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Quinquilharia é um quadro do Vozes da Igualdade. Eu sou Debora Diniz e converso com vocês
todos os sábados. O Quinquilharia de hoje inaugura uma nova série: Como sobreviver
aos Comitês de Ética em Pesquisa.
O título é quase engraçadinho, mas a conversa é muito séria. Há um grande desafio para
as pesquisadoras em Ciências Sociais e Humanas em sobreviver a essa burocracia, esse conjunto
de protocolos dos Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil.
Eles foram modelos pensados e idealizados para pesquisa biomédica. Mas, por pesquisa
biomédica, um campo muito específico da pesquisa em Saúde. Pesquisa com novos medicamentos,
novos fármacos, cujos riscos e danos à saúde das pessoas era tão sério que podia levá-las
à morte.
Ou seja, quando se pensou esse modelo e se pensou uma das suas peças chaves, que é
a Quinquilharia de hoje, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, também conhecido como
TCLE.
Ele é um modelo contratual. Contratual mesmo. Um papel, do qual se preenche nome, nome da
pesquisadora, risco, benefícios, como os resultados vão ser devolvidos, financiadores,
nome da universidade e do comitê ao qual a pesquisa está vinculada.
Esse era um modelo de contrato, que vocês imaginem, para uma pesquisa financiada pela
indústria farmacêutica. A uma pesquisa que havia os riscos tão graves que eu mencionei.
Esse modelo, muito certo para essa área de pesquisa, foi importado para nós, que fazemos
entrevistas, questionários, observação, ouvimos histórias de vida.
Imaginem vocês, nas nossas pesquisas com mulheres que já fizeram aborto – o aborto
é um crime – são histórias de segredo. São histórias que as mulheres têm medo
de contar para pessoas desconhecidas a verdade do que fizeram, como fizeram, aonde acessaram
as formas de fazer um aborto.
Imaginem nós chegarmos na casa dessas mulheres, batermos à porta, e antes de fazermos qualquer
aproximação de empatia com elas, apresentarmos um contrato, chamado Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Sabe como é que sobrevivemos a essa burocracia dos comitês? Iniciando o Termo de Consentimento
Oral. Nós levamos a sério informar às mulheres, esclarecê-las sobre riscos, benefícios,
sobre quem nós somos, quem nos financia. Mas em um modelo diferente de encontro para
o tipo de pesquisa que nós fizemos.
Se a série “Como sobreviver aos Comitês de Ética em Pesquisa” também fizer sentido
a você e se você também tiver outras perguntas sobre como sobreviver, escreve para a gente.
Eu terei imenso prazer em voltar aqui e conversar com vocês.
Até a próxima.