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Atenas, Grécia.
Foi aqui, há cerca de 2.500 anos,
que uma história foi composta sobre uma civilização insular
de riqueza e poder sem paralelo, que foi engolida pelo mar.
O autor foi ninguém menos que Platão,
o pai da filosofia ocidental.
E sua história tornou-se a lenda de Atlântida.
A ideia de Atlântida sempre me fascinou.
Podem pensar que, como historiadora, eu desprezo a lenda,
condenando-a como um conto de fadas.
Atlântida tem gerado fervorosa especulação
se essa ilha fabulosa realmente existiu.
E gerou inúmeras teorias malucas sobre sua localização.
Mas estou certa que sob os escombros da fantasia,
há os alicerces de uma história real.
Mil anos antes de Platão,
uma civilização verdadeiramente incrível prosperou aqui,
no Mediterrâneo Oriental.
Mas essa civilização sofreu uma terrível catástrofe. 20
Evidências científicas recentes nos mostram que tal desastre
foi pelo menos duas vezes maior do que se pensava.
Poderia ser essa tragédia a base do mito da Atlântida de Platão? 24 25
ATLÂNTIDA A PROVA
Quando se fala em Atlântida, o que geralmente vem à mente
é uma cidade perdida submersa ou uma utopia mítica.
Mas a Atlântida de Platão não é nada disso.
Ela era um império comercial marítimo,
uma espécie de superestado que alcançou grande sucesso,
mas depois tornou-se agressiva e opressora,
por isso foi punida pelos deuses por sua arrogância.
Por esta ideia ser tão fascinante para nós,
a noção de que o orgulho sempre precede a queda,
desde que o mito surgiu em Atenas,
ele nunca mais saiu do imaginário humano.
"Ouça uma narrativa que embora estranha é certamente verdadeira,
"pois essa história fala de um grande poder.
"Atlântida.
"Ela tinha círculos concêntricos alternados de terra e mar.
"Nos sagrados domínios de Poseidon, touros vagavam à solta.
"O mar e o porto estavam cheios
"de barcos e mercadores vindos dos 4 cantos.
"Eles eram os mais ilustres dos homens.
"A riqueza que tinham era tão imensa que nunca existira igual.
"Mas com o tempo, eles perderam sua beleza.
"E ocorreram portentosos terremotos e enchentes.
"E um dia e noite dolorosos se abateram sobre eles.
"E a ilha de Atlântida foi engolida pelo mar e desapareceu."
Atlântida é uma alegoria, um conto moralista.
Platão a escreveu como um alerta a seus conterrâneos atenienses,
que a riqueza e o poder levariam à destruição
se não fossem baseados na virtude.
Mas a descrição de Platão sobre Atlântida
é tão rica em detalhes específicos,
que acho que ele pegou histórias que tinha ouvido
e transmitiu uma versão fantástica de algo que outrora existiu.
Mas foi nas ruas, em conversas, que ele reuniu as ideias.
Angie Hobbs é especialista em Platão.
Em troca de uma visita histórica ao mundo dele,
quero descobrir o que ela pensa sobre a origem da história.
Tenho um presentinho para você.
- O que vamos ver? - Veremos...
Recebi acesso especial às novas escavações no centro da cidade,
uma cápsula do tempo da Era de Ouro de Atenas.
Estamos andando onde Platão, Aristóteles, todos meus heróis
andaram, conversaram, discutiram e debateram.
Foi aqui que tudo começou.
É muito emocionante.
É sim. Um pouco de pedras da Era de Ouro.
É o que gosto em Platão, a ideia que ele esteve aqui, na cidade,
usando o que pôde para incentivar as pessoas a ouvir sua filosofia,
a emocionar-se e aprender com ela.
Era uma época sem imprensa para divulgar sua mensagem.
Tinha-se de fazer tudo só.
Mas ele nunca perdeu de vista sua herança socrática,
de sair por aí e melhorar a vida das pessoas.
Para salvar suas vidas, suas almas, como ele dizia.
Pode ser que essa seja só uma fábula moralista,
que a história de Atlântida seja só uma grande alegoria política?
Pode ser. Ele certamente tinha imaginação capaz de criá-la.
Ele não foi um historiador, não era essa sua intenção.
Sua intenção era usar a história, usar a mitologia
para ressaltar seus pontos filosóficos.
Qual a possibilidade de o mito de Atlântida
ter alguma origem no passado pré-histórico?
É provável que Platão tenha ouvido
histórias sobre antigas civilizações desaparecidas,
que ele lembrava de fragmentos das histórias orais.
Ele urdiu essa fantástica trama,
mas usava um pouco de mitologia, um pouco de história,
qualquer coisa, como parte da mistura.
Creio que pode haver
alguma base factual histórica para a lenda de Platão,
mesmo que ele não estivesse interessado especificamente nisso.
Seja qual fosse a inspiração de Platão,
Atlântida atraiu nossa imaginação desde então.
Levou a inúmeras expedições e milhares de livros.
Comumente, essas buscas revelam mais sobre o poder da imaginação humana
do que sobre a própria Atlântida.
Algumas das teorias mais bizarras de Atlântida baseiam-se na ideia
de que a civilização humana tem origem extraterrestre.
Tentei provar que este planeta foi visitado por seres do espaço
várias vezes na Antiguidade.
Eles fizeram em nossos ancestrais um tipo de mutação artificial.
E finalmente...
esses magos do espaço ergueram artefatos arqueológicos.
Apesar de incrível, a teoria de Erich Von Daniken
vendeu milhares de livros e convenceu muitos
de que Atlântida foi uma colônia extraterrestre.
Mas Atlântida também foi usada para propósitos mais sinistros.
O líder nazista Heinrich Himmler estava convencido que a raça ariana
descendia dos fabulosos atlantes
e que o elo perdido podia ser encontrado no local mais improvável.
Tibete.
Durante a era de exploração vitoriana,
a obsessão por Atlântida estendeu-se aos primeiros-ministros britânicos.
William Gladstone escreveu a um congressista americano
chamado Ignatius Donnelly,
autor de um livro sobre um mundo perdido situado no oceano Atlântico.
Gladstone propôs expedição custeada pelo governo para procurá-lo.
Mas o Tesouro rejeitou a proposta.
A caçada à Atlântida é um exercício pleno.
Mas exatamente por ter gerado tantas teorias estranhas,
há ainda mais razões para dissociar a verdade da ficção.
Novas evidências científicas reforçam a ideia
de que a história de Platão foi inspirada
em uma ilha e civilização reais antigas,
destruídas por um desastre natural verídico.
A ilha para onde vou fica a sudeste de Atenas.
Chama-se Santorini, ou Thera,
como originalmente batizada pelos gregos.
A primeira coisa que chama a atenção em Thera é sua topografia ímpar.
A terra se projeta para o mar, e há essas pequenas ilhotas
cercadas por água que, por sua vez,
são envoltas por um enorme semicírculo de terra.
Agora ouçam o que Platão tem a dizer sobre Atlântida:
"Havia círculos alternados de mar e terra envolvendo uns aos outros,
"uns maiores, outros menores."
Claro, isso por si só não prova nada.
Há muitos lugares no mundo que se adequam a essa descrição.
Mas, mesmo assim, esta descrição e aquela paisagem
são muito semelhantes.
Essa paisagem dramática atrai milhares de turistas todos os anos.
Mas nem todos percebem que estão velejando
nos vestígios de uma enorme cratera vulcânica.
Para onde quer que se olhe nessa ilha,
há evidência geológica de atividade vulcânica.
Mil anos antes de Platão escrever, por volta de 1620 a.C.,
esta ilha sofreu a maior erupção vulcânica do mundo antigo.
Um dos maiores vulcanólogos do mundo, Haraldur Sigurdsson,
recentemente liderou expedição ao fundo do mar em torno de Santorini.
Ele achou provas surpreendentes da real dimensão da erupção em Thera.
Usamos duas abordagens.
Basicamente, disparamos um canhão que envia som ao piso oceânico
e recebemos de volta dados que mostram a espessura das camadas.
E o outro método que usamos foi enviar um submersível,
que parece um carrinho, mas pilotado do navio.
Ele tem 9 câmeras, todas registrando vídeos,
obtemos todo o tipo de informação.
A equipe de Haraldur examinou o piso oceânico,
medindo os depósitos submarinos produzidos pelo vulcão.
Sabemos que a erupção provocou principalmente fluxos piroclásticos.
Quando uma erupção desse tipo começa,
imediatamente cria uma pluma de cinzas e pedras-pomes
que se propagam na atmosfera.
Então, após algumas horas,
há o colapso da coluna eruptiva, descendo como avalanches.
Começa o fluxo piroclástico.
Os fluxos piroclásticos contêm rochas bem distintas,
compostas de pedras-pomes, cinzas e rochas grandes, tudo misturado.
Se a erupção teve realmente um grande impacto,
esperaríamos achar fluxos piroclásticos no piso oceânico.
Descobrimos que o depósito estende-se no piso oceânico
por 30 km em todas as direções a partir do vulcão Santorini.
Está muito espalhado.
Esses achados mostram que a erupção
foi uma das maiores em toda a experiência humana.
Em estudos anteriores, estimamos que 30 km cúbicos
foram lançados nesse evento, o que é um volume grande.
Mas com os novos achados,
descobrimos que o depósito tem cerca de 60 km cúbicos, talvez mais.
Comparada a outras erupções, uma conveniente
é a famosa erupção do Vesúvio, em 79 d.C., na Itália,
que destruiu Pompeia e Herculano.
Sabemos que o Vesúvio lançou por volta de 6 km apenas,
comparado aos 60 daqui.
Outra erupção famosa foi a do Monte Santa Helena,
nos Estados Unidos em 1980.
É como fumaça saindo de uma chaminé.
Mas foi de apenas meio km cúbico, comparado aos 60 daqui.
Esse foi um evento muito especial.
Você acha possível que no mito da Atlântida de Platão
ele também relembrava esse evento aqui?
Pessoalmente, não tenho dúvidas que o mito de Atlântida
foi gerado pela erupção do Santorini.
Há muitas provas geológicas de uma grande catástrofe natural nesta área
e creio que temos de olhá-la com atenção como a origem desse mito.
A Atlântida de Platão era uma ilha,
que foi destruída por um desastre
e era o lar de uma civilização avançada.
Thera tem essas três características.
Primeiro, sua topografia é bem similar à Atlântida de Platão.
Segundo, foi palco de um desastre de proporções cataclísmicas.
E, principalmente, foi também o lar de uma civilização incrível.
A erupção deixou a ilha inabitável durante séculos,
mas quando a paisagem recobrou vida, as pessoas voltaram.
Então, em 1967, os arqueólogos fizeram uma descoberta incrível.
Sob mais de 30 metros de pedras-pomes e cinzas,
estava um mundo perdido, sepultado pela erupção.
Foi alardeada como a Pompeia do Mar Egeu.
Mas para mim, essa frase não faz justiça a esse sítio.
Até agora, os arqueólogos escavaram 10.000 m2 de cidade.
Mas eles estimam que ela seja 3 vezes maior que isso.
É uma cidade enterrada que lentamente vem sendo ressuscitada.
Na minha opinião, a sociedade da Idade do Bronze em Thera
foi uma das civilizações mais elusivas que existiram no mundo.
E devemos lembrar que falamos sobre um povo
que viveu e trabalhou há 3.500 anos.
Bom dia!
As autoridades gregas resistem a permitir
que estrangeiros filmem o processo de restauração.
- Bem-vinda. - Muito obrigada.
Mas o arqueólogo-chefe, Christos Doumas,
deu-nos permissão especial para filmar os bastidores.
Este tesouro de artefatos permite vislumbrar
o sofisticado mundo que os theranos outrora habitaram.
Temos provas que eles eram muito sofisticados ao inventar coisas.
Sobretudo na cerâmica,
eles resolveram muitos problemas diários.
Conseguiram produzir tipos e formas muito sofisticados,
com qualidade muito alta.
Isso era muito raro e singular.
Os depósitos de Akrotiri
também abrigam uma série de murais espetaculares.
À medida que cada um é meticulosamente restaurado,
fica cada vez mais claro o quanto sua sociedade era avançada.
Os murais que estão sendo descobertos em Thera são singulares.
São muito vivazes, extrovertidos e bastante individualistas.
Comparada a outra arte do período,
a bela arte egípcia, por exemplo,
veremos algo muito mais monumental,
estereotipado e controlado.
Enquanto que os murais de Thera têm vida e história próprias.
Uma das coisas que se nota imediatamente nos murais
é que as mulheres chamam a atenção não pela ausência,
mas por sua presença.
Em quase todas as imagens encontramos uma mulher.
O interessante é que elas possuem status elevado.
Olhem esta bela moça.
Ela tem soberbos brincos de argola dourados
e seu corpete foi pintado com um caro pigmento de açafrão.
Ela está oferecendo açafrão para esta espécie de super mulher,
que suspeito seja algum tipo de divindade,
pois há por trás dela um grifo,
geralmente sinal de uma deusa ou espírito.
O contraste entre estas mulheres da Idade do Bronze
e as da época de Platão, na Atenas do século V,
não poderia ser mais gritante.
Em Atenas, as mulheres eram cidadãos de segunda classe.
Muitas vezes não podiam sair de dia,
recebiam meia porção de comida
e eram encorajadas a não falar em público.
Enquanto estas mulheres, de mil anos antes, na Idade do Bronze,
tinham respeito, influência e, claramente, destaque social.
Para mim, a sociedade therana era,
em muitos aspectos, um mundo perdido.
Os theranos estavam anos-luz à frente
de muitas outras culturas da época.
Usavam a escrita, tinham uma sociedade notavelmente igualitária
e uma economia bem organizada.
Mas há uma faceta dessa cultura
que assegura que Thera nunca será esquecida
e que fornece um paralelo direto com a Atlântida.
Thera era o centro de uma rede comercial
que se estendia entre três continentes.
Europa, África e Ásia.
Aqui nos aproximamos do segredo por trás do sucesso de Thera.
Não há como compreender os theranos,
a menos que entendamos sua relação com o mar.
Na Idade do Bronze os oceanos eram as rodovias do mundo conhecido.
E por Thera estar tão bem posicionada estrategicamente,
o povo que vivia aqui tornou-se mestre
dessas redes de comércio e comunicação.
Platão descreve Atlântida como um lugar onde
"o porto estava cheio de barcos e mercadores vindos dos 4 cantos."
Há 3.500 anos, Thera adequava-se a essa descrição.
Era um centro de comércio internacional,
com mais de uma dezena de línguas,
indo do minoico ao hitita, do egípcio ao canaanita,
vagando através das águas entre os barcos.
Um registro desse mundo cosmopolita
foi esboçado no mais espetacular de todos os murais de Thera,
o Afresco da Esquadra.
É graças a essa pintura que temos bastante informação
sobre navegação, navios e comércio.
Mostra navios reais, é a primeira vez
que temos a representação de navios desse período nessa escala.
Significa que estamos vendo um novo tipo de embarcação?
Temos as mais antigas representações de navios a vela.
E, provavelmente, com este tipo de inventividade,
os theranos teriam sucesso nos mares.
Eles teriam conseguido navegar por rotas anteriormente impossíveis.
Sim, exatamente.
É fascinante, não? Pois isso pode significar
que os theranos conseguiam ir a todos esses lugares,
ou que comerciantes vinham ao porto de Thera com suas influências.
Sim. Em muitos murais vemos temas de terras exóticas.
Antílopes, por exemplo.
Por estarem representados de forma bastante naturalista,
acreditamos que o artista tenha visto o animal real.
Assim como os atlantes, os theranos eram mestres dos mares.
E também como os atlantes, aproveitaram a paisagem para criar
uma obra-prima arquitetônica de planejamento urbano.
Por Platão ter escrito sobre um lugar extraordinário,
era de se esperar que ele enfatizasse
as glórias arquitetônicas de sua Atlântida,
fazendo dela uma cidade grandiosa.
Por isso, sempre pareceu improvável comparar ao pé da letra
todos os detalhes daqui com um local real.
Mas vindo a Thera, 2 frases se sobressaíram para mim.
Eis Platão falando sobre a alvenaria local:
"E as construções, algumas eles erigiam em uma única cor
"em outras, eles usavam um padrão de muitas cores
"misturando as pedras num tipo de ornamento.
"Algumas delas brancas, negras e outras vermelhas.
Olhem só as pedras locais que ainda usam aqui no sítio de Akrotiri.
Em Atlântida, alvenaria vermelha, negra e branca,
foi usada na construção da cidade.
Aqui, em Akrotiri, encontramos exatamente o mesmo.
Essas construções estão tão bem preservadas,
porque estão enterradas sob um dilúvio de cinza vulcânica,
com mais de 20 metros de espessura.
Mesmo assim, era difícil imaginar
como este lugar seria em toda sua glória.
Até agora.
Há quanto tempo está envolvida com Akrotiri?
Bastante. 30 anos no mínimo.
A arquiteta Clairy Palyvou criou uma visão de Akrotiri em seu apogeu,
antes da erupção, quando as construções estavam intactas.
Olhe só isso!
A primeira impressão é realmente forte.
Essa não é uma arquitetura simplista,
que alguém cometeu o erro de imaginar
para uma época pré-histórica.
É uma arquitetura muito sofisticada
não só para suprir necessidades diárias
ou físicas, como abrigo e proteção.
É muito mais.
Não os vê apenas como grandes realizadores em tecnologia
mas entra em suas vidas e em como geriam seu mundo?
Sim, precisamente. Há tantas coisas que se pode admirar,
coisas que foram criadas pela primeira vez no mundo.
Esse povo construía prédios de dois, três andares,
em uma região sensível a terremotos.
Também usavam um estilo arquitetônico
com inúmeras aberturas.
Hoje achamos as janelas algo normal,
mas naquela época era algo bastante inovador.
É fascinante pois é um conceito muito moderno.
Quando usamos arquitetura hoje,
sempre pensamos na luz, ou a queremos muito.
- Isso existia na Idade do Bronze? - Existia.
Essa é a arquitetura de uma sociedade opulenta.
Essa prosperidade era compartilhada
por grande número de membros da comunidade.
Isso que faz a diferença.
Não é algo restrito somente à elite.
Os theranos viviam numa paisagem sísmica,
havia água salgada até onde a vista alcançava,
mesmo assim exploravam a natureza ao seu redor,
inaugurando um tipo de civilização completamente novo.
Assim como os atlantes, os theranos eram tecnologicamente avançados.
Tão estabelecida, que por todo o mundo da Idade do Bronze,
a riqueza e sofisticação theranas deviam ser lendárias.
Essa era uma exuberante, avançada
e estrategicamente localizada sociedade.
Mesmo com incríveis conexões comerciais,
podem indagar como Thera pôde ir tão longe, além de seus limites?
A resposta está a 112 km ao sul, além do oceano,
num lugar conhecido à época de Platão como "Megalo Nisi".
A Grande Ilha.
Hoje nos a chamamos de Creta, mas na Idade do Bronze,
essa ilha foi o centro político e religioso
da primeira grande civilização europeia.
A riqueza e sofisticação de Thera estavam ligadas
a esse lugar poderoso e especial.
Este era o centro dessa cultura, o Palácio de Cnossos.
Em seu apogeu, este era um vasto complexo administrativo.
Era cheio de oficinas, depósitos e suntuosos murais.
Assim como Thera, era repleto de artefatos antigos
e arquitetura.
Estas ruínas permaneceram enterradas por séculos.
Foram trazidas de volta à luz em 1900,
quando foram escavadas pelo arqueólogo britânico Arthur Evans.
Tudo isto lembrava Evans do mito grego do rei Minos.
Minos foi um grande líder
cuja esposa gerou uma criatura monstruosa,
um filho metade humano, metade touro.
Evans comparou o mito à realidade
e convenceu-se que havia descoberto o local do legendário labirinto.
Então ele foi um pouco além.
Ele deu um novo nome ao povo que viveu aqui há 3.500 anos.
Ele os chamou, graças ao rei Minos, de minoicos.
Este é o sítio mais antigo em Creta...
Quero chegar ao âmago de o porquê Thera
tinha uma relação tão próxima à Creta.
Vim aqui para me encontrar com o arqueólogo Colin McDonald,
ex-curador de Cnossos.
Soube que você escavou cerâmica therana aqui em Creta.
O que você acha que havia aqui,
por que essas duas ilhas tinham uma relação tão próxima?
Antes de mais nada, está certa ao dizer
que era uma relação muito próxima.
Mas vejo Thera como um ponto de comércio neutro,
uma espécie de ponto nodal no Egeu,
que era usado por Creta.
Portanto, muitos dos itens comercializados em Thera
encontravam seu destino final em Creta.
Creta não produzia muita matéria-prima,
então tinha que procurá-la em outros lugares.
Talvez essa seja outra razão para ela transpor grandes distâncias.
Não tinha nada, portanto, saía em busca de tudo.
Creta e Thera tinham suas próprias características,
mas tinham o mesmo modo de vestir,
linguagem, rituais religiosos e avanços tecnológicos.
Em mais uma ligação com a Atlântida de Platão,
elas reverenciavam o mesmo animal sagrado...
o touro.
Este belo relevo mostra um touro no meio de um ataque.
Devemos lembrar que os touros da Idade do Bronze
eram de uma espécie hoje extinta, chamada auroque.
Os auroques eram enormes.
Tinham 2 m de altura, com chifres proporcionais.
Nossa evidência da cultura minoica sugere que eles eram trazidos aqui
ao centro do próprio Palácio de Cnossos.
Estes touros eram associados
ao perigoso esporte do salto sobre touro,
provavelmente um ritual de iniciação realizado por jovens
ao se aproximarem da vida adulta.
Imaginem esses animais trancados...
o odor quente do seu hálito,
o branco brilhante de seus olhos
enquanto se arrastavam por aqui,
prontos para o início dos jogos rituais
na sagrada arena central.
Ao redor, com suas finas joias e roupas de colorido brilhante,
a nata da sociedade minoica.
Protegidos do sol por dosséis ondulantes,
aguardando o início do espetáculo.
Ouçam o que Platão diz sobre a elite da sociedade de Atlântida.
"Nos sagrados domínios de Poseidon, touros vagavam à solta.
"E os príncipes, sós após rezarem aos deuses
"para que capturassem uma vítima que os agradasse,
"corriam atrás dos touros com bastões e laços,
"mas sem armas de ferro."
Para mim, isso sugere que Platão escreveu
sobre uma espécie de memória deturpada do real salto sobre touro
que ocorria aqui, em Creta, e também em Thera.
Isso é exatamente o que ocorre às memórias com o tempo.
Um contador de histórias, no caso, Platão,
pega algo que ouviu nas ruelas de Atenas
ou no porto da cidade,
incríveis histórias sobre uma civilização há muito perdida
quando homens eram iguais a touros,
onde palácios resplandeceram e foram destruídos.
E ele usa essas histórias para seus propósitos.
Com certeza não é História, mas é um modo informal
de passar informação de uma geração a outra.
É praticamente História por acaso,
para ser sincera, por isso é ainda mais valiosa.
Mas essa sociedade bela e sofisticada
estava assentada sobre uma bomba relógio geológica.
E por volta de 1.620 a.C., ela estava prestes a explodir.
Este é um bom playground para um geólogo.
É um local privilegiado para qualquer geólogo.
De volta a Thera, o geólogo Floyd McCoy
ajudou a desenterrar uma série de pistas científicas
que revelam o que os theranos sofreram
quando sua ilha foi destruída
pela maior erupção vulcânica do mundo antigo.
Esta moderna pedreira corta a ilha,
que chega até aqui no nível minoico.
Aqui está, uma seção geológica não apenas de uma cultura,
mas de uma erupção inteira.
Estou tocando na terra que eles cultivavam no período minoico?
Esta é a superfície sobre a qual o homem andava.
Há detritos por toda a parte. Bem aqui...
O homem andava, construía e deixava detritos.
Isso foi há 3.600 anos, e veja isto agora.
Está de 30 a 40 metros abaixo do solo.
Entenda que isto representa talvez quatro dias de deposição.
Em quatro dias a superfície da terra alcançou aquele nível.
O que são estas diferentes partes?
O que dizem sobre como a erupção ocorreu?
O que nos diz é que essa fina camada aqui,
e continua por aqui,
é o que chamamos de erupção precursora.
Precedendo isto, talvez tenha havido meses de terremotos,
inúmeros pequenos terremotos.
Gases foram expelidos, como o enxofre.
Fontes secaram de repente, e ressurgiram em outro lugar.
Rachaduras no solo.
Eles não sabiam o que ocorria, mas algo terrível começava.
Creio que a sensação era de puro medo.
Os vários sinais de uma erupção iminente
culminaram num grande terremoto
medindo em torno de 7 graus na escala Richter.
Ele tornou a cidade inabitável.
Depois do terremoto, as pessoas começaram a trabalhar
para resgatar as coisas que precisavam.
Achamos inúmeros estrados de camas, etc...
que estavam retidos por pedras-pomes.
Creio que as pessoas se mudaram,
indo viver num acampamento,
e trabalhavam nas ruínas
para resgatar coisas que eram essenciais
para sua sobrevivência no acampamento.
Em Pompeia, aconteceu rapidamente,
em poucas horas, creio,
enquanto que em Akrotiri eles tiveram tempo para se preparar.
Não houve vítimas, nada foi achado no povoado.
Foi uma evacuação organizada.
Houve um vaso específico, não muito diferente de outros,
que o dono, por alguma razão, envolveu com um pano que sobreviveu.
E tenho uma espécie de visão dessa pessoa,
que por algum motivo, era apegada a esse vaso específico
e tentou protegê-lo na esperança de retornar.
É claro que eram familiarizados com terremotos.
Um terremoto não era o fim do mundo.
O fim veio depois.
O incômodo terremoto foi apenas o prelúdio para o evento principal.
Uma erupção numa escala que o mundo antigo nunca tinha vivenciado.
Nada sobreviveria a isso, incluindo a cidade de Akrotiri.
Você seria enterrado sob pedras-pomes.
Caso não ocorresse, o fluxo piroclástico o reduziria a pedaços.
Se isso não ocorresse, uma cinza fina entraria e bloquearia o pulmão.
Essa mesma cinza, misturada aos fluidos corporais, viraria cimento.
Não tem como alguém sobreviver a isso.
Como corpos nunca foram descobertos,
especialistas tentam definir se os ilhéus conseguiram escapar,
ou se ainda estão enterrados sob cinzas e pedras-pomes.
Acho bobagem dizer que eles evacuaram a ilha.
Quando? Já que trabalharam até o momento da erupção.
E todos os barcos estavam aqui?
E quantos poderiam acomodar milhares de pessoas?
Por isso não creio que tenham evacuado.
Só Deus sabe para onde as pessoas foram.
Acredito que estavam acampados em algum lugar nas redondezas
e algum dia serão encontrados.
Foi uma tragédia que suplanta qualquer imaginação.
Há algo que gostaria que me esclarecesse, se puder.
Uma frase do último parágrafo aqui.
"A ilha desapareceu e o oceano naquele ponto
"ficou intransponível e inescrutável,
"bloqueado por baixios de lama
"que a ilha criou ao se acomodar."
Parece improvável, mas algo assim poderia ter ocorrido?
Com certeza. Isto foi o que a ilha criou, pedras-pomes.
Pedra-pomes é a única rocha que flutua.
Grandes quantidades deste material. Olhe ali.
Este mesmo material estava no oceano.
Ele produziu imensos bolsões flutuantes.
Hoje podemos ver o mesmo fenômeno no Pacífico,
onde pedras-pomes são expelidas por vulcões submarinos.
Na superfície do mar, as pedras-pomes formam bolsões
por onde os marinheiros acham impossível navegar.
Os bolsões da erupção de Thera
teriam alcançado um metro de espessura.
Faz muito sentido. Platão falou de lama,
mas era uma grande quantidade de pedra-pomes no oceano?
Isso mesmo. Este é o nosso relato da antiguidade desta erupção.
Foi uma erupção que afetou a maior parte do planeta.
As cinzas foram levadas para o norte, até o Mar ***,
ao leste, até a Turquia Central, e ao sul, até o Delta do Nilo.
A temperatura global caiu,
retardando o crescimento vegetal até na Irlanda.
Nas proximidades, a erupção produziu
devastadoras ondas de choque por todo o Egeu.
Fluxos piroclásticos correram pelo mar
num leito de vapor superaquecido.
Deve ter havido um anel em torno de Santorini,
de fluxos piroclásticos avançando na água por 10 km ou mais.
Depois devem ter começado submergir e então, é claro,
o mar deve ter se aquecido. Mas, principalmente,
formou-se uma onda, criando um tsunami.
Se apenas um décimo disto forçasse o oceano a ponto de criar tsunamis,
teríamos dezenas e dezenas de tsunamis varrendo o mar.
Conforme os tsunamis ganhavam força,
eles se distanciavam de Thera.
Um de seus destinos... A Creta minoica.
De que cor é? O que procuramos?
Procuramos basicamente cinza vulcânica desgastada pela água.
O arqueólogo Sandy MacGillivray e o perito em tsunamis Costas Synolakis
investigam a escala dos tsunamis,
mapeando a pedra-pomes therana no litoral norte de Creta.
Aqui tem um pouco. Tem um pedaço.
É bem leve, não é?
Não é um pedaço...
- É cerâmica minoica, não? - Sim.
É parte de um pito da Idade do Bronze,
com esse padrão em espinha de peixe.
Isso é incrível! Deve ter flutuado até aqui.
É exatamente o que interessa.
Isto flutua e nos dá uma ideia da altura que a onda alcançou.
Por este local ser intocado.
Por isso é tão importante para nós do ponto de vista da modelação.
O tsunami arrastou isso até aqui?
Pelo menos até aqui. Pode ter ido mais além
e depois ter sido trazido mais abaixo pela chuva ou enchentes,
mas isso nos ajuda a estimar o tamanho da onda em alto mar.
Estima-se que o tsunami de Thera alcançou pelo menos
20 m acima do nível do mar em alguns pontos
e avançou até 8 km na terra.
Com instruções de Sandy, Costas criou uma simulação de computador
de como os tsunamis agiram após distanciarem-se de Thera.
Essa é a onda inicial.
Nós a seguimos até Creta.
A primeira onda fez a maré recuar, dirigir-se ao alto mar.
A menos de uma hora da erupção
e o sul de Creta e o leste do Peloponeso
já sentiam a onda gigante.
É tão rápido! Como uma locomotiva, não?
O que vemos aqui, o verde é a representação da onda e sua crista
e esse roxo e azul nas margens da Ásia Menor,
esse é o tipo de recuo que você descreveu antes.
Costas, sei que viajou pelo mundo estudando tsunamis e seus efeitos.
Até que ponto poderia se basear nesses dados
e comparar com o que aconteceu em Creta com a erupção therana?
Com tsunamis recentes,
podemos ter uma certa noção da inundação, da linha dos destroços.
Por exemplo, esta é uma foto do Sri Lanka.
Vemos onde está a linha dos destroços.
Mediríamos a distância entre os destroços e a costa.
Assim, poderíamos dizer a altura que onda penetrou nessa ocasião.
Em nossa opinião, o impacto do tsunami minoico em Creta
foi muito similar ao do tsunami do Boxing Day,
o tsunami de 2004, no Sri Lanka.
Achamos que o tamanho da onda aqui, em Amnisos,
foi bem similar ao da onda do Sri Lanka.
Para mim, é uma analogia muito boa
para tentar visualizar como foi para os minoicos a aproximação da onda.
São imagens terríveis, não?
30.000 pessoas morreram no Sri Lanka em poucos minutos.
Se 70% da população morreu,
o que acha, Sandy, que isso revela em relação à Creta?
Pois a maioria deles vivia no litoral, não é?
Creio que sim. A cidade de Cnossos ficava no interior,
mas havia um litoral muito aberto, com portos desprotegidos.
O número de mortos deve ter sido assustador, espantoso.
O impacto da erupção therana foi além das mortes.
A sociedade minoica foi completamente abalada.
Todo ano há uma nova temporada de escavações aqui.
Uma grande quantia de materiais da Idade do Bronze é encontrada.
É como se a Creta minoica fosse um quebra-cabeças gigante
onde as peças são lentamente reunidas.
A partir desses fragmentos, podemos obter pistas de como os minoicos
reagiram à erupção therana e ao tsunami.
Começa a surgir cerâmica decorada de forma muito estranha.
Chamado estilo marinho, basicamente a superfície dos vasos
passa a ser decorada com seres das profundezas.
Podem ver aqui o tentáculo de um polvo sobre uma rocha com algas.
Uma estrela-do-mar.
Esta é uma concha.
E esta é uma espécie de molusco gigante.
É como se os minoicos tentassem aplacar
ou mesmo enfrentar os demônios marinhos
que chegaram repentinamente à sua ilha.
Para a maioria das culturas antigas, foi do mar que viemos.
Surgimos do mar.
A ideia de ele voltar e nos destruir
é uma mensagem muito poderosa.
A primeira ação após os tsunamis foi reconstruir os templos.
Mesmo em tsunamis recentes,
em 1998 houve um em Papua Nova Guiné.
Qual foi a primeira coisa... Foi um tsunami devastador.
Qual a primeira coisa que fizeram?
Reconstruíram igrejas. Por quê? Havia missionários lá.
Os nativos achavam ser um castigo de Deus por sua impiedade.
Nos anos 70, os arqueólogos fizeram uma sinistra descoberta
neste templo da Idade do Bronze em Creta.
Ele mostrava como os minoicos também teriam reagido
à iminência de um desastre natural cataclísmico.
Nesse recinto havia o corpo de um rapaz, de 17 ou 18 anos.
Ele estava amarrado e deitado neste altar.
Perto de sua cabeça, havia uma adaga de bronze.
Pelas evidências ósseas, uma de suas artérias foi cortada
e seu corpo teve todo o sangue extraído.
Especialistas acreditam que esse rapaz foi sacrificado
na tentativa de parar um dos muitos terremotos
que sacudiram essa região antes da erupção de Thera.
A alguns passos mais adiante havia outro corpo.
Um homem deitado de bruços,
e carregava um vaso com um líquido.
Possivelmente sangue humano do sacrifício,
uma tentativa desesperada, uma oferenda para apaziguar os deuses.
Crê-se que o sacerdote que realizou esse ritual morreu
quando o prédio desabou durante o terremoto.
Na iminência de um desastre natural, como a erupção de Thera,
os minoicos chegaram ao ponto de sacrificar um ser humano.
Os minoicos eram muito próximos à natureza,
quando algo assim acontece, ficam muito circunspetos.
"Como isso aconteceu? Por quê?"
"Como apaziguaremos essas forças naturais
"para que isso não volte a ocorrer?"
Para um povo tão cheio de crenças supersticiosas,
um terrível desastre natural como esse
não poderia ser outra coisa senão um castigo dos deuses.
O que houve aqui foi um apocalipse não apenas físico, mas psicológico.
Este símbolo é realmente significativo.
Só pode ser visto a esta hora do dia quando o sol começa a se pôr.
Temos aqui a tradicional marca de construção de Cnossos.
É um machado de dois gumes.
Mas olhem só o que foi encravado nele.
São as pontas de um tridente.
É claro, o tridente é a arma do onipotente deus do mar,
a divindade que hoje chamamos Poseidon,
o deus que trouxe tantos problemas para esta ilha.
Poseidon era assustadoramente poderoso na sociedade minoica.
Tanto deus do mar quanto dos terremotos,
ele infligia castigos devastadores ao bel prazer.
Essa é mais uma poderosa ligação com a lenda de Atlântida.
Segundo Platão, Poseidon era o mestre de Atlântida
e quando seu povo falhou com ele,
sua ilha foi engolida pelo mar.
150 anos após a erupção de Thera,
a civilização minoica tinha desaparecido.
Não sabemos por que exatamente,
mas creio que se pode afirmar que a erupção
marcou o início do fim da primeira grande cultura europeia.
Quando analisamos a terrível destruição
que atingiu essa ilha e além,
Egito, Ásia Menor e até entrepostos da Europa Ocidental,
percebemos que essa foi uma destruição
que não podia simplesmente ser esquecida.
Quase imediatamente deve ter virado uma história de terror
passada adiante de pai para filho, de mãe para filha.
É claro, isso é o que a lógica diz que deve ter acontecido.
Mas a historiadora que há em mim precisa ver uma prova inconteste.
Como podemos tentar provar que a catástrofe ocorrida aqui
ainda era lembrada 1.000 anos depois, na época de Platão?
Temos um conjunto crescente de provas
de que a memória de fatos pré-históricos
pode ser preservada através de contos e lendas.
Uma espécie de história oral surpreendentemente resistente.
Irving Finkel é um dos maiores peritos do mundo em línguas antigas.
Ele acredita que pode traçar como memórias de fatos ou pessoas reais
podem sobreviver através da história oral por centenas de anos
antes de entrarem para o registro escrito.
Um ótimo exemplo é uma das mais antigas histórias do mundo,
a Epopeia de Gilgamesh.
Se você quiser ver isto, terá de acender esta luz.
Pode ver que a escrita está impressa em linhas na argila,
e, de fato, o nome "Gilgamesh" aparece bem aqui.
A Epopeia de Gilgamesh é a história de um rei meio homem e meio deus.
Irving Finkel acredita que seria um rei verdadeiro
que viveu no antigo Iraque no início do 3º milênio a.C.,
1.000 anos antes de a história ser escrita,
provando que a memória oral pode ser extremamente duradoura.
O encadeamento de toda a informação que temos,
arqueológica, escrita, além do senso comum,
esses 3 componentes reunidos dão a certeza que Gilgamesh
foi realmente uma pessoa rara e heroica
que viveu numa época muito remota.
Houve uma corrente ininterrupta de tradição oral
desde a morte de Gilgamesh até isto ser escrito para o rei da ***íria.
Nem sempre precisamos de todos os elos para que a corrente exista.
No caso de Atlântida, acho que há elementos aqui
diretamente relacionados a fatos da Idade do Bronze.
Sou uma caçadora maluca da Atlântida,
ou você apoiaria a minha tese?
Apoio sua tese, e apoio com uma convicção antiga,
que quando se tem algo grande como esse cataclismo,
que Platão usou como plataforma intelectual
para abordar outro material,
parece-me axiomático, já que ele alega que aconteceu,
então realmente aconteceu, foi algo real,
que de algum meio sobreviveu, como essa loucura em pedaços de argila.
Platão relembra algo importante demais para esquecer?
O mito da Atlântida de Platão se estabeleceu como a história familiar
da ascensão e queda da humanidade.
Ele imortalizou uma grande história e ideia
que ainda hoje atrai nossa imaginação.
Sua história foi antes de tudo uma fábula moralista.
Mas há inúmeros indícios que Platão baseou Atlântida
numa memória oral da Thera da Idade do Bronze.
As evidências físicas mostram
que aqui havia uma sofisticada civilização mercante que floresceu,
e então foi engolida pelo mar,
destruída por um desastre de proporções lendárias.
Seguramente essa é a raiz da lenda da Atlântida de Platão.
Legiões de caçadores de tesouros e pseudo cientistas
projetaram seus sonhos e anseios no mito.
Mas, por mais sedutora que seja a Atlântida imaginária,
ela nunca será tão intrigante quanto o lugar, o fato
e o verdadeiro povo da Idade do Bronze
que inspiraram o magnífico conto de Platão.