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Venham cá. Sentem-se.
Em quanto está galo de combate?
Milhão e meio!
E por aquele?
Dois milhões!
Dois milhões.
O galo do Sr. Farshid.
Está em milhão e meio!
O galo do Kak Amin está em dois milhões de tomans.
Ninguém falou em três milhões?
Não.
Ninguém dá mais?
Não.
Como disse o filosofo Kierkegaard:
"Não tenho medo da morte porque,
quando eu estou aqui, ela não está cá...
"E quando ela está aqui, eu não estou cá.
" Ganhar ou perder não são mais importantes do que a morte."
O que é que eu disse?
" Ganhar ou perder não são mais importantes do que a morte."
Músicos, prontos. 3... 2... 1.
Estou, estou.
Papá, Papá...
O que é?
É para ti.
Quem é?
Telefone!
Quem fala? Quem?
Mamo? É só um segundo.
Papá é o Mamo.
Quem?
Mamo.
Mamo! Calados!
É só um segundo.
Traz-me o telefone.
Silêncio!
Louvado seja Deus, mestre. Ao seu dispor.
Desculpe?
Ao seu dispor.
Sim.
Isso é possível?
A sério? Deram-lhe autorização?
Claro, eu vou buscar os seus filhos
e amanhã já estarão todos consigo.
Adeus a todos.
Os meus filhos vão ficar a tocar algumas músicas.
Fayegh! O Mamo tem boas notícias!
Eu não vou.
Mas, tu prometeste!
Dá-me as chaves do autocarro. Preciso dele durante uma semana.
Tu prometeste. Dá-me as chaves.
Em troca dou-te dois galos. Estes dois.
Gosto tanto deles quanto gosto dos meus filhos.
Ganhas o dobro com eles do que ganhas com o autocarro!
Pega, fica com eles!
Aluga outro autocarro.
Pago-te quando regressar. O teu autocarro vai ser famoso.
Porquê? Existem milhares de autocarros!
Milhares. Milhares.
Milhares de olhos estarão fixos neste autocarro! Estás a ver esta câmara?
O meu amigo Nemat deu-ma, sem complicações.
Mas tu, para me emprestares esta velha carripana,
num dia é sim, no outro é não.
Estarás a fazer uma boa acção se me o emprestares
Se não, di-lo imediatamente que eu vou-me embora.
Já te tinha dito que ia precisar dele na sexta-feira para o decorar
para o casamento da minha sobrinha.
Empresto, não empresto, Empresto, não empresto.
Então não emprestes. Não quero saber. Tu não és humano.
Mas, tu queres o meu autocarro durante duas semanas!
Tu sabes o quão famoso irás ficar?
500.000 pessoas vindos de diferentes países irão ver-nos.
Sabes o que vou dizer quando lá estiver
em frente ás 500.000 pessoas?
Que se não fosses tu, sem o teu autocarro,
nunca conseguiriamos lá estar.
Ficarás muito famoso: BBC, CNN...
Na verdade, serás conhecido em todo o mundo. Vais ficar muito famoso!
Isso é verdade? Prometes?
Por Deus e pelo seu profeta.
Eu darei em doido, vou morrer de alegria.
Concordo, mas promete-me que só irás por estradas de asfalto
e que terás cuidado com os solavancos.
O que quiseres.
Nada de estradas em terra!
Nenhuma. Tratarei dele como se fosse meu.
Juras que lhe mudas o óleo de vez em quando?
Este autocarro é o sustento dos meus dez filhos.
É a Afsaneh!
Livra-te dela!
O que lhe digo?
Sei lá. Qualquer coisa.
O quê?
Diz-lhe... diz-lhe que estou na casa de banho.
O quê? O meu autocarro é uma casa de banho?
E queres tu que eu te empreste o meu autocarro?
Anda lá, livra-te dela.
Estou? Estou!
Louvado seja Deus. Está lá.
Louvado seja Deus, menina Afsaneh.
Olá menina Afsaneh. Como está?
Por Alá, é a tua mulher!
Quem era?
Louvado seja Deus!
Cala-te! Perguntei-te quem era?
Não sei.
Não lhe digas nada.
Era o Kak Amin.
Kak Mohamad Amin, o cantor?
Era a voz de uma mulher. Não gozes comigo.
Quem era! Não tens vergonha.
Deixa-me perguntar-lhe. Quem era esta mulher?
Qual mulher? Ele está a mentir.
O Kak Mohamad Amin Had fez uma operação á garganta no ano passado.
Agora tem voz de mulher.
Como te atreves a abrir a boca?
E dizes tu que és homem!
Tem vergonha na cara.
Mulher! Mulher!
# mudei de nome para Kako porque gosto do Mamo #
Louvado seja Deus.
Eu sou o Kako, ao vosso dispor, estou ao serviço do Mamo
Por favor, ponham as malas no autocarro, Eu ajudo-vos.
O Mamo disse que eram oito, mas, vocês são apenas sete!
Quem é que não veio.
Onde está ele?
Está na oficina.
Louvado seja Deus, você é o Kak Shouan.
Louvado seja Deus.
O Mamo ordenou-me para ir ter com ele e que levasse comigo todos os seus filhos.
E depois?
Porque não apareceu com os seus irmãos.
Já lhes disse que não podia ir.
Mesmo que tenha sido o Mamo a ordenar, eu não posso ir.
O querem que faça? Não posso abandonar o trabalho assim sem mais nem menos.
Kak Shouan, não quero insultá-lo.
Eu tenho problemas, meu amigo, problemas muito graves.
Se eu for, não conseguirei vender os meus instrumentos.
Não posso simplesmente fechar a minha oficina, preciso dos clientes.
Repara como está frio na minha oficina.
É esse o seu problema?
Tenho problemas ainda mais graves. A minha mulher está grávida.
A ciência fez muitos progressos.
E?
Ela está grávida. E depois? Existem médicos.
Existem médicos e enfermeiras, mas eu tenho um problema ainda maior.
E qual é?
Nem imaginas. Aproxima-te.
A sério? Eu tenho a solução.
Tens o quê?
A sério?
Não!
Vamos, levante-se.
Vamos lá, depois falamos durante a viagem.
Não me acredito em ti. Como posso confiar em ti?
Senhores, sejam todos bem-vindos! Deixem-me ligar a câmara.
Com a vossa permissão.
Filhos de Mamo, temos uma longa viagem pela frente até ao Curdistão Iraquiano.
Para vossa segurança e para poupar tempo,
não podemos parar em nenhum restaurante durante a viagem.
Temos tudo o que é preciso para fazer chã na parte de trás do autocarro.
Sirvam-se.
Lamento, mas estou a conduzir. Não posso servi-los.
Kako, que se passa com o galo?
Perdeu todos os parentes nas lutas de galos, coitado ficou órfão...
Estou á espera que ele cresça para que se possa vingar.
Por uma questão de segurança,
por favor, ponham as vossos instrumentos debaixo dos bancos.
Louvado seja Deus, Kak Shirkooh. Desculpe pelo atraso.
Não faz mal. Ele está lá em cima.
Kak Shirkooh... ele tem a autorização?
Tem.
Graças a Deus.
Finalmente os meus sete meses de preces foram atendidos.
Kak Shirkooh, posso filma-lo?
Claro.
Também vou filmar o Mamo.
É um grande homem!
Louvado seja Deus, Mamo.
Louvado seja Deus, pendura esta bandeira numa das janelas.
Sim, senhor.
Louvado seja Deus, Mamo!
Louvado seja Deus.
Os vossos instrumentos? Aonde estão eles?
O Kako disse-nos para os escondermos debaixo dos bancos.
Não! Tirem-nos debaixo dos bancos! Nós vamos entrar no Iraque.
Trabalhei durante sete meses para conseguir a autorização.
Podem tira-los daí debaixo e colocá-los aí em cima.
Vamos Kako.
Filho, envia imediatamente um e-mail aos meus outros filhos que estão na Alemanha.
Ao Dr. Majed e ao Mansoor.
Exacto.
Pergunta-lhes quando vêm e em que voo.
Para onde é que vamos?
Para Sortchoo.
Sortchoo?
Porquê?
Não ouviu falar?
A água da barragem transbordou e uma dúzia de aldeias foram inundadas.
A Senoor transferiu a escola para lá.
Morreu alguém?
Graças a Deus, não.
Escreve!
De que endereço de e-mail?
mamokurdistan
@yahoo.com?
Sim.
Professora! O autocarro já chegou.
Aqui!
Espera!
Não vás!
Louvado seja Deus, pai. Louvado seja Deus, filha.
Já pode seguir.
Louvado seja Deus, Mamo.
Pode descer por um momento? Preciso falar consigo.
Não, vamos embora. Não vá e não há nada para falar.
Que se passa? Estiveram a discutir?
Não. Não discutimos, Mamo. Por favor, não a deixe ir.
Por aqui, por favor.
Primeiro venha ver o estado em que isto está.
Querido Mamo, a sua filha está doente. Ela não aguenta fazer uma viagem.
Além de que, ela tem estes alunos todos ao seu cuidado.
Provavelmente não sobrevive a uma viagem tão longa como esta.
Bateen, que se passa.
Afasta-te. Estamos a conversar.
Porquê? O que estás a dizer?
Pai, eu estou bem.
Pratiquei a musica durante sete meses seguidos.
Tu não estás bem?
Eu estou bem. Ele está a dizer asneiras.
Veja se eu tenho febre. Estou bem.
Filha, tu tens febre.
Olhe! Levantem-se!
Sentem-se, crianças sentem-se
Quem são...
Transferidas da escola.
Vamos lá, pedir-lhe um autógrafo.
As cheias em Beltchesoor destruíram uma dúzia de aldeias.
Casas, escolas, terras cultivadas, ficou tudo submerso.
Montamos aqui uma escola. Elas até lições de musica têm.
Sem a Senoor, não podemos fazer nada.
Chega Bateen. Já tínhamos conversado sobre isso a noite passada.
Sobre o quê?
Tinha-te avisado que eu iria sair. Deixa-me ir.
E estas crianças?
Aceita a responsabilidade durante uma semana.
Não. Não posso, Não posso.
Crianças, sentem-se.
Por favor sentem-se.
O que hei-de fazer?
Você é que sabe. Seja a favor dela viajar ou dela ficar com as pobres crianças.
Eu aceito a sua decisão.
Diz a um dos meus filhos para vir aqui.
Quantos são com a Senoor?
Mamo,
Contando o Kako e a Senoor, dá um total de catorze.
Quantas?
Catorze pessoas.
Minha querida, não podemos viajar com catorze pessoas.
Não podes vir.
Porquê?
14 dá azar. Nunca faço viagens com 14 pessoas.
Cuida das crianças.
Desculpa Mamo, sei que não é da minha conta,
mas, não é 14 que dá azar, é o 13.
Sai daqui.
São pessoas como tu que fazem com que o 13 dê azar.
O 13 é um numero inocente. Não dá azar.
Tu deves ficar a tomar conta destas crianças.
Tu também, toma conta das crianças. Vou-me embora.
O que você disser.
Adeus.
Em todo o caso, minha querida Senoor...
Sim, querido pai.
Não chores, minha querida.
Ensina ás crianças que nem o 13 nem o 14 dão má sorte.
Não chores. Mesmo morrer não é má sorte.
Deus te abençoe.
Adeus. Adeus.
Trata bem destas crianças, elas são o mais importantes.
Deus vos abençoe.
Mamo!
O que é?
A menina Senoor também tem que vir.
A Senoor! Porquê?
Bem, um dos seus filhos acabou de fugir.
Qual deles?
Foi o Shouan.
O Shouan?
Sim, foi o Shouan.
Para onde?
Por ali.
Shouan.
Não fujas Shouan!
Pára!
Desculpe, se a voz não o alcança, use isto.
O que é isso?
Trouxe-a no caso de...
"No caso de"? Espero que seja a ultima vez.
Agora, pega nisto! vai-te daqui.
Shouan!
Pára! Estou a falar contigo. Pára!
Shouan...
Escuta-me!
Peço desculpa,
mas, eu dei-lha para o assustar, não para o matar.
Já te disse para ires daqui.
Pára! Três. Dois.
Um.
Disse-te para parares.
Shouan, mostra-me a tua orelha. Deixa-me ver como é que ela ficou.
Mamo, veja o que você fez á minha orelha.
Repare! Lamento, faço o que você quiser.
Que mais quer você?
Cobarde!
Achas que eu estou aqui porque estou apaixonado por ti?
Achas que valeu a pena teres passado sete meses a praticar como eu fiz.
Se sim, podes ficar.
Se não, é hora de saíres.
Sabes porquê? És parecido com aquele pintor estrangeiro.
Como é o nome dele. Tu sabes quem é, Shouan?
Quem, o Renoir?
Não, não.
Picasso?
Não, não.
Rembrandt?
É outro.
É um holandês, não é?
Sim. Como é que se chama?
Van Gogh.
Exacto. É isso.
Estás parecido com ele.
Diz ao meu pai para descer.
Porque é que estás aí parado? Vamos entra!
Preciso falar com o meu pai.
Sobre o quê?
Diz-lhe que é importante.
O Shaho que falar consigo.
O que se passa?
O que se passa, filho?
Louvado seja Deus.
Louvado seja Deus.
Temos que falar, mas não aqui.
Sobre quê?
Venha comigo.
Porque não falamos aqui?
Fizeste-me vir até aqui, o que me queres dizer?
Será possível atrasar um pouco a viagem?
O que aconteceu?
A noite passada, fui falar com um dos anciãos.
O que é que ele te disse?
Disse-me para lhe dizer que não faça esta viagem.
Ele disse-me
para lho dizer em segredo.
Papá, não vás.
Que mais disse ele?
Disse que algo de mau vai acontecer na 14ª noite do ano novo lunar.
Na décima quarta noite? O que poderá acontecer?
Não devo fazer esta viagem?
Porque não? Eu vou fazer esta viagem.
Quem é que quer impedir-me?
Durante todos estes anos, eles impediram-me de cantar.
Desta vez não me impedirão!
Eu tenho que ir, nem que isso me mate.
Lê-me o discurso que escreves-te.
Está bem.
"Excelências, queridos convidados.
É uma honra para mim, Mamo, como compositor e para os meus filhos,
estarmos aqui presentes nesta singela noite,
em sermos o primeiro grupo a tocar no Curdistão livre,
após a queda do regime autoritário do Saddam.
Aqui com vocês, anuncio que após todos estes anos
de opressão á música do meu pais,
encontramo-nos aqui para ouvir e para testemunhar
o renascimento das raízes da nossa música.
Para proferir um grito de liberdade, da beleza da vida
após o caminho que felizmente acabou de ficar para trás.
Com certeza, grande parte da minha alegria advém do derrube do Saddam.
Mas é sobretudo, porque após 37 anos...
eu posso novamente ver com os meus olhos a nossa ocupada pátria
e com os meus filhos, apresentar-lhes uma música de amor, amizade,
beleza e vida.
Uma peça chamada..."
Temos aqui um problema, Mamo. Como se chama?
Digo-te quando lá chegarmos.
Está muito bom, mas, acrescenta a Mamo e seus filhos,
que uma voz celestial nos irá acompanhar.
O que quer dizer com isso, Mamo?
Que uma voz celestial nos irá acompanhar.
Quem? Que voz celestial?
Uma voz que se perdeu durante todos estes anos.
Espero que não seja em quem estou a pensar.
Uma voz que foi morta,
uma voz extinta.
É a Hesho?
Não tens nada com isso. Apenas escreve!
Mas ela não pode ir sem autorização.
Na bifurcação, vira à esquerda.
Sim, senhor.
Vira á esquerda.
Cuidado.
Eu disse-te, á esquerda.
Mamo,
Mamo. Por favor não vás.
Deixem-me. Não podemos ir sem ela.
Mas há tantos postos de controlo.
Tira as mãos.
Mamo, eu peço-lhe.
Eu imploro-lhe, por favor. Eu imploro-lhe.
Não se esqueça do sonho do ancião.
Se ela for, eles vão-nos prender a todos.
É perigoso para ela e para nós também.
Eu sei que é perigoso.
Não faça com o meu filho fique órfão!
Vamos, mexam-se!
Tem calma.
Ela não pode cantar!
Ela não pode cantar? Ela tem uma voz celestial.
Ainda a estou a ouvir na minha cabeça.
Kako, Kako,
dá-me a arma.
Vocês têm que a respeitar. Pois sem ela,
estamos incompletos. Incompletos.
Pare, Mamo. Quem são estas pessoas?
São os meus filhos.
Mesmo que isso seja verdade, esta é uma área proibida.
Eles não desconhecidos. São os meus filhos.
Qual é o problema?
É suposto você vir ás segundas-feiras.
Que diferença faz? Segunda, Terça, um dia qualquer...
Tens aqui o teu dinheiro, toma!
Cuidado, não deixe que o vejam.
Obrigado. Mas não se esqueça que este é um país com leis.
Eu conheço a lei. Vamos lá, abre o portão.
Podem seguir.
Adeus e obrigado.
De nada.
Que lugar é este?
É o lugar onde 1334 mulheres cantoras estão exiladas.
Quem está a cantar?
É a voz de todas as 1334 mulheres a cantarem. Ouve!
É como se fosse apenas uma só voz. A Hesho também está aqui.
O que estás aqui a fazer?
Você disse-me para vir consigo.
Quando é que te disse isso?
O que faço então?
Regressa ao autocarro, fica lá com os teus irmãos.
#Estou á espera do regresso da primavera#
Um pouco mais alto.
#e de todos as cores dos prados e das montanhas.#
Foi bom. Canta-o outra vez.
É difícil, Mamo.
Não é difícil. Está perfeito. Canta outra vez.
Não consigo, Mamo.
Tu consegues.
Maravilhoso, maravilhoso.
O fumo destrói-te a voz.
Os cigarros puseram-te doente.
Dá-me o cigarro.
Vamos começar novamente.
Estás pronta? 3, 2, 1...
Esforça-te mais um pouco.
Muito bem, já acabamos esta peça. E esta outra também.
Vamos trabalhar o Requiem.
Se Deus quiser, acabámo-lo esta noite.
Mamo, um posto de controlo!
Esconde-te Hesho! Rápido!
Levanta-te!
Rápido!
Vamos lá! Rápido!
Louvado seja Deus, Capitão.
Louvado seja Deus.
Para onde vão?
Por vontade de Deus ao Curdistão Iraquiano.
Para onde?
Para o Curdistão Iraquiano.
Curdistão Iraquiano! A vossa autorização?
Está ali, com o meu patrão.
Teu patrão?
Quer vê-la?
Óptimo, então você é o Mamo!
Sim.
Muito bem. Você agora é muito famoso.
TV por satélite, televisão, rádio, á já vários dias que eles só falam de si.
Bem. Quem são estas pessoas?
São os meus filhos.
São todos seus filhos?
Sim.
Parabéns, você tem um regimento completo. O que é que levam ali?
São os instrumentos deles.
Bom. O que vão fazer ao Iraque?
Vamos dar um concerto.
Uma festa, isso é bom. O que é que vocês têm? Ópio?
Nada.
Álcool?
Nada. Não temos nada.
O que aconteceu à tua orelha?
Fui mordido.
Pelo quê?
Problemas familiares!
Mamo...
Sou Curdo, de Kermanshah.
Louvado seja Deus.
Comigo aqui, não se preocupe.
Ao seu serviço. OK.
A minha mulher!
O quê? Estou num posto de controlo!
Sim, um posto de controlo da policia!
Qual voz de mulher? É o meu galo!
Juro. Até um Capitão está aqui.
Façam boa viagem.
Capitão! Peço desculpa.
É a minha mulher. Está sempre a pensar que ando a engana-la.
Ela não se acredita em mim. Pode falar com ela?
Guarda isso e sigam caminho.
Ouviste?
Que tipo de dinossauro é este?
Capitão, não é um dinossauro,
É um galo! É tudo o que tenho neste mundo, é o meu amor.
Será que ele tem a gripe das aves?
O quê?
Gripe das aves?
Eu posso apanhar a gripe, mas ele, nunca. Ele é a própria higiene.
Bem, limpa as patas aí ao higiene! Põe-te a andar.
Mamo, conseguimos.
Se você der licença, vou filmar um pouco mais.
Temos outro número de telefone?
Não, só este.
Querido Mamo, Estamos aqui na fronteira á oito horas
e não veio ninguém receber-nos.
Talvez não seja este o nosso destino.
Devíamos voltar para trás.
Alô!
Alô?
Está-me a ouvir?
Está-me a ouvir?
Mamo, não vá para esse lado. Aí já é território Iraquiano.
Venha para este lado. Eles disparam das torres.
Que disparos foram estes?
Houve uma emboscada.
A estrada está fechada?
Sim, está fechada.
Os Americanos estão a disparar contra tudo o que mexe!
O que é que vocês levam aí?
Cadáveres.
Estes foram para nós.
Eu avisei que iam disparar contra nós.
Desta vez tens razão.
Filho, pega no telefone.
Não entres em solo Iraquiano. Anda ao longo da fronteira.
Cuidado.
Policia! Mamo, policia!
Esconde-te Hesho! Escondam-na!
Meu Deus! Porquê tantos policias?
Avança, avança mais um pouco.
Toda a gente para fora.
Tu mentiste-me!
O que é que nós fizemos?
Então vocês não tem nada? Alinhem-se ali.
Mas, o que é fizemos, Capitão?
Calado!
Não fiquem aí parados, revistem! Em cima, debaixo, dentro, tudo...
A tua identificação.
A minha identificação? Ouça!
Cala-te!
Diga-me o que é que nós fizemos!
Sim, porque é que estão a prender-nos?
Cala-te!
Aqui está.
Esta foto é de uma criança.
Tu, identificação.
Capitão, revistamos tudo mas, não encontramos nada.
Revistem outra vez. Todos os centímetros.
Utiliza os cães treinados para farejar mulheres.
Vamos, despacha-te. Os teus documentos!
A tua cédula militar!
Só tenho o Bilhete de Identidade.
Eu pedi a tua cédula militar.
Você ainda não era nascido quando cumpri o serviço militar.
Porque é que está a incomodar-nos?
Estou isento desde o tempo do Shah. Por causa dos olhos.
Os teus documentos?
Deixei-os em casa.
Não entendo Curdo! Fala Farsi!
Estou isento desde o tempo do Shah.
Não os partam! Porque é que estão a partir instrumentos?
Eu não permito isso! Parem!
Quietos. Fiquem onde estão!
O que é que fazes?
Sou estudante.
Estudas o quê?
Medicina.
Mostra-me o teu cartão de estudante.
Não o tenho comigo.
Os estudantes nunca andam sem eles!
Esqueci-me dele.
É verdade.
Não é nada contigo. Mostra-me a tua identificação.
Este aqui não tem.
Venham. Os dois, venham cá.
Fiquem aí.
Enquanto não apresentarem os bilhetes de identidade, daqui não passam.
Capitão, este tem um problema num dos olhos.
Cumpriu o serviço militar no tempo do Shah.
Ele tem a autorização. Porque não o deixa passar?
É- me indiferente. Ninguém está autorizado a passar sem identificação.
Mamo, não se preocupe.
Nós voltamos a casa e trazemos os cartões de identidade.
Como é que vão buscá-los? Não vão conseguir.
Capitão! Por favor, deixe os meus filhos passar!
Não tenho nada. Por favor!
Não tem nada no autocarro?
Nada. Você pode verificar.
É isso mesmo que vamos fazer. Já te disse que te cales.
Vocês não vão conseguir voltar!
Capitão!
Encontramo-la.
Capitão, por favor.
Não podemos dar o concerto sem ela.
Ela é culpada.
Culpada? Que crime cometeu? De cantar? É disso que é culpada?
Tu falas demais. Tem cuidado ou prendo-vos a todos.
Capitão, Eu rogo-lhe.
Mamo, pare. Não faça isso.
O que está a fazer?
Vamos. Livrem-se desta gente.
Capitão, é o Mamo. É conhecido em todo Curdistão.
Estão á espera dele.
Ouve, aconteça o que acontecer, não os deixem passar a fronteira para o Iraque.
Agora, livrem-se deles.
Capitão!
Porque lhe imploras? Quem é ele?
Levaram a minha cantora.
Move-te. Sai daqui.
Mamo, já disse-lhe que sou Curdo.
Não se preocupe. Eu vou resolver isto tudo.
Dei o meu número ao seu condutor.
Vem cá. Vem cá.
O que vamos fazer, Mamo?
Vou continuar e seguir com a viagem até ao fim!
Mas, e os instrumentos! E a Hesho!
Não tem instrumentos, nem uma cantora.
Nem sequer uma estrada! Por onde pensa ir?
De qualquer forma vou para o Curdistão, lá arranjo instrumentos e uma cantora.
Ele disse que não nos deixam passar a fronteira para o Iraque.
Como é que vai conseguir atravessar a fronteira, Mamo?
Isso é problema meu. Quem quiser, vem comigo.
Não me estou a sentir bem.
Apenas vos digo, para não inventarem desculpas.
Quem estiver pronto, suba para o autocarro.
Rizgar!
Sim?
Traz o teu portátil.
Está bem.
Vê se existe outra estrada.
Estava á procura duma antes de me ter chamado.
Estava a ver no mapa e na internet...
Nós estamos...
Vê bem.
Não temos alternativa
a não ser irmos pelo oeste do Azerbaijão.
É longe, mas é o único caminho.
A partir daí podemos ir para a fronteira turca.
Depois, há uma aldeia chamada Soorab.
De Soorab ao Curdistão Iraquiano, é apenas meia hora.
Soorab?
É a aldeia do Kak Khalil.
Kak Khalil?
O seu amigo musico.
O meu amigo, Kak Khalil. Isso é bom. Muito bom.
Porquê, Mamo?
Se eu for à aldeia dele, ele arranja-me instrumentos
e uma cantora com uma magnifica voz, para nos acompanhar.
Óptimo. Estamos á espera de quê? Vamos já embora daqui.
Não, tem calma. Porquê?
O Sargento disse para não sairmos daqui. Ele disse para ficarmos nesta zona.
Para quê?
Não sei.
Kak Khalil, vou levar aí o Mamo e os seus filhos!
Hoje! Prometo-lhe.
Não se acredita em mim? O Mamo está aqui á minha frente.
Alô?
Com quem estavas a falar, Kako?
Com o Kak Khalil.
Quem?
O Kak Khalil.
O quê?
Ele nem queria crer, estava tão contente que disse que ia morrer de felicidade.
Não lhe devias ter ligado. Vem, vamos embora.
Temos que os reparar.
Impossivel. Nem sei o que fazer.
Faz o melhor possivel. Não temos alternativa.
Mas como?
Só sei que temos que os reparar.
# Agora, o mundo todo está cheio de felicidade #
# Só o meu coração sofre de tristeza #
Não consigo Mamo, Eu disse-lhe, Não consigo.
Temos ensaiado juntos durante sete meses.
Eu sei que consegues. Apenas tens de te esforçar mais um pouco.
Que acabas por o dominar.
Não quero o dinheiro para mim. É para quatro pobres soldados.
40.000 para quatro soldados!
Então quanto?
4.000.
Que queres dizer com 4.000 tomans?
Não me chateies, dá-me os 40.000.
O que estás a dizer?
Então, quanto?
Dei-te comida, no valor de 10.000.
Dormiste dua horas á beira da nossa fogueira. Mais 10.000.
Tiraste um foto com o Mamo e mais o autografo que ele te deu.
Mais 10.000.
Também te dei uma boa bebida. Mais 10.000.
Tudo dá 40.000.
Tens noção do que eu fiz? Tráfico de humanos! E é a Hesho!
Se me apanham com este uniforme, Sabes o que eles me fazem?
Executam-me!
Mamo, não consegue arranjar alguém melhor do que eu?
Meu Deus. O que estás a dizer? Melhor do que tu?
Onde? Temos trabalhado juntos nestes ultimos sete meses.
Não há tempo. E onde é que eu vou encontrar alguém?
Tenho medo, Mamo.
O que é que te preocupa? Tens medo de quê?
Vão ser todos presos por minha causa. Percebeu?
Não tenhas medo. Sem ti, estamos imcompletos.
Não faço esta viagem sem ti.
Acalma-te, Não tenhas medo.
Os meus filhos e eu não vamos a lado nenhum sem ti.
Tens dinheiro?
Dinheiro? Sim.
A tua moto?
Não, é propriedade da policia.
Não é preciso contar. Apenas dá-mo.
Sabes para que é este dinheiro?
Para quê?
É para comprar gasoleo. Já não tenho dinheiro nenhum.
Amanhã, com gasoleo, vamos para Arbil no lraque.
500.000 pessoas.
BBC, CNN... Estão todos á nossa espera.
Vou-lhes dizer que, se não fosse o sargento-major, nunca teriamos conseguido.
Depois o teu nome vai explodir como uma bomba.
Serás o sargento-major mais famoso do mundo.
A sério?
Juro! Deixa-me beijar-te.
Depressa. A estrada é perigosa.
Espera, pega também este.
Despacha-te, vamos!
Mamo...
O que é?
Mamo, a Hesho...!
O quê?
A Hesho foi-se embora!
Quando?
À meia hora atrás.
E só me dizes agora?
À noite quando você adormeceu, a Hesho foi dormir para o autocarro.
Apenas tirei uma soneca à beira da fogueira.
Eu estava mais atento do que um cão-de-guarda.
Vi quatro pessoas ao longe por entre o nevoeiro.
Ouvi-os dizer: "Ho, ei, ho!"
Quatro pessoas, quatro pessoas.
Fui até ali, pronto a disparar.
Eu perguntei: "quem são vocês?"
Eles não responderam.
Eu ia disparar, mas alguém tocou-me no ombro.
Eu virei-me, era a Hesho.
Eu assustei-me. A Hesho disse para eu os deixar em paz.
Ela foi ter com eles mas eu não a segui.
E o que lhe disseste?
Ela disse que eles tinham vindo para a levar.
A Hesho foi com eles. Eu chamei por ela. Eu gritei.
Corri atrás deles, mas passado um bocado deixei de os ver.
Perdi-os no nevoeiro.
Mas, a Hesho deu-me um papel.
Niwemang, Tangeh Beleh, Kak Khalil.
Shirkooh, Shirkooh, filho.
Vais com o Shirkooh. Vai para o autocarro, rápido.
O que se passa?
A Hesho foi-se embora. Vai com o Kako e não voltem
enquanto não a encontrarem. Vai.
Hi-de! Fico à vossa espera no restaurante do Kak Karim.
Louvado seja Deus, Mamo.
Bem-vindo, Mamo.
Mamo, como estás?
Seja bem-vindo.
Obrigado.
Não ouviamos a sua voz à já muito tempo.
Tenho estado ocupado.
Sejam bem-vindos filhos de Mamo.
Querido Mamo, o que deseja beber?
Pode ser um chá.
Traz um chá.
E para comer?
O que têm?
Temos de tudo,
Ovos, estufado de cordeiro, espetada de carne, avestruz...
O que querem?
Ovos e iogurte.
Ao seu dispor.
Ibrahim, mais chá!
E traga alguns ovos e iogurte.
Todos por favor, um aplauso em honra do mestre Mamo!
Põe a tocar uma cassete! Do Mamo e da Hesho!
Mamo
Mamo...
Sim, Kako?
O quê? Que se passa contigo?
Não consigo falar.
Fala mais alto!
Não consigo falar.
Kako?
Água, água.
O que aconteceu? O que é que tu tens?
Depois de me mandar com o Shirkooh à procura da Hesho,
nós decidimos ir até ao cume da montanha.
Só que, deixou de ser possível seguirmos de autocarro, e então, continuamos a pé.
Iamos de mãos dadas para não nos perdermos.
Então eu vi-os ao longe. E quando nos conseguimos apróximar,
vimos que eram cinco contando com a Hesho.
Corremos atrás deles. Mas, éramos muitos lentos.
Era muito complicado. Nunca conseguimos apróximar-nos deles.
Então o Shirkooh afastou-se de mim. Disse que ia tentar de outra maneira.
Eu gritei: "Shirkooh!"
Nunca mais vi o Shirkooh. Só ouvia os bichos e os lobos a uivar.
Foi assustador. Pior do que um de filme de terror!
Nunca na minha vida tinha passado por algo assim.
Que grande desgraça, Mamo! E então vim ter consigo, Mamo.
Mamo, vamos embora daqui.
Tens a certeza que aqui é Soorab? Estranho, parece diferente.
Temos a certeza de que é aqui. Nós também confirmamos no mapa.
Está cá alguém?
Sabes que dia é hoje?
Kak Diaco, hoje é o dia em que dois grandes musicos Curdos,
Kak Khalil e Mamo, se vão encontrar.
Sabes o que isso significa? Que todos os canais Curdos vão comprar estas imagens.
Não estou a dizer isto pelo dinheiro, percebes?
Mas, sim pela cultura Curda.
Aqui é Soorab!
Aqui parece diferente?
Não há ninguém para cumprimentar-nos?
Esta camara é muito avançada. Já filmei mais de sete horas.
e a cassete ainda não acabou. Nunca mais acaba.
É avançada? Estás a filmar assim à tanto tempo? Deixa-me ver.
Tem cuidado!
Kako! Não tem cassete nenhuma!
O quê?
Mas quais seis ou sete horas? É apenas para cassetes de 60 minutos.
Não tem cassete dentro. Olha.
Ela emite um sinal sonoro quando não tem cassete.
Não é possivel. O que queres dizer?
Quem é que te deu a câmara?
Como pude ser tão estupido?
Não tem importancia, pára!
Porque é que sou tão estupido?
Esquece isso!
Sabes o tempo que eu perdi a filmar? E afinal não tenho nada!
Meu Deus.
Desculpe, anciã!
O que é?
Esta aldeia é Soorab?
Não. É Tangeh Baleh.
Como?
Tangeh Baleh.
Tangeh Baleh? Esta é a aldeia do Kak Khalil?
Sim. O Khalil vive cá.
Como assim, se ele vive em Soorab?
Que eu saiba, esta aldeia chama-se Tangeh Baleh, desde o dia em que eu nasci.
Tangeh Baleh!
E o Kak Khalil? Onde está ele?
O tempo do Kak Khalil na terra já acabou. Ele morreu.
O quê?
Quando é que ele morreu?
Ontem à tarde.
Onde está toda a gente?
Estão no cemitério.
Como aconteceu?
Não sei. Ontem à tarde,
telefonaram para o meu pai. Enquanto falava.
O meu pai ria-se de felicidade.
Mas, a chamada foi abaixo. E Ele disse: "Alô, Alô" e depois caiu no chão.
Não sabemos quem foi o bastardo que lhe ligou. Ele só dizia "Mamo".
Ele caiu, e nós todos gritamos: "O nosso querido pai."
Ele confiou os seus filhos ao Mamo.
Ele estava tão feliz.
Dá-me a arma!
A "só no caso de"?
Sim!
Para quê, Mamo?
Dá-ma!
Não a tenho comigo.
Dá-ma!
Não a tenho, Mamo.
Dá-ma!
Tu mataste o meu amigo. Porque lhe telefonaste sem a minha autorização?
Tu?
Foi ele! Ele matou-o.
Juro que não o queria matar. Eu juro.
Quem te mandou telefornar-lhe?
Mamo, Eu não o queria matar.
Não te avisei que não lhe devias ter ligado.
Não faças isso, Mamo.
Ele é um assassino.
Castigamo-lo de outra maneira, assim não.
Acalme-se. Não faça justiça com as suas próprias mãos.
Mamo, por favor! Mamo, Mamo, por favor...
Eu vou morrer.
Ajudem-me.
Mamo...
Aonde vão? Voltem aqui!
O morto voltou à vida, eu mexeu-se!
A mulher que cante outra vez, a voz dela tem o dom de ressucitar os mortos.
Não ouço nada. Ele está morto.
Deus abençou-e os mortos.
Doutor, Não sei se ele está vivo ou morto...
Mas, a voz da mulher fê-lo mexer-se. Acredite.
Já trabalho nesta região à catorze anos.
Eles sabem que, no caso de ataques cardíacos não os podem enterrar sem a minha permissão.
Porque é que não ouve o que digo?
Ele não está morto. Se a mulher cantar outra vez ele regressa à vida.
O que você está a dizer não tem base cientifica.
Já registei 213 mortes. Com esta faz 214.
Doutor, a ciência não consegue explicar tudo.
Muitas vezes, acontecem coisas sobrenaturais que vêm do fundo coração.
Está a perceber?
A canto da mulher fez com que ele se mexe-se. Acredite
Eu tenho mais que fazer. Que eu saiba, ele está morto. Enterrem-no.
Adeus.
Filhos de Kak Khalil!
Sim?
Viemos até aqui para pedir ao vosso pai que nos emprestasse instrumentos
e uma cantora com uma bela voz.
O nosso pai não nos disse nada.
E agora o que faço?
Se ficar cá por uma noite podemos arranjar alguns instrumentos.
Mas quanto à cantora não podemos fazer nada.
Passem esta noite aqui. que eu mando os meus irmãos procurar instrumentos.
Não tenho tempo. Preciso de uma cantora.
Lamento, mas não há cantoras na aldeia. Nem sabemos onde encontrar alguma.
Meus filhos!
Enterrem-me!
O quê? Saia já daí.
Enterrem-me. Já não aguento mais.
Querido pai, saia daí. Amanhã será tudo diferente.
O meu tempo acabou, enterrem-me.
Pai, ainda nos resta alguma honra.
Não nos faça isso. Estou a falar contigo!
Pai, saia daí.
Já disse para me enterrararem. Eu não consigo continuar.
Rápido, atirem a terra para cima de mim. O meu tempo aqui acabou.
Meus Deus! Meus Deus.
Mamo, ums dos seus filhos desapareceu.
Shahoo? Aonde está o Shahoo?
É verdade, Ele não está aqui. Esquecemos-nos dele.
Mamo, há uma bifurcação na estrada!
Para a direita, diz lraque e Turquia.
Para a esquerda, diz lrão. O que é que faço?
Para que lado sigo?
Para a esquerda.
Porquê?
Para a esquerda.
Meus! O que foi isto!
Este é o autocarro de Mamo e seus filhos, não é?
Porquê, menina?
Onde está o Mamo?
De onde és?
Eu perguntei onde está o Mamo?
Está lá atrás.
Meu Deus! Quem é ela?
Louvado seja Deus. Você é o Mamo?
Minha filha.
Louvado seja Deus.
Louvado seja Deus, a todos.
Querido Mamo, foi-me dito para o vir ajudar a chegar a Arbil no lraque.
Você não está bem.
Quem te enviou?
Depois digo-lhe. Porque é que estão a regressar ao Irão?
Não têm um concerto para dar esta noite?
Com o tempo que falta nunca conseguiremos.
Porquê?
Não temos instrumentos, nem a cantora com quem ensaiei.
Eu serei a sua cantora!
Tu cantas? Como é tua voz?
Já a ouviu antes.
Onde?
No cemitério!
Eras tu? Meu Deus!
Vamos pelo outro caminho!
Fiquem calmos. Venham todos cá para fora, depressa.
Rápido.
Bem-vindos. Aqui é a fronteira Turca.
Coloquem as vossas malas no camião e os instrumentos no caixão.
Vocês vão seguir de moto pela estrada principal.
E temos uma certidão de óbito para o caixão. Ide.
Porquê? Para onde nos vais levar?
Quem organizou isto?
Eu.
E porque hei-de confiar em ti?
Apenas confie!
Meus filhos, prestem atenção. Façam o que ela disser.
Por favor, ouçam-na.
Mamo, vamos.
De que é que estão à espera?
Despachem-se.
Rápido, não percam tempo.
Para onde vamos?
Já lhe disse que vamos todos para o mesmo sitio.
Aonde nos reencontramos com eles?
Eles sabem aonde têm que ir.
Não me separes deles. Deixa-me ir com eles.
Não, Mamo.
Faz o que for preciso. O que interessa é que cheguemos ao nosso destino.
Está bem.
Guardas fronteiriços Turcos!
Corre!
Mamo, o que é que faço?
Tu podes regressar. Não podes vir connosco no autocarro.
Vai para casa.
Mas, Mamo. Depois do que passei para chegar até aqui. Como queres que volte para trás?
Estamos na fronteira da Turquia.
É muito perigoso.
Pelo amor de Deus, Mamo. Não me deixes aqui.
Mamo, Mamo... não me deixes aqui!
# No Outono a terra fica com manchas amarelas #
# No meu coração o amarelo é a dor da ausência do meu amado #
Onde aprendeste essa canção?
Já ando a ensaiá-la á já sete meses.
Alguém a cantava na tua familia?
Dizem que a minha o fazia.
Como se chamava ela?
Não sei.
Vamos!
Vá, Vamos lá!
Mamo! Por favor ponha-se de pé, Mamo. Temos que ir.
Tem que se aguentar, Mamo. Já estamos perto.
Estamos atrasados, Mamo. Temos que ir.
Não posso. não aguento mais.
O quê? Levante-se!
Diz-me quem tu és. Para aonde me estás levar? Deixa-me aqui.
Não diga isso. Levante-se.
Não chore, e não tenha medo.
Não deixes os meus filhos irem sem mim.
Está bem.
Por favor. Vivo ou morto, leva-me até ao palco.
Está bem.
Promete-me.
Prometo-lhe. Vamos.
Como te chamas?
Papoola.
Como?
Papoola. Fui encontrada na fronteira.
Era muita pequena e chamaram-me NIWEMANG.
Como?
Niwemang.
É tarde, Mamo. Vamos.
O que disseste? Niwemang!
Que grande erro eu fiz!
O que estás aqui a fazer? Porque é que estás a chorar?
Não resisti.
Peguei no galo, na camara de filmar e meti-me dentro do caixão.
O camião começou a andar.
Mais tarde ouvi alguém a falar Turco.
Que queres fazer comigo?
Oque queres de mim?
Nada, querido Mamo.
Faças o que fizeres, não deixes os meus filhos irem sem mim.
Prometo.
E prometes que me levas para o palco, vivo ou morto.
Não me deixes. Não me deixes. Não me deixes sozinho.
Está bem, Mamo, Está bem.
De repente o caixão abriu-se, e vi os guardas Turcos a olharem para mim.
Eu não percebo nada de Turco. A unica coisa que entendi,
foi "Seni seviyorum".
Não me lembro bem do que quer dizer. Qualquer coisa como, matar à pancada.
E depois?
Deram-me pontapés. Bateram-me com correntes! Vê o que eles me fizeram.
Tiraram-me o casaco. Tiraram-me a minha camâra.
Raparam-me o meu bonito cabelo.
Um deles cortou a cabeça ao meu galo.
Disse que tinha a gripe das aves.
Fez uma espetada com ele mesmo à minha frente.
Outro pegou nos instrumentos do Mamo
e partiu-os todos, depois ainda os queimou.
O que é que vou dizer ao Mamo?
Onde estão os outros?
Depois de nos mandares ir de moto para a fronteira da Turquia.
Soldados Turcos dispararam sobre nós e feriram um dos meus irmãos.
Um deles regressou com ele ao Irão.
Já percebi.
Vai com eles, rápido. Por ali conseguem entrar no Iraque.
Aonde está o Mamo?
Tu vens comigo. Temos que ir por outra estrada.
E o nosso pai?
Ele está à minha espera.
Encontramo-nos á entrada da sala de espectáculos em Arbil.
De que é que estás a falar?
O nosso portátil, com as pautas e toda a informação, caiu numa ravina.
Além disso, não temos instrumentos nem cantora.
Como é que vamos dar um concerto?
Os musicos estão lá á espera. Está tudo preparado.
Vão depressa.
O concerto é daqui a 4 horas, não percamos mais tempo.
Anda!
E eu? O que é que eu faço?
Vai com eles.
Vaí!