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Ah, ok. Então, como você descobriu e decidiu que deus não era para você?
[Gi]- Ah... Eu acho que tinha o problema da curiosidade, de perguntar "porque?"
Minha mãe me diz isso hoje em dia,
"você perguntava 'porque?' o tempo todo, sobre tudo".
E sempre fui muito filosofico sobre as coisas enquanto crescia, nos meus 12-13 anos
Eu... como posso dizer... eu entrava e saía dessas questões, de ser agnóstico, eu diria
mas eu nunca... nunca me perguntei, ou considerei a possibilidade
de que simplesmente não existia nada mais, nada além, sabe?
Ok. - [Gi] Mas no final da adolescência eu comecei a ler e pesquisar mais
sobre história e sociologia, e isso me ajudou muito,
assim como filosofia também.
E me dei conta de que na verdade sempre fui um descrente.
- Realmente é incrível o quanto um pouco de estudo te faz questionar
o que enfiaram na sua cabeça quando criança.
[Gi] Absolutamente, é isso mesmo.
- Eu reparei, porque temos uma câmera, que no fundo
você tem várias guitarras. Você também é músico?
[Gi]- Ah, sim, essa é a minha paixão, devo ter uns 14 ou 15
espalhados pelo apartamento, tenho o meu próprio estúdio aqui
e é uma das minhas paixões, assim como escrever e compor música.
- Ah, isso é ótimo, eu não sabia disso. Então agora os nossos ouvintes
sabem que você também é músico.
Nos fale um pouco mais sobre a UNA. Primeiro me diz como se pronuncia em português.
[Ghi]- Em português se diz 'UNA' - Ok, mas e por extenso?
Em inglês é National Union of Atheists. Como fica em português?
[Gi]- Fica União Nacional dos Ateus, o que seria "Union National of Atheists"
nessa ordem, União Nacional dos Ateus, e isso é a UNA.
– Fantástico! Nos conte um pouco sobre isso,
tipo, qual a “Declaraçao de Principios” e como foi que começou?
[Gi] - Bem, a UNA nasceu online, numa comunidade virtual,
na rede social mais usada no Brasil [Orkut]
e foi criada por dois jovens, Rafael Oliveira e Rafael Grando.
Eles estavam.. acho que encontraram um tipo de refúgio online,
encontraram um jeito de se expressarem.
Eles faziam parte dessa outra associação brasileira de ateus e agnósticos.
mas porque eram menores de idade, eles não tinham voz.
Eles não compartilhavam dos mesmos princípios.
Então eles meio que encontraram esse refúgio online e criaram a UNA, simples assim.
E em pouco tempo, muitos outros jovens assumiram a causa
e encontraram alguém com quem podiam conversar e compartilhar as mesmas idéias,
e foi indo assim. E aí alguns dos mais velhos,
alguns de nós, pensadores e escritores mais experientes,
meio que nos encontramos online e nos unimos, conhecendo os jovens
e decidimos desenvolver essa idéia, tipo, porque não?
Nós realmente precisamos de uma voz, a gente precisava disso tudo.
- Isso é legal, quer dizer que na verdade começou online, no mundo virtual
ao inves de um grupo se encontrando em algum lugar.
[Gi] Sim, mas acho que se pode dizer que a motivação e o entusiasmo
que esses jovens tiveram, veio desse desentendimento
com as outras associações que tentaram representar os ateus de uma forma que
eles não achavam correta, que não compartilhavam realmente.
Uma das primeiras coisas que um desses jovens, Rafael, me contou
uns meses atrás foi que nós não queremos que ninguém nos diga
que por sermos ateus não devemos fazer isso ou aquilo, comer carne, entende?
Somos apenas pessoas que não acreditam em divindades, só isso.
Então isso era algo muito importante para ele, era um ponto sensível
especialmente porque a maioria desses jovens são menores de idade pela lei brasileira,
tem 17 anos, quase 18, não tendo realmente uma voz.
Então eu acho que essa foi uma das motivações que tiveram para criar a UNA.
Começou com aquele desentendimento, mas bem rapidamente nós desenvolvemos
os nossos próprios princípios, as nossas próprias metas
que são a luta pelo secularismo no Brasil e também promover a educação,
porque como você já mencionou, a educação [estudo] faz maravilhas pela mente.
- Certamente, é incrível o que um pouco de estudo pode fazer para nos despertar.
Parece, já que começou com livre pensadores mais jovens,
que o foco está nestes jovens livrepensadores, o que é ótimo!
Algumas das pessoas com quem converso são bem mais velhas
e eu também já estou chegando lá.
Mas agora que você mora nos EUA, você vê isso aqui também
com o movimento jovem se firmando mais aqui nos EUA?
Ah, eu vejo isso sim, porém não tanto quanto no Brasil devo dizer,
porque... é uma questão mais cultural, cultural e sociologica, e ai a conversa vai longe.
Mas eu vejo sim, esse movimento jovem acontecendo aqui nos EUA.
Mas eu ainda acho e tenho a impressao
que a maior parte deste movimento [ateu] ainda está dominado pelos pensadores mais antigos.
Não queria usar essa palavra, mas... pelos seniores, pelos mais experientes.
E só agora está sendo assumido pelos mais jovens nos EUA.
Tipo, eu frequentava a faculdade até bem recentemente
e tinha muitos amigos jovens lá, que são ateus
e era legal vê-los, ainda meio perdidos, tentando achar um guia
e isso é importante. Então estou começando a ver isso aqui nos EUA tambem
Mas devo dizer que o movimento jovem é muito mais pronunciado
no Brasil; pelas razões culturais que mencionei.
O Brasil sendo um pais muito religioso, onde todos cresceram religiosos,
tipo, 90% da população é religiosa de acordo com o último censo,
então é muito mais forte lá agora [Brasil].
- Sim, tenho certeza disso. Tipo, quando você chega de avião no Rio
e vê aquela estátua enorme de Jesus Cristo.
[Gi] Não se preocupe, a gente faz piadas sobre isso tambem.
– Imagino, imagino