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Eu amo o Brasil. A primeira vez que vim para cá foi há uns quatro anos
e estávamos organizando um show da organização Power to the Peaceful
Durante o dia eu ia às favelas e passeava com o Afroreggae
ia na Casa do Zezinho, em São Paulo
À noite, eu trabalhava com os patrocinadores do evento
uns homens de negócios ricos
Foi uma entrada nessa terra de lindos extremos
É isso que o Brasil é para mim
Você tem uma riqueza incrível e uma pobreza incrível
Você tem essa selva de pedra de São Paulo
que é cercada pela selva de verdade
A natureza mais bonita do mundo está aqui
mas vocês também têm um dos piores desmatamentos
Eu acho que o Brasil tem uma ótima oportunidade de ser um farol de esperança para o resto do planeta
por causa das coisas que encaram aqui e o jeito como criam energia para toda essa gente
e ainda não destroem toda a natureza
Essa é a questão que todo mundo está perguntando no mundo atualmente
Conforme os jogos olímpicos e a copa do mundo se aproximam
o Brasil é um símbolo de esperança para o resto do mundo
e estamos todos de olho
Estou feliz de estar aqui neste momento da história, é uma época boa
E eu também amo a música, e as caipirinhas, e a minha amiga Marina
Eu acho que meu ativismo trata-se não de ser idealista, mas sim realista
Você tem todas essas necessidades de energia para as milhões de pessoas deste país
Você tem que dar empregos para esses milhões de pessoas deste país
Tem que dar educação e criar oportunidades para os milhões de pessoas daqui
Mas aí, ao mesmo tempo, nós temos que tentar proteger o planeta
Devem existir soluções que considerem não só esta geração, mas também as sete seguintes
Então não podemos simplesmente dizer: ah vamos cortar essa árvore
ou vamos represar esse rio
ou vamos cavar uma mina aqui e fazer algo lá
Temos que pensar quais são os efeitos a longo prazo de cada passo que damos
Para conseguirmos suprir essas necessidades, precisamos do melhor da ciência
Precisamos da sabedoria do povo indígena, dos recursos do mundo corporativo
da cooperação dos governos e votar todos os dias com o dinheiro que gastamos
E, finalmente, precisamos que a música seja o comunicador desses ideais de ecologia e natureza
para tornar a sustentabilidade sexy
Quando comecei na música
escrevia muitas poesias politizadas
e comecei a me apresentar em protestos de partidos diferentes
Eu queria combinar aquilo com música e esperava que tivesse algum baterista por lá
Não tínhamos instrumentos, então íamos a estaleiros e usávamos os metais como percussão
tocando neles e colocando nossa poesia em cima
Formei um grupo chamado The Beatniks, em 1987
e depois o Disposable Heroes of Hiphoprisy, em 1991
Tínhamos uma canção, chamada "Television, The Drug of the Nation"
que foi escolhida pelo U2 para abrir a turnê Zoo TV
Eles nos convidaram para sair em turnê com eles
Tínhamos apenas uma van pequena, saindo nessa turnê enorme
Depois da primeira semana...
Eu não conhecia muito de U2 na época
Depois da primeira semana, Bono chegou em mim e disse
Michael, tenho algo para falar com você
Eu perguntei o que era e ele disse
Então, meu guitarrista
se chama The Edge, não Ed!
Então, na primeira semana eu mandava coisas do tipo: Ed! bom solo!
Ed, gostei dos sapatos! E aí, Ed, tudo certo
Então, depois do Disposable Heroes, comecei a tocar guitarra
tocar música na rua para pessoas e percebi como ela chegava no coração
E percebi que não precisava sempre ser apenas sobre questões políticas
E hoje eu quero que, com a minha música, as pessoas se sintam importantes
É o meu objetivo
Porque quando elas se sentem assim, elas querem dar
compartilhar, aceitam outras culturas, outras nações, outras sexualidades, outras ideias
Quando não se sentem importantes, elas se fecham
não doam, tornam-se gananciosas, com ódio de outras pessoas, com medo delas
E são capazes até de amarrar uma bomba em si ao ir ao supermercado
Então, em músicas, quando você fala nas letras de problemas
e questões que são difíceis para as pessoas
e, em algum momento do refrão, mostra uma luz, uma oportunidade, uma esperança
a possibilidade das coisas serem diferentes, ela se sentem importantes
Minha música é sobre isso
Eu comecei a tocar em países nos quais as pessoas não tinham dinheiro para comprar sapatos
Então, eu tirava os meus, jogava futebol com as crianças e tal
E meus pés ficavam dilacerados
Decidi ir para casa e ficar três dias descalço
Depois de três dias, decidi ficar uma semana, depois um mês, um ano...
E agora estou há 11 anos andando descalço