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No século XVII, embora rodeados de inimigos,
a Espanha dominava o mundo.
O rei era Filipe IV, o "Rei do Planeta",
e os seus territórios com mão de ferro pelo seu protegido,
o Grão-duque de Olivares.
À Flandres, às américas, às Filipinas,
a parte de Itália e ao Norte de África,
foram juntados Portugal e as suas colónias,
mas foi na Flandres, numa longa e cruel guerra,
que se iria combater pela sobrevivência do Império.
Um império mantido por exércitos profissionais
cujo corpo principal eram os veteranos
dos temidos regimentos de infantaria espanhóis.
Esta é a história de um desses homens...
Flandres. Inverno, 1622
Aqui, Conde!
Conde, dê-nos cobertura!
Retirar!
Fique perto de mim, Conde.
Segure-se à minha camisa.
Morre, cão católico!
Merda.
Lope.
Meu filho...
Meu filho, Diego...
Meu filho, Diego. Meu filho.
Don Diego Alatriste: de acordo com o que desejava o meu pai,
que morreu, Deus o tenha, na terra dos heréticos,
envio-lhe o meu irmão Inigo, pois não tenho meios para o sustentar.
Ele sabe matemática, sabe ler e escrever,
é obediente e aprende depressa,
embora seja algo teimoso e goste de fantasiar. MADRID, UM ANO DEPOIS
Como sabe, o meu pai queria que estudasse,
que fosse para a universidade, mas ele quer ser soldado.
Rezo para que Deus e Vossa Senhoria não permitam tal coisa.
Ana Balboa,
Oñate, Guipuzcoa.
Essa qual é?
"M".
Está mal-humorado hoje, don Francisco.
E como vai a tua petição?
Acredito que Filipe o Grande e o seu protegido Olivares
limparam o cu com ele.
Isso ainda é uma grande honra.
Uma honra para o seu rabo real.
O papel era bom, custa meio ducado por cada resma,
e com a minha melhor caligrafia.
Diz-se que Olivares começa a ter-te em grande estima.
Sim.
Até me dá licença para viver em Madrid.
Ele precisa dos teus versos.
Não me lixes, Capitão!
Fazes um melhor amigo que um inimigo.
Assim o dizem.
Desculpe interromper, senhor de Quevedo.
Eu e os meus amigos perguntava-mo-nos se estes versos eram seus...
"Aqui jaz, na negra sepultura debruado, sem vida e condenado
que vendeu alma e corpo por dinheiro
e que mesmo na morte tem falta de gosto e estilo. "
"Na negra sepultura debruado... "
Podiam ser melhorados se fossem meus. Verdade, Inigo?
Claro, don Francisco.
De qualquer modo,
estará o Gongora tão arruinado para que lhe dediquem epitáfios?
Que eu saiba não.
Ouvi dizer que don Luis de Gongora ainda disfruta de boa saúde.
Está tão bem que ainda escreve a melhor poesia de Espanha.
Não desperdices o teu aço tão cedo de manhã, don Francisco.
E por tão pouco.
Acabou-se a festa.
O cornudo do condestável.
Ou te calas,
ou arrebento-te o cu ao pontapé.
Volta ao trabalho.
Diego, tenho trabalho para ti.
Há alguém que precisa de ti.
Trabalho seguro,
sem riscos,
excepto os do costume, claro.
E por um bom soldo... para partilhar.
Para partilhar?
Com quem?
Segue-me.
Dois senhores estrangeiros.
Chegarão a Madrid sozinhos, a cavalo, esta Sexta à noite.
O pagamento pelos teus serviços
será 60 escudos em dobrões. Para partilhar. De acordo?
Para mim serve.
Faltam três moedas de ouro a cada um.
Serão pagas quando completarem o trabalho satisfatoriamente.
Satisfatoriamente para quem?
Meus filhos,
Sou o Padre Emilio Bocanegra,
Presidente do Concelho da Santa Inquisição.
Os dois heréges têm de morrer.
Piedade!
Piedade!
Piedade para o meu companheiro!
- Deixa-o! - Zombas?
Nada disto faz sentido.
Eles não são simples hereges.
Podemos matá-los noutro dia.
Voltaremos a encontrar-nos.
Diego, estás metido numa alhada.
Imagino que sim.
A notícia vai espalhar-se depressa e Madrid estará num tumulto.
Vamos directo ao assunto.
Quem te deu essa missão?
Gente.
Não me aborreças, Diego. Que gente?
Isso era o que eu queria saber, Excelência.
Não vi as suas caras.
E o teu companheiro na emboscada? Também não viste a sua cara?
Como Vossa Excelência sabe, Eu caço sempre sozinho.
Diego, isto não é um interrogatório da Inquisição.
Bem, é como quiseres.
É o teu pescoço, não o meu.
Mas, só por curiosodade...
Sabes quem é que quase mataste ontem à noite?
Não, Conde. Dou-lhe a minha palavra.
Acredito em ti.
Então porque não os mataste?
Tive um pressentimento.
Senhor, ontem aconteceram coisas de extrema gravidade.
O Príncipe de Gales e o Duque de Buckingham
entraram incógnitos em Madrid.
Eles desejam ser recebidos por Sua Majestade.
Quase foram mortos numa emboscada.
Ordenei que se fizesse uma investigação para encontrar os culpados.
Senhor, esta visita inesperada obriga-nos a tomar uma decisão
sobre o possível casamento da sua irmã,
Princesa Maria, e o Príncipe de Gales.
Mandei reunir o Concelho de Estado
e o Comité de Teologia para que dessem a sua opinião.
Vem!
Vamos!
Não és muito bom.
Vem, ataca-me!
Que se passa, Inigo? Parece que viste um fantasma.
Não, não.
Dizem que o príncipe inglês sofreu uma emboscada.
Bem.
Eles sabem quem fez isso?
Dizem que foram ladrões.
As pessoas têm muita imaginação.
Vai buscar vinho.
Seu bruto.
Ajuda-me a levantar.
Não consigo levantar-me.
Como vou ir para casa?
Eu levo-te.
Sou muito pesado?
Não.
Não.
Como te chamas?
Inigo Balboa.
Pagem do Capitão Diego Alatriste.
Eu gosto de soldados.
O meu nome é Angélica.
Vais-te lembrar?
Claro que me vou lembrar.
Espero que sim.
Podes pôr-me no chão agora.
Espero que saibas o que estás a fazer.
Eu sei. Não te preocupes.
Dispensa aqueles homens.
Não mates aquele Batriste... Latriste, ou lá como se chama, ainda.
- Mas, senhora... - Eu tenho planos para o Inigo.
Preciso que aquele capitão olhe por ele até chegar à altura certa.
Depois podes matá-lo.
Sim, Capitão, é uma comédia.
Commissionada pelo Olivares para a rainha.
e dom Rafael vai produzí-la.
- Uma grande honra. - E vais ser pago
ou ficam-te a dever favores, como de costume?
Não sei nada de favores. Hoje é ontem, o amanhã ainda está por vir.
No entretanto, Olivares prometeu-me 500 reais.
Uma comédia...
Não é a tua especialidade.
- Como te atreves? - Não, o capitão está certo.
Mas se o pobre do Cervantes experimentou, porque não posso experimentar eu?
Dom Francisco, a minha mulher, a grande actriz Maria de Castro.
E Capitão...
Alatriste.
Diego e eu conhecêmo-nos.
Em que estás a pensar?
Devia manter-me longe de mulheres casadas.
Excepto se ela é a mulher mais desejada de Espanha.
Ainda não vi esta antes.
Faz muito tempo.
Quase três anos.
Senti a tua falta.
Não em Itália.
Acabou mal. Ela finalmente casou com outro.
Ouvi dizer isso.
Tu mudaste, Diego.
Talvez esteja a ficar velho.
Ou devido àquele rapaz que vive contigo.
Sabes que eu gosto de saber tudo.
Ele é filho de amigo que morreu na Flandres.
Prometi tomar conta dele.
E?
Tenho medo de estragar tudo, Maria.
Tudo acontece quando és uma criança.
Vais sair-te bem.
És um bom homem.
Não tenho tanta certeza disso.
É porque tratas de pouca gente.
Maria, tá na hora! Apronta-te!
Não te preocupes, continua.
Ele é um homem razoável.
Ganho muito dinheiro para ele.
E vale a pena?
Sou uma mulher prática.
Tenho de pensar no futuro.
Que se lixe o futuro.
No futuro estaremos todos mortos.
Diego Alatriste, prendo-te em nome da Santa Inquisição.
Tirem-lhe as armas.
Procurem por armas escondidas.
Limpo.
Está limpo.
Ajoelha-te.
Meu filho, você é um traidor e um incompetente.
Com os seus escrúpulos inoportunos
ajudou inimigos de Deus e de Espanha.
Acções que serão purgadas pelos piores tormentos do inferno.
Mas, primeiro, vai pagar aqui na terra com a sua carne mortal.
Viu demasiado.
Ouviu demasiado.
Errou demasiado.
A vossa vida, capitão, já não vale nada.
É um cadáver
que, por algum estranho azar,
ainda se mantém em pé.
Pode ir.
Livre?
É uma maneira de dizer.
A ira de Deus saberá onde encontrá-lo.
Arrume essa coisa.
Não lhe servirá de nada.
Não vim aqui para te matar
mas para te salvar dos outros. Não sabia
que tinhas medo de ovelhas.
Só quando vêem sem pastor.
Toma, pode ser preciso.
Estranhos pastores.
Não mais estranhos que tu.
A tua atitude entristece-me, embora já o receasse.
Vocês espanhóis são tão vãos e tão toscos.
Falta-vos elegância.
É talvez por isso que governam o mundo...
por enquanto.
Voltaremos a encontrar-nos.
Espero que sim.
Gosto de si, Capitão.
É por isso que anseio lutar consigo.
Quando quiser, senhor...
Malatesta.
Gualterio Malatesta de Palermo.
Com sua licença.
Ah, quase me esquecia...
Uma recordação,
para que se lembre sempre de mim.
Então?
A ideia foi do Prior Emilio Bocanegra.
Um secretário do rei recrutou e pagou os assassinos.
Estou a ver.
Estou a ver.
E que mais?
Um era um veterano da Flandres,
um protegido do Conde de...
Podes ir.
Isto une-nos para sempre.
Agora nunca te poderás livrar de mim.
Morreria por ti.
Talvez isso aconteça.
Inigo.
Tens de ter cuidado.
A beleza de uma mulher acaba sempre em tirania para um homem.
É a lei da vida.
Não te conheço.
Vais conhecer.
Preciso de um favor teu.
Toma conta do capitão, preciso dele vivo.
Devia matar-te agora, enquanto ainda és um rapaz.
O que pensas?
Comprei-o a um pintor Siciliano que trabalha para o rei.
Dizem que só sabe pintar cabeças
mas suspeito que ele tem talento.
Bem...
Vamos ao que interessa.
Uma pessoa importante deseja ver-te.
Um assunto sério?
Pode ser.
Bem...
Provavelmente já vi pior.
Não. Nunca viste pior.
Não consegues resolver isto lutando.
É o grão-duque Olivares.
Sê mais honesto com ele do que és comigo.
Tentarei sê-lo.
Vais sê-lo.
A água estava fria como a morte, Vossa Excelência.
Sim...
Mas você nunca tremeu.
Tremi por dentro, como qualquer um.
Não sou qualquer um.
Sou um grande de Espanha.
Num combate somos todos iguais.
Estás enganado, Alatriste. Nem mesmo num combate
somos todos iguais.
Deus não o quis assim. Devias saber isso.
Se fores ver o Olivares, compra umas botas novas.
Bem...
Já gastei muito tempo contigo. Tenho coisas para fazer.
E não te esqueças das botas.
Se não tens dinheiro. pede ao meu major.
Obrigado.
"Capitão" é uma alcunha, presumo.
Sim, Excelência.
Vejo que serviu em Nápoles e na Flandres
e contra os Turcos no Levante
e na costa bárbara.
Uma vida longa como soldado.
Desde os treze anos, Excelência.
É verdade que salvou a vida de um certo viajante inglês
embora o seu companheiro o quisesse matar?
Perdoe-me, Excelência, não me recordo.
Seria melhor para si se se recosdasse.
Como de quem o recrutou, por exemplo.
Receio não conseguir.
Tenho uma memória terrível.
Estou a ver...
Chama o dom Luis de Alquezar.
Parece que, dom Luis, há alguns dias houve uma conspiração
para ensinar uma lição aos dois senhores ingleses.
Como secretário de Sua Majestade
e homem conhecedor da burocracia da corte,
talvez tenha ouvido alguma coisa?
Temo não lhe poder ser útil, senhor.
Deveis sê-lo.
Talvez a Igreja...
A igreja é muito grande.
Será que te referes ao Padre Bocanegra?
Excelência, eu...
Você está certo, dom Luis.
O senhor padre é um santo.
Como todos sabemos.
Diga-me...
As suas botas são um sinal de falta de meios ou de arrogância de soldado?
Ambos, Excelência.
Como vê, dom Luis,
o senhor Alatriste é pobre e arrogante.
Mas também parece ser
bravo, discreto
e de confiança.
Seria uma pena se algo lhe acontecesse.
Eu não o desejaria. Suponho que concorda comigo.
Claro, Excelência.
Mas com o tipo de vida que penso que o senhor...
Batriste... ou lá como se chama, leva,
ele deve estar frequentemente exposto a perigos.
Ninguém poderia então ser responsabilizado.
Naturalmente, dom Luis.
Para poupá-lo a tal inconveniente, decidi
que daqui em diante, você irá servir o seu rei
nas Índias.
Eles precisam lá de homens como você.
Pode começar os preparativos para a viagem.
Quanto a si...
O seu antigo general, Ambrosio Spinola,
deseja ganhar mais batalhas por nós na Flandres.
Seria prudente, da sua parte, ser morto lá e não aqui.
Tê-lo-ei em conta, Excelência.
Venha comigo.
Por quatro longos anos
todas as noites estudei este mapa.
Conheço cada porto,
cada canal, cada estuário, cada fortaleza...
A Flandres tira-me o sono.
Apesar de nunca lá ter estado.
É o fim do mundo, Excelência.
Quando Deus Nosso Senhor criou a Flandres, iluminou-a com um sol ***.
Um sol herege
que não aquece nem seca a chuva que te ensopa até aos ossos.
É uma terra estranha,
habitada por gente estranha que nos temem e nos desprezam
e que nunca nos darão paz.
Tira-nos mais que o sono.
A Flandres é o próprio inferno.
Sem a Flandres não há nada, Capitão.
Precisamos daquele inferno.
Breda, 1625. Após um ano de cerco espanhol.
Estão perto, caralho!
Vão arrebentar-nos os colhões com as suas minas.
Mantem-te baixo!
Filhos de puta!
Encontraste ovos?
Sim.
Quantos?
Dois.
Vinho.
Desastrado! Dá-me isso.
Ouvi dizer quer tinhas recebido uma carta das Índias.
Sim.
E posso perguntar quem te escreveu?
Angelica de Alquezar.
Alquezar...
Um nome que nos trás azar.
Já quase o tenho.
Dá-me esse pão.
Tem-lo ou não, caralho!
Agora não.
Mas de vez em quando aparece.
Estarei pronto da próxima vez.
Merda!
Português, vê se o consegues fazer sair.
Holandês!
Matás-te-o?
Menos um sacana...
Outro holandês
morto em pecado mortal.
Como tu quando te matarem.
Que disseste?
Que disseste?
Não me consegues enganar, por muito zangado que estejas.
Vocês Portugueses são todos meios-judeus.
Queres morrer?
O Capitão!
Trago ordens.
Talvez estes senhores tenham algo a dizer.
Ninguém tem nada a dizer.
Eu tenho.
Tenho três coisas
a dizer ao capitão Bragado.
Primeiro, não me interessa com quem luto.
Turcos, Holandeses ou quem os fez.
E as outras duas coisas?
Segundo, não nos deram roupa e estamos vestidos com farrapos.
Estou a ver.
E a terceira coisa?
Terceira e mais importante que todas...
Fica aqui.
Terceiro estes senhores
não recebem ordenado há cinco meses. Cinco meses!
Ninguém recebeu ordenado.
Nem vocês nem eu.
Nem o nosso chefe de campo nem o General Spinola.
Pensei que estava a falar com espanhóis, nao com germânicos.
Apenas soldados de outras nações pedem o ordenado adiantado.
Quais são as ordens?
Vocês têm de ir para os túneis.
Enxofre!
Falta o Copons.
Sebastian!
Um é suficiente.
Diego!
Breda rendeu-se.
Cospe-o.
Cospe-o.
Breda rendeu-se.
Algum proveito?
Não.
MADRID, 10 ANOS DEPOIS
Excelência.
Excelência.
Sou Inigo Balboa. Mandou-me chamar.
Pelo Captain Alatriste.
Urgente.
Porto Caleta, Cadiz. Chegada dos veteranos da Flandres
Vamos!
Mãe!
Que fazes aqui?
Meu filho. trago más notícias.
Más notícias!
Olha quem está aqui.
Pensei que estavas em Madrid.
Tenho uma carta do palácio.
Trabalho?
Suponho que sim.
Se precisares de nós, sabes onde estamos Diego.
Não a vais abrir?
Para quê? Querem-nos sempre pela mesma razão.
Como estás?
Pior.
Tens bom aspecto.
Como estão as coisas na corte?
Não me posso queixar.
Como foi a viagem?
Mexida. Encontramos uma frota holandesa, e bem...
tu sabes que não gosto muito de lutar no mar.
Eu sei.
Diz-me,
que aconteceu por Madrid enquanto estive fora?
Entraremos em guerra com a França.
Assim o dizem.
Don Franciscocasou com uma viúva.
Deus, não!
E o Velazquez acabou "A Rendição de Breda".
Já a viste?
Ele trocou as bandeiras por lanças.
E bem, suavizou as atitudes um pouco.
Mas é uma grande pintura. Vais gostar dela.
Decerto.
Mais alguma coisa?
Angelica de Alquezar
regressou a Espanha.
Haverá mortes, e muitas.
Só tenho duas mãos.
Quatro.
Veremos isso.
Porquê?
Disse que veremos.
Qual é o trabalho?
Sou apenas um intermediário. Guadalmedina é que tem os detalhes.
Mas não faltará ouro.
A comissão é privada mas o comando é soberano.
Mas que honra!
Com tão poderosas personagens envolvidas,
deve significar que alguém roubou mais do que devia.
Estiveste fora muito tempo, Capitão.
Há sempre alguém que rouba mais do que devia.
Sim.
Vemo-nos mais tarde.
Claro.
O barco é o "Virgen de Regla".
Ela tem armazenados 2,000 lingotes de ouro não declarado.
A alfândega não tem nada a dizer?
Estou-te a achar um pouco naíve hoje, Diego.
Os subornos mantêm as bocas fechadas e as mentes abertas.
Incluindo os altos nobres da corte.
O plano é transferir o ouro
antes de descarregar oficialmernte
a carga em Sevilha,
para um barco flamengo, o "Niklaasbergen".
E suponho que para o ouro voltar ao rei,
o barco flamengo terá de ser abordado. Estou certo?
O que gosto em si é que percebe as coisas sem ser preciso explicar duas vezes.
E quando o ouro estiver de novo na posse do rei,
para onde iremos?
Não o estou a perceber.
Estou a perguntar, Excelência,
se o ouro servirá para os trabalhos no Buen Retiro Palace
ou para pagar os ordenados dos soldados que morreram na Flandres
ou que irão morrer em França.
Você bebe demasiado, Alatriste.
As palavras custam pouco.
Que lhe disseste?
Como é, Teodoro,
que os homens falam às mulheres?
Como se estivessem apaixonados, vestes mil mentiras uma verdade,
e é apenas isso.
Sim, mas com que palavras?
Estranhamente me pressiona, minha senhora.
"Esses olhos, " disse eu,
"essas belas pérolas são a luz com a qual os meus próprios olhos vêem... "
E, "O coral e as pérolas da tua celestial boca... "
Celestial?
Coisas como estas são a cartilha daqueles que amam e desejam.
Tens mau gosto, Teodoro.
Não te espantes de perder todo o crédito que tens comigo.
As virtudes de Marcela são menos que os seus defeitos.
Ele não é pura... Mas não quero que
pares de amá-la, embora te pudesse contar algumas coisas...
Mas não falemos mais dos seus charmes ou da falta deles.
Quero quer a ames e que cases com ela.
Agora, aconselha-me, Teodoro.
E assim possui Marcela.
Para aquela amiga minha
não há descanço pois está enamorada por um homem de baixo estatuto
o que é mau para o seu estatuto.
E se o perdesse, seria consumida por ciúmes.
E ele, sem suspeitar do amor dela, é tímido
e trata-a com respeito.
Olá, rapaz.
Estás crescido.
És um homem.
Pensei que estavas morto.
Talvez esteja.
Isso não me surpreendiria.
Imagino que nos voltaremos a encontrar.
Conta com isso.
Então veremos se estás vivo...
ou morto.
Não seria melhor
matá-la?
Já passou muito tempo.
Demasiado.
O que estiveste a fazer todos estes anos?
Matando hereges
e escrevendo versos.
E vale a pena ler esses versos?
Não. Penso que não.
Mas era a única maneira de te imaginar.
Vejo que ainda sabes como falar com mulheres.
Pensei que nunca mais te veria.
Dizem que ainda estás com aquele capitão.
Claro.
Tenho planos para ti, Inigo.
O problema é...
que eu também tenho planos para ti.
Teodoro,
vais-te embora.
E eu amo-te.
Parto devido aos teus modos cruéis.
Tu conheces-me, que posso fazer?
- Choras? - Não.
Tenho qualquer coisa no olho.
Será amor?
Sim, deve ser.
Estava aí há algum tempo e agora apareceu.
Parto, minha senhora, mas a minha alma fica aqui.
Tenho de partir sem ela. Não fiz
nenhum mal em amá-la, pois a sua beleza comanda a própria alma.
Mandai em mim porque sou vosso.
- Que triste dia! - Parto, minha senhora, parto
mas a minha alma não.
Choras?
Não, tenho qualquer coisa no olho,
como tinha no seu.
As minhas lágrimas provocaram as vossas.
Deve ter sido isso.
Guardei mil criancices num cofre para si.
Perdoa-me, eu também.
Se o abrires,
lembra-te de dizer, como se fossem os despojos de alguma vitória,
"Diana arrumou-os aqui
com lágrimas nos olhos. "
Gostas-te da peça?
Estiveste maravilhosa.
Viste o que o rei me mandou?
Ele esperará alguma coisa em troca.
Não fales assim do rei.
Sim,
ele é o meu rei.
Mas há reis e reis e este devia dedicar-se a governar.
Algum dia vão matar-te, meu amor.
Talvez.
O meu marido está a morrer.
Sinto muito.
Sim, coitado.
E quando ele morrer, terei de casar de novo.
Não gosto de viver sozinha.
Estava a pensar
que, como foste o primeiro homem que conheci...
Maria, sou pobre como os ratos.
Eu dou o dinheiro e tu o resto.
E os teus...
admiradores?
Diego, sou uma actriz e começo a envelhecer.
A Espanha está cheia de raparigas novas ansiosas por tomar o meu lugar.
Preciso de amigos que me protejam.
Se casassemos,
mataria o primeiro homem que te abordasse, fosse quem fosse.
Acabaria na forca e tu, viúva de novo.
Não sejas antiquado.
O que te importaria?
Não estás apaixonado por mim.
Que sabes tu?
Abram alas!
"De modo que hoje,
a sentença será lida ao prisioneiro
quee amanhã será levado da prisão numa mula
até à praça de São Francisco,
onde estará erguida a forca,
em que ele irá ser pendurado pelo pescoço até estar morto.
Ordeno que seja feita justiça.
O rei, nosso senhor".
Precisas de alguma coisa?
Do teu conselho.
Preciso de homens para um trabalho.
Homens valentes e discretos.
Todos os que estão aqui o são.
Podes confiar em todos.
O problema é que a maior parte está cumprindo longas sentenças.
Consigo libertá-los todos.
Excepto tu.
Sinto muito.
É uma pena.
Bem...
A morte é apenas uma formalidade.
Tenho coisas a fazer.
Vejo-te na praia.
Eu não vou.
Porque não?
A Inquisição anda atrás de mim.
Eles já prenderam o meu pai e o meu irmão...
A tortura...
Não consigo aguentar...
Eles não têm nada contra ti.
Eras um soldado e estás inocente.
Luís Pereira, prendo-o em nome do Santo Ofício.
Seja feita a vontade de Deus.
Deus não tem nada a haver com isto.
Nada!
Estás atrasado.
Fiquei detido por um assunto.
Um assunto de sangue?
Que querias dizer-me?
Pareces estar apressado.
Talvez a minha companhia te deixe pouco à-vontade.
Não, tenho de tratar de alguns assuntos.
Devias saber que tens alguns amigos inconvenientes.
Amigos que são inimigos dos meus amigos.
O Capitão Alatriste
é assunto meu.
Só meu.
Fica comigo.
Não posso.
Não podes ir a esse compromisso.
Não posso?
Diz-me por que não.
Porque eu não posso casar com um cadáver.
Este grupo irá primeiro e abordará a popa.
E os líderes? Quem serão?
Sebastian abordará a proa, eu estarei à popa.
Para mim está bom.
Fico contente.
Não faremos prisioneiros.
Não haverá saques.
E ninguém...
em circunstância alguma, descerá ao porão.
Boa sorte.
Emboscada!
Abriguem-se!
Merda!
Merda!
Estou atrasado. Desculpa.
Diego...
Somos tolos.
Virgem Maria!
Diego.
Não pode ser.
E tu?
Não.
É pena.
Sim.
Tinha de tentar.
Sabes isso não sabes?
Sim, sei.
Todos amá-mos uma vez.
Ou várias vezes.
Até que um dia isso para de acontecer.
E é tudo.
Assim tão fácil?
Assim tão difícil.
Olha, Inigo...
Ela é fiel aos seus.
E eu aos meus.
A sério?
Conta-me.
Angelica de Alquezar é assunto meu.
Ok.
Senta-te.
Eles não o permitiriam, mesmo que ela assim o quisesse.
Ela tem as suas obrigações.
O que queres dizer com isso?
Que também eu tenho as minhas?
Deus! Existem regras.
Que regras?
As de um capitão que não é um capitão?
Ou as de um mercenário que mata até os seus amigos?
Espero que nos encontremos em Madrid.
Olhem.
Se não é o Capitão Alatriste!
Vejo que os seus actos de caridade
englobam visitar os doentes.
Sou um bom católico.
Veio para me matar?
Ou espera que as consequências das suas últimas aventuras
o encontrem?
Não precisa de me dizer nada.
Sei muito bem quem está por trás de tudo.
Então...
avancemos.
Apreciaria que tentasse usar essa pistola ou essa espada.
Nem pensar.
Não consegue mesmo mexer-se dessa cama?
Vamos, Capitão.
Parece uma freira de St. Clare.
Não deixe que a sua consciência o incomode.
Está certo.
Diga as suas últimas preces.
Nunca perco o meu tempo com esses disparates.
Vá em frente.
Que vossa senhoria tenha um bom dia.
Sua Majestada deseja que aceite esta corrente.
Tenho de esperar o resto do dia?
Porque está vestida de homem?
Não sabeis que é proibido.
Não quereis que saia à noite com um vestido?
Ainda guardas rancor?
Talvez tenha salvo a tua vida.
Enquanto traía os que me são íntimos?
Também perdi alguns que me eram íntimos. Então estamos quites.
Não é o mesmo, Angelica.
Não.
Mas tenho a certeza que não me chamaste só para me censurar.
O outro dia,
- disseste... - Sei o que disse.
E mantenho-o.
Mas concordarás que não será fácil.
Eu sei.
Penso que sabe que sou dama de companhia da rainha
e que ela gosta de mim.
O que queres dizer?
Há uma vaga para segundo tenente na Guarda Real...
Entrarei para a Guarda Real quando o merecer
e essa altura ainda não chegou.
E agora é tempo para quê?
Agora é tempo para ser livre, Angelica.
Tu livre das tuas obrigações e eu das minhas.
Há um sítio para onde podemos ir.
Amanhã parte uma galera para Nápoles.
Ela levará passageiros.
Não faças isso. Não consigo pensar.
Falei com a rainha e a vaga é tua.
Em 2 ou 3 anos podes chegar a capitão...
Nunca mais teríamos de nos esconder das pessoas.
Nápoles?
Sim.
Juntos.
Inigo, Tens de aceitar a vaga.
Não.
Então não há mais nada a falar.
A partir deste momento estás morto para mim.
Deus! Está um frio do diabo!
Está sim. Arrefece a arma.
Veja nos que nos tornamos, Capitão.
Antes, o centro do Universo, agora, um país de pedintes.
Amaldiçoo o dia em que pus a minha pena ao serviço do Olivares,
aquele tirano descendente de Judeus que agora suga Espanha até ao tútano.
Acalma-te.
Acalma-te dizes tu?
Não ouviste as notícias da guerra em França?
Enquanto o Cardeal Richelieu incentiva o seu rei a liderar os exércitos,
Olivares tornou o nosso num prisioneiro, numa marioneta do palácio,
enquanto rouba os pobres e humilha os nobres.
Calma, dom Francisco.
A nossa infantaria precisa de dinheiro, não de um rei para os liderar.
O dinheiro que aqueles nobres "humilhados" gastam em festas e caçadas.
E quanto aos pobres, que posso dizer?
Em Espanha, a pobreza sempre foi um lugar comum,
independentemente de quem governa, sejam grão-duques ou Virgem Marias.
Então agora apoias o Olivares?
Então, dom Francisco.
Conhecemo-nos há demasiado tempo para isso.
Sim, é verdade.
As minhas desculpas, Capitão.
Sabes que foi sem querer.
Sim, sei.
Apoia-te no meu braço, o chão está escorregadio.
Alguma notícia de Inigo?
Sim.
Mas não vais gostar.
Isto é uma peça muito valiosa.
Puro ouro das Índias.
Fique descansado, não a roubei.
Acredito em si, mas mesmo assim...
Não quero que a compre, quero que a troque por um colar.
Podias trocar esta corrente por vários colares.
Talvez, mas só preciso de um.
Ficas a perder com a troca.
Isso é problema meu.
Um colar para uma senhora...
Sim.
A senhora em questão deve ser...
verdadeiramente bela. Estou certo?
Estás certo.
Melhor ainda. Isso facilita as coisas.
Não quero abusar da sua confiança...
mas estaria errado em assumir
que com esta prenda
Vossa Senhoria está pensando, digamos...
num futuro com essa linda senhora?
Não.
Não estaria enganado.
Então só pode ser este.
Bom dia, Diego.
Podemos falar?
Podemos.
Estou encarregue de lhe fazer um aviso.
Bem, aqui estou.
Tens de mudar de montada, Diego. A sela está ocupada.
Por quem?
Não te posso dizer.
- Por quem? - Não.
Eu disse: por quem?
Não te posso dizer, Diego.
Peço-lhe que não avance mais.
Quem o diz?
Alguém que o pode fazer.
Não discutirei com Sua Excelência. Deixe-me passar.
Ela não pode nem irá vê-lo.
Isso serei eu a confirmar.
Arruinará a sua vida por uma actriz?
A sua ocupação não interessa.
Terá de me matar primeiro.
Afaste-se,
ou fá-lo-ei.
Alba, Varela, Sessa e dom Fadrique agora opõem-se a ele.
Até o Guadalmedina se distanciou.
O tempo do Olivares chegou ao fim. Os seus dias estão contados.
Tens de te manter afastado das conspirações da corte.
Doa 100,000 ducados para a guerra em França.
Isso satisfará o rei e apaziguará os tiranos,
que por esta altura já ouviram falar das suas aventuras.
A melhor política agora é a prudência.
O grão-duque pode esmagar-nos
e ninguém levantaria um dedo para nos ajudar.
Nem mesmo a rainha.
Não és um nobre.
Mas vais ser em breve.
Como serão os teus filhos e os filhos dos teus filhos.
A rainha deseja que cases com o Conde Guadalmedina.
Inigo, tenho de informar-te de um assunto sério.
A rainha e o meu tio querem que me case com o Conde Guadalmedina.
O meu coração é só teu. Se ainda quiseres fugir para Nápoles,
vem a minha casa esta noite. O meu criado traz-te até mim.
Obviamente, apesar do que disse,
tu não estás morto para mim.
Inigo, tenho medo.
Se não fugirmos agora, tudo estará perdido.
Vamos para um sítio onde nunca nos encontrem.
Um sítio onde não sejamos ninguém.
Ninguém.
Apenas tu e eu.
Viveríamos em pecado.
Não existe pecado, Angelica.
Nunca ouve pecado.
Eles é que são o pecado.
Ela é apenas uma mulher, Capitão.
Não faço isto por ela mas sim por mim.
O rei é o rei...
O rei é um filho da puta.
Devias abandonar Madrid.
Os reis são vingativos, Eu sei-o.
Guadalmedina é um grande de Espanha
e cruzaste espadas com ele...
Amanhã apresentarei as minhas desculpas. Espero que ele as aceite.
Mesmo que aceitasse,
devias deixar Madrid.
E tu também.
Existem alguns rumores...
Sim, é verdade.
Escrevi recentemente alguns versos que podem complicar as coisas...
Mas estou demasiado velho para me esconder, especialmente disso...
Boa sorte, capitão.
Para ti também.
Diego,
sou um homem de poucas palavras.
Sim.
Vou para casa.
Com o que poupei quero comprar terra e encontrar uma mulher.
Vem comigo se quiseres.
Isso foram bastantes palavras.
Oh santa, católica e real Majestade,
feito por Deus, divindade na terra,
um simples, pobre, honesto velho
implora, prostado perante você, em humilde silêncio.
Olhei o que é justo e peço ao céu
que o meu zelo obtenha justa recompença.
Um seu nobre e valoroso ministro
cujo único desejo é que você reine...
Senhor.
Contemple, Filipe IV, mundialmente famoso,
abre o teu generoso coração e dá-nos um herdeiro.
Daquele que nunca se cansa de tirar o pão aos pobres,
que desvaloriza a nossa moeda, que vende o vosso reino e que venderia o próprio Deus,
salvai-nos!
Salvai-nos, senhor, de todo o mal.
Amen.
Amen.
Amen.
Mas serás um grande de Espanha,
e os teus filhos...
e os filhos dos teus filhos.
Os teus filhos...
e os filhos dos teus filhos...
Diego...
Dom Francisco foi preso ontem à noite.
A Prisão de São Marcos.
Então está tudo acabado.
Devíamos ter ficado com aquele ouro para nós mesmos.
Talvez.
Presumo que estejam
familiarizados com as leis do jogo.
Então não há necessidade de dizer que que o preço da dívida é a morte.
Muito bem.
A situação é a seguinte...
O Senhor Balboa deve 200 ducados e diz que não pode pagar.
Diz também que não se interessa se o matamos.
Contudo, sei que Vossa Senhoria
se importaria se ele perdesse a vida.
Sim, importar-me-ia.
Então ficamos todos a ganhar. O Senhor Balboa,
mesmo que não queira,
ficará vivo.
E nós recuperaremos o nosso dinheiro, desde que você, obviamente,
pague a dívida.
Isso é possível?
Sim, é possível.
Não somos peritos em jóias.
Só aceitamos moeda.
Como esta?
Sebastian...
O que é?
Diego, devo-te uma explicação.
Encontra-te comigo no claustro de Las Minillas.
Está preso, Diego!
Desarmem-no.
Rende-te ou matar-te-ei.
Uma pergunta, Martin.
Com que pau se irá consolar agora a tua viúva?
O quê?
Corno!
Martin...
Que bom vê-lo lutar, Capitão.
Já fazia algum tempo. Senti a sua falta.
Sim, e da puta que te pariu.
Acabou-se a diversão.
Diego.
Estás vivo?
Penso que sim.
Não tossas, sacana,
senão esvais-te em sangue.
Não era o que realmente pensavas, não é verdade?
O quê?
O que disseste.
Que sou um cornudo.
Claro que não.
Disse-o para te irritar.
Tu conheces-me.
É sempre o mesmo...
Fodasse!
Estou a morrer.
Martin.
Alguma vez paraste para pensar
que acabamos sempre matando-nos uns aos outros?
Merda de vida.
Diego, obrigaram-me a fazê-lo.
Obrigaram-me a fazê-lo.
Estava à tua espera rapaz.
Vamos.
Só um momento.
Por gentileza...
Voltarás para o jantar?
Não sei.
Sabes que não há nada para além da morte?
Sim.
Esse é o problema.
Como pode imaginar, Dom Luis,
os meus serviços para o rei não foram gratuitos.
Excelência, todos conhecem a vossa profunda dedicação
em manter a reputação da nossa monarquia
e defender a verdadeira fé. Por isso decidi
que o dote da minha sobrinha estará de acordo com a vossa generosidade.
Como verá Vossa Excelência, incluí
as minas de prata em Tasco, as terras em Aragão...
Excelência, quanto ao capitão Alatriste...
Excelência...
Não.
Não quero que morra.
Se me permitir, Excelência,
Tenho uma ideia.
"A Espanha prendeu e matou
aquele que fez da sorte sua escrava.
Prantearam as suas invejas uma a uma,
tanto nações estrangeiras como a nossa.
A sua sepultura, as campanhas na Flandres
o seu epitáfio, a lua sangrenta. "
"E o seu epitáfio, a lua sangrenta. "
Dizem que a prisão de San Marcos é a mais fria de toda a Espanha.
Sim, é o que dizem.
Lembraste de mim?
Sim.
O Senhor Malatesta disse que se morresse primeiro eu devia dar-te isto.
Também disse que podia ficar comigo se assim quisesse.
Obrigado.
Isso não é necessário.
Como queira.
Foi agradável vê-los outra vez.
E a si também.
Madrid. Hospital dos sifilíticos
Diego, que fazes aqui?
Queria ver-te.
Devia ter casado contigo.
Que se passa?
Ele está preso em nome do rei.
De que é acusado?
De espiar ao serviço de França.
Não pode entrar. Sua Excelência está em Itália.
Venho ver a condessa.
Que faz aqui?
Vim pedir-lhe um favor.
Preciso de entregar esta carta ao grão duque de Olivares.
Tentei levá-la a ele mas não me deixaram entrar no palácio.
É pelo Inigo.
Está há um ano na prisão.
Obrigado, Excelência.
Não me chame "Excelência".
Odeio-o.
Inigo sempre me chamou Angelica.
Não chore, senhora.
Excelência, não chore.
O Inigo é forte.
Ele sobrevirá.
Tenho de chorar, Capitão.
A traição é uma nódoa que não desaparece.
Judas enforcou-se mas não sou tão corajosa.
É por isso que choro.
Entregarei a carta ao grão-duque.
A honra e a reputação de Espanha estão perdidas, Capitão.
Deus Nosso Senhor
abandonou-nos.
Excelência...
Não há outra explicação.
Tudo são desgraças.
Casale devia ter sido tomada,
Turim salva, Arras rendida, e os Catalães e os Portugueses
nunca se deviam ter insurgido contra o seu rei.
Este é o pior ano que a monarquia já viu.
Excelência, a carta que lhe mandei...
Sim.
A carta.
A carta.
Li-a.
Mas as provas eram conclusivas.
O jovem era um espião Francês.
Excelência...
Mas nem tudo está perdido.
Richelieu está doente
e os Holandeses querem paz.
Se as tropas do cardeal infante...
Excelência ele é orfão de um dos vossos soldados, eu criei-o...
Já disse tudo o que tinha a dizer, capitão.
Pode ir.
"Carta para o cardeal infante... "
Excelência...
"Senhor...
Cartas da Flandres... "
Excelência!
Olha-me nos olhos.
Inigo Balboa.
O rei perdoou-te.
Vamos para casa, filho.
ROCROI, MAY, 1643
O REGIMENTO DE INFANTARIA DE CARTAgENA DEPOIS DE OITO HORAS DE BATALHA
Fogo!
Apontem!
Fogo!
Fogo!
Espanha!
Lanças!
Já não escreves?
Já não.
Nunca te esqueceste...
de como escrever?
Não.
Não.
Soldado.
Senhor.
Você é... ?
Alatriste, Excelência.
Eu lembro-me.
Não te recompensei com oito escudos
por salvar um sargento-major em Nordlingen?
Eles baixaram-na para quatro, Excelência.
Bem...
Pouca sorte, soldado.
Sim, má sorte, Excelência.
Bragado!
Diego...
Se eu não puder, continua.
Senhores.
O duque de Enghien
considera que lutaram com um valor que ultrapassa as palavras.
Por isso
ele oferece-vos condições honrosas.
Podem ficar
com as vossas bandeiras
e abandonar o campo me batalha
formados.
Que respondem?
Diga ao senhor duque de Enghien que apreciamos as suas palavras,
mas que isto é um regimento espanhol.
Diego...
Não passo daqui.
Inigo.
Conta-lhes o que fizemos.
Veteranos, à vanguarda!
Soldados novos, à retaguarda!
Ele não era o homem mais honesto nem o mais pio, mas era um homem corajoso.
Chamava-se Diego Alatriste
e lutou com os regimentos de infantaria na Flandres.
Quando o conheci, ia sobrevivendo em Madrid com trabalhos pouco dignos,
alugando a sua espada por 4 maravedis, àqueles
a quem faltava o talento ou a ousadia para tal...
Tradução: kubiak_cvu Sincronização Unmerciful
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