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SORRISOS DE UMA NOITE DE AMOR
Os ingressos para o teatro, senhor.
Obrigado.
-São 16h. -Certo.
A Srta. Armfeldt trabalha nessa peça.
A Srta. Armfeldt? Eu não sabia.
-Armfeldt, a grande atriz. -Eu sei.
O que ele disse quando mencionou Desirée Armfeldt?
Ele corou e tomou um susto.
-Tomou um susto? -Com certeza.
-Até mais, cavalheiros. -Até, Sr. Egerman.
O sol me aguarda, senhores. É verão.
''O sol me aguarda''!
Vai direto para casa, para a sua jovem esposa.
Para que o filho do 1º casamento não se deite em seus lençóis.
É verdade que Desirée Armfeldt era sua amante?
Por dois anos, após a morte da esposa dele.
Depois, ela o dispensou.
-Uma mulher fácil. -Eu diria que sim.
Mas também, ela é uma atriz.
Isso já diz tudo.
EGERMAN - ADVOCACIA
Adolf! O Sr. Egerman está aqui.
Ele já vem.
Não vai demorar.
Como vai, senhor?
Tenho que admitir que as fotos da sua jovem esposa...
acabaram sendo os melhores retratos que já tiramos neste estúdio.
Que trabalho magnífico.
A modelo...
A modelo é sempre muito importante.
Sim.
Anne Egerman é linda.
-A minha esposa está? -Está tomando um chá.
-Perguntou várias vezes pelo senhor. -Eu me atrasei.
Está um dia lindo.
Sim, o verão chegou.
Mas eu prefiro o outono.
O começo do outono.
-Quantos anos tem, Petra? -Dezoito, senhor.
-Que idade deliciosa. -O senhor acha?
-O meu filho já chegou? -Ele está lendo para a senhora.
''Braços virtuosos possuem os homens virtuosos.
e embora a tentação seja um ataque, ela não é uma derrota.
E sobre isso, Martin Luther disse...
''Não pode impedir que os pássaros voem sobre a sua cabeça...
mas pode impedir que façam ninho em seus cabelos.''
Olá, crianças. Olá, Sra. Egerman.
Sinto muito pelo atraso, mas vejo que teve companhia.
Olá, meu filho.
Como se saiu nas provas? Que pergunta boba.
Foi ótimo, tenho certeza.
O professor elogiou Henrik.
Disse que foi bom ver um teólogo que não é um tolo.
Ainda determinado a entrar para a Igreja?
-Não provoque, Fredrik. -Eu não disse nada.
Que legal! Vamos ao teatro esta noite!
O que devo usar?
E você arrumou tempo! Que delícia!
O que devo vestir?
Imaginem só, encontrou tempo para levar sua Anne ao teatro!
-Veja, ingressos para o teatro! -Prefere ir com Henrik?
Por que, se posso ir com você, que está sempre ocupado?
O que devo vestir?
O azul com penas?
Ou o amarelo?
É uma comédia?
Já sei!
O branco combina com lágrimas e com gargalhadas.
Que insensível comprar só dois ingressos.
Suponho que comédias sejam mundanas demais...
para um servo de Deus.
Talvez.
Anne, querida!
Para apreciarmos ao máximo, sugiro tirarmos um cochilo.
Se importa se abandonarmos você?
Vejo você no jantar.
-Pare de andar assim. -Como assim?
-Você ouviu. Pare de andar assim. -Assim como?
-Você rebola, Petra. -Eu rebolo?
Eu rebolo!
Que engraçado.
Desirée...
eu desejei tanto você...
Desirée...
Me fale sobre a condessa.
Eu nunca a conheci, eu só a vi de longe.
Eu entendo a sua curiosidade, Madame Vilmorac.
Vou tentar, na medida do possível, descrevê-la para a senhora.
Ela é uma pessoa repleta de contradições misteriosas...
para ser descrita em apenas alguns minutos.
Dizem que seu poder sobre os homens é singular.
A Condessa Celimêne de Francen de la Tour de Casas.
-Quem interpreta a condessa? -A Srta. Armfeldt, eu acho.
-O nome dela não é Desirée? -Sim.
Pode me emprestar?
-Por que ela olhou para nós? -Não acho que olhou para cá.
Olhou para nós e sorriu. Por quê?
Para agradecer os aplausos.
-Ela é tão linda. -É a maquiagem.
Como pode saber? Você já a viu de verdade?
Todos sabemos que cada homem tem a sua dignidade.
As mulheres têm o direito de cometer vários pecados contra os maridos...
amantes e filhos.
Exceto um: ofender a dignidade deles.
Se o fizermos, somos tolas e arcaremos com as conseqüências.
Devíamos fazer da dignidade deles o nosso maior aliado...
e cuidar dela, confortá-la, elogiá-la...
e manuseá-la como se fosse nosso brinquedo favorito.
Só assim temos um homem nas mãos e aos nossos pés...
ou onde quer que o queiramos em um determinado momento.
Acha que isso é compatível com um amor sincero e verdadeiro?
Não se esqueça: o amor é um eterno jogo de malabarismo com três bolas.
São elas: o coração, as palavras e os órgãos reprodutores.
É tão fácil manter as três bolas no ar...
e também tão fácil deixar uma delas cair.
Essa falta de decência me revolta!
Quero ir para casa.
Eu lhe asseguro que a falta de decência dela é altamente moral...
e sua influência sobre os homens é enobrecedora...
qualquer que seja a posição deles.
Olá. A peça já terminou?
A senhora não se sente bem, acompanhe-a até a cama.
Sim, senhor.
À sua saúde, filho.
Eu não sabia que tocar violão fazia parte da educação de um clérigo.
Um bom vinho. Você tem bom gosto.
Que bom que esteja comemorando o resultado da prova.
-Estou tão infeliz. -É claro que está.
-Está sendo sarcástico. -Por que estaria infeliz?
Você é jovem, está bem, e passou na sua prova.
E você tem champanhe e uma garota que é definitivamente... atraente.
Mas ainda assim está infeliz. Os jovens esperam tanto da vida!
-Eu não a amo. -Melhor assim.
Nós pecamos, e mesmo assim foi...
Ao cair do cavalo, volte a montá-lo imediatamente.
É assim com o amor e a montaria.
-Isso é revoltante! -Para que complicar as coisas?
O sexo é o brinquedo do jovem e do velho. O amor é...
-Então um jovem não pode amar? -Pode!
O jovem ama sempre...
a si mesmo.
O amor a si próprio e o amor pelo amor.
Mas um homem maduro como você sabe tudo sobre o amor?
-Acho que sim. -Deve ser maravilhoso.
É terrível, meu filho. E difícil lidar com isso.
Está sendo sincero, pai?
Petra foi tão gentil.
''Melhor sorte da próxima vez'', disse, dando risada.
O que você disse? An, sei!
A primeira vez de um homem é sempre uma farsa.
Felizmente, as mulheres não levam tão a sério quanto nós.
-Ou a raça humana teria morrido. -Você faz piada de tudo.
Você também fará, quando enxergar as suas tolices.
E a trivialidade das suas ilusões.
A senhora quer dar boa noite, senhor.
Eu já vou, Petra.
Você é uma boa garota.
Vou providenciar um aumento para você.
-Você ficaria com ciúme? -Ciúme?
Se Henrik começasse a me paquerar ou se eu começasse a gostar dele?
Hipoteticamente falando.
Você e suas idéias!
Você ficaria com ciúme? Responda.
Só posso responder sentado.
Sim, acho que eu ficaria com ciúme.
Porque são jovens e eu sou velho...
e porque gosto dos dois.
Você é assustadoramente velho.
Por que se casou comigo? Pode me responder isso?
Está me testando?
Você me achou bonita?
Sim, extremamente bonita.
-Diferente de outras mulheres? -Isso também.
E eu só tinha 1 6 anos.
Bom... isso também.
Eu era caseira e estava sempre alegre.
E me fazia feliz.
E o lobo pensou...
''Eu imagino qual será o gosto de uma garotinha.''
É isso que acha?
Admita que o lobo tinha pensamentos perversos.
Bom, talvez, às vezes.
E aí o lobo ficou decepcionado.
Por quê?
Você estava tão infeliz e solitário naquele verão.
Eu senti tanta pena.
E aí ficamos noivos.
Fui eu que sugeri. Você se esqueceu disso?
A idade traz esquecimento.
Agora eu vou dormir.
Um dia, serei a sua esposa de verdade...
e teremos um filho.
Sim.
Deve ter paciência comigo.
Boa noite.
Não foi uma peça boa.
Não vimos quase nada.
Quantos anos será que aquela Armfeldt tem?
Eu não sei.
Cinqüenta, com certeza.
Acho que não.
É velha, com certeza.
-Boa noite. -Boa noite.
''A virtude é contínua...
pois, se interrompida, deixa de ser virtude.
E nem a virtude recente merece o nome virtude.
A virtude é o oposto não apenas de um ato indecente...
mas também, ou até mais, do pensamento ou fantasia indecente.
A virtude é uma arma ao homem virtuoso...
e embora a tentação seja um ataque, ela não é uma derrota.
Sendo assim, Martin Luth...''
-Você não está ouvindo. -Mas eu não entendo.
-Está pensando em outra coisa. -Não no que você acha.
-Estava pensando no seu pai. -É um velho cínico!
Acho que é um doce.
Quando me olha, com seus olhos travessos...
sinto um formigamento no corpo todo.
Você é uma mulher imoral e lasciva!
O senhor é tão doce, mas extremamente perturbado, também.
-O que quer dizer com isso? -Nada.
O senhor é tão doce quanto uma boneca, Sr. Henrik.
-Olá, Malla. -Olá.
Srta. Glad! Pode me fazer o favor de lavar o meu colarinho?
Onde está, Sr. Almrotn?
Fredrik!
Seu bode velho, seu bruto, seu camelo narigudo!
Está parecendo estranhamente humano.
Obrigado pelo elogio.
O seu músculo peitoral está doendo? O coração, como os mortais o chamam.
-Não foi por isso que vim. -Não!
São as suas partes mais nobres que sempre o trazem até Desirée.
Hoje, enquanto eu dormia com a minha esposa, sonhei que...
Bom, eu sonhei com você.
Percebi que murmurei o seu nome enquanto eu a acariciava.
Felizmente, Anne não percebeu.
Que emocionante.
''Ela vivia em seus sonhos...''
Você ficou velha e malvada.
Velha? Faço 29 anos a 3 anos, o que não é nada...
para uma mulher da minha idade.
A minha jovem esposa lhe deu 50 anos, o que acha disso?
Que megera!
-Fredrik, significa que ela sabe. -O quê?
Ela ouviu o que você disse enquanto sonhava.
Pensando bem, ela parecia chateada.
Ela chorou e me fez perguntas estranhas. E ela não é boba.
Claro que não, ela ousou se casar com você.
Prometa não dar risada e contarei uma coisa.
Sente-se ali enquanto tiro o meu vestido.
Pode rir o quanto quiser.
Somos casados há dois anos e eu não...
Resumindo, ela está intacta.
O fim do mundo está próximo!
O velho lobo virou um doce pastor.
Ela tem medo de mim...
e entendo por que.
Quero que ela amadureça gentilmente.
Quero que venha até mim sem medos.
Por vontade própria, não à força.
Acredito que a ame.
Que palavra suspeita.
Mas se já amei alguém, foi ela.
Fredrik Egerman apaixonado! Não acredito!
A idade nos faz pensar em várias coisas.
Coisas como gentileza, consideração...
e amor.
Que garota notável...
que o fez sofrer por outras coisas além de dor de dente.
Quando chego em casa, ela vem me receber, feliz por me ver.
Ela é cabeça dura feito uma garota mimada.
Tem o gênio ruim e fica violentamente brava.
Ela é tão vivaz que a minha casa treme e as paredes estão rachando.
Ela é doce e carinhosa.
Ela gosta quando fumo meu cachimbo.
Ela gosta de mim...
como se eu fosse seu pai.
Meu Deus. Eu sou um homem adulto!
Frequentemente o garanhão levanta a cabeça e relincha.
E aí fico triste e nervoso, e não foi o que planejei.
O que quer de mim?
Quero que me diga que Anne é um caso perdido.
Ou o contrário. Qualquer coisa.
Como poderia? Eu nem a conheço.
Precisa me ajudar, Desirée.
Pela nossa velha amizade.
Então essa é a razão?
Nossos ótimos encontros à parte, você é minha única amiga.
A única para quem posso me mostrar em toda a minha nudez repugnante.
E o que eu recebo em troca?
Tenho um filho jovem, pode ficar com ele.
Devia se envergonhar.
-Um ornamento? Um cavalo? -Não é suficiente.
Um colar de pérolas?
Já tenho vários.
Será recompensada no paraíso.
Não, Fredrik Egerman!
Quero a minha recompensa nesta vida.
-Com licença, vou tomar um banho. -Claro.
Devo me retirar?
Não seja tolo.
-Ainda estou sangrando. -Fredrik...
venha cá.
Ainda sou tão linda quanto eu era? Os anos me mudaram?
Seja honesto.
É tão linda, tão desejável quanto antes.
Os anos lhe deram aquela perfeição que a perfeição desconhece.
Uma excitação não encontrada na excelência das coisas.
O show acabou. Vá se sentar no sofá.
Podem parar com essa brincadeira para que eu possa vesti-la?
Você está brava comigo?
Não, só estou com sono.
Se não fosse por você, eu seria uma folha levada pelo vento.
É uma folha bem confusa.
Aquele cavalheiro é bonito e merecedor da minha atenção?
Conheço o Sr. Egerman. É um homem disperso.
Tão disperso quanto possível.
A Srta. Desirée está indo bem. Quando se der conta...
terá desperdiçado a sua juventude.
Estou desperdiçando minha juventude com o homem errado?
Há um momento para a felicidade e outro para a gravidade.
Não queremos riscos demais na superfície.
Onde está meu vestido vermelho?
-Vai a uma festa? -Vou.
Vou sair com Fredrik Egerman.
Vamos reviver antigas memórias.
Você está convidado a tomar uma taça de vinho.
Vão embora amarguras, Sofrimentos e aflições
Aqui e agora só há lugar Para o amor divertido e feliz
Sejamos todos felizes agora
O nosso único juramento É o prazer
Fazer amor é a receita que a nossa razão prescreve
E se nunca amássemos
Oh
O que faríamos da vida?
Cuidado com a poça, Fredrik.
Nossa, Fredrik...
como você está bonito!
-Coloque a touca. -Eu me recuso.
Pode pegar um resfriado, então coloque a touca.
Como uma mulher pode amar um homem?
Pode me responder isso?
A visão de uma mulher raramente se baseia na estética.
E sempre é possível apagar a luz.
-De quem são estas roupas? -De um homem.
-É tão... -Seria pior se estivesse nu.
-E se ele aparecer? -Está fora em missão militar.
Um soldado?
Qual o problema?
Por baixo do uniforme, são como qualquer homem.
Um soldado armado, talvez?
Ele é um homem muito bonito.
O que foi aquilo?
-Era o Fredrik. -Fredrik?
Sim, Fredrik.
Que cara estranha.
Eu... quer dizer, você...
Isso... não pode ser.
Olhem só para Fredrik Egerman!
Está branco feito um fantasma...
mas, ao mesmo tempo, lisonjeado, emocionado e muito sentimental.
''Minha querida Desirée, corajosa e sozinha durante tantos anos...
sacrificando tudo por esta prova do nosso amor.''
Responda a minha pergunta!
Este filho é meu e somente meu!
O nome dele é Fredrik!
Por causa do Fredrik, rei da Prússia.
Desirée!
Agora durma.
Não dê ouvidos àquele tolo. Durma bem.
-Eu nunca teria um filho seu. -Não é apropriada para ser mãe.
Beba e se vá.
Eu lhe desejo uma ótima noite.
-Posso dizer uma coisa? -Você nunca muda.
Tão sério no que lhe diz respeito e idiota quando se trata dos outros.
-Posso falar? -Não!
Este é um momento histórico.
Finalmente foi atingido por sentimentos além do seu umbigo!
-Eu também tenho sentimentos. -Acalme-se.
Estou totalmente calma. O que fazer se sou estourada?
-Posso falar? -Não, não pode!
Seu macaco narigudo, eu queria que ao menos uma vez...
você se desfizesse em tantos pedaços...
que nem ao menos um pum sobraria!
Eu já sofri o bastante.
Você sofreu! Com o quê? Seus sapatos apertados?
Um advogado cuja cabeça é tão organizada quanto sua escrivaninha.
-Eu quero falar! -Mas eu estou falando!
E vou continuar, mesmo que não tenha mais nada a dizer!
Me deixou tão furiosa que esqueci o que eu estava pensando.
-O que você queria dizer? -Eu me esqueci.
-Posso ir para a cama agora? -Claro, querida Malla.
-Quer açúcar? -Não, obrigado.
Perdoe a minha insensibilidade.
Você também deve saber o que é a solidão...
apesar de ter esposa e filho.
Às vezes, minha casa parece um jardim de infância para o amor.
Que apropriado!
Éramos adultos, sabíamos o que estávamos fazendo.
Éramos adultos? Sabíamos? Ainda mais quando terminamos, não?
Você terminou, não eu.
O que tinha a me oferecer?
Segurança? Um futuro? Sequer estava apaixonado por mim?
Eu era um brinquedo, uma beleza a ser mostrada aos seus amigos.
Pretendia se casar comigo?
Bom... minha esposa havia acabado de falecer.
Não evite a pergunta. Pretendia se casar comigo?
-Naquele momento, talvez não. -Viu?
E além disso, você se divertia com outras mulheres.
Mas você era a matriz.
Fico furiosa só de pensar em como deixei que me tratasse!
-Você era um salafrário! -Por que está tão brava?
Por que me insulta desse jeito?
-Você nunca perdoa facilmente. -Não?
Quem está falando do passado?
O que tenho a ver se ama aquele bebê e não sabe lidar com ela?
O que tenho a ver se seu coração está sangrando?
Deixe que sangre, e sinta como dói.
Achei que fôssemos amigos.
Agora vejo que me enganei, e maldita seja a minha franqueza!
Por que eu deveria ser sua amiga? O seu único amigo é você mesmo.
Assim como você, nesse caso!
Eu tenho o teatro, meu querido.
O teatro é a minha vida, e eu tenho o meu talento.
Não preciso da ajuda de ninguém a não ser para amarrar meu vestido.
Então boa noite. Meus sonhos serão estritamente monógamos, no futuro.
Seria um prazer...
ser poupada de participar das suas fantasias, meu querido.
Além disso, você não faz uma condessa muito boa.
O papel devia ficar com alguma atriz mais jovem.
Mas você ainda tem o seu nome, Mademoiselle Armfeldt.
Cuidado, Fredrik Egerman...
ou um membro mais jovem da família assumirá seu lugar como marido.
-Quem será? -Temo que seja o Malcolm.
O soldado?
Vou pedir para a Malla abrir. Malla!
-Eu a proíbo. -Está com medo?
Um cavalheiro não enfrenta um rival que está sem suas calças.
Malla, pode abrir a porta?
Está gostando disso, não está?
Eu devo avisá-lo que Malcolm é um homem muito ciumento.
Ele anda armado?
Ele poderia matá-lo com as mãos, se assim o quisesse.
Talvez eu possa me esconder.
Não estamos no palco, Fredrik querido.
Mas isto é uma grande farsa!
Perdoe-me por aparecer tão de repente.
O meu fiel cavalo Rummel caiu na saída da cidade.
Algumas humildes flores que peguei de um jardim nas proximidades.
Que gentileza, querido Carl-Magnus. E que flores lindas!
-Ficará por quanto tempo? -Por 20 noras.
Três para chegar aqui, nove com você, cinco com minha esposa e três para voltar.
Se importa se eu tirar o uniforme e vestir o meu robe?
Já está sendo usado.
Eu percebi. Mas achei que logo estaria livre.
Vou apresentá-los.
Este é o Sr. Egerman, o advogado. Conde Malcolm.
Encantado.
O Sr. Egerman caiu na poça em frente ao portão.
Espero que não tenha se machucado.
-Nem um arranhão. -Que bom.
A sua visita, a esta nora da noite, é de natureza oficial?
Somos velhos amigos.
Vejo que meu pijama também foi útil.
Serviu direitinho?
Não ficou pequeno, nem grande demais?
Está ótimo, obrigado.
Nem pequeno... nem grande demais.
Acho melhor eu ver se suas roupas já estão secas, não acha?
A Mademoiselle Armfeldt é minha amante há seis meses.
Sou extremamente ciumento.
Uma característica que outros homens vêem como um defeito.
Isso não me envergonha. Eu sou franco.
Eu admito abertamente que não tolero cães...
gatos ou supostos velhos amigos.
-Fui bem claro? -Seria impossível não entender.
-Gosta de duelar? -Não, eu nunca tentei.
Eu já duelei 1 8 vezes.
Pistola, espadim, florete, lança, arco, veneno, rifle.
Fui ferido seis vezes.
De resto, o destino favoreceu a mim. Ou à minha fúria cega...
que, segundo o General Sommer, torna um soldado vitorioso.
Estou impressionado.
Vê esta faca de cortar frutas?
Posso jogá-la através da sala.
O alvo é a foto daquela senhora. O rosto. O olho.
Observe.
Devia trabalhar no circo.
-Você é um advogado? -Aos seus serviços.
Acredito que a sua profissão seja um parasita da sociedade.
Permita-me expressar minha admiração pela sua franqueza militar.
E falando nisso, haverá uma guerra?
-Por que deveria haver? -Eu me pergunto a mesma coisa.
-Está sendo insolente? -Com certeza.
-Estão se divertindo? -Fui maravilhosamente bem entretido.
-Minhas roupas estão secas? -Não totalmente.
Pode ficar com o meu pijama e ir com ele para casa.
Talvez queira aceitar essa generosa oferta.
Eu gostaria de ficar com o robe, se não se importa.
Obrigado pela oferta, mas prefiro colocar as minhas roupas molhadas.
Não há tempo para isso, Sr. Advogado Egerman.
Já é tarde...
e o senhor está com pressa.
Faça o que ele diz.
Boa noite.
-Boa noite. -Boa noite.
Aqui estão as suas roupas.
A Srta. Desirée manda lembranças e diz que não precisa se desculpar.
Que gentil.
-Ela achou a briga estimulante. -Ela disse isso?
Ela sente muito que tenham sido interrompidos.
Interrompidos?
Há muito tempo ela esperava que se reconciliassem.
O que ela quis dizer com isso?
-Bom dia, Mama. -Qual o motivo dessa visita...
à sua mãe às 7 noras da manhã?
Eu terminei com o Conde Malcolm.
-Há outra pessoa? -Talvez.
-Eu o conheço? -Talvez sim.
-É melhor ou pior? -Depende do ponto de vista.
Além do mais, ele nem sabe que foi promovido.
Veja só! Eu venci na Paciência!
É sempre possível quando trapaceamos.
Está enganada.
A Paciência é a única coisa na vida que requer honestidade absoluta.
-Do que estávamos falando? -Do meu futuro marido.
Um assunto muito interessante.
Pelo menos para você, minha querida.
Por que terminou com o conde?
Ele me ameaçou com um atiçador.
Que coisa terrível.
Mas ele deve ter tido as suas razões.
Pela primeira vez, eu era realmente inocente.
Então deve ter ocorrido no início da noite.
O que você fez?
Eu peguei o atiçador e bati na cabeça dele.
-E o que o conde disse? -Decidimos terminar amigavelmente.
Muito sensato.
Um amante descartado em bons termos pode vir a ser muito útil.
-Do que estávamos falando? -Do que estávamos falando.
No meu tempo, era diferente.
Uma vez, o seu pai me jogou pela janela.
-Estava aberta? -Não, fechada.
Caí em cima de um coronel, que acabou se tornando o seu pai.
Disse que o meu pai a jogou pela janela.
Ele se tornou seu pai depois, não ouviu o que eu disse?
Meu Deus, eu o amava tanto!
Qual deles?
O que me jogou pela janela, é claro.
O outro era um idiota.
Nunca fazia nada divertido.
Por que não escreve as suas memórias?
Querida filha...
eu recebi todos estes bens para não escrever as minhas memórias.
Quero que dê uma festa para mim.
Não me lembro de prometer nada assim.
Por favor, ao menos desta vez diga sim.
Pegue os convites para mim.
Quem vamos convidar?
Se forem atores, terão que comer no estábulo.
O Conde e a Condessa Malcolm.
O Sr. Egerman, a sua esposa e o seu filho Henrik.
Certo, e quais são as suas intenções?
-Quero fazer uma boa ação. -Cuidado com as boas ações.
O preço que se paga é alto.
E elas cheiram mal.
Você nem imagina quão boa esta ação será.
É sempre bom ter um advogado por perto.
Eu admiro a sua astúcia.
Você ama mesmo aquele idiota?
Qual deles?
-Qual deles você acha? -An, esse. Sim, eu amo.
É como eu sempre disse: ''Desirée, você me preocupa!''
Sua personalidade é forte demais.
Puxou o seu pai.
Qual deles? Eu tive tantos.
-O quê? -Não está me ouvindo!
Eu nunca ouço.
Por isso é tão saudável?
Se as pessoas soubessem...
como faz mal ouvir o que os outros dizem...
nem se incomodariam em ouvir e se sentiriam bem melhores.
Estávamos falando de alguma coisa importante?
E alguma coisa é importante para você?
Estou cansada das pessoas.
Mas isso não impede que eu as ame.
-Falou muito bem, agora. -É mesmo, não é?
Eu poderia tê-las empalhado e pendurado na parede.
Várias delas!
Já terminou os convites?
Sim, as letras maiúsculas ficaram muito boas.
Obrigada, pode me dar.
É impossível proteger um ser humano de qualquer tipo de sofrimento.
É isso que nos deixa tão exaustos.
-Onde está meu marido? -No salão do boliche, condessa.
-Niklas! -Sim, capitão?
Sele o Semiramis às 9ns.
Sim, capitão.
E mande 50 rosas para a Srta. Armfeldt, com uma mensagem.
E 55 rosas para a minha esposa, sem mensagem. Fui claro?
-Sim, capitão. -Mãos à obra.
-Não estava numa missão? -É uma visita rápida.
Cuidado, está carregada.
-Uma inspeção? -Pode-se dizer que sim.
Errei.
Nem atingiu o alvo.
Mirou muito mal.
Como estava a Srta. Armfeldt?
Um cavalheiro de pijama estava lá.
-O que você fez? -Enxotei o advogado de lá.
-De pijama? -De pijama.
-Advogado? -Egerman.
-Bem melhor. -O Sr. Egerman em pessoa.
Ninguém tem moral, hoje em dia.
Pobre Anne. Vai embora hoje?
-Às 9ns. -Que bom.
-O prazer é todo meu. -E quando vai voltar?
Fomos convidados para ir à casa da Sra. Armfeldt.
-Os Egermans também irão. -Que interessante.
Veja só! Na mosca.
O que acharia se eu atirasse em você?
-O que minha esposa fará hoje? -Ficarei entediada, como sempre.
Devia fazer uma visita à sua amiga Anne Egerman.
Ela deve ignorar as escapadelas do marido.
-Você é tão ciumento assim? -A minha esposa pode me trair...
mas se alguém toca em minha amante, eu viro uma fera!
Tenha um bom dia.
Bom dia, filho. Pode se sentar.
-Vai embora hoje? -Vou ficar mais um pouco.
Nenhum pássaro fazendo ninho em seus cabelos?
Não.
Um deles quase colocou ovos na minha.
-O quê? -Nada. Tome o seu café.
-Bom dia, Petra. -Bom dia.
-Eu vi. -E qual o problema?
-Nenhum, mas não é certo. -Quem é você para dizer?
Você só quer subir de vida.
Mas uma piranha será sempre uma piranha...
mesmo ao se engraçar com Sua Majestade o Rei.
É a madame, vou ver o que ela quer.
Penteie meu cabelo, Petra, é tão gostoso.
Sim, senhora.
-Você é virgem, Petra? -Imagine! Não!
-Eu sou. -Eu sei.
-Como sabe? -Dá para notar na pele o nos olhos.
-Todos podem notar? -Não, eu acho que não.
-Quantos anos você tinha? -Dezesseis.
Foi horrível?
Imagine!
Eu quase morri de tanto que me diverti!
Você estava apaixonada?
Acho que sim.
E amou outros desde então?
Eu estou sempre apaixonada.
-Mas não pelo mesmo homem? -Não, você acaba se cansando.
E é ainda mais gostoso com o próximo.
Quase tudo que é divertido não é virtuoso.
Se assim for, viva a imoralidade!
Hoje colocarei só uma fita.
-Prenda em cima, fica feminino... -Hoje não quero.
Tudo bem, madame.
-Qual eu devo vestir? -O amarelo.
Vou vestir o azul.
Eu tenho um corpo bonito, tão bonito quanto o seu, Petra.
Você gostaria de ser homem?
De jeito nenhum! Que idéia terrível!
Eu também não.
Vou alimentar os pássaros e depois cuidar das minhas plantas.
Temos coisas a fazer!
Não é, Petra?
Bom dia, Beata.
Acho que devíamos fazer carne assada para o jantar.
Hoje, teremos peixe.
Quero carne.
Claro que pode comer carne, senhora.
Mas o senhor comerá peixe.
-O que vai fazer com isso? -Regar as plantas.
Eu já reguei às 7 da manhã.
Mas essa tarefa é minha.
Bom, já está feita.
-O que está lendo? -Um livro.
-Isso eu percebi. Como se chama? -Não entenderia se eu dissesse.
Eu exijo saber o nome do seu livro.
O que foi que eu disse?
Que robe velho horrível!
Dê para mim, eu vou queimá-lo.
Que cheiro horrível! Acho que nunca foi lavado.
E que sapatos são esses?
Tire-os imediatamente, seu porco!
Também vou queimá-los.
Como consegue fumar esse cachimbo nojento?
E isto é por se engraçar com a Petra! Devia se envergonhar!
Pode entrar.
O que quer, minha menina?
Sinto muito ter incomodado.
A Condessa Malcolm, senhora.
Charlotte!
Que gostoso!
Traga limonada e biscoitos.
Está tão quente! Uma verdadeira onda de calor!
-Que vestido lindo. -O mesmo para você.
-Eu queria ter uma cor como a sua. -E eu queria ter a sua beleza.
Não posso usar meu cabelo solto como uma menina.
Mas temos a mesma idade, não? Quantos anos tem, Charlotte?
Quantos anos você tem?
Dezenove, mas farei vinte em breve.
Sou um pouco mais velha.
E como você está?
Henrik está aqui.
Ele foi muito bem nas provas, o professor dele disse.
A propósito, como vai o seu marido?
Bom...
ele está muito bem.
Então o bom Sr. Egerman está bem. Ele não pegou um resfriado?
Com este calor todo?
Ontem não estava tão quente.
Não estou entendendo, querida.
Foi tão estranho.
O seu marido foi visto na cidade, ontem.
-Deve ter ido dar uma volta. -De pijama?
Se assim o quisesse, por que não?
Dizem que saiu da casa da atriz, a Mademoiselle Armfeldt.
Fredrik sempre gostou de teatro.
Ouvi dizer que ela faz orgias na casa dela.
Mais um biscoito?
-São da velha Beata? -Ela é um tesouro.
Eu não sou fofoqueira, você sabe.
E se eu já sabia?
-Ele contou a você? -Claro.
É provável.
-Ele contou. -Eu não acredito.
Suponho que tenha encontrado o seu marido na casa dela.
Não estou entendendo.
Querida, a cidade toda sabe sobre ele e a Srta. Armfeldt.
E daí?
Não é da minha conta o que ele faz, e eu respondo à altura.
-Pobre Charlotte. -Eu o odeio.
Eu o odeio, odeio, odeio!
Os homens são terríveis. Fúteis e convencidos.
E têm pelo no corpo todo.
Ele sorri para mim...
me beija...
me procura à noite...
me deixa louca com as suas carícias...
me diz palavras doces...
e me traz flores, sempre rosas amarelas.
Ele fala dos seus cavalos, das mulheres e dos duelos.
Dos seus soldados e das caças, ele fala, fala, fala!
O amor é repugnante.
E apesar de tudo, eu ainda o amo.
Eu faria qualquer coisa por ele. Qualquer coisa, entende?
Só para que ele afague minha cabeça e diga ''Bom cãozinho''.
Coitadinha.
Desirée é tão forte e independente.
Ninguém manda nela.
Nem mesmo Carl-Magnus, por isso é obcecado por ela.
Eu não a conheço.
Todos os homens se sentem atraídos.
Eu não entendo.
Que bom que você sabia. Não causei mal algum, então.
Não.
É provável que ela nunca tenha amado.
-O quê? Quem? -Desirée.
Acho que ela nunca amou alguém.
Só deve amar a si mesma.
Bom dia, condessa.
Que ótima surpresa. Espero que esteja se divertindo.
Sim, estamos nos divertindo muito.
Fomos convidados para ir à casa da Sra. Armfeldt.
-Não é a mãe da Desirée? -Acredito que sim.
Devíamos ir conhecer a grande atriz!
-Não seria ótimo? -Também foram convidados?
Sim, meu marido e eu. Que coincidência.
-Vá você, eu não quero ir. -Então direi que não iremos.
-Espere, eu mudei de idéia. -Então iremos?
Estou ansiosa para ir.
-Como se sente? -Ótimo.
Com um leve resfriado.
Senhoras.
Eu não entendo...
Que gentil nos convidar para o fim de semana, Sra. Armfeldt.
Os seus filhos são lindos, especialmente a sua filha.
A jovem é minha esposa.
Deve levar uma vida extenuante.
A minha profissão é cansativa.
Verdade, Sr. Egerman? Eu achava que não.
-Acho que não estou entendendo. -Não tem problema algum.
O principal é não perder a cabeça, não acha?
-Então você é a Petra. -E você é o Frid.
Que mulher encantadora.
Já ouviu isso de alguém?
Pare com isso e pegue a bagagem.
Tem namorado?
Não, mas tenho planos.
Então sou o homem certo para você. Sou um homem de futuro.
-Os outros convidados já chegaram? -Não, mas chegarão logo.
-O Sr. e a Sra. Egerman ficam aí. -E quanto ao filho, Henrik?
-Parece interessada. -Atrevido!
Este é o quarto do garoto, é um ótimo quarto! Sabe por quê?
Eu vou dizer. É um quarto para a realeza.
Mesmo? Alguém da realeza já esteve aqui?
O rei tinha um ministro, e o ministro tinha uma bela esposa.
E Sua Alteza gostava da esposa dele.
Então o rei e a esposa dele se encontravam aqui.
O ministro e a esposa ficavam no quarto onde estão os Egermans.
-O rei ficava aqui. -E a esposa vinha para cá.
Não, está enganada.
Quando o ministro pegava no sono, o rei apertava este botão.
Aperte e veja.
Está brincando comigo.
Faça o que eu digo.
A bela jovem atravessava a parede, com cama e tudo...
para brincar com Sua Alteza.
Que engenhoso!
Seria bom ter uma cama assim.
Você é uma diabinha, não é?
Não me belisque.
Oh, veja!
Quem é aquela bela dama?
É Desirée, a atriz?
Quisera eu ter a beleza dela!
Que bom que vieram.
E esta é a sua jovem esposa.
Encantado.
-Conde Malcolm, a minha esposa. -Encantado.
Sr. Egerman, a condessa Malcolm.
Já nos conhecemos.
-Charlotte! -Anne!
Que prazer vê-la, condessa.
Já falamos tanto de seus talentos, Srta. Armfeldt.
Querem ver os aposentos?
Sim, seria ótimo poder me refrescar.
E falando em carros...
onde a estrada permitia, chegamos a 32km por nora.
Eu tenho um plano.
Eu estou nele?
-Muito. -Vai ser honesta?
Por que não? Afinal, somos inimigas.
Quer um cigarro?
Não, obrigada. Só fumo charutos.
Inimigos às vezes podem ter interesses em comum.
E então devem continuar inimigos...
e esquecer esse interesse em comum?
Não duas mulheres.
Então que tal uma trégua, pelo menos por enquanto?
Infelizmente, meu marido não tem uma coleira para que eu o guie.
É verdade, ele tem livre arbítrio, mas isso lhe foi cedido.
E além disso, possui uma virilidade inflexível...
que o preocupa muito.
Sim, ele é um escravo dela.
-Eu tenho pena dele. -Pena!
Estão jogando croque.
Quem é o campeão incontroverso? Qual galo tem a maior crista?
Quem transforma um jogo inocente em uma batalha por prestígio?
-A bola é sua, Sr. Egerman. -Infelizmente, sim.
Como sabe, tenho o direito de jogar a sua bola para fora.
Essa risada significa que está bravo.
E com ciúmes.
-De você? -De você.
Por que de mim?
A maneira como cumprimentou o Sr. Egerman o deixou furioso.
Que ridículo. Tão ridículo!
-Sim, é ridículo. -Me fale sobre esse seu plano.
É muito simples. Você recebe seu marido de volta e eu...
E você?
Posso confiar em você?
E você fica com o Sr. Egerman, é isso?
Os homens nunca sabem o que é melhor para eles.
-Temos que mostrar o caminho. -E qual é o plano?
Primeiro, serão os lugares na mesa de jantar.
Querido Carl-Magnus, acha que todas as mulheres são seduzíveis?
Com certeza. Idade, classe social e beleza não são empecilho.
Mesmo as casadas?
Especialmente as casadas.
E nesse caso, seu maior aliado não são os seus próprios dotes...
mas o tédio da mulher casada.
-Bravo! -Qual a sua opinião, Egerman?
As mulheres nunca podem ser as sedutoras?
Os homens são sempre os seduzidos.
Que besteira! Eu nunca fui seduzido.
-O homem está sempre na ofensiva. -Não o Sr. Egerman, pelo visto.
Ele só quer parecer interessante.
Antes de iniciar a sua ''ofensiva'', o solo já está todo minado...
e seu inimigo conhece a sua estratégia.
Inimigos, ofensivas, minas!
Estão falando de amor ou de guerra?
Os adultos tratam o amor como se fosse uma campanha militar...
ou um show de ginástica olímpica.
Fomos trazidos ao mundo para amarmos uns aos outros.
Acredito que eu poderia seduzir o Sr. Egerman em 1 5 minutos.
Nós homens não mordemos anzóis tão grandes.
-Mas você sim. -De jeito nenhum.
Charlotte tem razão.
Vamos fazer uma aposta?
Que interessante.
-Ousa apostar com a sua esposa? -Sim!
Meus queridos jovens e amigos...
diz a lenda...
que este vinho foi feito a partir de uvas...
cujo suco lhes foi tirado como gotas de sangue caídas da casca delas.
Também dizem que a cada barril deste vinho...
foi adicionada uma gota de leite materno de uma jovem mãe...
e uma gota da semente de um jovem garanhão.
Isso concedeu ao vinho poderes secretos de sedução.
Quem dele bebe...
assume o risco por sua própria conta...
e deve arcar com as conseqüências.
Eu bebo ao meu amor.
Ao meu sucesso.
Anne.
-Comporte-se. -Comporte-se você!
-Que linguajar é esse? -Há limites para o que tolerarei.
Por acaso é um imperador que governa nossos pensamentos?
Calma, Henrik. Não sabe o que está dizendo.
E você sabe?
Você, que é totalmente desprovido de qualquer decência.
Quando lhe revelo meus pesares, você responde com sarcasmos.
Tenho vergonha de chamá-lo de pai.
Cale-se ou deixe esta mesa.
Pela primeira vez na vida, não desejo me calar!
Eu desejo estraçalhar este copo!
Tome este também. Quebre quantos quiser.
Você é uma grande atriz.
Não sofre pelas mentiras e falta de compromisso?
A sua vida não a tormenta?
Por que não tenta rir de nós?
É doloroso demais para ser cômico!
Henrik, acalme-se.
Calma, Henrik.
Por que os jovens são terrivelmente impiedosos?
E quem lhes deu permissão para serem assim?
Os jovens acham que não ficarão velhos como nós.
Morrer daria na mesma.
O garoto vai entrar para a Igreja.
Ele é pago para agitar a nossa alma relutante.
Você vai me bater? Por favor, bata.
Será a sua ruína.
Perdoem-me.
Perdoem-me, todos vocês.
Henrik, não faça mal a si mesmo!
Posso me retirar?
Senhoras e senhores, o café será servido no ''pavillon''.
E achávamos que o primeiro passo seria o mais difícil.
Mas o mais delicado ainda está por vir.
Sobre o que estão sussurrando?
Vamos tomar um café, conde.
-Está chorando? -Eu? Não.
Vamos? Ou vamos ficar?
Sorrir ou chorar? Ou fazer caretas?
Me deixe passar um remédio no seu ferimento.
Por que fez isso?
-Foi desagradável? -Para deixar seu marido com ciúme?
Ele não pode nos ver.
Tem quase a idade da minha esposa.
-Mas mais perigosa. -Para si mesma.
Para mim e para os outros. Mas sempre aviso com antecedência.
Sou uma cascavel honesta.
E estou avisando.
Por que sou tão feio...
tão cruel, tão ignorante?
O certo a fazer seria o suicídio.
É isso, eu devo morrer.
Falecer com uma silenciosa dignidade.
Oh, Senhor!
Se o Seu mundo é repleto de pecados, então eu quero pecar.
Deixe que os pássaros façam ninho em meus cabelos.
Retire essa infeliz virtude de mim.
Eu não agüento mais.
Eu devo estar morto.
Henrik.
Anne.
Eu amo você.
Eu amo você.
Eu sempre amei você.
E eu sempre amei você.
Vê, pequenina? A noite do amor está sorrindo.
E também é poeta!
A noite de amor tem três sorrisos.
Este é o primeiro, entre a meia-noite e o amanhecer...
quando os jovens apaixonados abrem seus corações e seus corpos.
Veja, no horizonte, há um sorriso tão meigo...
que é preciso ficar em silêncio para poder vê-lo.
Jovens apaixonados...
Ficou emocionada, minha pequenina?
Por que eu nunca fui uma jovem apaixonada?
Sabe me explicar?
Minha menina... console-se.
Há poucos jovens apaixonados neste mundo.
É quase possível contá-los.
O amor os atinge como uma benção e um castigo.
-E o resto de nós? -O resto de nós?
O que será de nós?
Nós invocamos o amor, gritamos por ele...
imploramos, buscamos, tentamos imitá-lo...
Achamos que o possuímos e contamos mentiras sobre ele.
-Mas nós não o temos. -Não, meu docinho.
A nós foi negado o amor por amar.
-Não temos essa benção. -Nem o castigo.
Nem o castigo.
O quê?
Sim, claro.
O que foi?
Me diga!
Meu Deus!
Precisa se apressar.
Agora é o segundo sorriso de uma noite de amor.
Para os tolos, os bobos...
e os incorrigíveis.
Então deve estar sorrindo para nós.
Quer uma cerveja?
Está sorrindo para nós, eu disse!
Certo.
-Está sorrindo para nós. -Quer se casar comigo?
Uma nora atrás, você disse que queria!
Naquela nora!
Vai se casar comigo!
Você é uma menina forte!
Vai se casar comigo! Vai se casar!
Você vai, você vai!
Querida Charlotte...
então não posso confiar em você.
Preciso fazer alguma coisa.
Você não tem um pingo de decência?
E se minha esposa acordar? Que escândalo!
-Ela já está acordada. -Está?
A cama está vazia. Ela não está aqui!
Rápido, vá procurar por ela.
Seu tom me deixa nervoso. O que está acontecendo?
Charlotte está no ''pavillon''.
-Com quem? -Sr. Egerman.
Vire-se, e me passe as minhas calças.
O que vai fazer?
Vou transformar aquele advogado em ovos mexidos!
Já me cansei das palavras e das caretas dele!
Vou mostrar para ele a picada da vespa!
-Está com tanto ciúme assim? -Podem mexer com a minha amante...
mas se mexem com minha mulher eu viro uma fera!
Saia, Charlotte.
O Sr. Egerman e eu queremos ficar a sós.
Eu exijo que se retire imediatamente.
-Nós vamos jogar roleta. -Roleta?
-Roleta russa. -Eu não entendo.
Sei que ficaria perdido em um duelo com armas...
então lhe ofereço a honra de um duelo em vantagens iguais.
Ainda não entendi.
O revolver está carregado com uma única bala.
Feche os olhos, gire o tambor...
aponte para a sua cabeça e puxe o gatilho.
Cada um de nós repete o processo duas vezes.
As chances são de 12 para 2.
Ainda estão no ''pavillon''?
-Não devem ser incomodados. -Por que não?
-É algum tipo de roleta. -Roleta?!
Vou girar a arma.
Vamos decidir quem vai começar.
Às esposas fiéis.
A você, Conde Malcolm.
Que conhaque excelente.
Foi importado por um amigo íntimo...
da velha Sra. Armfeldt. Ele morreu pouco tempo depois...
em um duelo.
A bala estava na próxima.
Preciso admitir que o senhor me impressiona.
Não é coragem, senhor.
À sua saúde.
Algo errado com o mecanismo?
Ouvi dizer que sua esposa fugiu com o seu filho, é verdade?
É.
À juventude, Sr. Egerman.
Eu a carreguei com fuligem.
Um nobre arriscaria a sua vida por um advogado canastrão?
Você é abominável!
Você é ridícula. Você, Desirée e todos os outros.
Infiéis e lascivas.
-Carl-Magnus Malcolm! -A seus serviços.
Vire-se e olhe para mim.
E então?
-Se esqueceu da aposta? -Que aposta?
-No jantar. -Jantar?
Ah, a aposta do jantar!
-Eu tinha que conquistá-lo. -Mas você gostou.
Carl-Magnus Malcolm. Olhe para mim de novo.
Eu nunca sossego, você sabe disso.
-Não mantém a sua palavra? -Muito bem.
Qual é o seu desejo?
Feche os olhos.
Qual é o seu desejo?
Você.
Isso é impossível.
A sua palavra!
Eu desisto!
Jure ser fiel por ao menos...
Serei fiel por ao menos sete eternidades de prazer...
dezoito sorrisos falsos... e 57 sussurros doces...
que não significam nada.
Serei fiel até que o grande bocejo fique entre nós.
Em suma, serei fiel a meu próprio modo.
Dói?
Sim, dói muito.
Vá embora.
Lembra do que você disse?
''Você é a única pessoa...
a quem posso me mostrar em toda a minha repugnante nudez''.
Que suspiro!
Mas é nora de sentir pena de você, é claro.
Muita, muita pena. Que grande tragédia.
Não conheço ninguém merecedor de tamanha pena.
Você é tão engraçada.
Levou um belo tombo, Sr. Fredrik Egerman.
-Sim, uma queda e tanto. -Mas vai cair no macio.
Não me deixe.
Eu não prometo nada.
É uma pessoa terrivelmente normal e tediosa...
e eu sou uma artista.
Eu preciso me deitar. Estou tonto.
O que está fazendo?
Estou colocando o seu amor no meu bolso.
Apenas não me deixe sozinho.
Estou bem aqui.
Que bom. Isso é tão bom.
Sim, muito bom.
Pode me dizer agora por que seu filho se chama Fredrik?
Não é um bom nome para um garotinho?
Promete se casar comigo?
Eu prometo! Solte as minhas orelhas!
Prometa antes!
Eu prometo!
Jure por tudo que é mais sagrado!
Eu juro pela minha masculinidade!
Então podemos nos considerar noivos!
Que Frid descanse em paz. Ele está a caminho do inferno!
Levante-se, gordinho! É nora de lavar os cavalos.
Não há vida melhor que esta!
E a noite de amor sorriu pela terceira vez!
Sim, minha ameixinha!
Para os tristes e deprimidos...
para os inquietos e as almas perdidas...
para os apavorados e os solitários.
Mas os palhaços vão tomar uma xícara de café na cozinha!