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Eu não sei se é uma percepção minha, mas aqui no Brasil, em geral, a gente tem ou pelo
menos a gente ouve mais experiências ruins de pessoas que fizeram sociedade com uma outra
pessoa, do que experiências boas. Normalmente, a gente ouve muitas pessoas reclamando do
sócio, que não teria feito aquela sociedade, que brigou com o sócio, que a sociedade não
deu certo, e isso na verdade é uma coisa ruim. Essa percepção de que ter sócio ou
fazer uma sociedade com alguém é uma coisa ruim. Porquê? Normalmente, as pessoas que
acreditam nisso vão tentar empreender sozinhas, e empreender um negócio próprio é uma atividade
que parece romântica, linda, que você vai realizar o seu sonho, mas no dia a dia é
muito difícil. Você vai ter muitos desafios, muitos problemas, assim problemas numa quantidade
absurda, alguns problemas que você nem imaginou que iria ter, e é aí que entra a questão
da sociedade. Muitas vezes, você ter um time de pessoas realmente comprometidas com o negócio
desde o momento zero, vai fazer com que você tenha mais músculo, mais braço, mais pernas
do que se tivesse que empreender sozinho. Para você não cometer os erros que normalmente
a gente critica, você tem que primeiro ter algumas preocupações em como é que você
monta uma sociedade. A primeira reflexão que você tem que ter é que você tem que
ter um sócio que complemente as necessidades da empresa. O que é que é comum? Você ter
uma sociedade em que a pessoa entra porque, na verdade, burocraticamente você precisa
de ter um sócio, porque a empresa precisa de ter duas pessoas para montar um negócio.
Hoje tem uma categoria que é chamada "EIRELI", em que na verdade você não precisa ter um
sócio, você pode ser o empreendedor único, mas em algumas classificações você precisa
ter duas pessoas para montar um negócio. Mas se você pensa em montar um negócio de
fato, você vai precisar de uma pessoa que tenha uma competência complementar à sua.
Se você vende bem, tem que ter um sócio que faça bem, que produza bem; se você produz
bem, você vai ter que ter um sócio que venda bem. Então, primeira coisa é: você não
pode ter um negócio com duas, com três ou quatro pessoas que tenham as mesmas competências;
isso é uma falha gravíssima. Você vai começar um jogo... Você vai ter um jogador que vai
ter, sei lá, dois pés esquerdos ou dois pés direitos. Aí, não vai funcionar muito
bem. Vai ter que ter um pé direito e um pé esquerdo, vai ter que ter competências complementares.
Segunda preocupação ao pensar numa sociedade: você tem que pensar ir numa estrutura de
aconselhamento. Normalmente, a sociedade é um casamento, e casamento tem brigas, tem
desentendimentos. Nesses momentos de desentendimentos, vale muito a pena os empreendedores terem
a figura do mentor, do conselheiro. É muito saudável, desde o momento zero, você buscar
pessoas que vão estar comprometidas com o sucesso, vão estar preocupadas com o sucesso
do negócio, e vão dar opiniões imparciais. Não vai puxar a sardinha nem para um empreendedor,
nem para o outro empreendedor. Esse conselheiro vai ajudar a empresa a tomar as melhores decisões
para o negócio, e não para a pessoa física que é o sócio. Então, ter um mentor, um,
dois ou três mentores, mesmo que seja informal no início. Conversar o negócio com o mentor,
com o conselheiro de tempos em tempos é uma prática muito saudável. Terceira dica é
colocar isso no papel. No momento de você montar a sociedade, você tem que ter uma
espécie de acordo de acionista. Se buscar na Internet, você vai achar modelos de acordo
de acionistas aí. Você precisa de ter um acordo de acionistas, eventualmente um acordo
de cotistas, se você for uma empresa limitada, mas você vai ter que ter esse acordo de cotistas
ou acordo de acionistas, que vai colocar qual é o papel de cada um na sociedade. Quais
são as obrigações, quais são os deveres de cada sócio? E principalmente, como é
que ele vai ser avaliado? Tendo esse acordo desde o momento zero, no momento em que ainda
está todo o mundo em paz, todo o mundo sonhando com o sucesso do negócio, é muito saudável.
Nos momentos de crise, você vai consultar lá o acordo de acionista ou de cotista, e
você vai ver o que cada um se comprometeu a fazer, e se cada um está entregando aquilo.
E aí o mentor pode ajudar a entender se aquele acordo foi quebrado ou não, se ele está
sendo atingido ou não, se ele pode ser melhorado ou não; eventualmente você pode fazer ajustes
no acordo. E a última dica é que você tenha um certo planejamento: o que é que a empresa
pretende fazer nos próximos meses, ou eventualmente nos próximos anos? Isso também tem que ser
acordado desde o primeiro momento. Não precisa estar tão detalhado, mas de uma certa forma,
você tem que mapear quais são as principais conquistas, quais são os principais objetivos
que a empresa vai ter que atingir nos próximos meses ou ano. Então, isso também te dá
uma certa direção para o negócio. Se você tiver essas preocupações, a sociedade tende
a ser muito mais benéfica. Ela tende a ser muito mais construtiva e, muito provavelmente,
você vai ter que arranjar uma outra desculpa para reclamar do seu sócio, não essas de
ficar reclamando que o sócio não colabora, o sócio só prejudica o negócio. Então,
ter sociedade é muito saudável, vai-te poupar tempo, vai fazer com que você faça aquilo
que você faz de melhor e a empresa tende a se beneficiar muito mais dessa atitude.