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Um grupo extraordinário de animais
disputa conosco o domínio do planeta.
Eles reinavam nos mares e foram os primeiros a aventurar-se em terra.
A conquista da terra firme foi um evento crucial na história da vida.
Foi um marco, um avanço impressionante.
Com membros e corpos adaptáveis,
eles invadiram todo tipo de ambiente,
dotados pela natureza para resistir a quase qualquer tipo de desafio.
Suas crias passaram a aterrorizar a fauna de água doce.
E, superando barreiras inimagináveis,
chegaram até a dominar a arte do vôo
e espalharam-se pelo planeta afora como conquistadores.
Eles estão em todos os habitats.
Se todos desaparecessem, a vida na Terra desapareceria junto.
Quem foram esses invasores obstinados,
e o que os levou a tamanho sucesso?
Um sucesso que hoje tentamos imitar.
Venha conosco numa viagem no tempo
para compreender o mais diversificado grupo animal que já existiu.
ORIGENS DA VlDA
Planeta Terra, 500 milhões de anos atrás,
bem antes do aparecimento do primeiro dinossauro.
Naquela época, a terra firme, castigada por temperaturas extremas,
era tão inóspita que não havia animal ou planta capaz de sobreviver nela.
Os únicos animais que existiam habitavam o mar,
berço de toda a vida.
Muitas espécies desse tempo eram bizarras,
quase irreais.
Entre elas, um grupo descobriria um meio de deixar o ambiente aquático.
Mas quais foram as criaturas a dar os primeiros passos em terra firme?
Por muito tempo, sua identidade foi um mistério para a Ciência.
Pistas que poderiam identificá-los surgiram em locais surpreendentes.
O povoado de Sennybridge fica no território galês do Reino Unido.
Cientistas recorrem a este cenário pastoril,
que guarda rastros dos primeiros seres marinhos
a se aventurarem em terra.
Tais evidências fósseis podem ajudar a revelar sua identidade.
Vamos olhar aqui embaixo.
No terreno rochoso, o paleontólogo Simon Braddy
busca pistas do passado.
Veja o que temos aqui.
Uma das coisas maravilhosas de meu campo de estudos
é que realmente é uma Ciência das descobertas.
Eu adoro a emoção da busca,
a idéia de que pode haver um fóssil lá
capaz de revolucionar totalmente nossa visão da evolução da vida.
Congelados no tempo, corpos fossilizados são a melhor ponte
para conhecermos o mundo primitivo e seus habitantes.
Se o animal tiver morrido no local e condições certos,
seu corpo será preservado e irá se fundir gradualmente à rocha em volta.
E sua marca ficará no mundo por milhões de anos.
Mas Braddy não está em busca de animais mortos.
O que ele busca são marcas deixadas pelos vivos
à medida que invadiam a terra firme.
Há muitas eras,
pioneiros migraram do meio aquático para terra firme,
deixando seus rastros.
Em alguns locais, eles ficaram preservados
por terem sido cobertos por cinzas vulcânicas
ou deslizamentos de terra.
Braddy busca essas pistas
de seres ancestrais neste local.
É fascinante estudar esses rastros,
pois são como ''paleopolaróides'', retratos do passado.
Você tem uma idéia de suas atividades.
E pode constatar que eram, realmente, criaturas vivas.
Braddy e seu parceiro descobrem sinais de uma invasão a um litoral primitivo.
O problema de rastros assim é que, às vezes, é dificil distingui-los.
Mas esfregar água lamacenta na superficie
pode ajudar a revelá-los.
Embora pareçam pequenas para nós,
as primeiras pegadas em terra foram feitas por um gigante de sua época.
Como detetive, Braddy tem de decifrar pistas
para descobrir quem as deixou.
Perto do sítio paleontológico, o trabalho continua na Universidade de Bristol.
Aqui, Braddy estuda o passado não na terra ou nas rochas,
mas numa cripta, no porão.
Nestas gavetas há amostras de rastros fossilizados do mundo todo.
Entre eles, o cientista achou um padrão
que revela um segredo crucial para o sucesso do primeiro animal terrestre:
ele caminhava sobre pernas.
Ter pernas parece algo corriqueiro para nós hoje,
mas Braddy queria saber quem criara essa inovação.
Às vezes, tento me transportar 400 milhões de anos para o passado
só para visualizar como eram as coisas quando esses rastros foram feitos.
Para determinar que animal poderia ter deixado os rastros,
Braddy pesquisa os possíveis suspeitos nos mares primitivos.
Os cnidários foram os primeiros a ter músculos e sistema nervoso,
e, talvez, tenham sido os primeiros a ter movimento próprio.
Mas nunca encontraram um meio de se mover fora d'água.
Ancestrais deste platelminto foram os primeiros a ter cabeça,
cérebros primitivos e órgãos dos sentidos duplicados.
Os platelmintos deslizam numa esteira de muco, deixando um rastro viscoso.
Mas eles não têm pernas.
O grupo dos moluscos vive tanto no mar quanto na terra hoje em dia.
Mas eles locomovem-se usando um único pé
que não deixa rastros como os estudados por Braddy.
De todos os seres dos mares primitivos, só um grupo tinha pés
capazes de deixar rastros como os dos fósseis encontrados.
Era o dos artrópodes.
E um dos segredos de seu sucesso eram as pernas articuladas.
Pernas capazes de se dobrar
garantiam estabilidade e absorção de choques,
características perfeitas para vencer terrenos variados.
Com muitas articulações, cada perna tem uma flexibilidade enorme.
Tendões ligados a músculos fortes garantem amplitude de movimentos.
Para orientar-se, os artrópodes desenvolveram uma gama de sensores.
São apêndices sensoriais como as antenas
e os primeiros olhos complexos, capazes de perceber imagens nítidas.
Mas o mais importante:
tinham pernas e segmentos corporais adaptáveis a quase qualquer situação.
Com um empurrãozinho da evolução,
uma perna transforma-se em pinça.
Com a cauda segmentada da lagosta dobrada sob o corpo,
temos o modelo do crustáceo cavador.
O esquema corporal básico dos artrópodes, com segmentos e pernas,
tem um enorme potencial de adaptação e evolução.
Assim, há mais artrópodes nos mares do que qualquer outro grupo animal.
E cada espécie é uma variação de um mesmo tema básico.
Os artrópodes são um sucesso por ter um esquema corporal simples,
com grande adaptabilidade.
Eles têm séries de pernas que podem servir para recolher comida,
alimentar-se ou locomover-se.
Seus muitos apêndices foram organizados de formas revolucionárias.
E, com o tempo, apareceu o kit de ferramentas ideal
para que conquistassem a terra firme.
O reinado dos artrópodes nos mares deveu-se, em grande parte,
a um dos aspectos-chave de seu esquema corporal:
o esqueleto.
O artrópode tem o esqueleto fora do corpo.
A carapaça serve tanto de suporte quanto de armadura,
protegendo seus frágeis órgãos internos.
Mas, em certos momentos, o artrópode tem de deixar a armadura.
Para crescer,
ele passa por uma transformação impressionante.
Primeiro, a pressão do corpo em crescimento racha o exoesqueleto.
Sob a carapaça, já há um novo esqueleto, macio.
Em menos de 30 minutos de contorções,
o caranguejo deixa o esqueleto velho,
num processo chamado de ''muda''.
E ele emerge com um exterior novo, das pernas ao corpo e aos olhos.
O novo esqueleto macio vai aumentar de tamanho rapidamente
e ganhar rigidez nos próximos dois dias.
O caranguejo mole, que é cobiçado por muitos predadores, inclusive humanos,
terá dois dias de grandes perigos pela frente.
Mas quando a carapaça endurece, o animal ganha força
e mostra ferramentas sofisticadas de exploração
prontas para agir.
Eles são devoradores versáteis e vigorosos.
Enquanto as pinças destroçam um peixe morto,
os apêndices bucais agitam-se.
Alguns participam da alimentação e outros, da respiração,
fazendo a água passar pelas guelras.
E eles não hesitam em usar as pinças para atacar semelhantes,
caso haja uma refeição em jogo.
Observando a luta entre siris-azuis,
não é dificil imaginar a era pré-histórica
em que artrópodes começaram a disputar alimento.
Estes animais surgiram e venceram numa época
em que a vida passava por uma explosão de diversidade.
E foram bem-sucedidos através dos tempos, em disputas de tamanho e força.
Um dos artrópodes mais primitivos, o Anomalocaris ,
foi também o mais feroz predador dos mares pré-históricos.
Ele agarrava a presa com apêndices fortes
e devorava-a com dentes afiados.
Mas o Anomalocaris foi ofuscado por um artrópode mais assustador.
Em reuniões de paleontólogos, o tal monstro, chamado de euripterídeo,
instiga debates calorosos.
Os euripterídeos, escorpiões do mar,
eram artrópodes predadores gigantes.
Eu preferiria ser confinado com um tubarão do que com um euripterídio.
- Não brinca. - Não...
Eles tinham dentes serrilhados para dilacerar carne e ossos.
Com poucos movimentos, arrancariam seu braço fora.
- E tinham força mecânica para isso? - Eu diria que sim.
Havia euripterídeos com até 1 ,80 metro.
Com nadadeiras poderosas e garras muito rápidas,
eram caçadores cruéis.
O euripterídeo precisava, às vezes, disputar refeições com outro gigante.
O resultado dessa batalha primitiva, entre garras e tentáculos,
para sempre será um mistério.
Há um parente do euripterídeo, já extinto, que vive até hoje nos mares.
Com sua carapaça redonda,
o caranguejo-ferradura não é exatamente feroz.
Mas um traço de seu comportamento hoje pode explicar
por que seres marinhos deixaram as águas no passado.
Os caranguejos-ferradura encontram seus parceiros no mar.
Mas, depois, vão para os limites do oceano.
Estes fósseis vivos deixam o mar por um curto período
para pôr seus ovos na praia.
Protegidos no meio da areia úmida,
os ovos desenvolvem-se em terra.
Braddy diz que as primeiras incursões em terra firme
podem ter sido uma busca dos euripterídeos
para protegerem seus ovos de predadores marinhos.
E os pioneiros deixaram provas indiretas delas na forma de rastros.
lsto foi obra de um parente distante de um caranguejo-ferradura,
talvez, imagina Braddy, buscando um local seguro para desovar.
Mas, tal como um filhote do caranguejo-ferradura,
ele não ficava muito fora d'água.
Muitos artrópodes primitivos respiravam, como esses caranguejos,
por meio de guelras finas como páginas de livro,
que só funcionam na água.
lncapazes de extrair oxigênio do ar,
estavam confinados à vida nos mares.
Mas outros não se deixariam deter.
E já havia novidades aparecendo.
lmagine o imenso desafio que era migrar para terra firme,
mesmo que essas criaturas achassem um meio de respirar oxigênio do ar.
A obsessão do biólogo Bill Shear é saber como eles conseguiram.
Juntando seus conhecimentos de artrópodes modernos e do passado,
Shear tenta identificar os traços que possibilitaram a transição.
A terra era quente, muito seca e ensolarada,
com alta incidência de raios ultravioleta.
E não havia o suporte que a água dá.
A gravidade atua com toda força sobre organismos em terra seca.
Mas os primeiros artrópodes já tinham potencial para superar tudo isso.
Para Shear, seus exoesqueletos desenvolveram novas adaptações
que os isolariam do ambiente inóspito,
e os apêndices formaram mais ferramentas do que poderíamos supor.
Seus membros são quase infinitamente modificáveis,
como as funções de um canivete suíço.
Eles deixaram o mar com um kit de ferramentas
para conquistar a terra:
experimentando...
apalpando...
agarrando...
e, por fim, alçando vôo para dominar o mundo.
Mas como sobreviveram ao passo inicial que os fez trocar
a proteção do oceano pelos perigos da terra firme?
Shear crê que tenham descoberto uma ponte especial entre terra e mar,
que continua existindo até hoje.
A ''ponte'' que permitiu a conquista da terra
talvez não fosse nada mais do que plantas boiando.
Fonte de alimento e abrigo para criaturas aquáticas,
estes tapetes de algas cresciam perto das praias e invadiam suas areias.
Talvez eles tenham funcionado como base, garantindo comida e o habitat
aos primeiros invasores do mundo terrestre.
As algas mantinham as condições amenas, dando-lhes tempo
para criarem as adaptações necessárias para uma vida totalmente em terra.
Os primeiros a viver aqui eram animais minúsculos,
bem menores que o euripterídeo.
Tão insignificantes que sinais de sua jornada passaram despercebidos.
Boa parte da história da invasão permaneceu desconhecida
até bem pouco tempo,
quando surgiu uma pista que revolucionou tudo.
Foi um segredo achado nos fósseis de plantas primitivas
que se alastravam terra adentro.
Junto com as plantas, cientistas acharam o que talvez fossem
restos microscópicos dos primeiros artrópodes.
lnicialmente, ninguém deu importância à descoberta.
Mas, com as novas pistas, um especialista como Bill Shear
poderia reescrever capítulos inteiros do livro da vida.
Para ter acesso a elas, Shear teria de extrair os microfósseis da rocha.
Usando ácido fluorídrico, ele dissolveu a rocha,
deixando só os fragmentos orgânicos,
restos de plantas e animais.
Sua descoberta mudaria nossa visão
da colonização da terra primitiva.
Quando cheguei no dia seguinte e filtrei a amostra,
encontrando vestígios animais nela, foi maravilhoso.
Eu lembro da sensação de ver aqueles fósseis pela primeira vez.
A onda de adrenalina deve ser semelhante à de marcar um ponto
num jogo importante.
Você se sente o rei do mundo.
E isso faz valer todo o trabalho entediante
que o levou até ali.
Shearjá tinha os restos dos pequenos invasores, mas eram apenas fragmentos.
Para visualizar o animal inteiro,
seria preciso reconstruí-lo.
Foi como juntar as peças de um quebra-cabeça,
sem a figura na caixa para orientar a tarefa.
Um dos primeiros seres revelados foi uma aranha terrestre.
E esse sucesso levou a muitos outros.
Aos poucos, Shear identificou uma série de colonizadores.
Seu trabalho com os microfósseis confirmou o que suspeitava:
muitos artrópodes diferentes conduziram a invasão simultaneamente.
Para Shear, o mundo de 380 milhões de anos atrás
começava a se delinear.
O mundo do período Devoniano era muito diferente do nosso.
O ano era mais curto, os dias não tinham 24 horas
e a composição atmosférica era outra.
Shear crê que, dentre todos os suspeitos,
os primeiros a dominar as novas condições
e tomar a terra
eram como os tatuzinhos de jardim atuais.
Acabava de chegar o primeiro animal em terra firme.
Liquens e plantas exuberantes
criaram condições ideais para a conquista.
A flora era diferente. Muito diferente.
Eram poucas espécies, crescendo densamente,
e as plantas tinham aparência primitiva.
As plantas podiam ser diferentes,
mas, como suas equivalentes atuais,
criavam microclimas que tornavam o mundo terrestre mais acolhedor.
E havia vantagens de viver em terra firme:
há mais oxigênio no ar do que na água do oceano.
Os artrópodes só precisavam achar um meio de extraí-lo.
Os ancestrais dos escorpiões, como os caranguejos-ferradura,
deviam ter as chamadas ''guelras em folhas'',
uma série de abas no abdome do animal,
mantidas em constante movimento.
Com a evolução, as abas, que funcionavam bem na água,
migraram para dentro do corpo do escorpião.
Lá, o oxigênio do ar passava diretamente para o sangue.
Mais uma vez, o esquema corporal artrópode provou versatilidade
ao adaptar um sistema antigo para dominar um novo nicho ecológico.
Com o tempo, os artrópodes criaram muitas outras técnicas respiratórias.
Numa invasão à parte, ancestrais dos miriápodes
desenvolveram um sistema respiratório
para oxigenar seus longos corpos.
Na parte de baixo, eles têm uma série de tubos reforçados
adaptados do próprio exoesqueleto.
Os tubos abrem-se direto para fora
e captam oxigênio para o corpo.
Um sistema semelhante
seria crucial para futuras conquistas artrópodes.
Podendo respirar, os conquistadores avançaram terra adentro.
Embora abundante, a flora não era variada.
E plantas terrestres eram mais dificeis de digerir que as algas.
Mas se plantas vivas não eram um alimento fácil,
aquelas em decomposição e artrópodes mortos pareciam uma opção melhor .
Matéria morta e decomposta por bactérias e fungos, detritos,
era de digestão bem mais fácil.
Por milhões de anos, as invasões criaram uma comunidade artrópode
adaptada à vida em terra firme na condição de detritívoros.
Os detritívoros foram os primeiros a se estabelecer em terra.
Mas havia também os carnívoros,
predadores como esta aranha.
Bem antes de tecer teias,
as aranhas perseguiam agressivamente as presas.
Disseminando-se com sucesso,
os artrópodes encontraram alimento abundante debaixo d'água.
Da água doce.
Os primeiros a invadi-la eram ancestrais dos artrópodes modernos,
como as larvas de insetos,
predadores vorazes e adaptados ao ambiente.
Ela espreita a presa como um gato faria. É a larva da libélula.
A pequena salamandra é uma vítima em potencial.
A larva da libélula bombeia água por suas guelras.
Quando precisa de velocidade, ela as usa como turbinas.
Neste lago, até os predadores precisam de cautela.
Mas a caça nos lagos é, literalmente,
brincadeira de criança para esta libélula e outros artrópodes.
Ela está prestes a passar para a vida adulta.
Quando uma larva se prepara para deixar o lago,
ela repete um momento crucial da história da vida.
A metamorfose transforma-a não apenas em adulto,
mas num animal capaz de viver em outro ambiente do planeta.
A larva da libélula da família Coenagrionidae emerge do exoesqueleto,
deixando para trás as armas que usava com sucesso no lago.
Debaixo de seu traje de mergulho
está um novo recurso que vai definir sua vida fora d'água:
apêndices capazes de um milagre.
Quando os artrópodes criaram asas,
os animais voaram pela primeira vez.
Libélulas mudaram pouco, comparadas a seus ancestrais fósseis.
Lutando contra a gravidade, elas dominam graciosamente os ares.
Pairando e fazendo manobras acrobáticas sem esforço,
são caçadoras insuperáveis no ar.
Elas até se acasalam em pleno vôo.
Protegida pelo macho, acima,
a fêmea deposita com cuidado os ovos no lago.
Cada espécie de libélula tem um padrão diferente de vôo de acasalamento.
E mesmo entre seres tão delicados, os machos lutam por território.
Nas libélulas, o esquema corporal artrópode prova sua adaptabilidade:
é um animal que domina a água e o ar
em fases diferentes da vida.
Desde que os insetos inventaram o vôo,
eles ganharam a chance de se diversificar mais e mais.
A invenção do vôo foi um dos eventos mais importantes da história da Terra.
A asa do inseto é uma maravilha de engenharia,
reforçada por veias rígidas,
mais espessas nas bordas que cortam o ar.
O vôo provou ser uma adaptação tão eficaz
que insetos voadores representam mais de três quartos
de todas as espécies animais.
Voando, os insetos exploraram
e dominaram os quatro cantos do mundo.
Os artrópodes deixaram seus mares de origem para tomar os ares.
Mas a disputa entre caça e caçadores também se transferiu para o ar.
O milagre do vôo não salvava os insetos de seus inimigos.
Outro artrópode, a aranha,
criou uma fina rede para pegar presas no ar.
Estamos cercados por uma multidão de artrópodes rastejantes,
corredores,
marchadores
e voadores.
Essas criaturas moldam o ambiente em que vivemos.
A verdade é que nós não existiríamos sem elas.
Os insetos são chamados de ''os bichinhos que controlam o mundo'',
e é verdade.
Sem os insetos, a maioria dos ecossistemas seria inviável.
Os insetos cuidam de serviços essenciais à máquina da vida,
e isso inclui fazerem o papel de recicladores da natureza.
Eles são os coveiros quando o inevitável acontece.
Mas também têm papel vital no nascimento
de símbolos da beleza.
Os artrópodes têm atração por flores,
os exuberantes dispositivos de reprodução de plantas e árvores.
Ao se alimentarem do néctar, o pólen adere a seus corpos
para, assim, ser levado até outras flores.
Na função de transportadores de pólen,
os insetos tornaram-se
um meio eficaz de multiplicação das plantas.
Em troca, muitos tiram seu sustento dessas mesmas plantas.
Sem os insetos, muitos alimentos deixariam de existir.
Os artrópodes conquistaram mares, terras e ar.
Muito da beleza e da grandiosidade à nossa volta deve-se a eles.
lmaginar a vida sem os artrópodes
é quase impossível.
Eles estão ligados
a todos os aspectos da vida na Terra.
Os artrópodes estão em todos os habitats.
Há os que vivem perto de gêiseres, em temperaturas escaldantes.
Eles estão no alto das maiores montanhas, nas fendas dos oceanos.
Este é o planeta dos artrópodes.
Eles conseguem viver em locais
que só podemos visitar rapidamente.
E como podem prosperar em locais em que humanos não sobrevivem?
Na terra do inverno permanente, eles estão debaixo do gelo ártico,
e a fartura no mar gelado está garantida graças à sua presença.
Num dos habitats mais inóspitos, nas fendas oceânicas,
há caranguejos que suportam as emissões hidrotermais tóxicas.
Será que poderíamos aprender com os artrópodes
a explorar melhor ecossistemas extremos?
Hoje, os cientistas tentam desvendar os segredos do sucesso deles.
Na Universidade da Califórnia, em Berkeley,
Bob Full coordena um laboratório
que estuda todos os aspectos da locomoção dos artrópodes.
A facilidade com que se deslocam certamente é um fator de sucesso.
Full examina por que eles são tão ágeis ao percorrer o mundo.
Meu interesse é no movimento deles.
É descobrir como seus músculos e esqueletos funcionam
para que se locomovam tão bem em seus habitats.
Os artrópodes ficam próximos do chão, primando pela estabilidade.
Estudados em câmera lenta, seus movimentos mostram um padrão.
Observando a locomoção dos artrópodes, vemos que eles se apóiam em tripés:
três patas tocando o chão de cada vez.
lsso dá muita estabilidade.
Mas a maioria deles precisa de velocidade.
Full descobriu que ela é possível
porque seu caminhar não exige muito do cérebro.
Costumamos pensar que o controle da locomoção vem do cérebro.
Mas, mesmo sem ação do cérebro ou de nenhum reflexo,
esses animais estabilizam-se usando apenas o esqueleto.
Ele funciona como uma mola na absorção do impacto,
simplificando muito a necessidade de controle.
Mas Full também descobriu que as patas articuladas
são a grande maravilha do design dos artrópodes.
Elas funcionam como molas, apoios, e fazem a absorção do impacto
para manter a estabilidade.
Assim, o animal concentra-se em avançar .
No laboratório, o esquema corporal desses animais foi examinado
por cientistas em busca dos segredos de sua força e resistência.
Eles constataram que o meio mais eficaz de locomoção terrestre
é andar à maneira dos artrópodes.
Logo, pode chegar o dia em que o modelo dos artrópodes
seja aproveitado por nós, em sondas e exploradores-robôs.
O fisico Mark Tilden tentou criar máquinas
para terrenos acidentados.
E sua aparência final ficou próxima à dos artrópodes.
O interessante nesse design é sua eficácia e sua simplicidade mecânica.
E eles são muito duráveis.
O modelo artrópode é mecanicamente ideal para a vida neste planeta.
Máquinas simples inspiradas nele, como esta,
geraram outras mais elaboradas.
Alguns protótipos são exemplos de tecnologia de ponta.
Ed Williams é o técnico responsável pelo robô Ariel.
Ariel é a primeira tentativa de criar um robô sofisticado como um artrópode.
Uma das vantagens de ser artrópode, ou seguir seu modelo,
é ter as pernas articuladas, capazes de superar terrenos acidentados
melhor do que rodas ou esteiras.
Se o assunto é criar uma máquina para locomoção,
Ed diz que devemos reconhecer a supremacia dos artrópodes.
Os artrópodes são ótimos para vasculhar terrenos difíceis,
e fazem-no com uma rapidez que nenhum dispositivo consegue.
A inspiração para Ariel veio da natureza, do caranguejo.
Ele tem seis patas, contra 10 do caranguejo,
mas anda de lado como ele e não para frente, como os insetos.
Obrigado.
Ariel parece um caranguejo, mas não é dotado de instinto.
Precisa ser programado para avaliar e interpretar o ambiente.
E toda a potência de seu computador de bordo é necessária
só para fazer a sincronia dos movimentos das patas.
Mesmo andando como caranguejo, Ariel não tem as pinças
que eles usam para manipular seu ambiente.
Nenhum robô até hoje chega aos pés
do mais simples dos artrópodes.
Mas, como os primeiros deles a aparecer nos mares ancestrais,
talvez Ariel esteja prestes a aventurar-se em novos domínios.
A adaptabilidade de seu esquema corporal poderá levá-lo
aonde poucas máquinas ou seres humanos conseguiram chegar.
E ele irá nos ajudar a vislumbrar recantos desconhecidos da Terra.
O oceano ainda continua largamente inexplorado.
Sabemos mais sobre outros planetas
do que sobre as profundezas do mar.
Um dos problemas para conseguir preservar os oceanos
é poder colher informações de seus recantos mais remotos.
Máquinas como Ariel podem chegar a esses locais
e de lá enviar dados que hoje não temos como obter.
lsso seria uma bênção para a Ciência e deixa-nos empolgados.
Um dia, talvez, nós mesmos recorramos ao esquema corporal artrópode
para melhor pesquisarmos e compreendermos nosso mundo.
A longa saga dos artrópodes é uma das grandes histórias da vida na Terra.
Há quase meio bilhão de anos, eles dominaram os oceanos
e foram as primeiras criaturas a aventurar-se em terra firme.
O registro da invasão, gravado nas rochas,
só agora começa a ser decifrado e valorizado.
A conquista da terra pelos artrópodes
foi um dos acontecimentos mais importantes da história da vida.
Seu sucesso deve-se aos corpos versáteis e em permanente adaptação,
que os levaram a todos os habitats do planeta
e a um meio de vencer a gravidade e alcançar os ares pela primeira vez.
Os artrópodes revolucionaram a vida
e espalham beleza por onde passam.
Eles desempenham todos os papéis possíveis na ecologia.
Se todos os artrópodes desaparecessem,
em muito pouco tempo, toda a vida na Terra desapareceria junto.
Sem eles, nosso planeta seria radicalmente diferente.
Temos uma dívida imensa com os artrópodes.
Esses pioneiros encheram o mundo com sua diversidade sem igual.
Podemos nos considerar senhores da Terra,
mas, diante de seus feitos,
fica claro que os artrópodes são seus verdadeiros conquistadores.
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