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No final do verão de 1859, Charles Darwin finalmente completou o último
parágrafo de seu maior trabalho, "A Origem das Espécies".
Mas ele não estava tirando a inspiração das ilhas exóticas
que visitou em sua famosa viagem a bordo do HMS Beagle.
Uma colina de giz, em Kent, perto de sua casa em Downe,
forneceu sua metáfora
para as leis que explicam a diversidade da vida no planeta.
"É interessante contemplar uma colina luxuriante,
"recoberta por diversas plantas de variadas espécies,
"com pássaros cantando nos arbustos,
"com vários insetos voando nos arredores
"e com vermes rastejando pela terra úmida.
"Para refletir que esses seres elaboradamente criados,
"tão diferentes
"e dependentes uns dos outros de uma forma tão complexa,
"foram todos produzidos pelas leis que agem ao nosso redor."
Darwin estava propondo uma nova visão da natureza,
onde as espécies evoluíram independentemente
da mão guiadora do criador.
A visão estabelecida de um mundo harmonioso,
ordenado divinamente para servir a criação mais nobre de Deus,
a humanidade, seria destruída.
Ele estava ciente que estaria lidando com dinamite intelectual,
e manteve a maioria de seus pensamentos sobre
o que estava fazendo em termos da provável origem do homem,
onde novas espécies podiam surgir, totalmente em segredo.
Foi um segredo com o qual Darwin lutou durante 20 anos.
Vinte anos de apoio resoluto de sua esposa Emma,
que temia que seu amado marido fosse legado à condenação eterna
por desafiar crenças tradicionais.
Juntos eles enfrentariam duas décadas de doenças debilitantes,
incerteza e tragédia familiar.
Foi a luta pela vida que Darwin também viu entre animais e plantas
nos campos e colinas luxuriantes do interior de Kent.
A luta que é o princípio basilar da sua teoria da seleção natural.
O último parágrafo de "A Origem das Espécies"
conclui o livro com perfeita maestria.
O livro inteiro trata da luta pela sobrevivência
e o que Tennyson chamou de natureza ensanguentada por dentes e garras.
O último parágrafo desperta um sentimento de esperança.
Ele mostra que essa guerra de todos contra todos,
na verdade tem um objetivo, e o objetivo é vida ao nosso redor.
As belezas da colina luxuriante:
os vermes, borboletas, a grama e as orquídeas.
Todas essas belezas da natureza emergem da simples ideia de Darwin.
"Há uma certa grandeza nesta forma de ver a vida,
"com seus vários poderes atribuídos primitivamente
"a um pequeno número de formas ou a uma só.
"E enquanto o planeta continua a girar em sua órbita,
"obedecendo à lei fixa da gravidade,
"de um princípio tão simples, uma quantidade infinita de belas
"e admiráveis formas evoluíram e continuam a evoluir."
Assim como as belezas e maravilhas surgem da guerra da natureza,
assim também fez o grande livro de Darwin, desenvolvido durante anos
de pesquisa detalhada e conflito interior.
A LUTA DE DARWIN
A EVOLUÇÃO DE "A ORIGEM DAS ESPÉCIES"
UNITED4EVER A p r e s e n t a
Legenda: Albattroz Capejuna Kakko
Aos 33 anos,
Charles Robert Darwin já era um naturalista estabelecido.
Sua substancial renda pessoal
o possibilitou ir em busca do seu sonho pessoal:
resolver o chamado "o mistério dos mistérios".
Como animais e plantas podem transmutar ou evoluir.
Em busca de um lugar tranquilo para escrever,
em 1842, ele e a família se mudaram para uma casa fora de Londres,
próxima à vila de Downe, em Kent.
"Após diversas buscas infrutíferas em Surrey e outros lugares,
"encontramos esta casa e a compramos.
"Fiquei encantado com o aspecto diversificado
"da vegetação típica de uma região sedimentar.
"Tão diferente do que eu estava habituado em Midland Counties.
"E ainda mais fascinado com o silêncio e a rusticidade do lugar."
Darwin sabia que no interior
haveria espaço para expandir suas experiências.
Caminhar, observar a natureza.
Havia muita informação lá para ele aproveitar.
E havia um fator muito importante para Darwin
de estar num lugar onde ele se sentia seguro,
com sua teoria secreta da transmutação.
Nos idos de 1840, transmutação ou evolução era uma ideia radical,
associada à revolução social.
Foi um segredo que ele dividiu com a esposa e prima Emma Wedgwood,
com quem havia se casado três anos atrás.
"Estou impressionado com minha boa sorte por Emma,
"tão infinitamente superior a mim em toda e qualquer questão moral,
"ter aceitado ser minha esposa."
Emma foi a pré-condição para tudo o que ele fez.
Ela criou um espaço fundado no amor
onde ele se sentiu seguro para trabalhar obsessivamente sem medo
de perder o amor e ferir seu relacionamento.
Ela cuidaria dele durante os anos de recaídas de sua doença,
cuja natureza permanece não esclarecida até hoje.
Provavelmente causada por um parasita da América do Sul,
agravada pela ansiedade e tensão nervosa.
"25 anos de flatulência extrema e espasmódica, diária e noturna.
"Vômito precedido de tremores,
"choro histérico, sensações de agonia ou desmaio,
"urina pálida, fraca e copiosa. Falta de ar
"provocando dores de cabeça e nervosismo quando Emma saía."
Acho que ela estava sempre preocupada com a saúde dele.
Ela sempre tentava convencê-lo a
tirar um dia de folga, fazer uma viagem,
não porque queria a companhia dele, mas porque sentia que se ele
continuasse no ritmo em que estava, ficaria ainda mais doente.
Emma deu a Charles 10 filhos. 7 chegaram à maioridade.
Como pai, Charles Darwin não se adequava ao estereótipo
vitoriano dos pais de família distantes e severos.
Darwin era um verdadeiro pai de família.
Ele escreveu de forma irônica num ano
em que sua esposa não foi muito bem por não ter tido um bebê,
o que é bastante rude para um vitoriano, devo dizer.
Mas o que é fascinante é que ele usou seus filhos como cobaias.
Ele anotava suas expressões quando choravam, quando estavam nervosos
e viu o quão similares elas eram às expressões de um cão.
Ele viu sua família como parte da família humana,
a família humana como parte da família dos mamíferos,
a família dos mamíferos como parte da família das prímulas.
E isso realmente mostra que ele viu a humanidade
como parte intrínseca do mundo vivo e não separada dele.
Isso era bem diferente da visão cristã da época,
onde a humanidade era uma criação separada e especial de Deus.
Ele guardou suas opiniões verdadeiras num caderno pessoal.
"O homem em sua arrogância imagina si mesmo como uma grande obra,
"merecedora da intervenção de uma divindade.
"Mais humilde e, creio, verdadeiro,
"pensá-lo criado a partir dos animais."
E Charles e Emma fizeram o que fazem os animais,
só que tinham uma cama para fazê-lo, subindo as escadas.
Mas então, porque Darwin acreditava fortemente em analogia,
não são apenas os animais que fazem o que as pessoas fazem,
mas as plantas também fazem de formas estranhas e complicadas.
Assim, da cama matrimonial ao canteiro de flores eram só 90 metros
e Darwin descia, saía pela porta dos fundos,
direto para o canteiro de flores onde
as experiências eram feitas e como esses
seres, ele observava algumas plantas como simples animais,
também se reproduziam.
Um ano após sua chegada em Downe,
ele se sentiu confiante o bastante para abordar a questão da
mudança das espécies com seu amigo botânico, Joseph ***.
"Finalmente surgiram alguns lampejos de luz
"e estou quase convencido que as espécies não são imutáveis.
"É como confessar um assassinato."
A reação de *** foi reticente. Darwin recuou para seu casulo.
Se *** não acreditava, seus professores de Cambridge também não.
Até os membros mais progressistas do sacerdócio anglicano enxergavam
a beleza e abundância da natureza como divinamente destinadas
a beneficiar a mais importante criação do Senhor, o homem.
A ideia fundamental acerca da natureza, para muitos no século XIX,
particularmente em Cambridge, mas por toda a Inglaterra anglicana,
era a do desígnio.
O mundo havia sido criado para o homem.
E talvez a melhor forma de explicar isso é pensando no dia de 24 horas.
Pensamos nisso como consequência da probabilidade
astronômica, na forma como o planeta funciona e daí em diante.
Para as pessoas em Cambridge,
a ideia era basicamente que o dia tem 24 horas
porque as pessoas precisam dormir por oito horas.
E tudo ao redor deles é organizado a partir deste fato,
de os humanos precisarem interagir com o mundo exterior.
Sugerir que a humanidade era um mero produto da natureza
era se arriscar ao ataque dos padres de batina negra,
as bestas negras, como Darwin os chamava.
Mas o que ele devia temer ainda mais era perder o respeito
dos doutores de Cambridge que o ensinaram e o inspiraram.
Homens como o contundente e intransigente
reverendo Adam Sedgwick, professor de geologia,
que via o desígnio de Deus na natureza.
"Negar isso...
"pode brutalizar e rebaixar a raça humana ao mais baixo nível de
"degradação que jamais esteve desde os registros
"de sua história."
Sedgwick representava uma união, a inquietante união
entre ciência e religião que prevalecia desde o século XVII,
particularmente na Grã-Bretanha.
Uma divisão de trabalho na qual aqueles que estudam a natureza
oferecem àqueles que estudam Deus,
evidência da grandeza, bondade e sabedoria divinas
no mundo criado para nós.
E aqueles que estudam a revelação de Deus na Bíblia
oferecem razões para crer em Deus que Ele nos revelou
e como ir para o céu.
A natureza não nos diz como ir para o céu,
mas nos diz que há um Deus no céu,
que se revelou e disse como chegar lá, na Bíblia.
Foi com essas visões tradicionais em mente que, no início de 1844,
Darwin começou a preparar um manuscrito
que esperava, finalmente, pudesse mostrar a homens como Sedgwick
que a evolução era uma realidade,
e que ele havia achado o mecanismo que a tornava possível.
Mas como um homem meticuloso e cauteloso
ele precisava organizar suas evidências.
O que ele fez em Downe foi realmente criar um laboratório vivo.
Um laboratório que se adequasse a sua carreira.
Não era apenas Darwin sentado sozinho, olhando pela janela.
Darwin não usou apenas sua casa e jardins
para observar e aprender a partir da natureza.
Criou pombos e orquídeas, cultivou 50 variedades de groselhas,
e para reagir aos criacionistas, tornou-se apicultor
para mostrar que os hexágonos quase perfeitos dos favos de mel
eram feitos mais por instinto do que por desígnio divino.
"Meus hábitos são metódicos,
"meu amor pela ciência natural tem sido firme e fervoroso.
"Tenho um desejo muito forte
"de compreender ou explicar o que observo.
"De agrupar todos os fatos sob algumas leis gerais."
Ele também criaria um lugar para pensar.
Um caminho em forma oval de pedras foi feito e árvores plantadas
para possibilitar a ele um percurso de 500 metros de caminhada.
Ele o batizou de "Passeio de Areia".
Darwin chamava o Passeio de Areia de sua rota do pensar.
Ele via as árvores crescerem e muitas delas ainda existem...
na esperança de que ele pudesse
caminhar por este campo
e fugir da pressão
de sentar num único lugar e escrever,
expressar as ideias com a ponta da caneta.
Darwin se perdia em pensamentos no Passeio de Areia,
tanto que
a única forma de controlar o tempo que passava lá
era marcando as voltas, e ele marcava as voltas
com uma trilha de pedras,
uma das quais ele chutava para o lado após uma volta
e quando toda a trilha tivesse sido removida do caminho,
ele sabia que havia completado o exercício,
que havia acabado sua hora de pensar.
Nós, a geração subsequente,
amamos o Passeio de Areia pois podemos imaginar Darwin nele
e pensarmos sobre o que ele podia ver no Passeio de Areia.
Ele via as
trepadeiras, a videira sobre a cerca, por exemplo.
Algo sobre o que ele escreveu.
Ele podia ver o campo de Great Puckland, onde iria
formular o conceito de biodiversidade.
Isolado em seu laboratório rural,
o manuscrito de Darwin sobre o que já chamava de seleção natural
desenvolveu-se num ensaio, adequado à publicação.
Alguns dos textos baseavam-se nas experiências que
ele teve na expedição pelo mundo a bordo do Beagle.
Nos 5 anos que passou viajando,
ele ficou apenas 5 semanas nas Ilhas Galápagos,
coletando espécimes de plantas
e diferentes espécies de sábias e tentilhões.
A importância de sua experiência em Galápagos
no desenvolvimento de sua teoria foi superestimado.
Assim como penso que seja muito comum imaginar
que as grandes teorias surgem de repente,
por inspiração, de uma só vez,
como se todo cientista fosse como Arquimedes,
correndo pela rua ao sair do banho em algum lugar de Siracusa.
Assim, desejamos que o lugar onde a inspiração surge
seja glamoroso e exótico e Galápagos serve perfeitamente,
mas isso é completamente errado para entender a origem de "A Origem.
Foi apenas quando voltou a Londres após a visita a Galápagos,
que Darwin percebeu que as espécies de pássaros e plantas que coletou
eram sutilmente diferentes de ilha para ilha,
mas bem similares às espécies do continente sul-americano.
No manuscrito de 1844,
ele usou isso como prova de que novas espécies tinham evoluído
como pássaros e plantas continentais adaptados
aos diversos habitats das ilhas.
Galápagos, claro, é um lugar fantástico para ir
de tal forma que será inevitável associá-lo a Darwin.
Mas acho que sua importância é fácil de ser mal-entendida.
Por uma razão, as espécies ali coletadas não eram tão expressivas.
Ele catalogou erroneamente os espécimes, não identificou
de quais ilhas em particular vieram diversos tentilhões e outros seres.
O principal disso tudo não se trata tanto da seleção natural
nesse estágio, é que Galápagos é muito mais importante
em termos de ter ajudado Darwin a se convencer
que a evolução pudesse estar acontecendo.
As provas de Galápagos foram só uma parte do despertar de Darwin.
Só uma pista no complicado caminho de completar a Teoria da Evolução.
Agora em Downe, ele pôde usar nove anos de luta intelectual.
Ele expressaria algumas de suas percepções mais brilhantes
no que se tornaria conhecido como os cadernos da transmutação.
Foram nesses cadernos de bolso que ele esboçou a ideia
que a vasta variação de espécies vivas pudesse
ter evoluído de um único ancestral comum.
Galhos e ramos derivados de uma única árvore da vida.
Ele raciocinava ferozmente com total despojo,
sem qualquer ortodoxia, inaceitável
para os filósofos de sua época.
Talvez houvesse alguns
racionalistas esclarecidos na França que fariam isso,
mas ninguém na Grã-Bretanha
permitira a alguém empenhado seriamente em
descobrir sobre o mundo a fazer o que Darwin fez.
E ele não estava explorando apenas a física e teologia,
ele partiu para economia, para a criação de animais.
Ele ia em todas as direções atrás de provas de intuições
para construir o mundo como ele sentia que existia.
Mas essa visão do mundo mudava a todo tempo,
ele testava o que pensava que pudesse ser o caso,
esse era o aspecto do método, com o que as pessoas diziam ser o caso.
O manuscrito de Darwin de 1844 baseou-se na leitura
de "Paraíso Perdido" de Milton
às especulações evolucionárias do seu avô Erasmus
e do radical biólogo francês, Jean Baptist Lamarck.
Seu grande mentor geólogo, Charles Lyell,
ensinou que a superfície terrestre foi formada
gradualmente ao longo de incontáveis eras.
Mas foi o economista político, Thomas Malthus,
que proporcionaria o mais próximo de um momento eureca
que Darwin havia experimentado.
"Em outubro de 1838, 15 meses depois de
"começar minha investigação sistemática,
"li, por diversão, o ensaio de Malthus sobre "População."
Em termos de seleção natural,
houve um momento crucial na descoberta de Darwin
e acho que isso foi quando ele leu o ensaio de Thomas Malthus
sobre o Princípio da População. Um livro incrivelmente controverso.
Era controverso pois dizia que havia limites para o crescimento.
Muitos filósofos no século XVIII diziam:
"A humanidade pode progredir indefinidamente, tudo ficará bem".
Malthus disse: "Não, não é bem assim.
"Na verdade, temos recursos limitados de alimentos,
"vai acontecer que o crescimento exponencial dessa população
"será impedido pela necessidade de alimentos".
O que Darwin faz é transformar isso num princípio criativo da natureza.
A morte torna-se a maneira de explicar a vida.
E o que acontece é que obtemos esta incrível ideia de que
todos os milhares de seres, todas as espécies sutilmente diferentes
estão competindo por estes pequenos espaços na Terra e na natureza.
Cada uma tentando viver e só aqueles que forem mais adaptados,
só aqueles que irão realmente se adequar a esse pequeno lugar,
esses são os que vão sobreviver e os milhares,
os milhões, os bilhões, o resto irá morrer.
"Imediatamente me ocorreu que sob essas circunstâncias,
"variações favoráveis tenderiam a ser preservadas
"e as desfavoráveis eliminadas.
"O resultado disso seria a formação de novas espécies.
"Assim, tive finalmente uma teoria com a qual trabalhar."
Ele diz que o crescimento da população
é como "100 mil cunhas impelidas contra a face da natureza".
Como se impulsionasse os fortes e expulsasse os fracos.
Capturando a essência da luta pela existência,
da sobrevivência do mais adaptado.
Teve um momento que ele ficou muito empolgado,
pode-se ver essa empolgação,
porque foi escrito com força, com muito cuidado.
Diria que há uma emoção controlada, uma escrita muito, muito detalhada,
linha sobre linha, na verdade, de uma reação a isso.
Em 1844, Darwin trouxe as ideias sobre população de Malthus
para o centro de sua teoria da seleção natural,
como um mecanismo pelo qual a evolução ocorreu.
A guerra da natureza destrói os fracos.
Somente os mais adaptados sobrevivem para se reproduzir,
transmitindo suas características bem sucedidas
para as gerações subsequentes.
Ao terem tantos filhos, Charles e Emma
conduziram sua própria experiência malthusiana.
Quando terminou o manuscrito,
um bebê morreu e Emma estava prestes a engravidar do quinto.
William e Annie, os dois primeiros, estavam crescendo.
Anne Elizabeth Darwin nasceu em março de 1841.
Ela se tornou indispensável para a mãe quando
atingiu a maravilhosa idade de 8 ou 9 anos.
Ela demonstrava grande carinho pelos pais.
E acho que isso aumentou o amor de Emma e Charles por Annie.
Ela os mimava, acariciava suas mãos e cabelos,
pegava o cabelo do pai, trançava e destrançava assim.
Depois pegava a mão dele e caminhava saltitando pelo Passeio de Areia.
E ela tinha seu próprio canteiro de flores no fundo, essas coisas
ternas enquanto olhavam a filha mais velha tornar-se uma jovem mulher.
"Sua alegria e espírito selvagem irradiavam de todo seu semblante,
"e tornavam todo movimento elástico, cheio de vida e vigor.
"Era prazeroso e divertido contemplá-la.
"Sua querida face surge à minha frente, quando ela costumava vir
"às vezes descendo as escadas com uma pitada de rapé roubado para mim.
"Toda sua forma radiante com o prazer de proporcionar prazer."
E enquanto essas crianças cresciam, não eram apenas amadas,
eram seres, pequenos organismos em desenvolvimento.
Eram como o orangotango no zoológico de Londres.
Darwin compararia seus filhos William e Annie
crescendo com o orangotango no zoológico.
Em Downe, Annie e seus irmãos forneciam um alívio emocional
da luta constante com sua nova e contenciosa teoria.
Mas havia outra fonte de constante desconforto.
Emma leu seu manuscrito concluído.
Darwin devia saber que ela acharia uma leitura desconfortável.
Num relacionamento forte e apaixonado,
sua rejeição aos ensinamentos tradicionais da religião
a deixou inquieta com a salvação do marido.
Apesar de o manuscrito reconhecer a existência de um Criador,
Emma sentiu que ele questionava a crença de que
o homem havia sido criado especialmente por Deus.
Se você se colocar na cabeça de um leitor do século XIX,
a ideia de que as espécies evoluíram, que o homem evoluiu,
seria bastante preocupante, pois a presunção
de que o homem está no topo da hierarquia,
perfeitamente criado, nobre, todas essas coisas.
Sugerir que nós evoluímos dos macacos e, antes disso,
de criaturas marinhas primitivas,
deve ter parecido profundamente herege.
Darwin estava ciente que precisava contar à esposa o aspecto geral
do trabalho que estava fazendo,
mas ele também sabia que ela ficaria preocupada.
Emma era bastante liberal em sua visão geral,
mas ela era também uma cristã praticante e muito fervorosa.
Emma temia que as dúvidas religiosas do marido
implicassem que ele pudesse não ser salvo
e não se juntasse a ela após a morte.
"Quando estou contigo todos os pensamentos melancólicos se afastam,
"mas desde que você se foi, pensamentos tristes penetraram,
"de medo que nossas opiniões em um assunto tão importante,
"possam diferir enormemente.
"Minha razão me diz que as honestas e conscienciosas dúvidas
"não podem ser pecado.
"Mas sinto que isso seria um vazio doloroso entre nós."
A grande pergunta para Emma era
se eles passariam a eternidade juntos.
Ou se quando ela morresse e ele morresse
seria quando eles finalmente se separariam.
Acho que era um tipo terrível de aflição para ela
e permaneceu assim até o fim de suas vidas.
"Não desejo nenhuma resposta para tudo isso.
"É uma satisfação para mim escrever.
"Não pense que não ligo e que não significa muito para mim.
"Tudo o que lhe interessa, também me interessa.
"E eu ficaria infeliz se pensasse que não pertencemos um ao outro
"para sempre."
Isso se tornou uma questão mal resolvida na relação deles.
Talvez tenha sido esquecida muitas vezes, mas quando uma
criança estava doente ou quando Darwin, como tantas vezes,
estava doente e ela tinha que cuidar dele,
era o espectro de estar eternamente sem seu amado,
que assombrava Emma e a fazia levantar a questão com ele.
Não sabemos quantas vezes em particular.
Sabemos que isso pesou bastante sobre Darwin
por causa de uma nota que acrescentou depois à carta de Emma.
"Quando eu morrer, saiba quantas vezes eu beijei e chorei por isto."
Sejam quais fossem seus medos pessoais,
Emma leu fielmente e comentou sobre o ensaio.
Darwin ainda não estava confiante o bastante para publicá-lo
e suas angústias sobre as reações hostis às ideias de evolução
logo seriam confirmadas.
Ele terminou o ensaio e
acho que qualquer decisão a tomar sobre os editores
com certeza lhe veio à mente em outubro de 1844,
quando soube através de um anúncio no London Times
que um livro havia sido publicado chamado
"Vestígios da História Natural da Criação".
Era um livro anônimo,
cujo autor era um sujeito de grande dúvida e incerteza
e era um livro que até no anúncio dizia
que lidava com todo tipo de fenômeno natural e o explicava
por meio de uma lei natural de desenvolvimento.
Em outras palavras, havia um tipo de evolução
que explicaria como tudo no universo veio a ser o que é.
O livro se tornou uma das maiores sensações no ano de 1840.
Todos o leram, da Rainha Vitória ao poeta Tennyson,
e a maioria dos amigos de Darwin. Foi discutido intensivamente,
por uma gama de diferentes pessoas.
"A sucessão dos seres vivos,
"do mais simples e antigo ao mais superior e recente,
"é considerada como uma série de avanços
"do princípio do desenvolvimento.
"Quis a Providência arranjar que uma espécie desse origem a outra
"até que a segunda mais evoluída desse origem ao homem."
A identidade do autor, Robert Chambers, um jornalista escocês,
permaneceu em segredo durante 40 anos.
Ele temia a inevitável reação.
Na vanguarda do ataque, estava um professor de Darwin em Cambridge,
o reverendo Adam Sedgwick.
Ele detectou o "bote da serpente da falsa filosofia"
na visão do livro sobre a transmutação.
As pessoas atacaram o livro duramente.
Seu professor, Sedgwick, aqui em Cambridge,
referia-se a ele como um "aborto imundo",
"cuja cabeça devia ser esmagada".
Condiz com a ideia de vê-lo como a obra de uma
"fraca mente feminina, este livro, este aborto imundo."
Essas foram as palavras do reverendo Adam Sedgwick,
colega do Trinity College, Cambridge.
"Só posso achar que este trabalho seja obra de uma mulher.
"É tão bem vestido e tão gracioso em sua aparência.
"Este erro, desde o princípio, foi de uma mulher.
"Ela deseja o fruto da árvore do conhecimento.
"E ela deve colhê-lo, certo ou errado."
E Sedgwick, com certeza, era averso a "Vestígios".
Para ele e para muitos cristãos evangélicos,
"Vestígios", que foi encadernado em vermelho, é a meretriz escarlate.
É o livro que tem a bela atração de uma mulher.
O que precisam fazer, ele diz, "é rasgar sua bela roupa
"e revelar o vil corpo de corrupção do seu interior."
"Se o livro estiver certo, os métodos indutivos seriam inúteis.
"A religião seria uma mentira, a lei humana, um conjunto
"de tolices baseadas na injustiça, a moralidade, vazia.
"Nossas ações pelos negros da África, atos de loucos,
"e homens e mulheres, apenas animais mais evoluídos."
E Darwin leu isto, como ele disse, "assustado e trêmulo".
Mas isso também foi útil para Darwin,
pois quando leu essa crítica, quando viu o que Sedgwick tinha a dizer,
de certa forma, ele começou a definir as coisas que ele
precisava investigar, as questões que precisava responder,
a fim de assegurar que sua teoria tivesse a blindagem apropriada,
para que pudesse propagar-se pelo mundo sem receber
a mesma reação negativa que "Vestígios".
Ainda atordoado pela reação brutal à "Vestígios",
Darwin parece ter entrado num período de insegurança.
O temor de ser tido com um desprezível especulador,
foi aguçado pelas palavras de seu amigo botânico, Joseph ***.
*** disse a ele que achava que ninguém tinha o direito
de falar sobre espécies a menos que as tivesse estudado em profundidade.
Uma simples frase numa carta de *** para seu amigo,
e mesmo assim, uma clara advertência
que assombrou Darwin, pois ele sabia que *** tinha razão.
Que se alguém fosse acreditar nesta grande alegação que ele iria fazer,
então ele teria que estudar em profundidade.
Ele teria que utilizar bastante o microscópio
e instrumentos de dissecação e após concluir,
após as pessoas admirarem-no pela riqueza desse trabalho,
então ele teria melhor chance com seu grande ideal.
Darwin decidiu embarcar numa descrição abrangente
de toda uma subclasse de organismos marinhos, os cirrípedes.
Era um projeto que ele previu que levaria questão de meses.
Acabou lhe custando 8 anos.
Há basicamente dois tipos de cracas.
O tipo cônico. São branco-vulcânico.
Pequenos cones que cobrem as rochas.
Dentro do cone há uma pequena criatura,
que é presa a rocha pela cabeça e que pesca com os pés.
Quando a maré chega, os pés saem através da pequena abertura,
e ocorre um lindo movimento pulsante, quase como penas,
enquanto os pés capturam o plâncton.
Há também essas cracas com enormes pênis,
proporcionalmente, o mais longo do reino animal,
de vez em quando pode-se ver saindo do topo desses cones,
um enorme pênis, que sairá pelo topo e entrará por
cima de outra valva,
talvez quatro a cinco cracas de distância.
Ele rapidamente percebeu
e expressou este senso de surpresa.
Que elas eram, aparentemente comuns, sabem,
cobrindo todas as costas do mundo temperado,
e quando você se aproximava bem perto,
o que parecia um organismo simples torna-se um bem sofisticado
e vemos esse padrão nos primeiros trabalhos de Darwin, essa noção de
devemos parar de falar sobre animais superiores e inferiores.
Que os animais inferiores são também muito sofisticados,
quase fantásticos na maneira que se adaptaram a suas condições.
Quase se dá pra ouvi-lo ofegar, enquanto ele se aprofunda
na beleza dessas criaturas.
Isso teve outro benefício.
A pesquisa de Darwin sobre as cracas fiava-se nas
pessoas enviarem-lhe espécimens de todo o mundo.
Downe House tornou-se o "hub" de uma rede de contatos
que forneceria evidência vital para escrever "A Origem das Espécies".
A rede de comunicação de Darwin era extraordinária.
É, de uma certa forma, um tributo à
sofisticação do Serviço Postal Vitoriano,
sem o qual a maior parte da ciência do Século XIX teria ruído.
Criadores de pombos, cultivadores de orquídeas,
médicos coloniais e oficiais da Marinha Real eram incitados
por Darwin de seu escritório em Downe,
então o que chegava àquela mesa, eram pilhas e pilhas de papéis.
Foi enquanto ele ainda trabalhava dissecando
centenas de espécimens de cracas,
que mais um dos filhos de Darwin foi acometido
com o que agora se sabe ter sido tuberculose.
Quando Annie tinha 9 anos, ela começou a ter problemas estomacais,
o que não era nenhuma surpresa numa casa onde
o pai vomitava periodicamente no escritório
e fazia todo tipo de coisa para evitar ficar doente.
Uma forma de alguém receber atenção em Downe House,
era ficar doente, muito doente, de preferência.
E finalmente a doença dela ficou tão grave
e Emma estava no final de uma gravidez,
ela estava para ter seu nono filho.
Charles levou Annie ao seu médico particular.
O médico, de imediato,
diagnosticou a grave situação que estava prestes a piorar
e no fim de semana da Páscoa, ela morreu.
"Os olhos dela brilhavam, ela sorria frequentemente.
"Seu passo era elástico e firme.
"Ela se mantinha ereta e jogava a cabeça para trás
"como se desafiasse o mundo com sua alegria."
Um semana após a morte de Annie, isto foi o mais notável,
Charles sentou-se e num único rascunho,
dá pra perceber quando se lê, ele escreveu
uma magnífica trenodia para essa
amada e saudosa filha,
na qual ele descreve a natureza humana de Annie
em toda plenitude.
Isto não é apenas a luta pela sobrevivência
na qual uma vida vulnerável é destruída,
é um ente querido que é sua filha.
"Perdemos a alegria da casa e o consolo da nossa velhice.
"Ela deve saber o quanto a amamos.
"Que ela saiba o quão profundo e comovidos ainda estamos,
"e para sempre amaremos seu querido e alegre rosto.
"Bençãos a ela."
Annie morreu 3 anos após a morte do pai de Darwin, um descrente.
Com sua própria crença num Deus cristão já abalada,
Darwin agora rompia seus laços com a fé tradicional.
"A descrença foi se instalando em mim pouco a pouco,
"até me dominar por completo.
"Não consigo entender como alguém pode
"desejar que o cristianismo seja verdadeiro,
"porque, caso seja, a simples linguagem do texto
"parece mostrar que homens que não acreditam,
"serão castigados eternamente. E isso é uma doutrina condenável."
Parece, para mim, a quintessência,
da revolta que ele sentiu por Annie ser levada na Páscoa,
condensada numa única declaração moral.
É a declaração de um não-religioso.
Um não-cristão, mas ainda um crente em Deus.
Um Deus que não iria punir crianças de 10 anos.
A morte na guerra da natureza tem sido a força motriz
da teoria da evolução de Darwin desde que ele leu Malthus.
Oito anos após a morte dela,
Darwin iria inserir sua filha nessa visão.
Annie está presente no capítulo 3 de "A Origem das Espécies"
onde Darwin fala sobre a luta pela sobrevivência.
E nesse capítulo, Darwin,
ele já estava escrevendo há 5, 6 ou 7 anos
após a morte de Annie.
Ele descreve para nós
a natureza como ela se mostra e a natureza como ela realmente é.
Ele se refere à face complacente da natureza.
Ele se refere à natureza que admiramos
e é tão celebrada, a verdejante e calma terra da Inglaterra,
os insetos voando pelo ar, os pássaros se exibindo.
Nós não vemos, ele diz, debaixo da superfície.
É um estado contínuo de guerra.
Sob a superfície da natureza,
os jovens morrem jovens
e o restante da vida animal luta para sobreviver.
E ele diz que esta luta pela sobrevivência é como,
ele usa uma imagem do velho caderno de anotações,
"cunhas impelidas contra a face."
"Contemplamos a face da natureza exultantes de felicidade.
"Cada ser vivo ao nosso redor parece continuar
"se esforçando para multiplicar-se,
"que cada um deles trava uma luta em algum ponto de sua vida.
"Uma destruição incessante
"inevitavelmente expõe tanto jovens quanto adultos
"quer durante cada geração, quer em certos intervalos."
"A face da natureza é comparável a uma superfície complacente
"com 10.000 cunhas afiadas comprimidas num espaço limitado
"e impelidas para dentro por golpes incessantes.
"Às vezes uma cunha sendo atingida,
"e depois outra com força maior."
Tem esta natureza de face complacente
e cunhas impelidas... é a figura antropomórfica mais horrenda.
Quando li isso pela primeira vez, após estudar
a morte de Annie, pensei,
"Poderia ser sua face?" Quando você lê a descrição sobre ela,
uma semana após ela morrer,
por várias vezes é sua face radiante, seu rosto alegre,
o sorriso dela que ele recorda,
com a foto tirada do daguerreótipo ao lado dele.
Ao escrever o capítulo sobre a
luta pela sobrevivência em "A Origem das Espécies",
ele retrata o destino de Annie
como vítima da luta cruel que, sem remorso,
dá origem à formas superiores de vida.
Ela sofreu na Páscoa para que outros pudessem sobreviver.
Darwin voltou a se dedicar às cracas,
levando mais 3 anos para concluir seu vasto estudo.
Finalmente, ele se sentiu capaz de voltar à sua grande teoria,
mas, há algum tempo, algo o inquietava.
Como um grupo, como as cracas, evoluiu,
considerando que são compostas por milhares de diferentes espécies
muitas vivendo lado a lado?
A sua ideia de seleção natural bastaria para explicar
a extraordinária diversidade de seres?
"Nessa hora, deparei-me com um problema de grande importância.
"O problema é a tendência dos seres vivos
que descendem do mesmo ramo
"divergirem em caracteres à medida que se modificam."
Tem uma parte na autobiografia onde ele fala sobre
o momento da descoberta do Princípio da Divergência.
Vocês podem ver uma série de pequenos ensaios entre muitos
que possuem a mesma data, novembro 1854,
nos quais sua caligrafia é bastante irregular com o lápis.
"Posso lembrar o lugar na estrada, enquanto estava em minha carruagem,
"quando a resposta veio à minha mente.
"A resposta, como acredito,
"é que a prole modificada das formas dominantes e crescentes
"tende a adaptar-se aos variados e altamente diversificados lugares
"na economia da natureza."
Darwin percebeu que quanto maior a diferença dos indivíduos entre si,
mais capazes seriam de tirar vantagem do meio em que viviam.
Mas principalmente,
as espécies divergiriam ainda mais conforme adaptam-se umas as outras.
Essa interdependência teve um paralelo
no que acabou tornando-se o sistema fabril vitoriano.
Ele usa, eu chamaria isso de "a fase Adam Smith"
do encontro de Darwin com os economistas políticos,
porque Adam Smith tinha esta ideia de divisão do trabalho,
que se poderia produzir mais riqueza com pessoas especializadas,
ao invés de todos serem fazendeiros.
Se alguns tornam-se alfaiates e outros, artesãos de couro,
pode-se produzir mais riqueza.
Darwin usou essencialmente a mesma ideia
e a aplicou nesses pequenos lotes de terreno
e sua visão é de que mais vida pode ser sustentada
num lote quadrado se
os organismos usassem diferentes partes do meio.
Se pensarmos nisso em termos do experimento do terreno gramado.
Tem grama e outras plantas crescendo e as raízes descem
a certa profundidade para que possam extrair nutrientes,
mas outra pode atingir uma profundidade maior.
Pode-se sustentar mais vida dessa forma
do que se atingissem a mesma profundidade.
Se todas fossem iguais.
E ele viu isso como um processo da divergência.
Darwin criou experiências inovadoras para provar suas ideias.
Deixando alguns metros quadrados do seu gramado sem podar por 3 anos,
ele começou a notar a mudança na composição da luta pela vida entre
20 espécies de plantas, registrando 11 vencedoras e 9 perdedoras.
Nos prados de Great Puckland, ele contou 142 espécies diferentes
o primeiro levantamento deste tipo.
Os campos floridos e colinas ao redor de Downe
abrigavam 40 espécies diferentes por metro quadrado.
Uma abundância explicada pela seleção natural
e pelo Princípio da Divergência.
E suas aplicações das ideias de Adam Smith da manufatura capitalista
não tiveram efeito sobre o criador da teoria da luta de classes,
Karl Marx.
"Darwin descobre entre animais e plantas
"a sociedade inglesa, com sua divisão do trabalho,
"competição, abertura de novos mercados, invenções
"e a luta malthusiana pela existência."
E certamente Darwin, quando observava essas colinas,
onde novas variedades e espécies eram preferencialmente produzidas
pela competição e divisão fisiológica do trabalho,
Darwin as chamava "manufaturas de espécies."
A expressão "sistema de produção" fora cunhada há 30 anos
e foi utilizada para este novo sistema econômico,
baseado na produção industrial,
grande divisão do trabalho, automação e mecanização.
Agora Darwin usava esses princípios
para tentar explicar o que ocorria
quando a competição era particularmente vigorosa
e as adaptações eram peculiar e intensamente favorecidas.
Foi nessa época que Darwin adquiriu confiança para divulgar sua teoria.
Ele começou a preparar a obra prima onde cada crítica pudesse
ser antecipada e cada afirmação alicerçada em evidência.
Ele queria conquistar seus leitores vitorianos
com exemplos surpreendentes e familiares.
Consciente de sua fascinação por animais domésticos,
ele escolheu uma espécie bastante popular, o pombo,
a fim de fazer uma analogia.
Forçando o cruzamento de pombos por seleção artificial
ele mostrou como a seleção natural funcionava na natureza.
Ele estava interessado na grande diversidade de pombos,
de todas as formas, tipos extraordinários de pombos
e como isso os ligava a um único ancestral.
De um lado, tinha o pombo de leque,
lindas aves com belas plumagens,
até o pombo-gravata, pássaro com bico tão pequeno
que mal conseguia sair da casca do seu ovo.
Os pombos-correio eram grandes, tinham um bico grande feio.
Eles tinham essa incrível diversidade.
Como poderiam eles provir de um ancestral?
Assim como os criadores de pombos produziam variedades distintas,
a natureza agia da mesma forma ao longo do tempo,
selecionando naturalmente variedades distintas,
todas transmitindo suas próprias características hereditárias.
O que Darwin queria dizer era que, assim como os criadores
de pombos tinham uma propensão, a natureza também tinha,
que era produzir essas incríveis variedades, de formas
diferentes e tipos de animais e plantas que vemos ao nosso redor.
Essa diversidade podia ser explicada a partir da observação de pombos.
Os pombos foram um dentre os muitos exemplos
de um trabalho que podia ter alcançado 3 volumes,
se Darwin não tivesse sido interrompido.
"Meus planos foram abandonados.
"Pois no início do verão de 1858,
"o Sr. Wallace, que estava no arquipélago malaio,
"enviou-me o ensaio: "Sobre a Tendência das Variedades de
"Separarem-se Indefinidamente do Tipo Original".
"Esse trabalho continha a mesma teoria que a minha."
Alfred Russel Wallace supria Darwin e outros colecionadores
com espécies da fauna e flora do arquipélago indonésio.
Darwin, devo dizer, era um aristocrata, sem dúvida.
Wallace era exatamente o oposto. Ele tinha poucos anos de estudo,
foi expulso e partiu para a escola da vida, pois não podia pagar.
Ele decidiu abrir uma loja como colecionador de animais
e levava uma vida extraordinária e aventureira. Ele foi à Indonésia,
e passou por momentos difíceis.
Ele viveu na selva por muitos anos
e de repente, certo dia, ele teve uma boa ideia.
Como Darwin,
Wallace foi afetado pelo ensaio de Thomas sobre população.
Sua teoria chegou a ele enquanto estava incapacitado pela malária,
lutando pela vida.
Então ele escreveu com certa hesitação ao grande
e já famoso colega da Sociedade Real, Charles Darwin,
com essa ideia, e claro, acabou chegando à mesa de Darwin,
aqui em Downe, com o impacto de uma granada.
"Então toda minha originalidade, qualquer que seja, será destruída.
"Embora meu livro, se tiver algum valor, não será abalado
"pois todo o trabalho consiste na aplicação da teoria."
Darwin ficou transtornado. Ademais, sua filha, Henrietta, estava doente
e seu filho mais novo, Charles, gravemente enfermo.
Ele confiou em seus amigos Joseph *** e Charles Lyell,
para decidir o destino de sua teoria.
Com Wallace na distante Indonésia, eles decidiram que os ensaios
de ambos os naturalistas seriam apresentados
numa sessão da Sociedade Lineana de Londres.
Surpreendentemente, a apresentação despertou pouco interesse.
Darwin também esteve ausente do evento.
Seu filho mais novo havia morrido.
Após recuperar-se,
ele decidiu publicar seu livro o mais breve possível.
A maior coisa que Wallace fez, eu acho, foi com
que Darwin concluísse seu livro e o escrevesse de forma
que fosse compreensível a um maior número de leitores.
Darwin estava escrevendo um tratado em 3 volumes
sobre a seleção natural.
Com todas as provas, pombos, abelhas, formigas, tudo incluso.
Haveria um capítulo sobre o homem, era bem amplo.
O que Wallace fez iria estimular Darwin.
Ele recobrou sua energia quando trabalhava
na viagem de Beagle e começou a escrever com entusiasmo.
"Em setembro de 1858,
"comecei a trabalhar no conselho dado por Lyell e ***,
"de preparar um volume sobre a transmutação das espécies.
"Isso me custou 13 meses e 10 dias de trabalho árduo.
"Foi publicado sob o título de "A Origem das Espécies",
"em novembro de 1859."
Darwin desenvolveu seu livro de quase 500 páginas
como um longo argumento.
Ele gentil e experimentalmente conduz seu leitor
através de uma série de observações e exemplos.
Do início ao fim, o mesmo padrão se repete
indo de detalhes específicos à conclusões impressionantes.
Costumo pensar que a teoria da evolução da seleção natural
é como a gramática da Biologia.
Você não pode aprender uma língua sem entender
ao menos algo sobre sua gramática e você não podia ser um biólogo
antes de 1859 porque nenhum fato parecia se encaixar.
Você poderia estudar flores, vermes,
poderia coletar pássaros em Galápagos
mas eram descobertas independentes.
Mas "A Origem das Espécies" deu sentido a tudo.
Ela forneceu o sistema com o qual podemos analisar todos esse fatos.
Foi, e ainda é, o principal livro da Biologia.
O livro destinava-se a um novo tipo de profissional da ciência
que estava preparado para aceitar que a natureza
era governada por leis fixas,
a origem das espécies assim como o movimento dos planetas.
Mas Darwin investiu tantos anos desenvolvendo o livro
porque também esperava conquistar seus antigos mentores anglicanos.
"A Origem das Espécies" menciona apenas 2 vezes à origem do homem
mas para os antigos naturalistas,
como seu respeitado professor Adam Sedgwick,
as implicações eram óbvias e odiosas.
Adam Sedgwick escreveu-lhe uma carta.
O velho sentou-se, e com pesar,
disse ao seu aluno de Geologia o quanto desaprovava
este livro, "A Origem das Espécies", que
em algumas partes, Sedgwick disse: "tenta romper a ligação
"entre a natureza e a realidade de Deus."
"Li seu livro com mais aflição que prazer.
"Alguns trechos, admirei muito,
"outros, ri até doer minha barriga.
"Trechos, li com absoluto pesar, pois
"os acho completamente falsos e nocivos."
Sedgwick esperava encontrá-lo no Paraíso
e isso resume tudo, não é?
Sedgwick entendeu muito bem o que estava em risco
e que o próprio Darwin sempre soube estava em jogo.
Sedgwick viu o arcabouço tremer e ruir.
O arcabouço da salvação e da vida eterna.
Se você diz que o homem veio do macaco, tudo isso desaba.
A família ficou transtornada com isso.
Acho que foi, para Darwin, a carta mais agressiva
que recebeu sobre "A Origem das Espécies".
Porque ela representa, em certo aspecto,
seu fracasso em atingir o tipo de pessoa que Sedgwick representava.
E particularmente frustrante também para Emma,
pois Sedgwick era alguém que ela admirava
e cujas posições respeitava.
Estava bem claro que a tristeza imperava na casa
como resultado da interferência de Sedgwick no debate.
Quaisquer que fossem os reveses, Emma apoiou Charles
durante os anos de controvérsia que se seguiram,
possibilitando a ele escrever mais 9 livros,
apesar dos futuros colapsos e crescente exaustão.
Mas posteriormente ele reconheceu "A Origem das Espécies"
como a obra prima de sua vida.
O livro nunca saiu de circulação.
Nele, ele imortalizou uma colina de giz em Downe para ilustrar
a extraordinária diversidade e interdependência dos seres
que resultam do processo de seleção natural.
Também serve como metáfora de sua luta para escrever o livro.
E, claro, a colina luxuriante que ele descreve no final
é também a visão de sua própria vida.
A colina que ele contempla, referência em sua visão da natureza,
é também o mundo em que ele viveu.
Tem um certo senso de admiração nisso,
a admiração pela natureza que ele vê como um todo.
Que ele aceita a guerra, a destruição, a fome,
a dor, o sofrimento, a perda dos filhos
mas, todavia, ao se somar tudo isto:
a morte, o sofrimento, a beleza, o milagre,
e termina maravilhado.
"Há uma certa grandeza nesta forma de ver a vida,
"com seus vários poderes atribuídos primitivamente
"a um pequeno número de formas ou a uma só.
"E enquanto o planeta continua a girar em sua órbita,
"obedecendo à lei fixa da gravidade,
"de um princípio tão simples, uma quantidade infinita de belas
"e admiráveis formas evoluíram e continuam a evoluir."
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