??, até um peixe. Vou tentar mostrar mais sobre
essa armadilha com presa enquanto continuo a falar com vocês.
Como a nave de James Cameron, esses são objetos sem conexão a terra, não existe um cabo
descendo 10,6 km no oceano. Esse robô é inteligente suficiente que, quando o deixamos
descer, ele vai até o fundo do oceano e fica ali por muitos dias, fazendo vários experimentos.
Quando nota que está ficando sem bateria, é inteligente suficiente para sair do fundo
do oceano e subir para a superfície. E esperamos que o oceano seja tranquilo como aqui, neste
dia de ***, para podermos tirar o robô da água e terminar a missão. É assim que
o robô fica na água. Descende muito facilmente e rápido até o fundo do oceano. Para percorrer
todo o caminho até o fundo do oceano leva cerca de duas horas. É uma descida muito
rápida. É o mesmo tempo da nave de James Cameron. E quando essas naves terminam seu
trabalho, elas se deslocam do fundo do oceano e sobem para a superfície em apenas uma hora.
Isso é bem rápido em comparação a alguns experimentos mais antigos.
Então, vamos falar um pouco sobre por que querem entender o oceano. Esta fotografia
foi tirada do robô. Foi depois que o braço desceu até o fundo do oceano. O recipiente
azul existe para tirar uma amostra de água do fundo do oceano. Tem a capacidade de conter-se
e adaptar-se à pressão enquanto sobe de 10.000 atmosferas até 1 atmosfera, na superfície
do oceano. E depois disso fica a armadilha com isca. Agora tenho uma pergunta para vocês:
que tipo de comida você colocaria na armadilha para atrair vida no fundo do oceano? O que
acha? O que colocar na armadilha? O que comem lá embaixo, aos 10.600 metros? Sim, claro,
é frango. Então, colocamos frango na armadilha. Eles têm tanta fome lá embaixo... o que
você come para sobreviver lá no fundo do oceano? Está ali esperando para alguém morrer
a uns 10 km acima. Quando finalmente morrem, eles flutuam para baixo, às vezes são carregados
pelos correntes, às vezes eles caem bem em cima de você e você os agarra quando morrem.
Em algumas das fotografias tiradas pelos meus colegas, temos evidências de baleias grandes,
talvez algumas orcas, que afundaram até o fundo do oceano, e seus esqueletos estão
lá no fundo. Mas a verdade é que, em um dia, os invertebrados que vivem no fundo do
oceano são capazes de limpar qualquer carcaça que chegar por lá, seja ela de frango ou
de baleia.
Então, essa será uma grande história de exploração, ao longo dos próximos dez anos.
Demoramos 52 anos para chegar até o fundo do oceano. Mas eu quero usar essa informação
de forma que eu consiga emocionar vocês em relação ao oceano. Vamos pensar por um segundo
sobre todas as maneiras que usamos o oceano. 50% do oxigênio que respiramos vem do oceano,
dos micróbios no oceano. Então, a cada duas respirações, você deve agradecer o oceano.
Usamos o oceano para transportar todos nossos bens, tudo que Brasil exporta, tudo que Europa
e América do Norte importa, quase tudo, 98% vem do oceano. Usamos o oceano para perfurar
e obter óleo e gás. Usamos o oceano para obtermos proteína, o peixe. Mas temos a tendência
de usar o oceano para outras coisas também. Quando for para o coffee break daqui a algumas
palestras, você pode ir lá em cima e olhar para o oceano. E como a maioria das pessoas,
quando vai para a beira do oceano, você olhe para ele. Você não vai virar para trás
e olhar para a terra, porque nós, os seres humanos sempre fomos inspirados pelo oceano.
Assim, ele cobre 71% do nosso planeta, é de todos, mas não é de ninguém, mas não
cuidamos tão bem dele.
Vamos pensar então em todas as maneiras que temos maltratado o oceano. Para quase um terço
do nosso estoque pesqueiro, estamos pegando peixes demais, um número insustentável de
peixes. E mesmo sendo a fonte principal de proteína para um bilhão de pessoas no mundo,
é um mau uso, estamos tirando muito desse recurso abundante. Estamos adicionando dióxido
de carbono na água do oceano; aproximadamente um terço do dióxido de carbono que geramos
nos últimos 150 anos está dissolvido no oxigênio. De certa forma é uma coisa boa,
porque não está estragando o planeta como os outros dois terços, mas fez com que o
oceano ficasse mais ácido. Agora tudo que faz conchas de carbonato de cálcio está
tendo mais dificuldade. E se continuarmos assim, eventualmente será impossível, pelas
condições termodinâmicas, ter organismos com conchas de carbonato de cálcio. Seria
a primeira vez em 55 milhões de anos que existiria um oceano assim. Estamos fazendo
mais coisas com o oceano, estamos fazendo ficar mais quente, está esquentando drasticamente
nos últimos 30 anos. E está expandindo porque está esquentando. E como a maioria das coisas,
quando esquenta, expande. Por isso o mar está subindo. É uma combinação entre a expansão
térmica do oceano e os glaciares descongelando por conta dos gases de efeito estufa, dióxido
de carbono. Outros estão esquentando o planeta e derretendo o gelo que está atualmente na
terra. Agora, pense em todas as maneiras que estamos maltratando o oceano. É nosso amigo,
produz oxigênio, mas não cuidamos dele. Espero que leve isso como uma questão pessoal,
principalmente nessas duas semanas de Rio+20, sabendo que nossos oceanos são nossos amigos
e precisamos cuidar deles. Obrigado.