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Outra palestra de natureza um pouco mais filosófica,
retomando alguns assuntos que já mencionei anteriormente,
uma palestra sobre Teoria e História.
Na escola austríaca nós diferenciamos significativamente
a Teoria, que são proposições econômicas não-hipotéticas,
e História, que é uma disciplina muito menos exata.
A História lida com explicações passadas de atos passados
e o que os austríacos também consideram parte da História,
o empreendimento, que são previsões de comportamentos futuros.
Permitam-me começar dizendo que é relativamente fácil relatar
uma sequência de eventos conforme eles se desenrolam na História.
O que é muito mais dificil de fazer é interpretar
essa sequência de eventos.
Deixem-me ilustrar isso com dois simples exemplos que tenho em mente.
Uma observação muito simples seria, por exemplo,
No século XIX, o padrão de vida nos EUA e também na Europa
era comparativamente mais baixo, impostos no século XIX
na Europa e nos EUA eram comparativamente mais baixos
e regulações econômicas, de novo, nos EUA e na Europa Ocidental,
eram menores durante o século XIX.
Se você examina o século XX, de novo,
se você faz observações simples,
você descobre que o padrão de vida é melhor no século XX,
impostos também são significativamente maiores no século XX
e as regulações são significativamente maiores no século XX.
Então, quanto a essas observações não há controvérsias.
No entanto, a questão é:
O padrão de vida no século XX é melhor do que no século XIX
"por causa" dos maiores impostos no século XX
e "por causa" das maiores regulações no século XX,
ou o padrão de vida é melhor "apesar" do fato
que as regulações e impostos eram maiores no século XX
do que eram no século XIX?
Você imediatamente percebe que os dados não podem nos dizer
qual dessas interpretações é correta.
Nós somos mais ricos devido aos maiores impostos e regulações,
ou somos mais ricos apesar do fato
dos impostos e regualções serem maiores?
Os dados são compatíveis com ambas interpretações,
no entanto, essas interpretações são completamente contraditórias.
Intuitivamente, é claro, eu acredito que vocês sabem
que nós somos mais ricos apesar do fato dos impostos
e regulações serem maiores,
nós seriamos ainda mais ricos do que somos se os impostos
tivessem sido mantidos tão baixos quanto no século XIX
e a regulações fossem tão menores quanto no século XIX.
Mas, baseado em que você pode afirmar isso?
De novo, os dados não informam isso, eles podem ser usados
para fornecer a outra interpretação.
Segundo exemplo, para defender o mesmo argumento.
Nós sabemos que os benefícios sociais e as taxas de criminalidade,
ao menos nos EUA, eram ambos comparativamente menores nos anos 1950.
Pouquíssimos benefícios sociais eram pagos e a criminalidade
também era muito baixa.
Por outro lado, sabemos que nos anos 1980 e 1990
o assistencialismo era significativamente maior e as taxas
de criminalidade também eram significativamente maiores.
De novo, a mesma pergunta,
a criminalidade era maior nos anos 80 e 90 maiores do que
nos anos 50 apesar do aumento de benefícios sociais
ou por causa do aumento nos benefícios sociais?
A sequência de eventos que os historiadores podem nos contar
e que podemos facilmente concordar, "isso seguiu aquilo",
não nos permite responder essa pergunta.
A sequência de eventos é compatível com ambas interpretações
que são claramente incompatíveis entre elas.
Agora nos perguntamos, o que a Teoria pode fazer?
Eu penso que o papel da Teoria Econômica é nos ajudar
a decidir qual dessas interpretações incompatíveis,
ambas se referem ao mesmo conjunto de dados históricos,
é a correta e qual é incorreta.
Por Teoria eu refiro a algo que não dependa internamente
de dados históricos, porque, se a teoria que usarmos para
decidirmos entre as interpretações, por si, não tiver embasamentos
mais sólidos do que uma sequência de eventos históricos,
então, obviamente, não resolvemos nosso problema,
nós simplesmente damos um passo para trás e teríamos de
explicar a correta interpretação dessas experiências
que usamos para tomar a decisão.
Eu quero mostrar, primeiramente, que temos proposições teóricas,
nas ciencias naturais e sociais,
cuja validade não é baseada em observações históricas,
podemos reconhecer como necessariamente verdadeiras
pela simples reflexão sobre a afirmação em si.
E sobre estas afirmações nós precisamos tomar tais decisões.
Deixem-me dar alguns exemplos, primeiramente das ciências naturais,
para dar uma ideia a vocês do que eu refiro por "proposições teóricas",
proposições não-hipotéticas, para as quais não precisamos
citar evidências históricas para validá-las.
Por exemplo,: Nenhum objeto material pode estar
em dois lugares ao mesmo tempo
Eu diria que essa é uma afirmação não-hipotética
que diz algo sobre a estrutura da realidade.
Nada pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço.
Eu penso que isso é uma verdade e não-hipotético.
Uma linha reta é a menor distância entre dois pontos.
Duas linhas retas não podem envolver espaço.
De novo, você compreende isso, não é possível que duas
linhas retas envolvam um espaço.
Um objeto todo verde não pode ser todo amarelo ao mesmo tempo.
De novo, você claramente identifica que essa não é
uma afirmação hipotética, é algo necessariamente verdadeiro,
uma vez que você ouve, você percebe que tem que ser assim.
Qualquer objeto que tenha cor, possui uma extensão.
Não é possível imaginar que essa afirmação seja falsa.
Todo objeto que possua forma, possui tamanho.
Se A é parte de B e B é parte de C, A é parte de C.
Todas essas exposições, como eu disse, expressam algo
sobre coisas reais e são claramente não-hipotéticas.
Esses são claros exemplos do porquê de o Sr. Popper estar
patentemente enganado em tudo o que diz.
Existe uma quantidade enorme de afirmações que dizem algo
sobre fenômenos reais que não podem ser considerados falsos,
como ele tem em mente.
Agora, permitam-me dar alguns exemplos das ciências sociais,
que possuem o mesmo status, dizem algo sobre coisas reais
e, ainda assim, não são hipotéticos, são necessariamente verdadeiros.
A ação humana é uma busca, com propósito,
de fins desejados com meios escassos.
Parece ser verdade para todas as ações,
eu não saberia como isso poderia ser refutado.
Uma pessoa que tentasse refutar, por si, teria de buscar
um fim e teria de usar meios para atingir esse fim.
A tentativa de refutar, na verdade, apenas confirmaria
a verdade da afirmação.
Ninguém pode não agir, com propósito.
Tente propositalmente não agir, se você te um propósito
essa já é uma ação, você tem um objetivo que busca por meios.
Toda ação busca uma melhoria do que ocorreria de outra forma.
Isso também não parece ser falsificável e diz algo sobre
fenômenos reais, nomedamente ações humanas.
Uma maior quantidade de um bem é preferível
em relação a uma menor quantidade.
Isso segue simplesmente do que é um bem,
se algo é considerado um bem, então, obviamente, mais de
um bem é sempre melhor do que menos de um bem.
Satisfação antes é preferível em relação a satisfação posterior.
Cem doláres no presente tem mais valor para mim do que
cem dólares daqui a dez mil anos.
O que é consumido agora, não pode ser consumido novamente depois.
Se o preço é reduzido, a mesma quantidade é comprada ou mais.
Preços fixados abaixo do preço de mercado leva a escassez.
Sem propriedade privada dos fatores de produção não podem
haver preços e, sem preços, contabilidade de custos é impossível.
Conflitos interpessoais só são possíveis se as coisas forem escassas.
Não podem haver conflitos sobre coisas que existem em superabundância,
somente se a oferta for limitada é possível que as pessoas
entrem em conflito por isso.
Nenhuma coisa, ou parte, pode ser propriedade exclusiva
de mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
Democracia, a lei da maioria, é incompatível com
a propriedade privada.
Nenhuma forma de taxação é uniforme, quer dizer,
sempre que houver um sistema de taxação, devem existir
pessoas que recebem os impostos e pessoas que pagam os impostos.
Propriedade e títulos de propriedade são coisas distintas
e um aumento dos títulos de propriedade, sem um aumento
correspondente de propriedades não eleva a riqueza social,
somente redistribui a riqueza existente.
Nós falamos do sistema bancário de reservas fracionárias,
pedaços de papel adicionais, sem um incremento legítimo
em dinheiro real, só pode levar a redistribuição de renda.
A interpretação padrão dessas afirmativas, de acordo
com os positivistas, lembrem-se, é que todas essas
proposições são hipóteses.
Mas a questão é, são mesmo hipóteses?
Vocês já perceberam, pela minha palestra anterior
e pela explicação dessas afirmações, que elas não
tem nada em comum com o que normalmente consideramos hipóteses.
Agora eu gostaria de ler algumas exposições que
são realmente hipóteses, você percebe imediatamente
a diferença fundamental entre os dois tipos de proposições.
Então, agora, algumas hipóteses comuns.
"As crianças preferem o McDonald's ao Burguer King."
Pode ser certo, pode ser errado, eu não sei.
Precisa ser testado.
"O consumo mundial de carne de vaca é o dobro do de porco."
Pode estar certo ou errado, isso é certamente uma hipótese
que requer ser testada.
Eu não posso afirmar se é verdade ou não, de partida.
Então, eu estaria disposto a pagar alguém para
descobrir se é verdade.
Eu, provavelmente, não pagaria ninguém para descobrir isso,
mas, deve haver alguns tapados que gastem dinheiro
nesse tipo de coisa.
"Os alemães gostam mais da Espanha do que da Grécia
como destino de férias."
Em face dessa afirmação eu não sei se é correta ou errada,
eu tenho certeza de que ela é correta ou errada,
mas, é uma hipótese, nós temos de verificar se é o caso.
"Educação mais extensa leva a salários maiores"
é claro que isso é o que os professores dizem para vocês,
eu não tenho tanta certeza de que isso seja verdade, mas,
de qualquer forma, isso é uma hipótese, pode ser verdadeira
ou pode ser falsa, vai saber.
"Católicos predominantemente votam no partido Democrata."
Por acaso é verdade nos EUA, mas, em outros países pode não ser,
de qualquer forma, é uma questão em aberto.
À primeira vista, se alguém lhe dissesse isso, você não
poderia responder, teria de descobrir.
"Japoneses guardam um quarto do rendimento disponível."
Hipótese.
"Alemães bebem mais cerveja do que franceses."
Eu espero que sim, mas de novo, claramente uma hipótese.
"Os EUA produzem mais computadores do que outros países."
Talvez sim, talvez não.
"A maioria dos habitantes dos EUA são brancos e descendentes europeus."
Por enquanto ainda parece ser o caso, mas,
quem sabe por quanto tempo será verdade?
A característica desse último grupo de afirmações
que eu li para vocês é esta:
Você pode, para todas afirmações, dizer o oposto.
Quer dizer, você pode negar qualquer dessas declarações
sem, de maneira alguma, dizer coisas sem sentido algum.
Você poderia dizer, por exemplo,
"As crianças preferem o Burguer King ao McDonald's."
Niguém diria que é evidentemente sem sentido.
Ou você poderia dizer,
"O consumo de carne de vaca é dez vezes maior que o de porco."
Você não poderia dizer "como você ousa falar algo assim?
isso é um completo absurdo."
"Os alemães gostam mais da Espanha do que da Grécia
como destino de férias," você pode dizer,
"Os alemães gostam mais da Grécia do que da Espanha
como destino de férias."
Eu não sei se é certo ou errado, mas, de qualquer forma,
negar, por assim dizer, a primeira declaração,
dizer o oposto dela, não é obviamente uma declaração idiota,
pode muito bem ser verdade.
"O consumo antes do Natal é maior do que depois do Natal."
Ou o oposto, "O consumo depois do Natal é maior do que antes do Natal."
Pode ser verdade. De fato, eu tenho a impressão de que
vem se tornando cada vez mais verdadeiro,
porque, antes do Natal os preços são muito altos,
então, basicamente, damos às crianças um vale, uma promessa
de que iremos às compras depois do Natal, quando
os produtos são mais baratos e os gastos podem ser maiores
depois do Natal do que antes.
Qualquer que seja o caso, para essas hipóteses,
nós não temos a menor dificulade de imaginar
que podemos dizer o exato oposto
e o oposto terá o mesmo "status" da primeira afirmação.
Saber qual é certo ou errado requer ir a campo e investigar.
Mas vocês também percebem que o primeiro tipo de exposições que eu li,
de novo, para lembrá-los, "Uma maior quantidade de um bem
é preferível em relação a uma menor quantidade do mesmo bem",
"O que é consumido agora, não pode ser consumido novamente depois"
Se vocês formularem o oposto nesses casos, significaria
"Uma menor quantidade de um bem é preferível em
relação a uma maior quantidade do mesmo bem", ou
"O que é consumido agora, pode ser consumido novamente amanhã,
e depois de amanhã e depois..."
Quando eu lhes dissesse isso, vocês replicariam,
"Ei, tem algo fundamentalmente errado com você."
Então, isso indica que temos aqui duas classes
completamente diferentes de afirmações em mãos.
Agora eu chego ao papel da Teoria na interpretação
de eventos históricos.
Se nós queremos interpretar corretamente a sequência
de enventos históricos, sobre os quais podemos facilmente concordar,
então, precisamos exatamente de afirmações do primeiro tipo
que mencionei, as afirmações não-hipotéticas.
O papel da Teoria, de afirmações teóricas, é corrigir
e ordenar as observações históricas que fazemos.
Praxeologia e teoria econômica se sobrepoem a experiência,
superam a experiência, nos permitem interpretar as
experiências corretamente e nos permitem evitar falsas
interpretações de eventos históricos.
A Teoria nos informa o que não pode ser e ao mesmo tempo
nos informa o que é contrutivamente possível, mesmo que
ainda não o tenhamos observado.
Teoria, do tipo que eu forneci,
que também é verdade para a aritmética, por exemplo.
Teoria ou proposições econômicas podem ser ilustradas,
mas, não podem ser confirmadas os refutadas por exemplos.
Em princípio, você pode ter Teoria sem ter História,
mas não o contrário.
Você nunca pode explicar a História sem ter conhecimentos
fundamentais sobre teoria econômica, caso contrário,
você incorrerá num grande número de falas interpretações,
e existem numerosos exemplos onde historiadores nos deram interpretações
que um economista imediatamente identificaria como absurdas.
Eu gostaria de dar alguns exemplos disso.
Um historiador, Carroll Quigley, um dos professores do Bill Clinton,
um bom historiador, escreveu um famoso livro sobre a evolução das civilizações,
reporta, por exemplo, a seguinte observação:
A chamada Revolução Industrial na Inglaterra, isto é,
onde vemos um grande aumento da atividade econômica,
acompanhada de uma grande expansão populacional
que começou nos anos 1650, 1700 e por aí adiante,
Carroll Quigley faz a observação que paralelamente à deflagração
da Revolução Industrial, nós vemos, pela primeira vez,
o estabelecimento em larga escala de bancos com reservas fracionárias.
Então ele oferece uma interpretação... a observação é correta,
ninguém duvida, por assim dizer, do paralelismo desses fenômenos.
Mas, a sua interpretação é "o estabelecimento de bancos de
reservas fracionárias foi responsável pela Revoluação Industrial."
Agora, embasado na Teoria, é claro que sabemos que essa não pode ser
a explicação para a Revolução Industrial.
A Revolução Industrial ocorreu apesar da prática de reservas fracionárias
pelos bancos ter sido introduzida ao mesmo tempo.
Por que nós sabemos isso?
Porque nós sabemos que um acréscimo na quantidade de notas de papel
impressas simplesmente não pode, fisicamente não pode,
aumentar a riqueza total da sociedade, pode redistribuir
a riqueza de um grupo que recebe esses créditos às custas
de empobrecer outra porção da economia. Isso pode acontecer.
Mas, não pode causar uma elevação geral da atividade econômica.
O argumento é tão estúpido quanto dizer que houve um grande aumento
na produção de papel higiênico, muito mais folhas de papel
foram criadas durante aquele tempo e essa é a explição
da Revolução Industrial.
Se eu formulasse dessa forma, todos imediatamente iram perceber
"Opa, tem algo errado com essa explicação", mas, como se refere
a um sistema bancário de reservas fracionárias, a maioria
das pessoas não percebe que não significa mais do que imprimir
folhas de papel higiênico, elas acreditam nesse tipo de coisa.
Uma interpretação completamente falsa dos eventos históricos.
Deixem-me dar outro exemplo,
Sr. Lendes, um famoso historiador econômico de Harvard,
escreveu o livro "The Wealth and Poverty of Nations" há poucos anos.
Então, ele explica como a Espanha faliu e contraiu, todas essas coisas.
E depois também tem um capítulo em que ele explica porque a URSS,
ou todo experimento soviético, terminou em tamanho desastre.
Ele descreve o desastre corretamente, quero dizer,
os rios estavam sujos,
algumas paisagens pareciam com a lua,
tinham máquinas com cem anos, não haviam poupaças,
a saúde das pessoas estava deteriorada e assim por diante.
Todas as descrições são perfeitamente corretas.
Então, ele questiona qual é a explicação para isso.
E a explicação que ele dá é que, de alguma forma, os russos
tem uma deficiência psicológica, eles simplesmente não aprenderam
as habilidades de um bom dono ou dona de casa, sabem,
como limpar o ambiente, serem gentis,
recolher a sujeira quando fazem,
coisas que pessoas normais fazem.
Entretanto, nenhuma referência ao fato de que na URSS não havia
propriedade privada e quem nesse mundo se preocupa com a propriedade
pública tanto quanto com a sua própria.
Eu jogo uma bituca de cigarro na rua, mas, no meu quintal
eu dificilmente faço isso ou, no mínimo, minha mulher
vai reclamar se eu fizer esse tipo de coisa.
Nenhuma explição sobre o fato de que se não há propriedade privada
sobre os fatores de produção, não é possível fazer cálculos
e temos permanente má alocação de recursos.
Nenhuma concepção de que se tudo é coletivo, você tende a
externalizar os custos, então de fato ninguém reclama se os rios
estão sujos, porque, ninguém é dono do rios.
Não há queixas se cortarem todas as matas e não plantarem árvores novas
porque, ninguém é dono dessas coisas.
Nenhuma vaga ideia de qual é a real explicação do problema,
somente com a teoria você pode explicar o que ele descreveu
corretamente, como o desastre que ocorreu na URSS.
O último exemplo é algo que eu lidei extensivamente no meu livro
"Democracy: The God that Failed", no qual eu tento reabilitar
a monarquia tradicional em detrimento das democracias,
não para mostrar que a monarquia é o melhor dos sistemas,
mas, para mostrar que a monarquias são superiores à democracia,
as monarquias tradicionais.
De novo, se você analisa a história,
o que vemos, claro, é a época em que as monarquias
foram basicamente abolidas,
ou passaram a ser instituições meramente cerimoniais
após a Segunda Guerra Mundial e compara-se com a época
em que as monarquias eram a forma predominante de governo,
isto é, antes da deflagração da Primeira Guerra
e ainda mais antes da Revolução Francesa.
Os fatos são claros, o mundo democrático que temos agora,
a partir do século XX é, obviamente, mais rico
do que o mundo monárquico dos séculos XVIII e XIX.
A questão, no entanto, é se isso de deve a democracia
ou é apesar da democracia.
E vocês sabem que a linha convencional
diz que é por causa da democracia, porque, a democracia é,
obviamente, a maior de todas as invenções.
Interessantemente, isso é um fenômeno recente,
que as pessoas acreditem nessa bobagem. Se você analisar toda a teoria política,
você não vai encontrar sequer um grande pensador
que tenha considerado a democracia mais do que
uma forma de comunismo moderado.
Sempre foi considerada a pior de todas as organizações políticas,
só poderia funcionar em locais pequenos.
Mesmo Rousseau, o mais fanático defensor da democracia,
percebeu que só poderia funcionar em locais reduzidos,
pois, assim uns poderiam controlar os outros
e o instinto das pessoas de despojar a propriedade
dos que possuem mais do que eles, poderia ser restringido
por esse controle social direto.
Mas, essa restrição nunca funciona se existem milhões de pessoas
constituindo a sociedade. Então, mesmo o mais dramático defensor
da democracia, Jean-Jacques Rousseau, consideraria o que temos hoje
em termos de democracia, tão idiota quanto é possível que seja.
Então, agora, somente um argumento para mostrar o quão
errada é essa interpretação de que a transição de governos
monárquicos para democráticos é responsável pelo aumento da riqueza.
A minha tese é que se tivéssemos mantido
as monarquias tradicionais, nós seríamos infinitamente
mais ricos agora do que de fato somos. Por que?
Do ponto de vista econômico, a transição de monarquias tradicionais
para governos democráticos não é nada mais
do que troca de alguém que vê o país como sua propriedade
para alguém com a mentalidade apenas de um administrador temporário.
Ele não é o dono, apenas cuida por um período de tempo.
Agora, vejam a diferença entre alguém que é dono de algo
e alguém que administra algo temporariamente.
Peguem o exemplo de uma casa, num caso você é dono da casa,
você pode passar para a próxima geração ou pode vender
quando achar válido. No outro caso você apenas aluga a casa,
você não determina quem será o próximo dono e você não tem
o direito de vender a casa e reter o rendimento para si.
Isso fará alguma diferença na forma que você cuida da casa,
ou no exemplo de reis e políticos, como você cuida do país?
E a resposta é, claro, é tão diferente quanto o dia e a noite.
Em um caso, como dono, você está preocupado em ter a maior renda,
de ter uma renda de aluguel, o que ocorrerá com valor do imóvel?
Porque, eu posso vendê-la a qualquer momento.
Você não iria incorrer em perda de capital, por exemplo.
Você não iria querer aumentar a sua receita às custas de uma
perda desproporcional no valor da casa.
Também, você teria interesse em passar algum valor para
as próximas gerações, se possível ainda mais valor do que
você herdou. Isso é o que a maioria dos pais fazem.
O que administradores temporários fazem?
Administradores temporários não são donos do capital físico.
O interesse deles é "eu tenho que retirar o máximo
de valor possível deste capital, independentemente do que
aconteça com o valor do capital físico, mesmo que a casa vire uma ruína,
se eu consegui obter um tremendo rendimento dela,
então, do meu ponto de vista, essa é obviamente uma grande vantagem.
Eu devo pilhar o país o mais rapidamente possível,
porque, o que eu não pilhar agora, eu não posso pilhar no futuro."
O Rei não tem a atitude "eu devo pilhar o país
o mais rapidamente possível, pois, se não o fizer agora,
não poderei fazer no futuro."
Na verdade, se ele não despojar o país demais,
o valor do país será maior e seu herdeiros vão receber algo melhor.
Vejam, por exemplo, a atitude que os reis tinham
em relação às dívidas que eles incorriam, em comparação com a atitude que
administradores eleitos democraticamente possuem
em relação às dívidas que incorrem.
Reis eram geralmente responsabilizados pelas dívidas.
Mesmo seus herdeiros, em muitos casos, eram responsáveis
pela dívida de seus pais.
Eles tinham que hipotecar parte de sua propriedade.
As pessoas lhes confiscavam, caso eles não pagassem suas dívidas.
Isso não impediu que eles aumentassem suas dívidas...
especialmente em tempos de guerra mas, em tempos de paz
eles normalmente reduziam suas dívidas.
Se você observar, com os políticos democráticos
a dívida total cresce em períodos de guerra e de paz.
Eles não são pessoalmente responsáveis por ela,
existem sempre otários no futuro que vão ter que pagá-la.
Você teria de ser realmente estúpido para não criar dívidas continuamente,
como todos os nossos políticos, é claro, o fazem.
Porque, assim, você pode distribuir o dinheiro, criar várias amizades
e no longo prazo estamos todos atolados em dívidas.
Quem se importa com o que acontecerá no futuro?
Políticos democráticos só se preocupam com o curto prazo.
Eles são como crianças, conforme expliquei
na palestra sobre preferência intertemporal.
"Eu tenho que aproveitar agora."
Enquanto reis tendem a agir mais como adultos.
Existem algumas exceções, eu não nego,
mas existe uma diferença fundamental na estrutura.
Se a democracia não houvesse sido introduzida
e tivéssemos mantido as monarquias tradicionais,
com monarcas absolutos,
nosso padrão de vida seria infinitamente superior ao que é hoje.
A este resultado, você só pode chegar se utilizar teoria econômica.
Um historiador jamais teria essa ideia,
um historiador simplesmente observaria: "Séc. XIX pobre, séc. XX rico...
séc. XX democracia, séc. XIX monarquia; por conseguinte...
monarquia é um lixo e democracia é o máximo."
E isso é tudo, é assim que historiadores pensam.
Eu garanto, para alguém interessado em teoria econômica,
a História é uma mina de interpretações ridículas.
Repetidamente, eles apresentam os fatos corretos, mas, as interpretações...
as vezes você rola na cama sem parar de rir.
Ok, muito obrigado.
Obrigada.
- Sobre uma das proposições que você falou no início,
eu não sei se deveríamos ter aceito como uma verdade absoluta.
Você disse que um sistema democrático
é incompatível com propriedade privada.
- Sim, propriedade privada significa que o dono decide
o que deve, ou não, ser feito com sua propriedade.
Democracia significa que a "maioria" manda.
Quer dizer que outras pessoas decidem o que você pode fazer com o que é seu.
Nesse sentido, nós não somos mais proprietários sólidos,
porque, aquilo que podemos fazer com o que é nosso
é regulado por pessoas que não são donos da propriedade.
Por exemplo, o governo passa uma lei que, no seu bar,
ninguém mais pode fumar.
Isso é claramente uma violação dos direitos de propriedade.
Isso é uma expropriação parcial dos direitos dos proprietários
por um político estranho ou a maioria da população que elege esses canalhas.
- Eu concordo com você, mas, o outro problema que vejo
é qual seria a diferença de ter um monarca?
Ter um rei, muito bem, pode ser bom,
mas, ele também poderá ditar o que você pode fazer ou não.
- Ah, veja bem, você não me compreendeu corretamente
ao achar que eu sou um monarquista.
Eu não defendo... eu não sou um monarquista,
só estou tentando demonstrar que entre dois males,
a monarquia é um mal menor do que a democracia, por assim dizer.
O que eu, de fato, defendo é o que eu chamo de Ordem Natural,
onde tudo é privado e não existe qualquer governo.
Mesmo os tribunais, a polícia e as ruas, tudo...
é provido por empresas particulares.
Então, eu estou comparando duas soluções secundárias
e entre essas duas, a monarquia é preferível.
Deixe-me dar outro exemplo que pode ilustrar isso.
Vamos considerar...
A propósito, esse foi o problema que eu resolvi na minha cabeça
antes de me deparar com essa questão da monarquia.
As pessoas me apresentavam a observação que eu mencionei,
que na URSS, ao contrário dos outros países europeus,
a expectativa de vida havia caído nos últimos 30 ou 40 anos,
enquanto nos outros lugares aumentava.
E as pessoas pareciam ser muito mais velhas do que eram.
Pessoas com 40 anos aparentavam ter 60 anos, e assim por diante.
Elas eram pouco saudáveis, tinham dentes horríveis...
Todos que passavam pelo Leste percebiam isso.
Algumas pessoas me perguntavam como explicar isso.
Primeiro eu expliquei num pequeno artigo,
mostrando que é preciso perceber que na URSS e nos países do Leste,
o sistema podia ser corretamente classificado como escravidão.
Uma forma específica de escravidão.
A escravidão possui duas características:
Primeiro, você não pode fugir, o senhor sempre pode capturar você.
Segundo, a escravidão é caracterizada pelo fato que podem delegar o seu trabalho.
Nesse sentido, a URSS preenchia os critérios de escravidão,
assim como a Alemanha Oriental.
As pessoas que tentassem fugir eram alvejadas, mortas.
De forma semelhante à escravidão que existia nos EUA até 1864.
Porém, existia uma diferença significativa entre os dois tipos de escravidão,
a escravidão da URSS e a forma que existiu nos EUA.
A diferença era que, nos EUA, os escravos eram propriedades privadas,
na URSS os escravos eram públicos, quer dizer,
Gorbatchev, Lênin, Stalin, etc. não podiam "alugar" aquelas pessoas,
eles não precisavam pagar pelos escravos, e assim por diante.
Eles decidiam o que as pessoas deveriam fazer,
eles exerciam usufruto sobre os escravos, mas não eram donos.
Agora, isso faz alguma diferença?
Eu penso que sim, se você gastar dinheiro com seus escravos,
você não incorrerá em consumo de capital.
É pouco provável que, por razões bizarras, você mate seu escravo.
Assim como você não mataria sua vaca ou seu cavalo,
pelos quais você gastou dinheiro.
Seria de seu interesse que eles tivessem uma expectativa de vida maior,
assim eles trabalhariam por mais tempo.
Você teria interesse que eles tivessem filhos
pois, você ganharia novos escravinhos.
Por outro lado, observem o que foi feito na URSS com escravos públicos.
Eles estavam em paz e milhões de pessoas foram massacradas, assassinadas.
Nenhum dono de escravos teria incorrido nessa enorme destruição de capital.
Então, se você tivesse que ser um escravo, não pudesse ser livre.
Você preferiria ser um escravo particular, como no sistema americano...
ou você preferiria ser um escravo público, como na URSS?
Vos digo, eu escolheria ser um escravo particular.
Pois, isso garantiria uma vida muito melhor.
Poderia ter uma expectativa de vida muito maior,
enquanto na URSS você não sabia se sobreviveria aos próximos 10 anos.
Similar é a distinção entre monarquia e a democracia.
Você compara dois sistemas com falhas graves,
mas, um tem muito menos do que o outro.
Então, se eu tivesse que escolher entre viver numa monarquia tradicional
ou numa democracia, eu escolheria a monarquia sempre,
e se tivesse de ser um escravo, eu escolheria ser um escravo particular
ao invés de ser um escravo do Gorbatchev, do Stalin...
ou de qualquer um desses caras.
OK.
Acho que devemos terminar agora, já passamos do tempo.
- Mas, você vive nos EUA e não em Liechtenstein?
- Como?
- Você disse que se tivesse de escolher entre monarquia e democracia...
Você escolheu uma democracia, não?
- Veja, não existem mais monarquias na Europa,
a única monarquia que ainda existe, na Europa, é Liechtenstein.
- Exato.
- E Mônaco. E elas vão muito bem, é claro.
- E com o estado de Liechtenstein, eu já estou negociando...
Obrigado novamente.