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Quase todo mundo já ficou chateado porque comprou um equipamento com um tipo de tomada
elétrica, e não conseguiu ligá-lo num quarto onde as tomadas eram de outro tipo. Algo tão
simples como o jeito de interconectar dois ou três fios elétricos pode nos dar muita
dor de cabeça!
Na Internet temos milhares de empresas fabricando equipamentos, criando softwares e prestando
serviços. A Internet é realmente muito mais complicada do que uma tomada elétrica, mas
ainda assim funciona muito bem. Isso só é possível porque existem padrões tecnológicos.
Padrões são apenas regras sobre como as coisas devem funcionar, permitindo uma uniformidade
necessária para que trabalhem em conjunto. Os padrões usados na Internet são criados
por um grupo chamado IETF, ou Internet Engineering Task Force. Em português, poderíamos traduzir
para Grupo de Trabalho de Engenharia da Internet. O IETF é formado por gente que vem de provedores
e fabricantes de equipamentos, por pesquisadores, professores, estudantes e outros. Basicamente,
qualquer um que estiver interessado pode participar. Vamos conhecer algumas dessas pessoas.
Márcia é professora e pesquisadora na área de redes e Internet. Algumas das tecnologias
em que ela está interessada só serão utilizadas por nós daqui a dez ou vinte anos. Mas para
fazer um bom trabalho, Márcia tem de estar atenta também à tecnologia que é usada
hoje na Internet. Por isso Márcia participa do IETF. Além de encontrar outros pesquisadores,
ela tem a oportunidade de contato direto com fabricantes de equipamentos e provedores.
Ela mantem-se à par dos desafios presentes, enquanto também olha para o futuro. Assim,
consegue ser uma professora muito melhor. Márcia colabora em alguns grupos de trabalho,
contribuindo com seu conhecimento para a solução de problemas, e para o aprimoramento das tecnologias
da rede. Ela sabe que a transferência de tecnologia das universidades para as empresas
é algo bom pra sociedade, e fica muito satisfeita por poder fazer parte disso.
Carlos, por sua vez, é dono de um provedor que atende alguns milhares de usuários, operando
em cidades do interior. Ninguém conhece as dificuldades técnicas na operação de um
provedor Internet como ele. Muitas vezes ele tem idéias que poderiam simplificar seu dia
a dia, mas exigiriam mudanças no funcionamento da própria Internet. Por isso Carlos participa
do IETF. Ele quer ter certeza de que os problemas enfrentados por provedores como o dele estão
sendo levados em consideração na criação de novos padrões tecnológicos. Acha que
muitas vezes o pessoal acadêmico não conhece tão bem o dia a dia, e que os fabricantes
de equipamentos nem sempre conseguem representar fielmente os interesses de seus clientes.
Já o Paulo é da equipe de engenharia de um fabricante de equipamento de redes. Eles
sabem que têm de estar inseridos no grande ecossistema da Internet, para poder sobreviver
no mercado. Sabem que sua tecnologia tem de funcionar em conjunto com tudo o que já existe
na rede, e com o que virá no futuro. Por isso, Paulo participa do IETF. Atualmente,
ele contribui ativamente no grupo homenet, que trata dos protocolos necessários para
uma rede residencial num contexto em que há cada vez mais dispositivos conectados e em
que o IPv6 e a Internet das coisas são o dia a dia. O principal produto da empresa
de Paulo são pequenos roteadores domésticos e dessa forma ele pode garantir que funcionarão
bem. Ele também garante que a realidade do mercado nacional será contemplada pelos novos
protocolos.
O IETF trabalha com padrões abertos. Isso quer dizer que são criados num processo aberto
à participação de todas as partes interessadas, e que prioriza o mérito técnico nas decisões.
Quer dizer também que os padrões estão disponíveis publicamente, livres de royalties
ou outros impedimentos, permitindo que qualquer interessado os utilize em seus produtos. A
adoção desses padrões é voluntári, mas todos os utilizam. Isso acontece porque eles
funcionam, são baseados em soluções testadas, e porque são criados num processo de consenso
aproximado. Não são como os padrões para as tomadas elétricas e tantos outros, que
são obrigatórios e ainda assim causam problemas.
Para participar do IETF basta entrar no site www.ietf.org. Lá estão listados vários
grupos de trabalho diferentes, divididos em áreas, cada um cuidando de um assunto em
particular. Os grupos são criados para resolver problemas específicos e normalmente deixam
de existir depois depois que terminam seu trabalho. Na página de cada grupo há uma
descrição dos seus objetivos. Há também um endereço para uma lista de emails, e links
para os documentos que o grupo está discutindo.
Uma vez que você tenha escolhido os grupos de que quer participar, basta assinar as listas
de email e começar a interagir. É importante que você leia as mensagens por alguns dias,
para entender como as coisas funcionam, e só então comece a contribuir. O trabalho
é feito em inglês, já que há gente do mundo todo envolvida. Não existe um processso
de registro ou afiliação formal ao IETF. E não interessa muito de que instituição
você vem. Você será valorizado pelo que disser, pelo mérito técnico de suas contribuições.
Nas listas, a discussão gira em torno de documentos, chamados drafts, o que numa tradução
livre significa "rascunho". Um draft pode ser uma proposta para um novo protocolo, ou
padrão tecnológico, uma proposta para melhorar um padrão existente, ou para um documento
informativo. Uma vez que um documento é aprovado ele passa a se chamar RFC, ou Request for
Comment. As RFCs são o principal "produto" do IETF: os padrões usados na Internet.
Os participantes do IETF também se reúnem presencialmente três vezes por ano. Geralmente
essas reuniões são na América do Norte, Europa ou Ásia, mas é possível que em breve
haja também reuniões na América Latina. Não se preocupe se você ou sua empresa não
podem pagar os custos da viagem. É possível participar ativamente do IETF apenas pelas
listas de email. Além disso, a Internet Society oferece algumas bolsas para participantes
que atendem a determinados requisitos.
Então é isso. Você já sabe porque o IETF é importante. E já sabe também como começar
a participar. Acesse www.ietf.org e comece hoje mesmo.