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Hoje é dia nove de janeiro.
A gente dormiu duas noites em Porto Alegre.
Agora vamos tentar ir pra Pelotas e depois
Jaguarão, que é a cidade da fronteira..
E depois de Jaguarão pra...
... Treinta y Tres, que é Uruguay... E Montevideo.
Aqui tem um posto policial.
Esse é o nosso segundo dia na estrada pedindo carona.
Leo: Quer falar alguma coisa, bee?
Leandro: Alguma coisa, bee.
Leo: Está empolgada, esperançosa hoje..?
Ah, hoje chegamos mais cedo né... O tempo tá bom pra pedir carona...
O lugar parece que é bom...
Eu acho que eu vou conseguir minha quarta carona né...
Leo: Enquanto o Leo só filma, né?
Leandro: O Leo só filma e faz placa.
As próximas vezes que eu for pedir carona,
se ele não vier junto eu vou fazer um boneco com a cara dele...
...e deixar na beira da estrada.
Deixar na beira da estrada pedindo carona pra mim
enquanto eu fico sentado fazendo algum vídeo.
Então é isso, saída de Porto Alegre... Rumo ao Uruguai.
Vamos ver se alguém querendo uma companhia hoje, para pra gente.
São quase duas horas da tarde e a gente conseguiu uma carona...
...depois de umas duas horas esperando.
É... qual que é o seu nome mesmo?
Motorista: Rogério.
Leo: Aí o Rogério pegou a gente lá.
A gente tava pensando em descer pra Montevidéu hoje...
... pra pegar o barco e chegar em Buenos Aires.
E o Rogério está indo pra... Rivera, né?
Rogério: Rivera.
Pra Rivera, que também é fronteira com o Uruguai.
Só que é oeste do Rio Grande do Sul.
Aí a gente está passando pelos pampas gaúchos.
Rogério costuma ir sempre lá pros lados de Rivera e dá carona sempre.
Rogério: Se a pessoa for apresentável, eu dou carona.
Leo: E olha só, todo mundo fica falando
que é impossível dois homens pegarem carona juntos.
Nós dois conseguimos,
e ele ainda falou que não dá carona pra mulher.
Rogério: É... mas é mais fácil a gente ser
assaltado por uma mulher do quê por um homem.
A mulher pega carona com o homem e começa a "trovar" o motorista...
E ela diz "Para ali."
Aí quando tu parar, chega alguém e te assalta.
Daí tu vai fazer o quê?
Todas as paisagens são assim.
Tem bastante plantação...
criação de gado, cavalo, ovelha...
plantação de café, trilho...
Rogério: Esse rio está cheio.
Geralmente ele só tem 10 metros de largura.
04:15pm
E a gente está em Rivera, no Uruguai.
Acabamos de cruzar a fronteira.
A gente vai lá na imigração pra fazer os papéis.
Leandro: La imigración,
onde a gente acabou de fazer todo o processo burocrático
de sair de um país e entrar no outro.
Leo: A gente fez agora os documentos para entrar no Uruguai.
A gente falou que a gente estava vindo de ônibus.
Leandro: Apesar das placas claramente indicarem que é uma mentira deslavada.
Leo: Tipo na cara dele. Deixei a placa assim em cima do balcão,
enquanto eu falava que estava vindo de ônibus.
Leo: Mas whatever né.
Leandro: Foi rápido.
Leo: É porque eles não devem ter a categoria
de "carona" lá no formulário deles.
Leandro: Foi rápido e rasteiro, como a zaga do cruzeiro.
Leo: Agora a gente tem que achar a saída da cidade rapidamente.
Aí todo mundo foi falando pra gente ir caminhando
caminhando não sei quantos quilômetros que a gente ia chegar na Virgencita...
... que é uma santa que fica no topo de um morro.
Aí a gente foi andando, andando, andando,
até que um cara parou pra gente e trouxe a gente até aqui na aduana.
Um brasileiro.
Conseguimos uma carona de caminhão lá na aduana de Rivera...
... até aqui na entrada de Minas de Corrales.
Era um brasileiro caminhoneiro que trouxe a gente até aqui.
Aí tem esse posto policial onde a gente foi pedir informação...
... e tinha uma mulher que falava português,
que chamou a gente de doido porque a gente está vindo de Minas Gerais.
Neste momento o Leandro está ali naqueles dois caminhões parados,
não sei se vocês conseguem ver daí.
Leandro: Está gravando? Leo: Uhun.
Leandro: Acabei de conseguir uma carona, porque eu sou foda.
Tem dois caminhoneiros ali: um brasileiro e um uruguaio.
Eles disseram que daqui a umas meia hora eles devem sair,
e se for necessário eles nos dão uma carona.
Leo: Então pronto. Tá vendo? Eu vou me aposentar.
Eu vou arrumar só uma cadeira de rodas pra mim
e vou levar esse menino sempre comigo.
Eu não preciso de mais nada.
Leo: Então ok, se em meia hora ninguém parar pra gente aqui
a gente pega carona com eles.
Nós vamos continuar tentando carona aqui na estrada com carros.
Leandro: É, uma carona com carro não seria mal não.
Leo: E aí se parar antes a gente vai, se não a gente vai com eles mesmo.
Leo: 09:10pm, ainda tem um pouco de luz aqui.
A gente está em Tacuarembó, no Uruguai.
O cara que deu carona pra gente...
...fala português e estava
oferecendo pra gente ir com ele
até uma cidade que chama Carmelo, que fica lá no sul do Uruguai.
Ele parou aqui nesse posto...
... e falou que precisava
arrumar o cano de descarga.
E aí a gente ficou aqui pra pegar
mais informação e resolver...
...se a gente fica aqui em Tacuarembó...
...pra gente seguir amanhã pedindo carona pra
Paysandú, que é a fronteira da Argentina.
Ou se a gente desce com ele pra Carmelo.
Então a gente está aqui decidindo...
...se a gente segue com ele pra Carmelo...
...e dorme dentro do carro, porque a gente vai
chegar umas quatro ou cinco horas da manhã.
O carro dele é velho e está bem fodidinho.
E também tem o lado de que a gente tem algum receio...
...de o cara tentar estorquir a gente, ou qualquer coisa.
Leandro: Não pelo fato de ele ser contrabandista, isso é tranquilo. (irônico)
Leo: Mas nunca se sabe.
Ele pegou a gente na estrada e foi tão gentil com a gente o tempo todo,
já convidando pra irmos dormir lá no alojamento do trabalho dele.
Leandro: Ofereceu empanadas...
Leo: Então a gente não sabe.
Mas ele deixou a gente livre pra decidir se a
gente fica aqui ou se a gente vai com ele.
Motorista: O que é que vocês vão fazer, afinal?
Leo: Então, dá pra gente ir com você.
Apesar de quê... você se importa se a gente dormir no caminho?
Porque como vamos chegar lá quase às 4 ou 5 horas da manhã...
Motorista: Não sei... se vocês aguentarem a música alta que eu escuto...
Leo: Tacuarembó...
Leandro: Isso é uma coisa que eu não queria muito fazer.
Leo: O quê?
Leandro: Deixar as mochilas no porta malas...
Mas pelo menos esse porta malas é de fácil acesso.
Só pra constar, são 5:45 am.
A gente chegou aqui às 5:30 am.
Eu estou muito mal humorado.
Não dormi nada.
Foram muitas horas de viagem desde...
...nove horas da noite...
...até agora.
Leandro: A gente chegou lá nas balsas que levam para Buenos Aires
e eles estão cobrando 650 pesos (36 dólares) por pessoa.
Leo: Agora a gente tá caminhando tentando chegar na saída da cidade ...
... mas não tem ninguém na rua pra gente pedir informação ...
... então a gente tá andando pra algum lugar ...
... que a gente está supondo que seja a saída da cidade.
Pretendemos estar lá quando o sol nascer,
o que a gente espera que aconteça em uma hora...
Leandro: São 9am e a gente está aqui em algum lugar ...
... entre Mercedes e Fray Bentos.
E o Leo está ali fazendo mais uma plaquinha.
Até agora a gente tem dado sorte, ficamos pouco tempo esperando carona.
Já pegamos muitas caronas hoje.
Passamos a noite sem dormir, estamos cansados demais...
...querendo chegar em Buenos Aires antes das 2pm.
Não sei se vai ser possível.
Mas vamos ver ...
Até agora tem sido legal, a gente tem encontrado
pessoas muito bacanas aqui no Uruguai...
...que têm dado carona pra gente...
...que têm sido muito gente boa, muito solícitas.
Tem sido a experiência bem bacana.
E é muito bonito aqui também, o interior do Uruguai.
Motorista: Vocês têm os documentos e papéis tudo certo?
Nós: Sim, sim.
Motorista: Não levam nada proibido?
Leo: Não.
Leo: Para fazer os documentos de saída do Uruguai...
é aqui, agora?
Motorista: Isso, é agora.
Leandro: Mas eu acho que não existe isso de fazer documentos de saída ...
... é só fazer os de entrada.
Leo: Não, tem que fazer os de saída também.
Leandro: A gente não fez documentos de saída do Brasil...
Leo: No Brasil porque não precisa, a mulher falou que não.
Leandro: Estamos aqui agora cruzando a ponte
"Montanha Russa", entre Uruguay e Argentina.
Leandro: Qual que é a cidade que a gente vai?
Leo: Não sei o nome. Leandro: Não sabemos.
Leo: A gente não tem o mapa ...
... pra gente saber pra onde a gente está indo.
A gente só está indo.
Leandro: Não temos internet, não temos basicamente nada.
Mas conseguimos uma façanha inédita ...
... que foi cruzar o Uruguai sem gastar, nem comprar, nem um peso uruguaio.
São 10:30 am.
A gente está na cidade de...
Guay...
Guay gual chú...
Guay gua ha...
Não sei.
É uma cidade na fronteira da Argentina com o Uruguay.
Leo: Descemos aqui agora no trevo de Gualeguaychú.
Leandro: Finalmente aprendemos o nome da cidade.
Leo: Agora indo direto aqui, Buenos Aires já está pertinho.
Só que a gente acha que a gente não vai conseguir chegar lá a tempo ...
... antes do Fabián sair pra trabalhar.
Leo: Que bonitinho, a pedra está sorrindo.
(risos do Leandro)
Leandro: Ai meu deos, autismo na estrada.
Leo: Olha que lindo a pedra sorrindo, gente!
Eu vou levar ela pra mim.
Parece uma batata.
Leando: Opa, tudo bom? Leo: Buenos Aires?
Motorista: Vou para Zarate.
Leo: Onde?
Motorista: Zarate.
Leo: Que fica na entrada de Buenos Aires?
Leo: Lá tem ônibus para Buenos Aires?
Motorista: Sim, sim.
Motorista: De onde vocês veem?
Leo: Daqui. (risos)
Motorista: Do Brasil?
Leo: É, Brasil.
Leo: Você já foi ao Brasil, então?
Motorista: Sim. Eu fui a... Belo Horizonte.
Leandro: Ahhh! A gente é de Belo Horizonte!
Motorista: Vocês são de Belo Horizonte?!! Que legal!
Motorista: Eu fui exatamente a Betim.
Leo: Betim?!
Motorista: Sim, Betim....
À FIAT...
À fábrica da FIAT...
Levamos carros daqui de Cordoba, Argentina... ao Brasil.
Motorista: Aqui a gente deixa a província de Entre Rios ...
... e entramos na província de Buenos Aires.
Leo: Entrando na província de Buenos Aires agora.
Leo: Oitenta quilómetros, é o que está faltando ...
... pra gente chegar a Buenos Aires agora.
Estamos mortos de cansados.
O Leandro já está até marrom...
E eu também.
Essa cor é uma mistura, devida... ao sol...
...e também ao protetor solar misturado com poeira de asfalto.
Leandro: Eu passei protetor solar. Beijos.
Leo: Bom... muita gente disse pra gente
que vai ser difícil conseguirmos carona
Porque... os portenhos não dão carona, né.
Essa é a fama que eles têm...
...de serem péssimas pessoas...
... "os piores" povos ...
... da América do Sul.
Leo: O caminhoneiro falou pra gente pegar um ônibus,
porque ele acha que vai ser muito difícil conseguirmos carona aqui.
Mas a gente não tem dinheiro daqui. A gente não tem nem um peso argentino.
Então a gente tem que ir de carona todo o caminho.
Leo: Você está feliz?
Leandro: Não.
Eu... estou com sono...
Estou com fome...
Estou precisando desesperadamente de um banho...
Leo: Eu não quero nem pensar em tomar banho.
Porque se eu pensar o quanto eu estou sujo de protetor solar e poeira...
... vai me dar um desespero.
Leandro: Nossa, meu bem...
estou pagando todos os meus pecados!!!
Meo deooos!!
Cadê essas núvens quando eu preciso delas?
Leo: Olha a cara de sujo do sujeito, olha!
O pessoal que passa aqui deve estar olhando e...
...querendo jogar uma moedinha com dó da gente.
Leandro: Nossa, joga uma passagem de ônibus!
Leo: Uma passagem de ônibus!!
Leo: E aqui tem três pistas, na saída de Zarate,
com direção a Buenos Aires.
Faltam 80km.
Os carros passam muito rápido.
A gente vai andar até ali na frente pra ver ...
... se consegue achar um lugar melhorzinho pra pedirmos carona.
(Esse senhor teve que parar seu veículo
para trocar o pneu que havia estourado.
Fomos até ele para pedir-lhe e oferecer-lhe ajuda.
Se tratava de um senhor portenho,
que não queria sequer falar com a gente.
Ainda assim, ficamos aí do lado, tentando
auxiliá-lo de alguma maneira enquanto éramos ignorados.)
Leo: São 8:44pm, a gente chegou a Buenos Aires.
O cara deixou a gente...
... na porta da casa do Fabián.
Só o Fabián que não está em casa.
Ele chega às 11pm do trabalho.
Leandro: Mas só de a gente não estar debaixo de um sol
de 49 graus, numa estrada onde nenhum carro para...
...e desesperados sem água nem decência.
Leo: Caralho, a gente andou demais.
Estamos mortos, estamos sujos iguais uns mendigos.
Leandro: Acordados a quarenta horas...
Leandro: Mas no final deu tudo certo.
Leo: Deos estourou o pneu do carro do Pablo,
um senhor muito fechado.
... que aprendeu muito bem a lição "Não fale
com pessoas desconhecidas" ...
Porque a gente chegou e ficou falando
com ele, e ele sequer olhou pra gente.
Leandro: É, ele não conversa com ninguém.
Porque até com a mulher dele no telefone ele foi um estúpido.
Mas não tem problema, porque...
ele nos deixou na porta da casa do Fabián!
Leo: Na porta de casa, linda!
Leandro: Estamos muito felizes e satisfeitos.
Leo: É, mas olha... a gente conseguiu
chegar de Porto Alegre a Buenos Aires...
Passeamos pelo Rio Grande do Sul...
e pelo Uruguai...
E a gente chegou em 2 dias.
Leandro: Estamos de quê? De parabéns.
Leo: De parabéns.
Hoje foi "level hard" na estrada.
Foi coisa de adulto.
Leandro: Acho que hoje tivemos o momento
que eu mais desesperei nessa viagem.
Pensei em diversos momentos em suidício: pular no meio
da estrada e ser atropelado por um carro. (ironia)
Leo: Bom, então vamos lá.
Estamos em Buenos Aires...
...aqui acaba a viagem de Porto Alegre a Buenos Aires
"haciendo dedo en las carreteras".
La primera vez de la mujer
lora (rúbia) Leandro.
Em um parque de Buenos Aires
que eu não sei o nome.
Leandro: Mas que supostamente tem wifi grátis.
Leo: Vamos sentar no chão e tomar mate.
O mate só que não.
Mas vamos tentar achar wifi.