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O meu nome é Alberto,
sou duma das comunidades maias da Guatemala.
Nós moramos numa região ameaçada pela barragem de Xalalá.
Eu sou Rosalinda Hidalgo e sou da Assembleia Veracruzana de iniciativas e defensa ambiental,
que pertence ao Movimento Mexicano de Atingidos por Barragens e em Defesa dos Rios,
MAPDER.
É uma organização
que luta contra os projetos hidrelétricos que estão se construindo no México.
O meu nome é Gerónimo Osorio Chen, sou maia achi
um dos vinte dois gurpos linguísticas da Guatemala.
O contexto nacional vem determinado a partir duma reforma energética
que aconteceu no ano 2006 para a privatização da energia,
historicamente a energia estava sob controle do estado federal,
mas estas reformas mudaram a conjuntura
e passa a estar ao serviço da privatização.
Principalmente
a energia
gerada por hidroeletricidade,
frente ao discurso da crise do petróleo.
Se abriram os mercados
e então
as regiões de vento
que eram boas para gerar energia eólica foram privatizadas,
e também
com a implantação duma política muito recente
no ano 2010,
foram projetadas mais de 500 barragens a nível nacional.
Na Guatemala, assim como em outros lugares de Latino America,
temos a ameaça
das hidroelétricas e da mineração,
e também das petroleiras.
Vem com o discuso de que é importante construir as hidrelétricas porque
o país precisa disso,
Guatemala precisa disso,
a população rural também precisa disso.
Mas isso é completamente falso
porque
na Guatemala temos
132 barragens
já planejadas
de médio e grande porte,
e tudo é para o "Plan Puebla Panamá"
vai para mãos de empresas privadas.
O mesmo Ministério de Energia e Mina
acaba de
nos dar um documento
por causa da pressão que temos gerado
os movimentos sociais,
para poder ver
quanta energia estamos precisando
porque tantas hidrelétricas.
Então temos percebido que
de fato há
energia suficiente para toda
a população guatemalteca
se é isso o que é preciso.
Mas o problema é que a energia vai para as transnacionais,
para as indústrias.
E esses projetos,
na grande maioria, estão situados
em comunidades rurais e populações indígenas
que historicamente têm habitado o território.
Então, estamos diante de um quadro muito grave
porque a electricidade gerada
vai ser para as
empresas privadas
e o México tem também um superávit de produção energética quase de 40%,
então a gente também se pergunta: energia para quê e para quem?
Moro num área que está ameaçada pela barragem de Xalalá.
Vão ser atingidas
treze mil pessoas.
Vemos que aqui são combinados
tanto projetos que beneficiam as empresas
regionais estatais,
assim como também as transnacionais.
Finalmente tem uma articulação muito grande,
pois umas vão fazer a construção,
outras vão fazer a venda de energia
e outras se aproveitam
da privatização da água.
Na Guatemala é muito complexo ser defensor
dos recursos naturais,
porque
imediatamente
qualificam você
de terrorista,
incitação à violência,
que é o termo que o governo da Guatemala usa.
Temos um governo militar
que se vendeu às transnacionais
quando falo de militar é porque ele foi um dos responsáveis
pela destruição de comunidades
nos anos 80.
Nestas regiões
tem o conflito
de crime organizado,
as empresas
tem uma aliança muito forte
para
que ninguém obstrua
a construção destes projetos hidrelétricos.
O Governo tem feito conjuntamente com as empresas
diversos planos,
um deles é falar com os líderes comunitarios
para oferecer dinheiro
em troca de parar de lutar,
não aceitando isso
os intimidam,
e por último
utilizam a violência,
já direto.
O mesmo dia que inciava o evento do MAPDER,
tendo uma festa previa com a população
na que esperávamos mais de 500 convidados
assassinaram Noé.
Eliminam quaisquer oposição que encontrem no seu caminho.
O caso mais recente
foi no dia 3 de agosto,
numa região próxima a nossa,
no projeto hidrelétrico Santa Rita, sob um rio.
Em novembro morreu esfaqueado
num local e quando deixam ele
é como oferendado.
Também temos que saber ler esses símbolos,
e a nossa compreensão é que
o assassinato do nosso companheiro
era uma mensagem direta:
quem não quer a barragem,
aqui tem a sua oferenda.
O evento continuou
mas o fato provocou
a diminuição da participação local.
Ou seja,
não estão matando apenas líderes
também estão causando medo da participação social,
estão violando esse direito.
Então o que aconteceu
no dia 23
com o companheiro David Cheng, que era um dos líderes
da comunidade,
chegaram em sua casa e ao não encontrá-lo
assassinaram seus dois sobrinhos.
Então
com a aceitação do governo,
esses funcionários empregados pelas empresas
são da região
mais são mercenários.
Este padrão
está sendo reproduzido em outros estados
como por exemplo em Chiapas e também em algumas áreas de Guerrero.
É forte porque estamos falando de populações indígenas
que não estão sendo reconhecidas pelo Estado
como atingidas
e neste lugar concretamente são 5.000 atingidos diretos
numa região de extrema pobreza
e isso vai obrigar eles a mudar-se para as cidades
e nem o Estado, nem os governos municipal, estadual
ou federal quiz reconhecer
esse tipo de ameaças às populações indígenas
com as quais já tinha uma dívida histórica.
É um grande projeto que o governo quer fazer com nós
e a cada momento as pessoas estão pressionando
para que esse projeto seja aceito.
Não estamos dispostos a abandoar a luta
em primeiro lugar, porque temos a experiencia de tudo o que já tem acontecido
no nosso país
Oferecem desenvolvimento e não há desenvolvimento.
As comunidades de Chixoy,
que são 32, estão em total abandono durante 30 anos
de funcionamento da barragem.
Vendem muita energia,
a maior parte da eletricidade que gera Chixoy
é exportado para El Salvador
no entanto
as 32 comunidades estão em abandono.
As idosas que foram as que lutaram
sobreviventes dos grandes massacres de 82
estão abandonadas, não tem ninguém.
Então, quando chegam numa região e dizem que vão melhorar a vida
dos camponeses,
nós sabemos que não,
só vão nos tirar a terra.
E para nós, os indígenas e camponeses,
se não temos terra não temos vida,
porque o Estado não se preocupa com nós
ou seja, quando digo o Estado quero dizer o governo, quem governa o país
não quero dizer o estado como nós (povo).
Então,
para calarnos
utilizam a violência,
voltaram a violência,
a identificação de líderes, contratação de mercenarios
para assassinar e intimidar os líderes.
É muito complicada a situação atual na Guatemala
mas
seguimos adiante.
Na minha região, no Ixcan
50 comunidades tem se levantado, estamos muito unidos e não permitimos
que
fizessem o estudo geológico que é o que falta fazer para
começar a funcionar a hidrelétrica Xalalá,
que segundo dizem, geraria uns 181 megawatt,
mas que na realidade do plano é 330 megawatt o que vão obter,
então, estão mentindo aí também.
Eles minimizam os danos,
falam de sete quilômetros de inundação
mas na realidade são 31 quilômetros de inundação
então, assim é
como as comunidades
temos nos defendido,
e seguiremos defendendo.
As comunidades estão decididas a não abandoar as nossas terras.