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Um médico egípcio chamado Mahmoud Fathalla disse:
"As mulheres não estão morrendo por causa de doenças que não podemos tratar.
As mulheres estão morrendo porque a sociedade ainda precisa decidir
que vale a pena salvar as suas vidas.”
Vou falar de um assunto
que muitos podem achar desagradável,
mas é um assunto que certamente já afetou alguém que vocês amam,
quer saibam ou não.
Cerca de metade dos 42 milhões de abortos feitos todos os anos
são feitos ilegalmente.
As leis não têm nenhum controle
se alguém faz aborto ou não.
A única coisa que elas podem controlar é se são feitos com segurança.
E não são feitos com segurança,
especialmente em países onde o aborto é ilegal,
que, como vêem, é a maioria dos países do hemisfério sul.
Uma mulher morre a cada 8 minutos
por complicações de aborto inseguro.
Isso é cerca de um acidente aéreo por dia.
Logo, existe e sempre existiu uma rede secreta
de prestadores de serviços, mães, irmãs e curandeiros e de informações sussurradas,
que oferecem às mulheres acesso a alternativas seguras
aos modos arriscados e a gravidezes indesejadas.
Há 20 anos, as mulheres descobriram o aborto médico sozinhas.
A história conta que isso aconteceu aqui, no Brasil,
quando as mulheres leram as contraindicações de um medicamento chamado misoprostol.
A contraindicação dizia
que, se tomado durante a gravidez, poderia causar aborto espontâneo.
Então, elas começaram a tomá-las para induzir abortos espontâneos
em gravidezes indesejadas.
Fisicamente, a experiência e o risco de saúde são os mesmos
que do aborto espontâneo,
o que, de todo modo, ocorre em 15% a 20% das gravidezes.
À medida que o regime evoluiu com o tempo,
ele se tornou mais consistente que os métodos tradicionais.
Elas não precisam de assistência do médico do mercado ***.
Se tomado sublingual, ou seja, embaixo da língua,
o aborto não podia ser associado às pílulas.
Depois disso, o misoprostol foi pesquisado
e aprovado pela Organização Mundial de Saúde como um medicamento essencial,
tanto para sua indicação original, como antigástrico,
a primeira razão pela qual está nas prateleiras,
como para aborto médico. E descobriram que é
um medicamento milagroso contra hemorragia pós-parto,
que é a causa número um de mortalidade materna.
Em muitos países onde o aborto ainda é crime,
esses remédios podem ser comprados em farmácias
a um preço acessível e quase sempre sem receita.
Só que as mulheres não sabem disso.
Eu sou cineasta
e estou fazendo um documentário chamado “Vessel” (Embarcação).
É sobre uma organização internacional chamada Women on Waves” (Mulheres sobre as Ondas)
que encontrou uma brecha legal que permite o uso de meios médicos
para informar as mulheres sobre essas pílulas.
Um barco da Women on Waves navega pelo mundo
visitando países onde o aborto é ilegal.
Eles trabalham com organizações locais e levam as mulheres a 12 milhas da costa,
para águas internacionais, onde podem realizar abortos.
Em águas internacionais,
a jurisdição sobre a embarcação é a de sua bandeira.
Como na Holanda o aborto é legal,
em um barco holandês
em águas internacionais, o aborto é legal.
O objetivo é chamar a atenção da mídia
para que as pessoas vejam fotos do navio.
Vejam na foto à direita.
Há uma linha direta, uma faixa com um número no barco,
a linha direta deles.
Vou lhes mostrar rapidamente uma cena do documentário Vessel.
Ela mostra os fundadores da Women on Waves,
e membros da tripulação chegando a Valência, filmada no ano passado.
"E um grupo de um barco pró-aborto holandês
que montou uma clínica de aborto a bordo.
Sim, tudo isso faz parte da Fundação Women on Waves.”
"O vírus do aborto".
-Têm de sair do porto agora. -Não.
Vão embora.
Não. Por quê?
Por que o porto é nosso. Não é um porto público.
Precisamos ficar só por uma hora. Qual é o problema?
Vou ter de chamar a polícia.
Terroristas. Facistas!
Têm uma faca a bordo?
O barco é insustentável.
Ele só pode ajudar algumas mulheres por vez.
No entanto, com a cobertura da mídia,
centenas de mulheres vêem a linha direta e lêem nos jornais, ligam
e são atendidas por voluntários treinados
que lhes ensinam como achar e tomar as pílulas com segurança,
na privacidade de seus lares,
sem precisar de médico nem receita,
e o que fazer em casos de complicações.
Se uma mulher que ligar não tiver acesso às pílulas,
por qualquer razão,
eles a encaminham para uma organização afim chamada Women on Web (Mulheres na Web),
uma organização online
que trabalha de acordo com seu próprio conjunto de brechas legais
e um modelo de produção pesada.
Enviam as pílulas para mulheres por correio em qualquer lugar.
A Women on Web vê a demanda crescer aos milhares a cada ano,
inclusive com centenas de pedidos vindos do Brasil.
Vessel, o filme, está na fase de pós-produção agora
e deve ficar pronto no próximo ano.
Espero que possam assisti-lo.
Revendo as cenas,
percebi que o filme é mais que uma história. É também uma ferramenta.
Cenas gravadas em espanhol, português, urdu, swahili,
e em várias outras línguas, mostram voluntários,
não médicos, aprendendo e treinando outras pessoas
nesse regimes bastante simples de como tomar misoprostol.
Estamos editando em segmentos de dois, três minutos
para divulgação na Internet e via mensagem de texto
num generoso esforço de compartilhar essas informações com outras mulheres.
Estas informações já estão disponíveis online
em organizações, publicações, inclusive de direito privado
e também na página da Women on Web.
Esta aqui em português é o regime completo.
Está publicado no site há em diversos idiomas
e as pessoas são incentivadas a visitar este site,
imprimir as informações em um adesivo e afixá-lo em locais públicos.
Essas tecnologias são como águas internacionais,
áreas de soberania negociável.
Não são soluções a longo prazo,
mas são formas de, em teoria, gerar discussão
e expor o tabu e, talvez, levar a uma solução a longo prazo.
Independentemente de quando acreditem que a vida comece, talvez todos concordem que
se uma mulher quer interromper uma gravidez indesejada
seja você ou sua irmã ou sua filha,
Vocês estão, sem dúvida, bem vivas.
Mais acesso a informação
pode ajudá-las a continuarem vivas, até que a lei mude.
Obrigada.