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Acredito que morar em lugares onde há cultura
seja uma verdadeira sorte,
pois existem muitos municipios
sem artistas e sem cultura
nesta América que nos cerca.
São locais erigidos
a golpes de clichés e mediocridades importadas,
de cidades pré-fabricadas e desprovidas de alma.
onde passamos sem querer ficar ali.
(Não é o caso de Sainte-Marie....)
As relações dos criadores com suas municipalidades são importantes.
Acontece que frequentemente os artistas procuram
a convivência e a tolerância.
Muitos anos após sua passagem,
suas obras são lembranças dos lugares
redefinidos por eles, e a existencia
de uma certa comunidade de pensamentos.
Os artistas protegem, conservam
e dão valor aos locais onde vivem?
Mas eles se descobrem próprias
vitimas da riqueza que contribuíram a criar.
Numerosos quarteirões
tornaram-se assim caros demais para se morar.
pelos criadores que fizeram
a reputação destes lugares.
A cada lugar onde os artistas se instalam,
a especulação não tarda a chegar.
Poderíamos dar múltiplos exemplos.
Vejam nossa já celebre
Plateau Mont-Royal.
O mesmo fenômeno está em crescimento
em Val-David, onde moro.
A regionalização da cultura
é um assunto muito atual.
Atualmente, há uma grande evolução
das percepções quanto à questão cultural
nas municipalidades.
Novos questionamentos
e um aumento de interesse pelas coisas culturais
estão perceptíveis nas municipalidades
situadas fora dos grandes centros.
esta tendência é relativamente nova
e acredito que ela é em grande parte
criada pela chegada de dinheiro novo
investido pelo governo
na regionalização da cultura.
Percebo igualmente um fenômeno curioso
de exaustão de fontes turísticas
através do Quebec.
O turista de hoje
- e todos sabem -
viaja muito, exige muito,
e não passará 15 dias de férias
numa única municipalidade.
Esta época esta passada.
É preciso já desenvolver
lugares de interesse maior
para reter por mais tempo
este turista de passagem.
É preciso também criar uma competição
entre as municipalidades para se demarcar,
e depois, vários interventores são persuadidos
que a cultura é a única opção
viável para este resultado.
O artista e o cidadão.
As ações, os fac-símiles da cultura.
As iniciativas culturais que emanam
desta nova tendência são as vezes aflitivas.
Enquanto não tenha jamais tido um único pintor vivo
em tal municipalidade, nenhuma tradição pictórica,
decidimos, por exemplo, criar
um simpósio de pintura.
Em busca de um conceito portador,
tentamos instaurar "medievais"
numa municipalidade que não tem
cem anos de existência.
Isso, vocês veem isso por toda a Quebec atualmente.
Em breve, gostaríamos de relançar
cidades em dificuldade de alavancar
a cultura, mas de qual cultura
queremos verdadeiramente falar?
É o equivalente a abrir uma mina de ferro
em um local onde jamais houve
minério.
É a partir do patrimônio essencial que é preciso procurar trabalhar.
A cultura deve antes de tudo servir
ao bem estar dos cidadãos
e se identificar com eles
antes de querer constituir uma atração
para o eventual turista.
Há alguns anos,
nos não teríamos ousado levantar estas questões.
Com a emergência de correntes novas de pensamentos,
de preocupações mais profundas quanto à
importância dos artistas na economia
de nossas sociedades, a relação com os cidadãos
é primordial. Dentro desta ótica,
devemos reexaminar o estatuto
que temos com os aristas
no interior de nossa sociedade.
Então, Val-David - já dissemos as vezes,
Morei em Val-David - é uma municipalidade
de 4800 membros, que, felizmente,
teve a Butte à Matthieu há 50 anos.
Em seguida, houve os Criadores associados,
a organização Mille et un pots,
os Jardins do Precambriano, que criei,
os Simpósios Internacionais de Arte in situ,
o Centro de exposição o Atelie da Ilha....
Para uma pequena municipalidade, é enorme.
É realmente enorme. Então, uma coisa a se lembrar:
todos estes projetos foram criados por artistas.
Nunca pelos políticos.
Mas não temos o apoio da politica municipal
com protocolos de acordo
para cada um dos organismos que citei.
É preciso não esquecer que os artistas
são os principais mecenas de suas instituições.
Eu criei os Jardins do Precambriano,
os Simpósios Internacionais,
em 1995.
O primeiro simpósio, era sobre o tema dos territórios reagrupados,
com Gaston Miron, que era o nosso primeiro convidado.
É multidisciplinar.
Então, há 17 anos, desde de1995
até 2012, o ultimo simpósio, deste ano,
é sobre as heranças culturais.
estamos em via de transmitir culturalmente aquilo que criamos,
e queremos a perenidade daquilo que fizemos.
A ideia de um simpósio internacional
nasceu de meu trabalho,
no sentido que viajei muito
no eixo Norte-Sul,
e trabalhei muito tempo no México, onde realizei muitas exposições
do qual uma instalação, Migração,
de 20 000 estatuetas que deixei
no fundo do rio Saint-Laurent.
Tendo parado com minhas viagens,
desenvolvi o lado do sedentarismo
mais do que a migração,
e criei os Jardins do Precambriano.
Considero que o território e a identidade,
é algo fundamental.
Aqui, vemos os Jardins do Precambriano
no seu território, e as diferentes obras.
Há uma identidade comum na América
que faz que a maioria dos povos das Américas tenham sido colonizadas,
tenham conhecido a descolonização,
e sua relação ao espaço do território é uniforme, vagamente,
através das três Américas,
e o encontro das culturas com o mundo dos ameríndios,
que faz de nós inter-raciais e Autóctones do Norte.
Os objetivos da Fundação,
é assegurar a perenidade dos Jardins do Precambriano,
de fazer os acontecimentos multidisciplinares,
e de encorajar a reflexão sobre a noção da identidade e do território.
Os Jardins do precambriano, é um organismo sem fins lucrativos
gerado por nove membros, que, a cada ano, convidam
um comissário para escolher alguns artistas.
Como nos financiamos? Pois é sempre uma questão de financiamento.
Temos uma bilheteria que funciona muito bem,
temos um acontecimento beneficente,
temos um protocolo de acordo com a municipalidade,
recebemos uma subvenção do Conselho de Artes de Quebec.
Temos patrocinadores e mecenas,
e temos um enorme apoio dos cidadãos.
Então, os benefícios econômicos:
Os benefícios econômicos, são bastante surpreendentes.
Porque frequentemente, quando falamos de organismos culturais desta envergadura,
não calculamos que temos verdadeiramente
um aporte econômico na nossa comunidade.
Fizemos um estudo: cada ano,
trazemos a Val-David 2 800 000 dólares.
Não acreditava quando vi os números
mas é que pagamos os artistas, e todo mundo que vem a Val-David,
após ter visto o Simpósio,
vai comer nos restaurantes de Val-David.
E é todo o desenvolvimento da hotelaria, da restauração.....
E os clientes dos Jardins do precambriano
são clientes dos hotéis e dos restaurantes de Val-David.
Necessariamente, não temos que convencer, agora,
o aporte econômico que temos na comunidade,
mas durante muitos anos, acreditamos
que a cultura não era um assunto de desenvolvimento econômico.
A meu ver, é tempo para os artistas
reagirem e reintegrarem o espaço público.
Era o propósito da Agenda 21 Cultura.
É preciso tirar os artistas dos guetos, dos ateliês,
e criar uma independência, e uma relação ao cidadão,
por relação ao desenvolvimento de nossa extensão de território.
vou terminar dizendo, vejam vocês,
as realizações da entrada dos Jardins.
Aqui, é uma obra minha, mas depois,
são obras de diferentes artistas
que convidamos por toda a América.
Aqui, é o Agora Gaston Miron,
onde recebemos recitais, conferencias,
a cada ano. Uma obra in situ feita por Daniel Lagacé.
São obras efêmeras que duram dois anos.
Esta, é uma obra deste ano.
Então, vemos aqui..... Temos 50 acres de território
e três quilômetros de trilhas desenvolvidas
com alguns ágoras, que vemos aqui, onde o público encontra os artistas.
Favorecemos muito
o encontro entre o público e os artistas.
uma outra obra..... Uma obra de uma artista mexicana,
Paloma Torres, do México.
Linda Osborne, de Calgary. Como trabalhamos sobre as Américas,
temos artistas de todo lugar um pouco.
Aqui, fazemos performances sobre o rio do Norte
com poetas e escritores.
Aqui, para fechar o Simpósio,descemos
o rio do Norte cerca de sete quilômetros.
E é a nossa equipe de 2012, atualmente,
de um novo Ágora que acabamos de construir,
desenvolvendo o lado animação
e o lado escolar.
Algumas obras sonoras.... e alguns concertos.
Vou terminar com "Ao redor do meu jardim".
"Ao redor de meu jardim", é uma obra que fiz em Val-David....
vocês irão ver......
que me pegaram realmente de surpresa.
Sou da aldeia. É uma comunidade
muito cultural, e me dei conta que
há três anos, eu via que havia
um desenvolvimento que era bastante curioso
E não é único a Val-David.
A igreja está fechada, o correio está fechado,
e a cadeia Métro queria mudar a mercearia
de Val-David para a rodovia.
Então, eu, eu me disse: "Vamos nos tornar uma cidade dormitório.
Teremos mais igrejas, mais mercearias....."
Então tentei entender
como uma comunidade podia chegar a se fazer
destruir assim, e propus
ao meu amigo Jacques Dufresne, que era proprietário do Metro,
de fazer uma obra de arte ao redor do Metro,
e convencer a comunidade, o Conselho Municipal,
o comitê de urbanismo, de salvar a mercearia.
Mas no fundo, não era unicamente fazer uma obra de arte;
Era preciso impedir o agrupamento da mercearia
numa grande area que vocês conhecem.
O fenômeno de grandes áreas,
está através do mundo todo, através da América.
destruímos os centros patrimoniais
das culturas locais, para os colocar
na periferia das cidades,
e o restante do comercio local pequeno desaparece.
Como vivo de um projeto cultural,
venho de uma comunidade cultural, eu me disse:
" Se perdemos a mercearia, vamos nos tornar uma cidade dormitório".
Pensei em fazer uma obra de arte
da mercearia.` É uma luta,
não unicamente de fazer a obra, mas descobri
a qual ponto os desenvolvedores tem o poder
sobre as pessoas que tomam as decisões municipais.
É que os desenvolvedores estão no exterior
de nossas comunidades, e eles decidem fazer
grandes agrupamentos que incluam
um Wal-Mart, uma SAQ, depois frequentemente as Caixas Populares
são misturadas a isso, e a gente se coloca na periferia
e destruímos o centro da cidade.
Não digo que o modelo é exportável,
mas no nosso caso, vivi isso tão de perto
me me disse: "Se não lutarmos contra isso",
Estamos acabados, como cultura. Poderemos defender uma cultura pelo turismo,
mas nosso modo de vida vai ser modificado."
Então, deslocamos a reitoria,
fizemos com que o Conselho Municipal nos aceitasse,
junto ao Comite de Urbanismo,
em seguida, eu disse: "Vamos a igreja,
vamos convocar todos os cidadãos de Val-David,
e vamos lhes apresentar o projeto,
que se chama "Ao Redor de meu jardim".
O projeto foi recebido por uma espécie de entusiasmo
da comunidade, dizendo:
" Não somente salvávamos a mercearia,
mas ao mesmo tempo, embelezávamos o coração do vilarejo".
E o projeto foi aceito.
Quando sai da igreja,
disse ao Sr Dufresne, o proprietário do Metro,
"Ali, acabamos de fazer com que os cidadãos sonhassem......
Você tem dinheiro pra fazer isso?"
(Risos)
O problema foi colocado.
"Não tenho dinheiro. Está previsto para mudar
o Metro, para o interior, para os produtos......
Mas não para tornar o meu Metro numa obra de arte....."
Então eu disse, " Vou te propor algo.
Vou assinar um contrato onde você vai pagar os materiais,
porque é uma obra de 160 metros de comprimento,
que o contorna inteiro, e que vai estar toda arborizada com o passar dos anos......
você vai pagar os artistas assistentes,
e vou permanecer proprietário da obra
(se vocês forem a Val-David, poderão vê-la,
está no centro do vilarejo),assim
assim como você vai ficar com a mercearia".
Há realmente uma clausula no contrato.
Se ele fechar a mercearia, tiramos a obra.
É uma proteção que temos por este tipo de obra.
Então vimos a realização, que foi uma realização monumental,
pois não só é
uma integração com a comunidade,
mas embarquei numa complexidade
de um artista conhecido num pequeno vilarejo.
A população esperava de mim. Se pisasse na bola,
supondo que não estivesse bom,
todas as manhãs. quando for ao vilarejo,
à mercearia, irão me dizer.
Não é uma exposição numa galeria,
quando termina, vocês fecham a exposição
e vão embora. Eu me disse:
"Há uma agonia terrível com relação à comunidade".
Minha equipe e eu, nos dizíamos:" Não somente
esperam muito de nós, pela nossa comunidade,
mas temos o desafio de conseguir".
Foi uma obra muito inspirada
na natureza, na flora de Marie-Victorin,
em pesquisas de pássaros, de peixes,
na alimentação.... É uma obra que embeleza os lugares.
Eu tenho muita confiança nisso,
pois não somente consegui na minha comunidade,
mas também na ideia de que o artista dentro sua comunidade
deve modificar sua vida, seu ambiente,
sua qualidade de vida Vemos a equipe aqui,
e vemos no momento da inauguração.
E vemos um pouco as vegetações
que começam a subir. Todo o predio
vai estar arborizado em cinco ou seis anos.
Ele vai mudar de cor. Vai ficar vermelho no outono,
verde na primavera. É uma obra
que vai modificar seu ambiente.
vemos atualmente, na inauguração,
É talvez um dos mais belos momentos da minha vida
que vivi como artista na comunidade.,
de ver toda a comunidade
se aliar à ideia de sua mercearia
e de uma obra de arte cuja eles são agora como proprietários,
como os Jardins do Precambriano.
É como uma relação com a comunidade
que faz o artista.... Eu sai do meu ateliê,
e - fui formado no México,
pelo artistas de murais mexicanos. Sempre considerei que a arte,
se não tiver um publico,
não tem sentido. A arte, é feita num ateliê,
sozinha, com um artista, mas a arte existe
se houver um "observador", alguém que a compre,
que viva com, e ao meu ver, a nossa qualidade de vida, o nosso meio ambiente.....
É preciso integrara a cultura na nossa qualidade de vida.
Não podemos ter uma cultura elitista
nas cidades devastadas.
Nas cidades destruídas, onde só teremos
vias rápidas, e onde vamos viver
numa espécie de patrimônio histórico
como é a Quebec folclórica.
É urgente, que os artistas deem as mãos
aos Conselhos Municipais, pois os conselhos municipais
são controlados pelos desenvolvedores,
e pelos cidadãos.
E depois vocês sabem, o problema da corrupção no Quebec,
É isso. São os desenvolvedores que decidem nosso modo devida
Então termino com isso. Agradeço muito a vocês.
(Aplausos)