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Pessoal, bom dia. Para mim e um prazer enorme estar aqui
agradeco o convite.
E e muito legal suceder o Denis, porque
eu tenho uma frase que eu acho que
define bem o que ele falou:
"No Brasil a gente pode morrer de infarto, mas de tedio, nunca".
E e mais ou menos isso que, de uma forma um pouco mais sintetica
que ele disse.
E o que que eu vou discutir aqui com voces?
Uma ideia, que pode ser meio esquisita
mas que eu gostaria de compartilhar com voces.
O homem como ponto central da questao ambiental.
Se a gente for olhar... eu vou pegar um exemplo:
Vamos pensar o Rodoanel.
Nos estamos fazendo uma enorme avenida que circunda uma estrada que circunda Sao Paulo
e para isso a gente teve que fazer estudos de impacto ambiental
varios, para nao impactar fauna e flora.
E para fazer uma avenida por uma regiao residencial?
E para o CET colocar uns cones na rua e desviar e capilarizar o trafico?
Qual o estudo de impacto ambiental que e necessario para ver?
Sera que esse sentimento de culpa que a gente tem por contaminar o meio-ambiente nos
exclui de pensarmos sermos vitimas?
Essa e uma questao que eu acho que pela qual a gente deveria
refletir um pouco sobre essa forma de ser.
Vamos pensar...
como medico.
Eu sou, por incrivel que pareca, medico.
Ontem eu perdi um jantar do TED porque eu estava vendo um transplante de pulmao la no Encore.
Mas eu tenho essa vida de pesquisador de meio-ambiente.
Mas vamos pensar que o planeta e um individuo.
Cada pais e um orgao e nos somos as bilhoes de celulas que constituem esse orgao.
Vamos descrever a doenca planetaria.
Vamos pegar um paciente com febre
nao esta esquentando?
Com uma dependencia quimica de uma droga chamada "petroleo";
uma obstrucao arterial difusa, porque tem uns congestionamentos nas nossas arterias obstruindo o fluxo;
uma obstrucao de vias aereas, pela qualidade do ar que e ruim;
diabetes, porque eu nao uso energia eficientemente;
insuficiencia renal, porque eu nao consigo colocar para fora os meus dejetos;
alguns tremores de terra, uma certa flatulencia externada sob a forma de tornados e tufoes;
uma certa impotencia, vamos admitir
entre quatro paredes, porque a gente nao consegue tomar uma atitude necessaria para isso;
e uma disfuncao cognitiva, como se fosse um Alzheimer precoce
porque os neuronios dirigentes
acham que o planeta nao vai esquentar mais do que alguns centesimos de grau ate as proximas eleicoes.
Esse e o quadro clinico do paciente.
E se o organismo esta doente, as celulas estao doentes.
Na cidade de Sao Paulo, morrem 4 mil pessoas a mais por ano devido a poluicao do ar.
Por AIDS e um pouquinho menos de mil.
Tuberculose, 500.
Porque que a gente nao considera a poluicao como um problema de saude?
Quem legisla sobre meio-ambiente e o Ministerio do Meio-Ambiente que nada entende de saude
e, por sua vez, a saude nao entende o meio-ambiente como sendo parte dela.
E nesse momento o homem esta totalmente despreparado
Vamos voltar ao nosso paciente.
Quando esquentar o planeta de acordo com os modelos climatologicos, se estiverem certos
Aonde que vai desertificar?
Em quem ja e semi-arido.
E a nossa cisterna nao vai ter chuva.
Ou se tiver
vai chover muito antes, de tal forma que a capacidade de armazenamento nao consegue dar conta.
Como aconteceu esse ano no Nordeste.
As cisternas nao aguentaram, os acudes nao aguentaram.
30% da populacao do planeta vive em rios que nascem nos Himalaias, nas geleiras dos Himalaias.
Quando acabar a agua para esse povo, para onde eles vao?
Se a escassez de alimentos e a escassez de agua
ocorrerem, nos poderiamos imaginar um novo fundamentalismo
nos temos o fundamentalismo politico, o fundamentalismo religioso
vamos ter um novo fundamentalismo ambiental.
Nos vamos aumentar o cinturao de pobreza em torno das cidades
a malaria aumentando, invadindo regioes temperadas, dengue.
Todas as doencas carregadas por mosquitos vao afetar o homem, mas vao afetar igualmente?
Elas vao afetar de forma homogenea?
40cm a mais de nivel do mar vao afetar igualmente a Holanda ou Samoa?
Essa e uma questao central que tem que ser colocada porque ha o homem agressor
mas tambem ha o homem impactado, e e sobre ele que nos vamos discutir.
Eu sou um patologista e eu tenho uma sala tematica que
na faculdade de medicina voltada para o cemiterio do Araca.
E a faculdade de medicina fica exatamente entre o Hospital das Clinicas e o cemiterio do Araca
nos ligamos esses dois compartimentos.
Entao eu olho para o produto final das nossas acoes.
E eu vejo o carro da moda dos professores titulares da faculdade de medicina e o Kaene
e e o maximo ne? Cada um compra um para ficar todo mundo igual
um faz xixi no poste do outro.
A gente esta la, e eu vejo que o reloginho da CETESB marca um tanto de poluicao na Dr. Arnaldo
Mas sera que a dose da pessoa que esta dentro do Kaene com ar condicionado
funcionando no modo de recirculacao interna
tem a mesma dose do individuo que esta no ponto de onibus, esperando?
O tempo de permanencia das pessoas no corredor de trafego quando se e mais pobre
e muito pior, muito maior.
A dose e maior.
O onibus velho, que nao pode rodar no corredor 9 de Julho, ele desaparece no ar?
Nao, ele vai para a periferia, ou vai para cidades de menor porte.
O aterro sanitario Sao Joao, que esta se esgotando, esta fazendo com que Sao Paulo exporte
lixo para outras cidades
que recebem por isso.
Entao, nao e so a Inglaterra que empacota fralda suja
e manda em conteiner para a gente
Nos fazemos isso.
Isso que eu chamo de "racismo ambiental"
Assim como existe um novo fundamentalismo, existe uma resposta a isso:
que e a chamada... o modelo prevalente hoje no mundo
e "ordem pela forca".
Nao e "ordem pelo compartilhamento".
E no modelo de ordem pela forca, a forca economica determina esse poder.
E isso explica que nos praticamos uma forma de racismo que para mim nao tem justificativa etica
como qualquer outro racismo.
O caminhao vendido no Brasil
polui 90% mais do que o mesmo modelo vendido na Suecia e fabricado no Brasil.
Qual e a razao de saude para explicar que o pulmao do brasileiro e 90% mais resistente do que o sueco?
Ou que o coracao, ou que os bebes, ou que os idosos?
Este e um tema central na questao
eu acho que o que a gente deveria incorporar aqui
talvez como proposta
e incorporar os custos das externalidades de certas opcoes economicas da matrix do produto.
Veja, quando voce fala com uma companhia de petroleo
eu fiz uma conferencia uma vez na Academia Nacional de Ciencias dos EUA
para discutir este tema exatamente que estou propondo aqui
e nao prosperou muito, porque isso foi em 2007 e ate agora nao se conseguiu colocar isso na pauta
mas, o presidente da Exxon, ele dizia o seguinte:
"Olha, nos tiramos petroleo a 3 dolares o barril na Arabia Saudita e vendemos a 80 dolares o barril
na bolsa de Londres.
Nao ha nada que desloque esse tipo de lucro".
Embora todo o mundo se diga sustentavel
e todas as companhias de petroleo coloquem isso numa maquiagem verde
e fazem acoes de sustentabilidade
eles preservam animais silvestres, eles dao lustro no casco da tartaruga do Tamar
e fazem permanente no mico leao dourado.
Mas nada que interfira na sua estrategia de negocio.
Porque o custo, o ciclo de vida do combustivel e calculado da bomba ao posto
Vamos colocar esse raciocinio numa industria farmaceutica.
Eu me responsabilizaria entao pelos efeitos colaterais dos remedios
ate o momento em que eles chegassem na prateleira.
Depois que vendeu, nao e com eles.
Por sua vez, as companhias de carro
que tambem sao, na sua maior parte, sustentaveis
Elas dizem o seguinte... bom, nos EUA o presidente da GM
disse que nos EUA eles nao conseguiam vender mais carros
porque eles tem 760 veiculos por mil habitantes.
Entao, tem bebe que nao guia, tem doente que nao guia, entao empata
mais ou menos da um pouquinho mais do que um carro por habitante.
Estou excluindo o carrinho de bebe da conta.
Entao, o que aconteceu? Eles nao conseguem mais crescer e eles so podem crescer
canibalizando o outro
ou investindo, tomando estrategias diferentes
os asiaticos investiram em qualidade
e os americanos investiram em preco
ganharam os asiaticos.
Entao, para onde vai esse povo?
Na India, tem ao redor de 30 a 40 veiculos por mil habitante.
Vamos vender carro na India.
O custo de rua
o custo de ponte
o aquecimento
nao e com eles.
Pode esturricar a foca, nos vamos vender carro na India.
No Brasil, como nos temos 300 veiculos por mil habitantes
tem a chance de dobrar, um pouquinho mais que dobrar.
Dobrar, num cenario como esse
a nossa mobilidade chegou a 12km/h na cidade de Sao Paulo.
Se os bandeirantes viessem teletransportados numa maquina do tempo
e andando em tropas de mulas
eles chegariam primeiro que a gente.
Entao eu tenho um modelo
que mata gente, aquece, atropela o planeta do ponto de vista ambiental
e nao traz vantagem nenhuma em termos de mobilidade.
E essa a questao central e afeta predominantemente gente pobre.
Os profissionais de saude
durante muito tempo nao acharam isso como sendo um tema, mas comecaram a acordar.
A Associacao Medica Mundial montou um grupo
que eu fiz parte
para apresentar uma pauta para Copenhague que foi referendada agora numa reuniao em Delhi.
E pautou a acao por alguns topicos.
O primeiro e esclarecimento:
e isso que nos estamos discutindo aqui, esse paradoxo.
O segundo e liderança, por exemplo:
todas as instituicoes de saude, e os profissionais de saude enquanto pessoas fisicas
deveriam tambem liderar pelo exemplo, quer dizer
voce vai no medico e ele: "Pare de fumar" e ele acende dois cigarros.
E tambem nao pode sair com o Kaene, voce concorda?
Se voce operou voce tem que adotar metodos mais sustentaveis de fato.
Parcerias com a sociedade, para poder propor medidas como a cisterna
como outras coisas, nao podemos ficar naquela situacao de ficar so curando, so tratando
da mitigacao.
Da adaptacao, melhor dizendo.
Nos deveriamos discutir francamente os aspectos eticos dessa questao.
O fato de quem vai pagar a conta
sao as pessoas que menos contribuiram nao tem justificativa moral ou etica de forma alguma.
Nos temos que trabalhar com a nocao de limites, assim como nos temos limites para colesterol
o quanto posso comer de gordura trans, o quanto eu posso beber
nos temos que trabalhar o conceito de limites.
Limites que sao muito obvios
por exemplo, este relogio aqui esta escrito que vai a 100m de profundidade
eu nunca passei de 1.
Entao, essa questao...
Voce ve aquele 4x4, turbo, *** V6
voce compra o sonho de subir num penhasco, eles colocam no outdoor aquilo
mas voce nunca encontrou um penhasco para subir.
E esse e um problema que tem que ser trabalhado, quer dizer
debaixo de cada coisa do carro deveria ter: "Esse modelo contribui para o aquecimento global"
assim como tem para o cigarro.
"Contribui para a emissao de poluentes, e contribui para entupir as arterias da cidade".
Porque ele ocupa muito mais espaco do que outro.
Se eu vender esse ovomovel a corda, uma coisa que desse corda, um triciclo
que andasse a 20/h ninguem comprava
embora pudesse andar mais depressa do que o carro que esta marcado 200 mas anda muito menos.
Nos deveriamos nos preparar para a litigancia para explicar isso.
E eu so gostaria de terminar dizendo uma coisa:
Eu gosto muito de radio
eu escuto radio e o radio tem varias funcoes, informar e para mim
o maior de psicoterapia em *** que e o Ouvinte Reporter.
Que vira e fala: "Eu estou congestionado aqui na radial"
o outro também fala: "Eu tambem estou aqui..."
Entao voce se sente parte de um todo...
E isso da um conforto pessoal.
Mas eu nunca vi ninguem falar: "Nao pega o Butanta/USP que ta lotado".
"Nao pega o metro da zona leste que esta lotado".
Eu acho que e nosso papel dar espaco para esse pessoal.
Muito obrigado.