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Bem vindos irmãos outras vez para o nosso video
NÃO PEDIR A CRUZ: ACEITÁ-LA
Vede, meus Irmãos, como estamos longe, muito longe,
da heresia jansenista que ensinava que o sofrimento é castigo,
é maldição dum Deus vingador que nos esmaga.
O nosso Deus não é um Deus vingador,
mas um Deus cheio de doçura que nos dá a cruz com tanto amor.
Compreende-se então que tenha feito da Sua Mãe, muito amada, a Rainha dos Mártires.
É este um bom exemplo a dar aos que sofrem sem compreender.
«Vejam como Ele tratou a sua própria Mãe.
Não A amaria porventura?
Não A amava mais que tudo no mundo?
Pois fez d'Ela Rainha dos Mártires».
Visto havermos de passar a eternidade toda a agradecer-Lhe o tempo vivido na provação,
comecemos já a bendizê-lo.
Devemos pedir a cruz? Não.
Devemos procurá-la? Também não.
Vivamos esta doutrina do abandono.
Aceitai tudo o que vos acontecer, dando graças a Deus.
Dizei um contínuo «obrigado por tudo, Jesus». É quanto basta.
Não devemos pedir a cruz, mas saber aceitar com alegria
todas as que Jesus escolheu para nós.
De resto, cruzes não faltam.
Santifiquemo-nos por meio dos nossos deveres de estado,
na nossa vida quotidiana, levada com os seus espinhos.
Aceitemos todo o dever, todo o fardo, com o sorriso nos lábios, sorriso de boa vontade.
Digo bem: de boa vontade.
Os mais belos sorrisos são os que acompanham as lágrimas que correm, sem podermos evitar.
Aceitemos as cruzes não previstas; são as mais penosas:
- a doença que nos imobiliza;
- a consciência de sermos inúteis e a cargo dos outros;
- a de sabermos que somos necessários, estando impossibilitados de fazer o que era preciso;
- as humilhações, as contradições, as maledicências, as calúnias,
as nossas boas intenções mal julgadas, as questões de famílias,
os lutos tão dolorosos, as separações, os reveses da fortuna,
e o suportarmo-nos a nós próprios com as nossas mil misérias físicas,
intelectuais e morais...
Sem falar nas angústias determinadas por Deus.
Quantos sofrimentos ao longo de toda a nossa vida!
-E ainda a cruz de termos levado tão mal a nossa cruz.
Há aqui qualquer coisa muito prática.
Quantas vezes não teremos pensado:
«Eu tinha tomado a resolução de ser generoso no sofrimento.
Veio uma prova e refilei; até me revoltei. Quantos méritos perdidos!».
Acrescentamos assim à nossa cruz a de a termos levado mal.
É aqui que têm aplicação as palavras de Santa Teresinha:
«Quereríamos sofrer generosamente. Quereríamos não cair nunca. Mas que ilusão!»
Vede que falta de lógica: gemer por ter gemido e continuar a gemer.
Não! Digamos a Jesus: “aceito agora esta cruz que me enviastes e que eu recusei;
e aceito não a ter aceitado imediatamente.”
Eis o grande recurso da confiança humilde levada até aos extremos limites.
Podemos sempre, no momento presente,
lançar-nos nos braços de Jesus, permanentemente abertos para nos receberem.
É o momento presente que interessa.
Podemos sempre, neste momento presente, tirar partido de todo o passado, dando-Lho,
para penetrarmos no fundo do Seu Coração.
Quantas pessoas arrastam no mundo a sua cruz, como se fosse uma grilheta!
Eis um belo apostolado a realizarmos junto dessas pessoas que nos procuraram:
revelar-lhes o valor da cruz, a alegria da cruz.
As almas compreendem isso, compreendem tudo o que é verdade divina,
visto serem feitas, criadas e moldadas por Deus para a compreender.
Mas é preciso saber dizê-la com muita delicadeza e muita compaixão,
e, ao mesmo tempo, muita convicção.
Devemos começar sempre pela compaixão,
quando falamos com os que sofrem física ou moralmente.
Começar por partilhar os seus sofrimentos. Dizer-lhes:
«Compreendo, compreendo que sofra tanto. Compreendo os seus lamentos».
Depois, procurar por todos os meios remediar esses sofrimentos,
tratar-lhes as chagas, ser o bom Samaritano.
Se Jesus, que chorou junto da sepultura de Lázaro, vive no nosso coração,
é Ele que há-de inspirar-nos o que havemos de dizer e fazer,
porque é o que Ele sempre fez. A compaixão, a compaixão, que grande coisa irmãos!
No Calvário, Maria foi associada a Jesus, na Redenção, pela compaixão de amor!
Sofrer com os que sofrem, fazer o possível por ajudar, aliviá-los,
mas sempre com a mesma delicadeza, fazer-lhes compreender,
pouco a pouco, o valor da cruz; que há uma outra vida,
que é sempre por amor que Jesus manda a cruz.
Não bastará toda a eternidade para Lhe agradecer
as cruzes que nos terão permitido merecer um pouco
essa ventura que será nossa e não acabará nunca.
Dizia alguém: «Quando Jesus me dá uma cruz, é a Sua Cruz que Ele põe,
realmente, aos meus ombros e de cujo peso Ele Se alivia nessa mesma medida».
Um grande tesoiro do sofrimento é ainda ensinar-nos a compartilhar do sofrimento alheio.
Quem sofreu muito compreende muito melhor os sofrimentos dos outros.
E depois, Jesus doseia com tanta delicadeza e ternura as dores e alegrias!...
Há uma certa união de Amor que só se realiza na dor partilhada....
Recordemos, enfim, que o Amor é tudo.
Dizia alguém: «Afinal, na vida, vamos de revés em revés.
Como é bom saber que, se estivermos unidos a Jesus,
Ele transforma todos esses reveses em vitórias!»
Escutemos Marie Noel:
«E que me dará Jesus, o Senhor, pelas nossas bodas de oiro de casamento?
Receio bem que seja um grande ramo de espinhos. São os Seus presentes.
Mas eu hei-de recebê-lo beijando-Lhe as mãos.
Todos os espinhos que Ele me tem dado vieram, por fim, a florir.»-
Irmãos, aceitemos com amor a cruz! Ela florirá!
A Bênção de Deus Todo-poderoso e Misericordioso,
Pai, Filho e Espírito Santo desça sobre vós, sobre os que sofrem, e permaneça para sempre. – Ámen.