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Egito, na época dos faraós...
um império rico e poderoso.
Mas o povo de Israel vive em escravidão...
oprimido por um faraó tirano.
Para libertá-los, Moisés manda dez pragas sobre a terra do faraó.
Como a fúria de Deus, elas se espalham pelo Egito.
As pragas trazem desolação, doenças e morte.
Ao menos, de acordo com a Bíblia.
Seria tudo só uma lenda?
Ou esses eventos aconteceram de verdade?
As águas do Nilo viram sangue...
os peixes morrem, as rãs invadem o território.
Os insetos atacam os seres humanos e os animais.
As doenças vêm a seguir.
Estas pragas bíblicas são desastres reais do passado...
guardados na memória das pessoas que passaram por isso?
Cientistas escavando uma antiga cidade egípcia têm provas incríveis...
de que a mudança de clima pode ter sido a causa das pragas da Bíblia.
Biólogos descobrem provas de uma reação natural em cadeia.
O que aconteceu no Nilo há três mil anos?
Jerusalém, 700 anos antes de Cristo.
Na próspera capital dos israelitas...
há o espírito de renovação religiosa.
Nas escrituras modernas e nos manuscritos do Templo...
estudiosos hebreus juntam textos antigos e memórias folclóricas...
para formar uma obra épica.
É a criação das Sagradas Escrituras.
Aqui é onde os autores escrevem a história das Dez Pragas.
Um evento central em um grande épico.
Uma nova e radical narrativa de revelação e criação.
Um novo Deus aparece no palco da fé.
Ele se mostra a Moisés sob a forma de sarça ardente.
O único e todo-poderoso, o Deus Javé.
Ele escolhe Moisés como seu profeta...
e o povo de Israel como seu povo.
No Egito, os israelitas vivem em escravidão, a serviço do faraó.
Deus prometeu-lhes liberdade e uma terra natal.
Moisés fica encarregado de tirá-los da escravidão...
e levá-los para Israel.
É uma viagem extraordinária e árdua a que a Bíblia descreve.
O livro do Êxodo captou essa história com palavras.
Não sabemos que manuscritos inspiraram os escritores.
Dataram as histórias originais muito antes de seu próprio tempo.
E em seu centro está a figura heróica de Moisés.
Como profeta de Deus, exige que o faraó liberte seu povo.
Sinais e milagres devem demonstrar o poder de Deus.
Sob seu comando...
a vara de Arão transforma-se em uma cobra, diante do rei egípcio.
O duelo, o *** de força...
começa.
O faraó não fica impressionado.
Seus feiticeiros são igualmente poderosos.
Quando as cobras batalham, e a cobra de Moisés vence...
o faraó não admite derrota.
A Bíblia diz que seu coração endurece...
e ele se recusa a libertar o povo de Israel.
Não é possível confirmar as escrituras, historicamente...
porque o inimigo de Moisés, o faraó, não foi citado por nome.
Mas há traços do local do evento...
com a menção de duas cidades egípcias...
Pitom e Ramsés.
É interessante que, na Bíblia, na história do Êxodo...
o faraó não tem nome.
Mas o primeiro capítulo do Êxodo cita dois nomes de cidades...
Pitom e Ramsés.
É bem possível que os autores tivessem pensado em Pi-Ramsés...
então capital do Egito, quando escreveram essa história.
Pi-Ramsés era uma grande metrópole do delta do Rio Nilo...
mas esta cidade, a cidade bíblica de Ramsés...
de repente, desapareceu do mapa no tempo antigo...
e só foi redescoberta no final do século XX.
O desaparecimento da cidade intriga arqueólogos e historiadores.
Teria sido causado por desastres naturais?
Egito, o delta do Nilo.
Enquanto escavava os arredores de Qantir, nos anos 90...
o arqueólogo Edgar Pusch achou a fundação da cidade de Ramsés.
Viemos aqui para ver se as teorias estavam corretas.
Se a cidade de Ramsés era aqui.
Sabíamos que estávamos corretos, mas não havia provas.
Uma placa no portão da cidade, uma placa da entrada...
"Você está entrando na cidade de Ramsés", não existe.
Qantir, no delta do Nilo, 1996.
A equipe de Edgar olha a superfície com um magnetômetro de césio...
uma faixa de cada vez.
Esta técnica pode detectar restos de construções antigas...
a cinco metros de profundidade.
Fornece um tipo de raios-X de construções desaparecidas.
Quando as imagens foram analisadas...
os resultados foram sensacionais.
Descobriram uma cidade totalmente desconhecida...
com avenidas largas e becos estreitos.
Bairros elegantes...
quarteirões com dormitórios para os trabalhadores...
templos e palacetes.
E era extremamente grande.
Esta cidade estende-se por uma área de 30 km.
Vários afluentes do Nilo na região da Pelúsia passavam por ela.
Era, sem dúvida, uma cidade fabulosamente rica.
Os Papiros de Anastasi, em seu Hino de Esplendor, conta...
que todo mundo queria morar lá.
O grande faraó Ramsés II...
deu seu nome à lendária cidade de Ramsés.
Sua localização privilegiada no Nilo faz com que seja...
uma atração poderosa para comerciantes e turistas.
Um turista conta, entusiasticamente, a um amigo.
Este é um lugar maravilhoso para se ficar.
Esta região está cheia de coisas boas.
Há cebolas, alface, romãs...
azeitonas, figos e vinho doce.
Todo mundo é feliz, e ninguém diz: "Ah, se eu pudesse ter..."
O povo comum está tão bem quantos os ricos.
Pi-Ramsés parece ser um paraíso.
Não há registros de crise alguma...
nem uma série de pragas.
Mesmo assim, a cidade passaria por uma tragédia que mudaria tudo.
Aqui, ao lado do rio sagrado...
Pi-Ramsés foi construída para a toda eternidade.
O Nilo garantia o futuro da cidade.
Ao longo de sua extensão, os antigos egípcios adoravam o rio.
Suas águas faziam o deserto florescer.
Toda vida estava ligada a ele.
A Bíblia diz como Moisés chamou a primeira praga...
com um golpe da vara no rio.
A praga atinge os egípcios em seu estado mais vulnerável.
A vida deles transforma-se em uma maré de morte.
O Nilo fica vermelho, começa a feder e torna-se impotável.
Assim como o Deus Javé havia previsto...
todas as águas do Egito transformaram em sangue.
A água potável fica contaminada. Os peixes morrem.
Histórias das Pragas. As pragas, de um a nove...
refletem o conhecimento obtido através da experiência.
Chamávamos de conhecimento científico experimental...
combinado com adivinhações de especialistas.
Na Escola do Templo de Jerusalém, pegavam um evento ocorrido...
algo raro de acontecer, e tentavam explicar.
O Nilo ter ficado sujo ou vermelho não era novidade para os egípcios.
Tempestades de areia depositavam terra vermelha na superfície da água.
Todo ano, com as inundações...
terra vermelha das montanhas da Etiópia eram varridas até o rio.
Não eram eventos catastróficos...
mas, se o rio ficasse contaminado...
seria um desastre para toda uma sociedade.
No Instituto Leibniz para Ecologia da Água e pescaria de Berlim...
estudam a complexa interação dos sistemas ecológicos.
Aqui, os hidrologistas acreditam que a primeira praga...
a contaminação do Nilo, pode ter sido causada...
por uma infestação de algas azuis venenosas.
Têm até um suspeito principal.
Estão investigando as propriedades da microalga perófita.
Na verdade, uma bactéria.
Cuja descrição cai melhor do que a de qualquer outra alga.
Cresce em água doce.
Sabemos que existia há três mil anos.
É muito tóxica.
E tem cor avermelhada.
O biólogo Stephan Pflugmacher...
está intrigado com a possibilidade de solucionar um antigo mistério.
Uma explicação possível para a coloração avermelhada do Nilo...
pode ser a aparição das algas perófitas. Oscillatoria rubescens...
uma linda espécie de cianobacteria com cor de framboesa.
Multiplica-se em águas mornas e lentas com alto nível de nutrição.
Quando morrem, mancham a água de vermelho.
Na costa oeste da Flórida, encontram um fenômeno parecido.
Frequentemente, vêm algas perigosas com efeitos desastrosos.
Esta ocorrência tóxica é conhecida como maré vermelha.
A alga não é sempre vermelha.
Em águas mais profundas é incolor.
Então, os cientistas pegam amostras em níveis e locais diferentes...
para ver quanto as bactérias se espalharam.
Allan Cembella é um dos principais especialistas no estudo de algas.
Em alguns casos, as algas formam uma camada superficial...
sobre as águas. É o que chamam de maré vermelha clássica...
onde pode ver a descoloração da água, mas...
muitas vezes crescem sob a superfície.
Não se pode ver nada a olho nu, na água.
Estas algas são chamadas Karenia brevis.
Têm centésimos de milímetro de extensão.
É uma alga agressiva e tóxica, que expele gás de nervos.
Os cientistas encontraram mais de um milhão por litro nas amostras.
Uma alga Karenia pode durar semanas, meses ou até um ano.
Hoje, mais de 60 espécies de algas tóxicas...
foram identificadas em oceanos, lagos, e rios.
E não há nada que possamos fazer.
As algas surgiram, supostamente, há centenas de milhões de anos.
Não é novidade.
Apareceram muito antes de os seres humanos existirem...
e existirão muito depois de o homem desaparecer da Terra.
A praga das algas pode ter ocorrido a qualquer momento no passado.
E, certamente, no antigo Nilo egípcio.
A primeira praga da Bíblia acaba após sete dias.
É a primeira vitória do Deus Javé sobre o faraó e seus deuses.
Assim como Hapi...
o deus dos rios, que os egípcios adoravam no Nilo sagrado.
Esta estátua que afundou na costa da Alexandria, no Mediterrâneo...
é prova de sua importância.
Hapi...
poderoso rei do Nilo.
Uma das maiores divindades egípcias.
Mas na primeira praga...
a Bíblia deixa bem claro que ele também não tem poder.
Pode-se dizer que a história das pragas...
é uma luta entre os deuses...
porque o faraó representa os deuses do Egito.
O panteão todo.
E, ao atacar o faraó, Javé está atacando os deuses do Egito.
Então, a ideia das pragas é mostrar que Javé é superior ao Egito...
superior ao faraó e aos deuses que ele representa.
O milagre da primeira praga não faz com que os israelitas sejam libertados.
O faraó, segundo a Bíblia, torna seu coração mais endurecido.
E o Senhor instrui Moisés...
"Vá até o faraó e lhe diga...
"Assim diz o Senhor, deixe meu povo ir para que me preste culto.
Se não o deixar ir, mandarei sobre seu território uma praga de rãs".
O faraó com quem Moisés lida é teimoso.
Ele tem uma opinião um tanto exagerada sobre si.
É um déspota, oprimindo as pessoas de modo arbitrário.
É uma representação errada e maliciosa...
uma visão polêmica do Egito.
Porque, claro, os deuses estavam acima do faraó.
E ele tinha de responder a eles.
A Bíblia não menciona, naturalmente...
que os egípcios tinham um conceito próprio de justiça.
O faraó sabia perfeitamente que os deuses estavam acima dele.
O faraó da Bíblia fica de coração endurecido.
Após a maré vermelha, a desgraça da segunda praga vem a seguir.
As rãs saem das águas aos milhões.
A população de rãs varia naturalmente em tamanho.
No Instituto Leibniz em Berlim...
os cientistas estão tentando descobrir...
o que poderia causar a praga das rãs.
Que mudanças ambientais causariam um desenvolvimento anormal...
e uma gigantesca metamorfose.
A transformação de girinos em rãs controlada por hormônios.
O processo geralmente leva de oito a dez semanas.
Os cientistas descobriram que o estresse ambiental...
acelera a metamorfose das rãs.
Nesta experiência, os girinos são estressados artificialmente.
Recebem hormônios extras.
O nível de metamorfose é medido sob o microscópio.
Acontece que condições ambientais negativas podem quase duplicar...
o nível de desenvolvimento das rãs.
O Professor Werner Kloas...
explica quais estímulos ambientais são os maiores culpados.
Quando girinos ficam estressados...
principalmente, em uma seca, e quando há falta de oxigênio...
esse estresse ambiental acelera a transformação deles em rãs.
A glândula da tireóide dos girinos liberam hormônios extras...
e como resultado milhares de rãs podem aparecer.
As rãs dominam o território, invadindo as casas dos egípcios.
Chegam até ao palácio do faraó...
mas o faraó se recusa a libertar os israelitas.
Os planaltos de Qantir escondem milhares de anos de história.
A grande cidade de Pi-Ramsés.
A localização histórica para a cidade bíblica de Ramsés.
Ramsés II, o maior faraó de todos.
Nenhum outro governante do Egito teve tanto prestígio.
Ele também foi a inspiração para o faraó sem nome da Bíblia?
Sabemos que ele transformou Pi-Ramsés em sua capital...
e símbolo de seu poder.
Em uma planta da antiga metrópole...
a escala impressionante da cidade é vista claramente.
O centro de Ramsés é uma ilha...
rodeada pelos afluentes do Nilo, na região da Pelúsia.
No oeste da cidade, está o distrito de classe alta...
separado da região da Pelúsia por esta linha escura...
uma barragem ao longo do rio.
Pode-se ver que é o distrito elegante...
porque as ruas estão distribuídas em uma grade retangular...
com lotes e casas individuais...
cujas plantas têm milhares de metros quadrados.
Na costa leste da cidade fica o distrito dos trabalhadores.
Pode-se ver que os trabalhadores e artesãos...
moravam em casas pequenas, com poucos quartos...
e com uma área muito pequena.
Ramsés II transformou o Egito em uma obra em construção...
criando templos e estátuas gigantescas...
em escala jamais vista.
Monumentos eternamente associados a seu nome.
Ele precisava de mão-de-obra farta e barata.
Prisioneiros de guerra tornaram-se escravos para construírem a cidade.
Outros vieram por vontade própria.
A riqueza do Egito atraía os imigrantes.
Muitos fugiam da pobreza de sua terra natal.
Seriam essas as pessoas a que a Bíblia se refere, quando diz...
"Construíram cidades-tesouro para o do faraó: Pitom e Ramsés"?
Mas não há nenhum documento histórico...
que fale da presença dos israelitas no Egito.
Tudo que sabemos sobre as pessoas que rodearam Moisés...
é que eram de tribos nômades da Palestina.
A era de Ramsés II ficou conhecida como Anos Dourados...
nas crônicas do Egito. Não houve adversidade...
nenhum desastre bíblico para ocultar seu esplendor.
Mas, cem anos após Ramsés ter morrido...
a poderosa cidade seria o alvo de destruição e decadência.
Pi-Ramsés é abandonada.
O que houve?
O desaparecimento desta metrópole poderosa...
continua sendo um mistério.
Academia de Ciências e Humanidade de Heidelberg.
Os paleoclimatologistas Augusto Mangini e Nicole Vollweiler...
estudam mudanças climáticas ocorridas há milhares de anos.
Descobriram ligações incríveis...
entre o clima e a ascensão e queda de civilizações.
Hoje, estão procurando o motivo para a cidade de Ramsés...
ter desaparecido misteriosamente.
Esta estalagmite tem milhares de anos.
Sua vida interior dirá a Mangini a data de que precisa...
para recriar a histórica curva climática.
Estalagmites mostram que nossos ancestrais...
sofreram mudanças climáticas repetidas vezes.
Aliás, podem nos mostrar um registro preciso...
de variações de temperatura...
e períodos de seca e de chuvas no passado antigo.
Cavernas de estalagmite são criadas quando a água da chuva...
escorre da superfície. Descendo pelas camadas de terra e rochas...
associa-se ao carbonato de cálcio...
e se solidifica no chão da caverna como calcário.
Inúmeras gotículas de água evaporada acumulam-se...
e formam as colunas rochosas.
Todo período de seca e de chuva pode ser traçado...
no registro histórico de crescimento das estalagmites.
Pode se calcular sua idade através da composição de seu isótopo.
Primeiro, as amostras são colocadas em um ácido...
para separá-las em seus elementos constitutivos.
Ao crescer...
o calcário das estalagmites absorve traços de elementos radioativos.
A concentração dos elementos contém dados para o cálculo de sua idade.
Usa-se um espectrômetro de massas...
para medir o isótopo e datar as estalagmites precisamente.
Leva duas longas semanas para ver se as estalagmites podem ajudar...
a desvendar o mistério de Pi-Ramsés.
Por fim, os cientistas transformam os dados em uma curva climática.
Mangini e Vollweiler correlacionam a curva climática...
com as eras das dinastias egípcias.
Têm certeza que cada ascensão e queda de uma cultura...
tem um correspondente em picos climáticos e masseiras.
O período do reinado de Ramsés é realçado em cores.
Depois do pico de um clima quente e chuvoso...
há uma queda no clima.
O faraó Ramsés II reinou em um período climático favorável.
Chovia bastante, e seu país floresceu.
Porém, este período de chuva só durou algumas décadas.
Depois do reinado de Ramsés...
a curva climática vai drasticamente para baixo.
Há um período de seca que teve consequências sérias.
A mudança de clima causou o colapso repentino de Pi-Ramsés.
Por algum motivo, os habitantes da cidade tiveram de ir embora.
Arqueólogos encontraram a primeira pista eventual...
para um motivo, a 30 km da cidade de Ramsés...
em uma escavação muito mais antiga.
A cidade de Tânis.
Por muito tempo, achamos que Tânis fosse Pi-Ramsés...
porque lindos objetos arquiteturais foram encontrados lá.
Obeliscos de granito e estátuas de quartzo.
Todo tipo de coisa com o nome de Ramsés II.
Todos contavam a história sobre o poder e esplendor da cidade.
Uma história que vemos nos Hinos e nos contos egípcios.
Nas ruínas de Tânis, encontraram o cartucho real de Ramsés II...
o símbolo inequívoco do faraó.
Mas faltavam o pedestal e os pés de todas as estátuas.
Só havia uma explicação possível...
todas as estátuas tinham sido transportadas a Tânis.
Então, esta não poderia ser a cidade original de Ramsés.
Mas por que levaram tudo para lá?
Na história da Bíblia, os desastres no território do Nilo pioram.
Para forçar o faraó a ceder e libertar o povo de Israel...
o Deus Javé puniu os egípcios com a terceira e quarta pragas.
Nuvens de mosquitos e moscas assolaram o território.
Todo pó, segunda a Bíblia, transformou-se em insetos.
Talvez a cidade de Ramsés tenha sido devastada...
por uma série real de pragas...
que encontraram um modo, segundo a memória popular...
de acabar no livro do Êxodo.
Quando os arqueólogos viram...
que Tânis não podia ser a cidade de Ramsés...
começaram a procurar em outro lugar.
Só sabiam que Ramsés construíra sua capital...
no afluente leste do Nilo, na região da Pelúsia.
Aqui, estamos na margem norte de Pi-Ramsés.
Estes são os últimos traços do braço pelusiano do Nilo.
É preciso imaginar que esta era a principal via de comércio então...
com 200 m de largura.
Hoje, é uma vala bem estreita mas profunda.
Atualmente, ainda é usada para drenagem.
No decorrer dos milênios, o Nilo alterou sua rota continuamente.
A areia do deserto e a lama das inundações anuais...
enchiam um afluente, outro se abria.
Para poder identificar a localização de Pi-Ramsés...
primeiro é preciso encontrar o antigo braço pelusiano do Nilo.
Durante anos, Manfred Bietak reconstruiu...
todos os antigos cursos do Nilo.
Ele descobriu como o delta era na época do faraó...
comparando mapas arqueológicos...
com as linhas de contorno de um mapa topográfico...
que revelava mudanças bruscas na paisagem.
Pode-se acompanhar a topografia do território...
de uma linha de contorno à outra.
E com nossa reconstrução do delta leste do Nilo...
é muito claro onde ficava o braço leste do Nilo.
Assim, percebemos que a cidade de Pi-Ramsés só poderia ser...
em um lugar...
ou seja, em Qantir.
Nas escavações em Qantir, encontraram provas concretas.
Milhares de pedaços de cerâmica do tempo de Ramsés...
mas nada de períodos posteriores.
A única conclusão possível era...
que os habitantes teriam abandonado sua cidade há três mil anos...
dando as costas a toda região.
Tinha de haver um motivo muito bom para se abrir mão de uma cidade...
com uma posição estratégica tão fantástica como esta.
A explicação mais provável é que o braço pelusiano do Nilo...
ficou cheio de detritos no curso abaixo de Pi-Ramsés.
E Pi-Ramsés teve de ser abandonada.
O clima havia mudado.
Um longo período de seca e ventos fortes devastou a paisagem do Nilo.
Ainda não sabemos o que causou mudanças climáticas tão drásticas...
e as consequências dramáticas que vieram a seguir.
O gráfico do clima do mundo antigo...
revela mudanças repentinas no decorrer dos milênios.
Os paleoclimatologistas explicam as mudanças radicais...
nessas primeiras sociedades.
Nenhuma cultura abre mão de sua terra natal...
com cidades esplêndidas, espontaneamente...
a não ser que haja um motivo muito dramático.
Se olharmos os resultados de nossas pesquisas...
quanto ao comportamento de nossos ancestrais...
fica logo muito claro...
que o clima sempre teve um papel extremamente importante.
E o longo período de seca pode ter sido um motivo para irem embora.
Pi-Ramsés virou uma cidade-fantasma.
Aos poucos, o Nilo, sangue vital da cidade...
transformou-se em lagos de água parada e cheios de detritos.
Seriam as algas, os peixes mortos e os insetos resultado disso?
Seria essa a causa das histórias das pragas descritas na Bíblia?
Quando um rio para de fluir, há consequências biológicas.
A água que aflora sobrecarrega-o com nutrientes.
Como resultado, as algas crescem, e o oxigênio se esgota.
Hidrologistas em Berlim estão reproduzindo esse cenário...
plantando algas em tanques experimentais.
Adicionam nitrato e fosfato à água com algas perófitas.
Na natureza, a água ficaria vermelha em duas, três semanas...
indicando presença maciça de organismos tóxicos.
Os *** de laboratório mostram por que algas perófitas...
podem destruir um habitat de água natural.
As medidas mostram os níveis de oxigênio na água...
baixando cada vez mais...
enquanto aumenta a concentração de algas.
Estas são consequências biológicas, quando água corrente fica parada.
A água fica mais enlameada, a correnteza diminui...
e a temperatura da água aumenta.
O aumento de nutrientes que segue pode levar algas azuis a crescerem.
As algas azuis podem ser muito tóxicas.
Podem iniciar uma reação biológica em cadeia...
como aquela descrita na primeira praga.
O rio ficou vermelho, os peixes morreram...
as rãs saíram das águas, depois morreram.
Agora, os insetos podiam multiplicar-se livremente.
Em uma ecologia autocontrolada...
o número de insetos no rio é controlado por rãs e peixes.
Mas, sem um regulador natural...
a reprodução de insetos aumenta de modo explosivo.
Pode imaginar uma reação em cadeia assim...
um aumento drástico no número de rãs...
seria seguido por uma quantidade drástica de rãs mortas.
Então, não estariam mais lá para comer os insetos.
Sem as rãs e os peixes, os insetos se multiplicariam exponencialmente.
Sabemos que insetos muitas vezes carregam doenças como a malária.
O próximo passo na reação em cadeia é um surto epidêmico...
levando a população humana a adoecer.
Os autores da Bíblia deixam que as pragas se sucedam...
uma atrás da outra, como atos de Deus.
Seriam essas memórias populares de pessoas que passaram...
por desastres naturais semelhantes?
Após a praga dos insetos, doenças espalharam-se entre os egípcios.
As moscas e mosquitos se foram...
e ainda assim o faraó não libertou os israelitas.
Então, Javé anunciou a praga seguinte a Moisés.
Na prova de força com o governante-deus do Egito...
as pragas cinco e seis atingiriam agora homens e animais...
sem misericórdia.
Acontece de manhã, bem cedo.
Quando o sol nasce, Deus manda uma doença sobre o gado egípcio.
E, logo a seguir, como outro sinal de Deus...
há um surto de catapora entre o povo.
O que a Bíblia descreve como as seis primeiras pragas...
pode ter acontecido no local onde ficava a antiga Pi-Ramsés.
À medida que as águas baixavam no braço pelusiano do Nilo...
antes de desaparecerem completamente e assorearem...
as águas paradas levaram à praga dos mosquitos.
A malária irrompeu, outras pragas e doenças apareceram.
Afetaram a população de tal modo que, sem suprimento de água fresca...
a vida nesta região, embora pareça surpreendente, tornou-se impossível.
Assim, as pessoas tiveram de migrar para regiões mais saudáveis.
O processo gradual de decadência...
deve ter afetado profundamente a vida na cidade moribunda.
Temos cópia de um documento antigo dessa época...
que mostra espantosos paralelos com a história bíblica das pragas.
O Papiro Ipuwer.
O Rijksmuseum van Oudheden, em Leiden...
guarda esse misterioso documento egípcio.
Os avisos de Ipuwer.
Esse texto intrigante, de 4 m de comprimento...
foi escrito centenas de anos antes da compilação do Velho Testamento.
No Papiro Ipuwer, o autor...
imagina uma sociedade totalmente em caos...
onde as pessoas se revoltam contra seus antigos senhores.
Então, os servos ficaram com os tesouros...
e quem era rico perdeu tudo. Houve fome...
as pessoas morriam de fome, o Nilo não inundava corretamente.
Os deuses estavam bravos com os egípcios.
E compara isso com a vida feliz que o Egito poderia ter...
sob seu rei, quando segue a tradição de seus ancestrais.
É o que ele quer dizer.
Ipuwer. Supomos que seja o nome do sábio que escreveu o texto.
Em estilo poético, ele descreve desastres em escala colossal.
Água vira sangue. A sociedade entra em caos.
A natureza vira-se contra o ser humano.
Granizo e escuridão caem sobre o país...
os animais e seres humanos morrem.
As pragas bíblicas contam quase a mesma exata história.
O texto bíblico não foi escrito como algo independente...
de tudo que aconteceu em outro lugar, no Oriente Próximo.
Ele é parte de uma tradição literária.
Parte da tradição que já tem mais de mil anos.
Então, não é de se surpreender que encontremos elementos...
como a descrição de desastres naturais...
que parecem conhecidos, quando se conhece o texto de Ipuwer.
Há algo semelhante na Bíblia.
Não sabemos exatamente quando o texto foi escrito.
O original nunca foi encontrado.
A cópia que temos aqui, em Leiden, é a única que existe.
É uma cópia feita por um egípcio...
por volta do período do famoso faraó Ramsés II.
Por que a cópia do poema sobre desastres...
seria encomendada na época do declínio da Pi-Ramsés?
Mais do que coincidência?
Em Pi-Ramsés, o assoreamento do rio sela o destino do povo.
A capital de Ramsés é condenada à destruição.
Os cidadãos levam construções inteiras...
arrancam as estátuas dos pedestais.
Levam tudo para Tânis, esperando poder recomeçar.
Os monumentos de Tânis são prova da força de vontade humana...
mas também do impressionante poder da natureza.
A natureza reivindicou Pi-Ramsés.
Em Qantir, em um campo de milho...
a descoberta de um pedestal comum fecha o círculo da história.
Com grande esforço...
quase toda a cidade de Pi-Ramsés foi desmantelada...
ou, pelo menos, as partes feitas de pedra.
E levada para outros locais para construir novas casas e palacetes.
A demolição e reconstrução pode ser vista claramente...
nas grandes estátuas de Ramsés II. Aqui estão os pés. Em Qantir.
É este o lugar a que a Bíblia se referia?
É esta a cidade de Moisés, o herói da luta contra o faraó?
A cidade das pragas e milagres enviados por Deus?
Na história de Moisés e das pragas, o faraó não tem nome.
Ele apenas representa o poder tirano oprimindo o povo de Israel.
Quando os textos da Bíblia foram escritos...
o faraó Ramsés II era apenas uma lenda.
Para os egípcios, na época em que a Bíblia foi escrita...
Ramsés era a personificação de um faraó.
Ele era virtualmente sinônimo do título "faraó".
Nem era preciso dizer seu nome.
E, do nome dado à cidade, o Velho Testamento só diz Ramsés...
fica claro que viam este faraó como "o" faraó.
Através do nome Ramsés, queriam evocar o grande poder do Egito.
Ele é o símbolo do Egito como superpotência.
O faraó Ramsés II não viveu para ver a queda de sua capital.
Morreu aos 85 anos.
Em 1881, sua múmia foi descoberta em um túmulo anônimo.
Quando seus restos foram transportados para o Cairo...
milhares de pessoas alinharam-se nas margens do Nilo.
Ninguém lembrava os desastres do passado...
só o esplendor de uma era dourada.
Tudo começou com um rio vermelho.
Peixes morrem...
rãs invadem a terra.
Nuvens de mosquitos e outros insetos vêm a seguir.
Doenças matam seres humanos e animais.
E temos as seis primeiras pragas do Velho Testamento.
O assoreamento do rio é o fim da cidade de Pi-Ramsés.
Desastres ambientais, como o descrito na primeira praga...
seria um cenário totalmente realista.
Depois das seis pragas, Deus disse a Moisés...
"Diga ao faraó: "Deixe meu povo ir...
ou mandarei todas minhas pragas sobre seu coração...
sobre seus servos, sobre seu povo".
Mas o faraó não deixou que seu coração cedesse à ameaça.
As pragas continuaram.
E a magnitude dos desastres aumentou.