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Consulado procura músico brasileiro
É uma reportagem do Jornal Globo de 15 de abril de 1976
Não temos elementos
que nos levem a Tenório,
de nenhuma classe.
Também não há elementos
que nos levem a pensar
que se equivocaram quando o sequestraram.
Mas a ausência de elementos,
nos faz pensar que, talvez,
eles o tenham sequestrado,
achando que era outra pessoa,
tentando obter alguma informação durante a tortura,
mataram-no.
Nós não temos nenhum indício
de que ele tenha sido sequestrado
por sua militância política.
Ele não falava como um brasileiro,
isso conseguimos saber.
Então, ele pode ter ficado ao lado de algum sobrevivente,
e o sobrevivente não reconheceu:
"Aqui teve um brasileiro detido".
Não temos nenhum elemento que diga que o Brasil tinha interesse
no sequestro
do Tenório.
Além disso, no momento em que pegam Tenório
é um pouquinho antes do golpe de Estado.
Mas os grupos parapoliciais estavam atuando com total liberdade.
Eles deixavam a zona totalmente livre, para...
O que poderia acontecer?
Que alguém tentasse resistir,
que alguém tentasse colaborar com o detido,
que acontecesse um tiroteio.
Então, eles não podem correr o risco
de enfrentar o exército,
ou a Polícia Federal.
De tudo isso, deixavam recados.
Se dizia: "vamos operar em tal lugar, de tal hora a tal hora".
É difícil... ele deveria ser dedurado por alguém,
mas se ele veio fazer uma turnê, isso é impossível.
É mais fácil que tenha sido pego por uma patrulha na rua,
mas porque essa área correspondia a esse grupo parapolicial.
Existem alguns documentos que aparecem nos arquivos da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas
que atestam o pedido,
feito por um grupo de artistas para que as autoridades argentinas
se interessassem pela busca.
Mas tudo isso só levou
à recepção, por parte das autoridades brasileiras, da petição,
o envio à burocracia argentina
e uma resposta: "não sabemos, não temos informação para dar".
Eu, por enquanto, não tenho
nenhum indício que me diga que ele
sabe alguma coisa do Tenório.
É uma espécie de função,
de entretenimento,
que têm os meios de comunicação.
Então, para poder produzir esse entretenimento,
em alguns casos, pode-se chegar a pagar para alguns personagens como o
extraditado Vallejos,
que negou absolutamente
todas as reportagens que deu,
e se limitou a dizer que
ele somente fez o serviço militar e
que só conhece o lugar onde esteve,
e nunca presenciou nenhum tipo de delitos
como esses, de terrorismo de Estado.
Agora...
Ele está numa situação complicada porque...
mesmo que tenha negado todos os fatos,
tantos documentos, durante tantos anos,
hoje estão jogando contra ele no processo.
No Brasil só se perseguem os delitos permanentes.
Quer dizer: não os assassinatos, mesmo em ***,
por mais que sejam sistemáticos ou sistematizados contra determinado grupo de pessoas.
A Comissão da Verdade do Brasil esteve presente e teve contato com a procuradora-geral da Argentina,
e se assumiu o compromisso de colaboração.
Se nós
pudéssemos ter localizado
um arquivo, por exemplo,
em algum dos estados,
que pudesse nos dar algum tipo de informação,
a gente deveria enviar pessoas
para ficar uma semana ou duas semanas concretamente,
para fazer uma busca exaustiva de documentação.
Deveria se intensificar,
mas logo depois de ter algum indicio de onde fazer essa busca,
porque senão é como percorrer todo o Brasil,
é impossível...