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Quando os créditos do último episódio do drama "Kill me, Heal me" começaram a subir,
eu não estava mais chorando.
A minha vida estava vazando pelo meu olho.
Eu sei que uma história me marcou muito quando 1) eu ignorei as falhas da trama e 2) se o
último episódio terminou, os créditos já subiram, já se passaram uns quinze minutos
e eu ainda estou chorando.
Se eu liguei pra alguém chorando por causa daquela série ou acordei alguém na casa
pra falar da série, ainda chorando...
É porque a coisa foi grave.
Cara, quando a gente encontra uma história dessa, a gente quer contar pro mundo inteiro.
E é por isso que a gente precisa falar de "Kill me, Heal me".
A criadora de "Kill me, Heal me" é a roteirista Jin Soo-wan.
Ela também é a roteirista do mais recente "Chicago Typewriter", que eu estou louca pra assistir!
Bom, "Kill me, Heal me" conta a história do Cha Do Hyun, que é um herdeiro de uma família
muito rica que desenvolveu Transtorno Dissociativo de Identidade por causa de uma coisa horrível
que aconteceu com ele na infância.
E esse transtorno faz com que ele tenha várias personalidades, ou alter egos.
E gente.
É um melhor do que o outro.
Essa série foi muito, muito boa.
Ainda que ela tenha tido problemas durante a produção.
Eles tiveram problemas para fechar elenco, teve dois atores e uma atriz que foram cotados
para fazerem os papéis dos protagonistas, esses atores recusaram e aí a coisa toda
atrasou, enfim.
E o ator Ji Sung, que é o ator que faz o papel principal em "Kill me, Heal me", foi o
terceiro ator a ser convidado para esse papel.
E depois de ver os 20 episódios de "Kill me, Heal me", o que eu tenho a dizer sobre isso?
Graças a Deus pelas outras recusas.
Vamos falar aqui sobre esse ator, Ji Sung.
Poderia ficar aqui horas falando do currículo dele, dos prêmios que ele ganhou, e não
é porque ele é o meu ator favorito, claro que não, imagina.
Gente, sou jornalista, sou imparcial, não sou dessas.
Mas eu prometo que vou tentar me ater ao que interessa.
Assistir ao Ji Sung nesse papel é ver um ator chegar num nível de atuação, assim...
Só com "Kill me, Heal me" eu sei que ele foi indicado na Coreia a nove prêmios, ele ganhou
quatro desses prêmios.
E assim, ele interpreta nada mais, nada menos do que sete personagens diferentes.
E ele é perfeito.
O Cha do Hyun é um personagem que é muito educado e que, pra esconder esse transtorno
que ele tem das outras pessoas, ele acabou se tornando alguém com um comportamento,
assim, muito doutrinado.
E o ator Ji Sung consegue insinuar essa raiva e essa intensidade de sentimentos que esse
protagonista guarda debaixo dessa doutrinação e dessa gentileza com gestos econômicos,
micro expressões, às vezes só um olhar e, olha...
É a coisa mais linda de se ver, gente.
Coisa mais linda.
O personagem não falou nada ainda e você já está lá, chorando desesperado por causa
da dor dele.
*Imita choro* Por que que ele sofreu isso na infância?
E uma cena que mostra bem essa atuação do Ji Sung está no episódio 3, eu adorei essa
cena, eu vi essa cena mais de uma vez.
Eu via, voltava, via, voltava, via voltava.
E é uma cena em que o Cha Do Hyun está conversando com a heroína e ela acabou de descobrir que
ele tem esse transtorno.
E ela viu os alter egos dele.
É a primeira vez que ela está conversando com a personalidade do Cha Do Hyun.
E ela pergunta: “Quem é você?
Como é o seu nome?”.
E ele responde: “Com este olhar e esta expressão, eu sou Cha Do Hyun”.
E é de uma intensidade.
Chega igual um soco. Tipo POW e você fica HUUUUGH!
E é uma cena que, digamos assim, ecoa pelo restante da série porque há outros momentos,
momentos, assim, lindos, em que, em meio ao caos que é viver com múltiplas personalidades,
o Cha Do Hyun precisa reafirmar quem ele é. É sensacional.
Inclusive na cena de beijo entre o casal de heróis, é uma cena, assim, linda, é uma
das cenas mais lindas que eu já vi em dramas coreanos.
Não pelo beijo em si, mas pela conversa que vem antes, é uma conversa cheia de empatia,
pelo momento ali entre eles, é sensacional, é lindo.
*Finge chorar*
É uma cena longa, então eu não vou colocar aqui porque isso aqui já
está imenso, vai virar tipo um documentário.
Que que é isso aqui?
Globo Repórter agora?
Então Ji Sung se você estiver vendo esse vídeo....
*Pausa* Você não está entendendo nada porque você não fala português. *Riso* Tô rindo de nervoso.
No geral, os dramas coreanos são feitos com pouco tempo e orçamento baixo.
Pra você ter uma ideia, eles ainda estavam fechando elenco há dois meses antes de terminar
o prazo para eles começarem as gravações.
E o resultado disso você percebe em algumas produções coreanas que é um probleminha
técnico às vezes, de luz, que podia estar melhor, às vezes uma ediçãozinha que ficou
um pouquinho estranha...
Porque, claro, se você tem mais dinheiro, se você tem mais tempo pra fazer um trabalho,
é lógico que a coisa vai ficar melhor, vai sair mais bonitinho.
Mas vou dizer uma coisa aqui pra você.
"Kill me, Heal me" é tão bom que você não percebe essas coisas.
Você não percebe esses problemas técnicos, ainda que eles estejam lá.
A história é muito boa, os personagens são muito verdadeiros.
Porque, gente, o que adianta um monte de dinheiro e de efeitos especiais se a história não
puxa você? Né?
"Kill me, Heal me" tem uma atmosfera de contos de fadas, mas aqui a magia vem de alucinações
e problemas psiquiátricos.
E é nesse contexto que a história fica sensacional.
Eu não quero contar muito pra não dar spoiler, porque a gente odeia spoiler, mas eu vou dizer
que é uma puta história, não só pela sensibilidade com que fala sobre o sofrimento desses protagonistas,
mas também porque ela não tem medo de responder a algumas perguntas.
Por exemplo: "Qual a pior coisa que poderia acontecer se esse alter ego saísse livre por aí?".
E gente, eu sou tão grata por várias cenas desse drama.
Como essa por exemplo.
Esses alter egos fazem você rir muito durante a série, mas no final eles ganham uma notinha
de profundidade que é, assim, perfeito.
E até o final, a história não perde o rumo e é justamente por isso que você vai precisar
de lencinhos, muitos lencinhos.
E aí a gente vai vendo nessa história que não tem mágica quando você precisa se curar
de uma dor.
É muito legal.
É uma história de herdeiro porque esse personagem principal é o herdeiro de uma família rica.
E história de herdeiros é uma coisa bem comum nos dramas coreanos.
Mas a roteirista Jin Soo-wan deixou essa trama corporativa em segundo plano porque ela escolheu
contar a história mais interessante, que é a história do sofrimento desses personagens.
E ela faz isso com muito estilo, trazendo a trama na rédea o tempo todo, muito atenta
aos detalhes, consciente do que está fazendo.
*Palmas* Respeitei.
"Kill me, Heal me" é disfuncional, é triste, é belo, é estranho, como a vida é, como
as pessoas, na verdade, são.
Eu vou sentir muitas saudade desses personagens, eu ri muito com eles, e eu chorei muito também,
de me descabelar, chorei horrores.
E que trouxeram questões tão bonitas, tão importantes, tão sensíveis sobre o sofrimento
humano.
Por exemplo, que a gente nunca está quebrado por dentro ao ponto de não conseguirmos sermos
ajudados.
Eu acho que é isso.
Muito legal.
Indico muito "Kill me, Heal me".
É isso.
*Barulho de beijo* Beijo, tchau.