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Vou aproveitar e fazer um desfilezinho.
Opa. Olha, amiga.
Como ser mulher
influencia na sua música?
Influencia muito.
A feminilidade é uma qualidade.
A intuição...
E essa coisa de a gente saber conciliar muitas coisas ao mesmo tempo.
Eu sou mãe de duas crianças. Fui mãe aos 16 anos.
E desde cedo vem esse lance da responsabilidade, da batalha mesmo.
E acho que eu trago tudo isso para a minha música.
E se você fosse homem, como o seu som seria?
Caramba.
Se eu fosse homem eu queria ter um "bilolão" bem grande.
Para botar o terror.
Mas olha só, tu também é mãe, né?
Acho que é a mesa batalha, a mesma correria.
É, eu até brinco com a versão de Single Ladies, "Hoje eu tô solteira".
Eu brinco: "Eu sou mãe solteira, eu sou mãe solteira".
É uma força de guerreira mesmo.
É uma coisa que tem que ter.
Porque se tu não tiveres, as coisas vão para o fundo.
Então tu tens que ir, tem que ir atrás.
Tem que vir lá do Norte para São Paulo para mostrar trabalho,
como você vem do Nordeste também.
Tem mais seriedade mesmo, obstinação.
A maternidade, eu acho que o ápice da mulher é a maternidade.
É.
E não era uma coisa que eu queria ou que eu planejei.
Foi uma coisa que veio.
Então, olha mana, tá aí. Dá teu jeito, te vira.
Eu subi no salto e dei meu jeito. E acredito que estou me virando bem.
Mesmo meu bebê sendo bem pequenininho, tem um ano e três meses.
Mas só a força que você tem que ter
para deixar uma criança de um ano e três meses na sua casa
para você ir para outro estado batalhar, isso te faz amadurecer muito.
E isso te faz ser mais forte.
Deixa eu pegar mais uma para a gente.
Só as de trás, só as de trás.
Qual a intenção da sua música: quanto é protesto e quanto é despretensão?
Minha música não é tendenciosa. Minha música é bem comercial.
Mas ela é, principalmente, para descontrair.
Mas é revolucionária também.
É.
Acho que o que rola de revolução no tecnobrega, no tecnomelody,
é a questão da música eletrônica que é autenticamente brasileira.
Há um embate quanto à música de raiz do Pará
e a música nova, a cena nova que está se formando?
Vocês são criticados por isso?
Quando a cena surgiu, sim.
A cena tem dez anos. A minha banda tem oito anos.
Então, quando a história começou, era uma coisa bem marginal.
"Oh, que música de zona, que música escrota, que música horrível".
Quando eu peguei, foi: "Pô, essa batida é muito ***".
"Vou pegar isso aqui e dá pra fazer umas coisas legais".
Comecei a fazer versões porque lá tem as aparelhagens.
São mega equipes de som que fazem apresentações diariamente
para de cinco a dez mil pessoas.
Aí tem quatro aparelhagens principais.
Eu pensei: "Cara, vou pegar, vou fazer uma música
para cada aparelhagem dessa e em cada uma vai tocar minha música".
Então, vai ser um boom.
Foi o Beatles do tecnobrega.
Quando surgiu a minha banda, Tecno Show, se falava:
"Ai, não aguento mais essa mulher cantar".
O meu som eu comecei a desenvolver do turbilhão de influências que eu tenho.
E dessa coisa desse humor peculiar, meio ácido.
Eu comecei a samplear, desde Sly and the Family Stone
à trilha sonora de Bollywood.
Tinha influência forte do tecnobrega também,
que dá pra ver em "Kai Fora".
Você sempre discotecou tecnobrega, né?
É, eu sempre levantei essa bandeira, porque música não tem classe social.
E o que é bom não é datado, é inerente ao tempo.
Tem uma coisa do brega que eu acho tão legal que você fala.
Eu fico triste porque as pessoas, às vezes ficam num modismo muito grande.
Parece que é um chiclete: elas mastigam e cospem.
Está entendendo?
Você era MC antes. Tu tinha intenção de virar cantora?
Não, nem me considero cantora ainda.
Eu ainda me considero uma MC pereba, eu brinco.
Malandra!
Porque eu sou muito mais sentimento que técnica.
Tem muita cantora ultrapreparada, que tem vozinha de veludo,
mas está sempre seguindo a mesma fórmula, ronronante.
Que não vem com certo sangue no olho, com sangue quente, sabe?
E aí, Gabi?
E aí, Catarina Dee Jah?
Tá solteira em São Paulo, é?
Sempre eu tô solteira.
E aí, tá se dando bem?
Nem tanto.
Macharada precisa da nossa mensagem.
Vamos conversar com eles agora.
Então, vamos lá.
Se você acha que eu sou Seu abajur, seu brinquedinho
Podes crer, fique sabendo Vou saindo de fininho
Quero um homem que me faça Feliz, enlouquecer
Para sempre me amar E me dar muito prazer
Você foi e me deixou Magoou meu coração
E agora quer voltar Mas eu não quero mais não
E se você me incomodar Vou mandar tu se ferrar
Eu já vou procurar outro E vai tomar no
Kai fora, vai embora Não te quero mais não
Kai fora, vai embora Não te quero mais não
Kai fora, vai embora Não te quero mais não
Kai fora, vai embora Não te quero mais não
Quero que tu vá E não venha mais me procurar
Vai arrumar tuas coisas E depois tu vai tomar no
Quero que tu vá E não venha mais me procurar
Vai arrumar tuas coisas E depois tu vai tomar no
Você foi e me deixou Magoou meu coração
E agora quer voltar Mas eu não quero mais não
E se você me incomodar Vou mandar tu se ferrar
Eu já vou procurar outro E vai tomar no
Kai fora, vai embora Não te quero mais não
Kai fora, vai embora Não te quero mais não
Kai fora, vai embora Não te quero mais não
Kai fora, vai embora Não te quero mais não
Na na ni na não
Quem são os seus heróis na música?
Olha, Chico Science é um grande herói, um amigo querido.
O que ele revolucionou lá
foi essa coisa de ter o pé fincado no chão,
de onde você é, mas a cabeça aberta.
Quando falou em herói, eu pensei logo nele também.
Então, você já falou e eu concordo com você.
Mas quem são os teus?
Eu acho que essa galera...
Eu cito o pessoal da minha terra porque sei quanto que é difícil lá.
Porque primeiro você tem que quebrar uma barreira lá dentro
para depois você ter que provar para o Brasil.
Se fala muito: "Ah, porque o Pará é o novo celeiro da música brasileira".
E aí?
Tem potencial para isso, mas falta muito para chegar ao nível da Bahia.
Vocês nos ensinaram tanta coisa.
Esse conceito de mudar o conceito de pirataria,
de vocês usarem isso a favor de vocês.
Isso emanou para o Brasil inteiro.
Isso aí é um modelo de mercado que a gente criou.
Recife também tem as carrocinhas que vendem.
E não é mais visto com maus olhos.
A gente chega, eu faço uma música.
Lá a gente faz três, quatro músicas por dia.
É um negócio fácil.
Meu EP eu fiz questão de entregar nas mãos dos DJs para eles difundirem.
Eu vou lá e dou na mão dos pirateiros, dou na mão dos camelôs.
Imagina antigamente, quando era só vinil, gravadora.