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O PRINCÍPIO DA VIDA COM DAVID ATTENBOROUGH
Vou partir numa viagem fantástica
à procura da origem da vida.
Viajarei não apenas ao redor do mundo,
mas de volta no tempo,
para tentar construir a imagem
de como era a vida nesse período inicial.
No último episódio, analisei como há 600 milhões de anos,
células simples transformaram-se
nos primeiros animais pluricelulares.
Neste episódio, investigo o que ocorreu a seguir.
Procurarei evidências em fósseis e seres vivos
do que ocorreu no passado remoto,
quando as características basilares dos animais modernos
estavam sendo estabelecidas pela 1ª vez.
Um grupo, os artrópodes, foram os grandes pioneiros.
Eles foram os primeiros grandes predadores.
Tinham olhos.
Pernas.
E exoesqueletos rígidos.
Eles foram os primeiros a saírem da água
para conquistar a terra e o ar.
MUSKETEERS Albattroz Otoni Kakko
A CONQUISTA
Há 600 milhões de anos, o mundo era bem diferente
do planeta que conhecemos hoje.
A terra não continha animais ou plantas.
Mas os oceanos estavam repletos de vida.
Os primeiros proto-animais foram organismos imóveis
que viviam no fundo do mar e extraíam seu alimento
da água que corria à sua volta.
Mas quando os animais desenvolveram bocas
e a capacidade de se mover, a evolução acelerou.
Montanhas Rochosas do Canadá.
Aqui podemos achar prova de uma súbita explosão de vida
quando os animais começaram a evoluir
com rapidez extraordinária.
Aconteceu durante o período chamado Cambriano.
E começou há 542 milhões de anos.
Durante os 10 a 20 milhões de anos seguintes,
os animais aumentaram em número, diversidade e tamanho
como nunca antes.
E à medida que ficavam maiores, tornavam-se mais complexos.
E eles estão preservados com extraordinário grau de perfeição
nas rochas abaixo de mim.
O Xisto de Burgess, onde um veio de fósseis
registra esta explosão cambriana em detalhes impressionantes.
Toda esta área outrora foi o piso de um mar raso,
repleto de vida.
Conforme o sedimento se depositava no piso,
era comprimido e transformado nos argilitos e xistos
que você vê ao meu redor.
Há cerca de 100 anos,
um geólogo americano do Instituto Smithsonian
estava pesquisando esta parte das Rochosas.
Ele veio andando por este caminho.
E quando ele chegou a este ponto exato,
ele notou um minúsculo fóssil,
de um tipo que nunca tinha visto.
Ele se inclinou, pegou-o e era esta a sua aparência.
Que tipo de ser poderia ser este?
Foi apenas o primeiro dos seres enigmáticos
a surgirem do Xisto de Burgess.
Desde então mais de 65 mil espécimes
diferentes de animais cambrianos extintos
foram extraídos desta pequena pedreira.
Muitas espécies nunca foram encontradas em outro lugar.
Parece que o Xisto de Burgess foi depositado num lugar
onde as condições para fossilização
eram singularmente perfeitas.
Como consequência, até corpos de animais moles
e sem partes rígidas foram igualmente preservados.
Eles sobrevivem como camadas finas e quase imperceptíveis,
que só podemos ver sob a luz adequada.
Estes fósseis transformaram nossa compreensão
de como os animais que conhecemos hoje
tornaram-se do jeito que são.
Em alguns desses espécimes vislumbramos formatos e formas
que parecem ligeiramente familiares.
Mas muitos desses estranhos seres
não parecem com nada que conhecemos hoje.
Este é um dos animais mais misteriosos do Xisto.
Há dois indícios de como este ser poderia ter vivido.
Ele tem abas ao longo da lateral do corpo,
mas sem pernas, e também tem uma cauda longa e chata.
Portanto, é razoável supor que elas o ajudavam a nadar
e que ele vivia não rastejando no fundo,
mas no alto da água.
Mas a coisa realmente misteriosa nele
é que aqui, na cabeça, havia 5 olhos,
cada um parecendo um pequeno cogumelo.
E sob ela, ele tinha uma longa probóscide
com a qual pegava as coisas.
É realmente um animal primitivo,
um que ainda não compreendemos totalmente.
Foi chamado de Opabinia.
Parece ter sido uma espécie de experiência evolutiva.
Como se uma variedade de diferentes partes de corpo
tivessem sido reunidas às pressas.
Que outro animal tem 5 olhos?
E o Opabinia não era o único estranho.
O Wiwaxia já foi considerado um antepassado das minhocas,
mas hoje é considerado um caracol primitivo.
A maioria dos seres do Xisto de Burgess
é diferente de tudo que fora descoberto até então.
Havia inúmeros seres estranhos
vivendo nos mares cambrianos.
Este aumento sem precedentes de diversidade foi algo
que nunca acontecera antes e jamais se repetiria.
Por muitos anos, os cientistas escavaram e analisaram os xistos
à procura das causas da explosão cambriana.
Sua primeira tarefa foi tentar reconstruir
a aparência de tais animais quando vivos
e isso não era fácil.
Estes é um dos mais estranhos fósseis do Xisto de Burgess.
Parece ter cinco pernas ao longo da parte inferior,
e uma espécie de lóbulos curiosos ao longo da superior,
que provavelmente eram dispositivos
para ajudá-lo a se alimentar.
Mas que tipo de animal é este com cinco pernas
e lóbulos de alimentação na parte superior das costas?
Era um pensamento tão extraordinário
que o cientista que o descreveu achou que fosse uma alucinação,
e o batizou de "Hallucigenia".
Mas desde então, mais espécimes mostraram que, na verdade,
esta provavelmente é a posição errada e que ele era assim.
As saliências na parte inferior são pés.
E aquelas na superior são pontas com espinhos afiados
que provavelmente serviam para defesa.
Talvez eles tenham desenvolvido essas formas estranhas
porque precisavam se proteger.
Mas se isso era verdade, de quê?
Onde estavam os predadores?
Ninguém conseguia achar um provável candidato.
Então a resposta veio de algumas espécies fósseis
que eles conheciam quase desde o princípio.
Um dos fósseis mais estranhos achados aqui é este.
Também é um dos mais comuns.
Mas o que ele é?
Ele tem o que parece ser pés,
poderíamos pensar que fosse um tipo de lagarta,
ou talvez um camarão.
Mas a coisa mais misteriosa nele
é que nunca encontraram um com cabeça.
E havia outro mistério,
não tão comum como o "camarão sem cabeça",
mas que parecia uma água-viva,
com linhas partindo do centro e esta estranha abertura no meio.
E há cerca de 20 anos,
descobriu-se que, na verdade,
havia um elo entre um e o outro.
Isto não é um camarão, é uma garra.
E isto não é uma água-viva, é uma boca.
E dentro da boca notamos algo que parece muito importante.
Poderiam ser dentes?
E estes não seriam pés mas esporões,
usados para furar e pegar a presa?
Os dois estavam, de fato, ligados.
Mas hoje temos um fóssil mais perfeito,
que mostra que isso era verdade.
Isto, podemos dizer, é a Mona Lisa do Xisto de Burgess.
Este espécime, enfim, forneceu aos cientistas
a imagem do animal completo.
Ele tinha placas ao longo das costas,
e uma cauda na parte posterior.
Ele nadava. E entre estas duas garras com esporões
na parte anterior, havia uma boca, com dentes.
Este era o predador que eles procuravam.
O cientista que descobriu as garras o chamou de Anomalocaris,
significa "camarão estranho".
Esse nome hoje é usado para o animal completo.
Com sua cauda grande e placas flexíveis em suas laterais,
o Anomalocaris impulsionava-se pela água com velocidade.
Outros espécimes mostram que ele podia atingir quase 1 metro,
cerca de dois pés.
Pelo que sabemos,
ele foi o primeiro grande predador da Terra.
Podemos obter indícios de como era sua aparência
de um animal que está vivo hoje.
Ele é bem menor que o Anomalocaris,
mas muito semelhante.
E ele vive na Austrália, aqui na Grande Barreira de Corais.
O prof. Justin Marshall
estuda estes caçadores ferozes e poderosos
há mais de 20 anos.
Devemos ter muita cautela com a forma de pegá-los.
Se os pegar, podem arrancar as extremidades dos seus dedos.
Os pescadores os chamam de "dilaceradores de dedos".
Pois podem cortar seus dedos.
O outro nome ligeiramente mais técnico para ele é
camarão mantis.
Eles têm um ancestral muito antigo.
Fósseis de seres quase idênticos
foram encontrados remontando a 400 milhões de anos.
Este animal é quase tão antigo quanto o próprio Anomalocaris.
Ele se esconde em tocas, à espera que suas vítimas
nadem ao alcance de suas garras.
Observando fósseis de Anomalocaris
e comparando-os com camarões mantis,
imagina-se que são semelhantes.
Ambos têm grandes apêndices raptoriais
que são disparados na frente para agarrar a presa.
Podemos imaginá-los à espreita numa rocha
esperando que uma presa incauta passe.
E... de repente, vire o jantar.
O camarão mantis ilustra as características essenciais
desta nova classe de animais predadores.
Visão excelente,
grande velocidade
e tamanho superior.
Como o Anomalocaris,
é consideravelmente maior que suas vítimas.
Também tem uma visão extremamente aguçada,
com 12 tipos diferentes de receptores de cor nos olhos.
Nós temos apenas 3.
E é um dos animais vivos mais rápidos,
algumas espécies atacam com a velocidade de uma bala.
É improvável que o Anomalocaris fosse tão rápido assim,
ou que pudesse ver a presa tão claramente,
mas mesmo assim ele era um predador formidável,
assim como o camarão mantis é hoje.
Mesmo a visão de um dedo através do vidro
é suficiente para fazer este animal atacar,
e com força assustadora.
Então por que o camarão mantis evoluiu dessa forma?
Por óbvio...
para que pudesse superar, esquivar-se
e, por fim, capturar sua presa.
Tornou-se muito rápido, poderoso
e dotado de muita paciência.
E essas são características de predadores por toda a parte.
Os restos fossilizados do Anomalocaris
são prova de que a caça tinha começado no Cambriano.
E conforme os predadores ficavam maiores,
mais rápidos e fortes, sua presa tinha de desenvolver
defesas cada vez mais elaboradas.
Os cinco olhos do Opabinia o ajudava a localizar problema.
E o Hallucigenia se protegia com os espinhos ao longo das costas.
Um dos maiores especialistas mundiais no Xisto de Burgess,
Dr. Jean-Bernard Caron,
acredita que foi a chegada de predadores como o Anomalocaris
que estimulou a grande explosão de diversidade cambriana.
É durante o Cambriano que começamos a ver animais
com pés, olhos, que nadam.
Isso não existia antes...
e desenvolveu-se rapidamente no começo do Cambriano.
Mas ao haver um grande predador,
provavelmente o resto da vida, da qual ele se alimentava,
teve de desenvolver rapidamente alguma espécie de defesa.
Não é verdade?
Achamos que essa evolução ocorreu relativamente rápido
pois num lugar como o Xisto de Burgess encontramos organismos
que podem ter tido algum tipo de mecanismo de defesa,
que é uma reação a altos níveis de predadorismo.
Uma corrida armamentista entre predadores e presa.
Uma consequência deste duelo entre predadores e presa
foi o desenvolvimento de carapaça.
Por toda parte, os animais absorviam carbonato de cálcio
e outras substâncias inorgânicas da água do mar
e mineralizavam seus corpos.
Muitos deles, como o Wiwaxia, aquele molusco primitivo,
e antepassados da lula, amonoides,
desenvolveram conchas protetoras.
Mas um grupo, os artrópodes, que tinha pernas articuladas,
envolveu seu corpo inteiro com uma carapaça rígida.
E o que começou como carapaça defensiva,
necessária à sobrevivência,
trouxe consigo outra grande vantagem.
Partes rígidas podem ser usadas não apenas para proteção,
mas para fornecer sustentação ao corpo.
Esta santola é um crustáceo.
Ele secreta quitina do corpo,
que depois enrijece com o carbonato de cálcio.
E uma série de seres
tem esqueletos como este, baseado em quitina.
Os artrópodes hoje incluem
camarões, lagostas e caranguejos,
bem como seres terrestres, tais como
miriápodes, escorpiões e insetos.
Mas os ancestrais de todos eles
surgiram pela 1ª vez nos mares cambrianos.
Mais de 50% dos fósseis do Xisto de Burgess
são artrópodes de um tipo ou outro.
Mas uma família...
foi especialmente abundante e variada.
Do outro lado do vale, partindo da pedreira,
perto do cume do Monte Stephen,
quase todas as rochas que viramos contêm seus restos.
Aqui, eles são encontrados por toda a parte.
São chamados trilobitas.
Trilobitas porque seus corpos eram trissegmentados.
Aqui nesta placa há vários deles.
Esta é a cabeça.
A parte do meio.
E a cauda.
Um, dois, três, trilobitas.
Trilobitas, neste período, bem no início do Cambriano,
começaram a proliferar em todos os tipos de formas.
Estes seres, nos 250 milhões de anos seguintes,
provavelmente foram as formas
mais avançadas de vida neste planeta.
Para ver o quão avançados os trilobitas se tornaram,
irei ao norte da África.
No Marrocos, no flanco sul da Cordilheira Atlas,
as colinas contêm uma incrível variedade deles.
Só foram descobertos há alguns anos,
mas hoje a demanda por eles é tão grande
que escavá-los virou uma importante indústria.
Estas rochas, que foram depositadas
cerca de 150 milhões de anos após do Xisto de Burgess,
também contêm trilobitas.
O problema é que a rocha é muito dura
e os trilobitas são bastante raros.
Mas quando esta gente os encontra,
os espécimes são absolutamente extraordinários.
Algumas espécies têm características tão delicadas
que pode levar dias, às vezes semanas,
para concluir um espécime.
Técnicos especializados usam brocas de dentistas
para alcançar o mínimo detalhe.
Cada partícula de rocha deve ser retirada com cuidado,
com enorme paciência e precisão absoluta.
O resultado final revela que os trilobitas
moldaram seus exoesqueletos
em uma variedade quase inacreditável de formas.
Isso lhes permitiu colonizar uma grande variedade de habitats,
assim como os artrópodes modernos ainda fazem hoje.
Há cerca de 50 mil espécies de trilobitas diferentes,
e sem dúvida ainda há muito mais a serem descobertas.
Seus exoesqueletos rígidos
não apenas asseguraram sua abundância no registro fóssil,
também nos dizem muita coisa sobre a vida dos seus donos.
Muitos dos trilobitas descobertos nestes penhascos
estão enrolados como este.
Às vezes ainda mais do que este,
com a cauda dobrada debaixo da cabeça.
Resta claro que esta era uma espécie de posição protetiva,
assim como ocorre com alguns tatuzinhos de jardim
que encontramos em nossos jardins hoje.
Isso os protegia contra seus inimigos.
Mas há muitos que estão enrolados nestes depósitos,
juntos com outros que têm as costas arqueadas para cima
e outros em outras posições estranhas,
que parece que foram vítimas de algum tipo de catástrofe.
O piso do mar, ao que parece, era muito íngreme.
E de vez em quando, a lama que se acumulava no fundo
deslizava em uma avalanche submarina,
carregando os animais que viviam nela e sobre ela,
todos misturados, enterrando-os vivos.
Os trilobitas marroquinos hoje são um grande negócio.
Certas espécies raras são vendidas por milhares de libras.
Os maiores especialistas mundiais em trilobitas,
como o prof. Richard Fortey,
vêm aqui estudar estes animais extraordinários.
Ele acredita que o exoesqueleto
foi o segredo do sucesso deles.
Os trilobitas fizeram quase tudo
que se possa imaginar com um exoesqueleto.
Acho que esse esqueleto deu-lhes uma vantagem.
Eles estavam protegidos. Podiam fazer um monte de coisas.
Podiam desenvolver espinhos.
Podiam ficar achatados como panquecas.
Podiam se proteger com um
exoesqueleto espesso com protuberâncias.
Foi uma grande vantagem para eles,
bem como para os caranguejos e lagostas atuais,
mas que não existiam na época dos trilobitas.
Eles utilizaram a virtude de ter um exoesqueleto rígido,
para propagar-se para todos os nichos ecológicos.
Uma das mais completas coleções de fósseis de trilobitas
situa-se a poucos km de onde foram extraídos,
no Museu Erfoud.
A coleção daqui revela
o quão variado o esqueleto trilobita podia ser.
Não há dúvida de que o exoesqueleto
forneceu proteção aos trilobitas.
Mas também lhes deu algo valioso.
Muitos foram os motivos do grande êxito dos trilobitas.
Mas um deles, sem dúvida, foi o seu poder de visão.
Eles tinham olhos. Não apenas ocelos
que podiam diferenciar entre claro e escuro,
mas olhos complexos que podiam formar imagens detalhadas
de suas cercanias pela 1ª vez na história da vida.
Olhos como estes.
A maioria dos animais de hoje têm olhos de variados tipos.
A maioria feita de tecido mole, como os nossos.
Mas os olhos dos trilobitas são singulares.
Suas lentes derivam do seu exoesqueleto mineralizado.
Eles são feitos de rocha.
Cada um destes pequenos pontos é uma lente.
E cada uma é feita de calcita, uma forma cristalina do giz.
Os trilobitas foram os únicos organismos
a usar este mineral como material de suas lentes.
E assim eles desenvolveram uma visão muito sofisticada.
Por exemplo, este tipo de trilobita
tinha lentes muito grandes.
E cada lente é facilmente visível a olho nu
e todas são biconvexas.
Provou-se que as lentes individuais
tinham pequenas cavidades dentro delas
para ajudá-las a focar com mais precisão.
Estes seres estavam entre os primeiros,
sem dúvida, a focalizar uma imagem.
Não era apenas distinguir claro e escuro.
Eles faziam mais do que isso!
Não. Eles tinham visão sofisticada.
Os trilobitas que tinham estes olhos eram caçadores.
Alguns alegaram que eles podiam formar
imagens estereoscópicas, usando os dois olhos.
Eles podiam se concentrar na presa.
Muitos predadores hoje, incluindo nós,
têm visão 3D ou estereoscópica.
Ela permite que o caçador avalie com precisão
a distância entre ele e sua presa.
Mas nem todos os trilobitas eram predadores.
Alguns eram seres inofensivos que viviam ruminando na lama.
Mas a visão também foi valiosa para eles,
permitindo-lhes localizar inimigos a tempo de fugir.
Há olhos de trilobitas com mais de 5 mil lentes.
- 5 mil? - Mais de 5 mil lentes.
Cada uma delas formava uma imagem?
Não, mas ao se ter muitas lentes minúsculas,
elas são especialmente sensíveis a movimento,
captam algo que se altera entre uma lente e outra.
Estes olhos de trilobita são tão grandes
que dão a volta na cabeça encontrando-se no meio do corpo.
E isso indica que esse animal nadava acima do fundo do mar
e tinha visão de 360 graus do que ocorria abaixo.
Com cada lente capaz de detectar movimento,
seu dono podia ver um inimigo vindo de qualquer direção.
Mas a forma dos olhos dos trilobitas
podem revelar mais do que o tipo de imagem que produziam.
Os olhos podem nos dizer muito
sobre como e onde um animal vivia.
Este aqui com os olhos sobre pequenas torres
provavelmente vivia no mar onde era escuro,
mas em que havia luz suficiente para o animal ser capaz
de ver de cada lado dele.
Este aqui, por outro lado, tem olhos sobre torres,
mas no topo ele tem flanges, como toldos.
É provável que vivesse num mar raso e iluminado
e a proteção acima dos olhos era para não ser ofuscado.
Este, contudo, tem olhos bem reduzidos,
é provável que deslizasse pela lama existente no fundo,
onde era escuro e não havia muito para ver,
assim como um animal que vive numa caverna,
seus olhos perderam utilidade.
E, por fim, temos este ser,
eu o acho especialmente encantador.
Este aqui tem olhos em hastes.
Provavelmente vivia debaixo da lama,
alimentando-se por lá, apenas com os olhos de fora,
para ver ser havia perigo por perto.
Os trilobitas foram os primeiros animais a ver claramente.
Mas eles também tinham outros sentidos,
talvez algum que sequer conhecemos.
Por exemplo, esta espécie com este estranho tridente no nariz.
Para que ele servia? Seria um sensor de movimento?
Um radar pré-histórico, talvez?
Os trilobitas foram, sem dúvida,
os animais mais bem sucedidos do seu tempo.
Eles proliferavam por todas as partes do oceano.
Na verdade, poderiam ser considerados
como um dos animais mais bem sucedidos
de toda a história da vida.
A maioria dos trilobitas eram bem pequenos,
como os besouros atuais.
Mas o maior besouro vivo tem este tamanho,
o besouro golias.
Por outro lado, os trilobitas também ficavam muito grandes.
Como este aqui. E ele não era o maior.
O maior conhecido tinha quase um metro, cerca de 3 pés.
Imagina-se que atingiam este tamanho
pois viviam em águas frias,
e isso é tendência de animais no frio, ficarem grandes.
E quando estas rochas foram depositadas,
a África, onde estamos agora, e onde isto foi encontrado,
ficava no Polo Sul.
Embora eles sejam espetaculares,
eles não eram os maiores artrópodes no oceano à época.
Os trilobitas tinham primos mais distantes,
também artrópodes, que se tornaram monstros.
Seus fósseis são mais raros, e geralmente incompletos,
mas alguns dos mais completos foram achados na Escócia.
Um dos melhores está guardado nos cofres
do Museu Nacional de Edimburgo.
Nossa!
Este é um exemplo magnífico
do tamanho que um animal podia alcançar
se tivesse um exoesqueleto.
Este é um ser chamado euriptérido,
ou um escorpião marinho. E ele era um caçador.
Ele tinha 2 garras poderosas
na parte superior, atrás da cabeça.
E obviamente era um monstro, um terror dos mares.
E este não é o maior dos euriptéridos.
Os escorpiões marinhos foram os maiores predadores de sua época.
Pelo que sabemos, eles foram os maiores artrópodes a existir.
A descoberta de uma imensa garra fossilizada
indica que eles podiam atingir até 2,5 metros, ou 8 pés.
Artrópodes de uma espécie ou de outra,
sem dúvida, imperavam há 420 milhões de anos.
Os mares estavam cheios de vida.
De imensos animais complexos,
como este escorpião marinho, arrastando-se pelo fundo,
a seres simples, como as águas-vivas,
flutuando nas águas superficiais.
Mas a terra era estéril e sem animais de qualquer espécie.
Mas havia alimento nela, plantas simples,
e isso levou alguns animais a aventurarem-se fora da água.
Porém, sobreviver na terra era um problema para eles.
Vindos do mar, teriam de desenvolver meios
de impedir os corpos de ressecarem.
E ainda mais difícil, teriam de desenvolver um método
para respirar na atmosfera.
Os primeiros animais absorviam oxigênio dissolvido na água
por meio da pele de seus corpos moles.
Ao começarem a se mover e a crescer,
precisavam de mais energia, mais rapidamente.
E isso significava que teriam de aprimorar seu método
de absorver oxigênio dissolvido.
Animais maiores, mais complexos,
como por exemplo, esta lagosta,
têm dispositivos especializados,
chamados brânquias.
Na lagosta, elas são estas abas debaixo do abdômen,
que se agitam para frente e para trás
para aumentar o fluxo de água oxigenada sobre elas.
Mas o problema é que as brânquias só funcionam
quando estão úmidas.
No seco, elas não absorvem oxigênio.
Assim, se os animais quisessem viver na terra,
teriam de ter um novo meio de respiração.
O Xisto de Burgess,
aquele tesouro incrivelmente rico em fósseis cambrianos,
contém os restos de uma única espécie rara
que que pode ter sido o primeiro animal
a fazer essa mudança rumo a terra.
Não foi, como você pode pensar, um anfíbio,
não foi sequer um legítimo artrópode,
mas um dos seus primos distantes.
Este pequeno ser,
dos mares do Xisto de Burgess,
é considerado o ancestral
do primeiro ser a chegar a terra.
Chamado Aysheaia.
E não precisamos imaginar como ele era em vida,
pois há um ser, que parece quase idêntico,
que está vivo hoje.
Ele vive em muitas partes dos trópicos,
incluindo a floresta tropical,
aqui em Queensland, Austrália.
É noturno e raramente é visto.
Ele passa a maior parte do tempo
escondido dentro de troncos podres.
É ótimo e úmido!
Sem dúvida, perfeito para o que estamos procurando.
É preciso conhecimento local para encontrar um.
Geralmente está na parte exterior do durame da árvore.
- Oh! O que é isso? - Veja só.
E este pequeno ser encantador é o que procurávamos.
Às vezes chamado verme veludo,
ou para usar seu nome científico, Peripatus.
Se existe um "fóssil vivo",
este certamente seria um deles.
Pois parece quase idêntico
àquele fóssil, Aysheaia,
que vimos no Xisto de Burgess.
À primeira vista parece um verme.
Mas, claro, nenhum verme tem pernas.
Na verdade, ele parece um meio termo
entre um verme e um inseto.
Aysheaia, claro, vivia no mar.
Mas este pequeno ser vive em terra.
E tem uma característica adicional,
que o Aysheaia não poderia ter.
Ele tem minúsculos furos em suas laterais,
que lhe permitem respirar oxigênio.
Assim, este foi um dos primeiros seres
que se dirigiram a terra,
há 540 milhões de anos.
Vermes veludos podem ter sido os primeiros animais
a porem o pé na terra,
mas praticamente não mudaram no meio bilhão de anos seguintes.
Por quê?
Diferente dos legítimos artrópodes,
seu corpo é coberto, não por um exoesqueleto,
mas por uma pele macia e permeável.
Essa ausência de exoesqueleto significa que seu corpo,
sem o auxílio da água, não pode ficar maior.
Também significa que para evitar ressecamento,
eles têm que ficar em ambientes úmidos.
Legítimos artrópodes, como este escorpião,
um descendente dos gigantes escorpiões marinhos,
não estavam tão restritos. Eles tinham exoesqueleto.
Significava que não apenas seus corpos
estavam protegidos do ressacamento,
mas eram fortes e rígidos o suficiente
para lhes permitir crescer e se locomover sem o auxílio da água.
Então como e quando os legítimos artrópodes com exoesqueletos
respiraram o ar pela primeira vez?
A resposta pode ser encontrada aqui.
Talvez seja o menor e mais fragmentado fóssil
que vi até agora,
mas não se deixe enganar pela aparência.
É certamente um dos mais importantes.
Este espécime foi coletado em Cowie Harbour,
aqui na Escócia, em 2004.
Mesmo sendo tão pequeno,
no microscópio podemos ver detalhes extraordinários.
Este é o corpo do animal com seus segmentos.
E aqui estão suas pernas.
Mas acima de cada uma há um minúsculo furo.
É um espiráculo, através do qual o animal
podia respirar oxigênio como os insetos fazem hoje.
E como ele respirava oxigênio,
se ele entrasse na água ele se afogaria.
Este é um legítimo animal terrestre e, sobretudo,
é o primeiro e mais antigo que conhecemos.
Ele tem 428 milhões de anos.
Mas que tipo de seres
eram estes artrópodes terrestres primitivos?
Animais como eles ainda são muito comuns
em muitas partes do mundo. Sem dúvida,
há muitos deles nas florestas tropicais australianas.
Uma espécie são os miriápodes, que atingem até este tamanho
e vivem da vegetação e madeira apodrecida,
vegetarianos inofensivos.
Mas também há outro ser quilópode,
que é um pouco mais arisco.
Este é um deles.
Um centípede.
Um caçador formidável, com picada poderosa,
e alguns centípedes têm picadas que são letais para o homem.
Que tipo de picada este tem, eu não sei.
Mas quando for liberá-lo, tenho de fazê-lo com cuidado,
pois não pretendo descobrir.
Vamos.
Assim, os artrópodes quilópodes invadiram a terra
e foram mais exitosos do que nunca.
De volta à Escócia, há provas surpreendentes
de quão bem sucedidos eles se tornaram.
Esta é uma pequena vila pesqueira
no litoral leste escocês, chamada Crail.
Pode achar que não há nada de estranho nela...
até que se desça à praia.
E lá poderá ver algo realmente extraordinário.
Aqui e ali na praia há fósseis,
não de animais, mas de plantas.
Este imenso toco circular parece a base de uma árvore.
E ele é exatamente isto, ou melhor, o que ele foi,
há 335 milhões de anos.
Mas não era uma árvore como as que conhecemos hoje.
Era parente de pequenas plantas hoje vivas,
chamadas cavalinhas.
Mas esta árvore atingia 27 metros.
Era imensa.
Quando estavam vivas, durante o período chamado Carbonífero,
muito após o Cambriano, esta área inteira
era muito diferente do litoral ventoso atual.
Era uma época em que os continentes do mundo
estavam agrupados e as florestas imperavam.
Essa abundância de vida vegetal eliminava tanto oxigênio
que a composição da atmosfera começou a mudar.
Isso teve efeito profundo sobre a vida animal.
Na floresta que crescia perto de Crail,
as árvores antigas estavam enraizadas num pântano arenoso.
E nas extensões de areia
que ficavam entre estas imensas árvores,
areia que hoje virou este arenito, há faixas.
Faixas que ocorrem em pares.
Há um par que sobe até ali.
Há outro par que sobe por aqui.
E ao observarmos em detalhes, podemos ver,
sobretudo neste par,
que cada faixa tem vários orifícios.
Eles são marcas de pés.
Este animal tinha muitos pés.
Acredita-se que tenha sido um miriápode gigante.
Ele tinha cerca de...
4 pés e meio de comprimento, 1 metro e meio.
E tinha de 26 a 28 segmentos.
Um animal magnífico.
Artopleura.
Um miriápode gigante,
talvez o maior artrópode terrestre que já existiu.
O maior espécime descoberto até hoje
era quase tão longo quanto um carro...
dois metros e meio.
O Carbonífero foi a era de ouro dos artrópodes,
pois o ar era agora especialmente rico em oxigênio.
Hoje a atmosfera contém cerca de 21% oxigênio.
No Carbonífero, continha cerca de 35%
e isso permitiu que animais crescessem muito.
Mas o crescimento elevado não foi seu único êxito.
Alguns outros artrópodes nestas florestas carboníferas
evoluíam de forma diferente.
Ao invés de ficarem imensos e lentos,
eles se tornaram ágeis e rápidos.
Para isso é melhor ser curto que comprido,
e alguns reduziram seus segmentos
e locomoviam-se com apenas 3 pares de pernas,
como os peixinhos-de-prata e as traças saltadoras fazem hoje.
Estes primeiros insetos depois deram outro passo drástico...
desenvolveram asas e tornaram-se os primeiros animais a voar.
Os invertebrados colonizaram não apenas a terra, mas o ar.
E numa atmosfera tão rica em oxigênio,
eles fizeram isso de forma bem dramática.
Esta libélula gigante,
o maior inseto voador que já existiu,
chama-se Meganeura.
Suas asas tinham quase 1 metro de envergadura.
Mas a era de ouro dos artrópodes gigantes não iria durar.
A floresta tropical morreu e o oxigênio na atmosfera diminuiu.
Os insetos gigantes não estão mais vivos hoje
e isso se deve porque
a proporção de oxigênio na atmosfera é bem menor.
Mas, mesmo assim, os insetos acharam uma forma
de superar os problemas do tamanho.
Eles se tornaram coloniais.
Assim como no passado remoto,
células individuais se agruparam
para formar um organismo maior, como uma esponja,
centenas de milhares de insetos individuais,
cupins, colaboraram para construir este cupinzeiro.
E uma colônia assim pode devorar tanta vegetação dos arredores
como um animal grande, como um antílope.
Assim, vivendo em grandes colônias como esta,
os artrópodes ainda podem dominar suas cercanias.
Eles se tornam superorganismos...
centenas de milhares de indivíduos
descendentes da mesma fêmea,
trabalhando e agindo como um só.
Assim, os artrópodes ainda são
um dos grupos animais mais bem sucedidos do planeta.
Eles se espalharam para todos os seus cantos.
Sozinhos, os insetos compõem pelo menos
80% de todas as espécies animais.
Mas os artrópodes não foram os únicos
a fazer a transição para a terra.
O Xisto de Burgess, o lugar onde os primórdios
de todas esta proliferação de vida no período Cambriano
estão registrados em detalhes sem precedentes.
Entre os ancestrais de todos os insetos,
aranhas, escorpiões, moluscos, crustáceos,
camarões, esponjas,
há apenas um minúsculo ser, muito importante,
que nós, seres humanos, achamos que talvez seja
o mais importante de todos.
Pois este...
é o primeiro ser a ter sinais de uma espinha dorsal,
e, portanto, é provavelmente o ancestral de todos nós.
É um minúsculo ser vermiforme chamado Pikaia.
Ele não era um temível predador.
Não tinha dentes para atacar nem exoesqueleto para se defender.
Mas o Pikaia tinha algo novo.
Em vez de um exoesqueleto,
ele tinha um interno, uma fina haste cartilaginosa...
o princípio de uma espinha dorsal.
Ele, ou algo assemelhado a ele,
foi o ancestral de todos os vertebrados.
De um ser como este, os primeiros peixes evoluíram.
Alguns deles, que viviam em pântanos,
começaram a engolir ar e serpentear rumo a terra.
Eles deram origem aos anfíbios de pele úmida.
Alguns deles desenvolveram pele escamosa impermeável
que lhes permitiu colonizar lugares mais secos.
Eram os répteis. E deles surgiram as aves.
E os mamíferos.
Hoje mamíferos, como este rinoceronte,
são os maiores de todos os animais vivos.
Olá, rapaz. Como vai?
Como vai?
Todos os animais, incluindo nós,
extraem oxigênio do ar com a ajuda de pulmões internos
e o distribuem pelo corpo no nosso sangue.
Aí está. Bom rapaz.
Mas também devemos nosso êxito e nosso tamanho
à natureza dos nossos esqueletos.
Animais com esqueleto interno, como este rinoceronte,
têm um vantagem imensa sobre animais
cujo esqueleto é externo.
Um rinoceronte branco, como este,
é um dos maiores animais terrestres vivos hoje.
Compare um com o outro. Um besouro rinoceronte.
Seu esqueleto é externo.
É muito poderoso.
Ele pode carregar 850 vezes o próprio peso.
Mas não pode crescer além disto.
Pois a única forma de crescer é
trocando seu esqueleto e produzindo um novo.
E sem seu esqueleto presente,
seu corpo não se sustenta.
E após certo tamanho,
o corpo sucumbirá sob seu próprio peso.
Pegue.
Pegue, vamos, rapaz. Pegue.
Apesar destas diferenças, não é coincidência
que os animais vertebrados tenham desenvolvido
muitas das mesmas características dos artrópodes.
Dentes.
Pernas.
Cascos.
Olhos.
E asas.
Qualquer grupo animal precisa de tais coisas
se quiser colonizar todos os variados habitats da Terra.
Uma viagem que começou perto da minha casa de infância
na Floresta Charnwood, levou-me ao redor do mundo
e através de 600 milhões de anos de história evolutiva.
Vi evidência de como a vida unicelular
dominou o planeta por bilhões de anos,
até uma era glacial mundial
desencadear o surgimento dos primeiros animais.
Muitos grupos animais duraram milhões de anos.
Mas seu tempo acabou chegando ao fim e eles desapareceram.
Mas outros resistiram.
E eles evoluíram na extraordinária variedade de vida
que habita este planeta hoje.
A vida originou-se nos oceanos.
Após um longo período de tempo,
alguns seres conseguiram se arrastar até a terra.
Tais animais podem nos parecer
muito distantes, estranhos, até fantásticos.
Mas todos os seres vivos de hoje
devem sua existência a eles.
MUSKETEERS Legendas Para a Vida Toda!