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Quando uma cidade ganha o direito de sediar o maior evento esportivo do mundo,
você pode ter certeza de uma coisa,
ela nunca mais será a mesma.
Mas para o Brasil, a questão é dupla.
Preparações para os Jogos Olímpicos e para a Copa do Mundo já estão em pleno andamento.
Para os moradores de favelas no Rio de Janeiro
a limpeza de sua famosa cidade veio com um custo muito alto.
Yaara Bou Melhem nos traz a reportagem completa.
Este é o Rio de Janeiro que o governo quer que você veja.
Vistas de cartão postal.
Dias tranquilos na praia.
Mas também existe isso:
Pela cidade, violentas remoções e demolições acontecem,
enquanto o país se prepara para a Copa do Mundo e Olimpíadas.
Essa é uma das favelas sendo destruídas.
Antônio Cláudio e sua esposa Ana Lúcia
acabaram de assistir a sua casa ser demolida
e estão desconsolados.
Essa era a casa de Antônio. Ele foi avisado que precisava deixar sua casa hoje pela manhã.
De tarde, essa era sua casa.
Até o momento em que as escavadeiras chegaram,
Ana Lúcia estava, desesperadamente, negociando sua remoção com as autoridades da Prefeitura.
Foi oferecido a eles o equivalente a 17.000 dólares por sua casa
mas Antônio acredita que sua casa valia pelo menos o dobro disso.
A favela deles se chama Tanque
uma comunidade pequena e unida
em um lugar inoportuno.
Parte dela localizada no trajeto planejado da Transcarioca.
Hoje, por todos os lados por onde olho há destruição:
40 famílias já tiveram suas casas destruídas.
Para Maria Estella agora é tarde.
Três gerações de sua família viveram aqui.
Maria disse que a Prefeitura pagou o equivalente a 7,000 doláres por sua casa.
A gente vem acompanhando tudo isso de perto.
Theresa Williamson é diretora executiva da Comunidades Catalisadoras,
uma ONG que trabalha junto com os moradores de favelas do Rio.
Os direitos aqui no Tanque estão sendo violados principalmente de duas formas.
Primeiro, porque eles não foram avisados com suficiente antecedência .
Eles não tiveram oportunidade suficiente para negociar ou participar do processo.
Eles não tiveram oportunidade, como uma comunidade, para discutir e saber seus direitos.
Eles foram avisados que se eles procurassem um advogado, que eles receberiam menos por sua desapropriação.
Eles foram avisados que se eles demorassem mais, que eles receberiam menos por sua desapropriação.
E tudo isso era pura mentira.
A Prefeitura desmente essas informações
e aponta para os novos projetos de habitação, como este
como uma alternativa para as favelas da cidade.
O Secretário de Habitação do Município, Pierre Batista
se habilitou prontamente a me mostrar um projeto.
Os moradores realmente parecem felizes com suas novas casas.
Mas nem todos aqueles removidos das favelas conseguem se mudar para cá.
Para estar apto, é preciso estar com carteira assinada
e conseguir pagar, ao Governo Federal, o financiamento pelo apartamento.
Nessa inauguração de um novo projeto de moradia da Prefeitura
o Prefeito do Rio de Janeiro, o dinâmico Eduardo Paes,
discursa sobre os benefícios de uma vida 'depois' das favelas.
Mas alguns aqui vieram de áreas marcadas para demolição
e eles querem ficar exatamente onde estão.
Altair Guimarães é líder comunitário da favela Vila Autódromo.
Diferentemente dos moradores do Tanque, são bem organizados e vocais.
Esse novo Rio para os pobres impressiona
mas eu fui perguntar ao Prefeito o que aconteceu com Antônio e Ana Lúcia na favela do Tanque
e os 17,000 dólares de compensação.
Foi uma casa ou um negócio? Eu não sei.
Foi uma casa de dois andares.
Bem, eu não conheço o caso específico deles.
Mas eu estou lhe dizendo qual é o caso específico.
Foram 34,000 reais, que não é suficiente nem para comprar um carro novo, ainda mais uma casa nova.
Novamente, o que nós sempre fazemos é tentar negociar. Eu não conheço esse caso específico.
Mas eles podem não ter condições de negociar.
Bem, todas as vezes... A Transcarioca iniciou há quase 2 anos
e viemos negociando esse tempo todo.
Sim, existem situações diferentes.
Obviamente, algumas vezes as negociações podem não ser tão boas.
E todas as vezes que eu sou informado sobre elas, eu intervenho.
O Prefeito quer mostrar seu apartamento-modelo para os moradores da favela e para a mídia.
Mas Altair, pedreiro por profissão, não se impressiona.
Ele diz que não vai se mudar para lá.
Eu queria ver a Vila Autódromo, onde Altair mora,
e começo minha visita pela casa de Pedro Franklin.
Você entende então porque os moradores estão resitindo às desapropriações.
Também me faz rever minha compreensão do que é uma favela.
Pedro vive aqui com sua família há 24 anos e ele não pretende sair.
De sua jardim no terraço, é possível ver o quão próximo estão as construções para os Jogos Olímpicos.
Um dos aspectos mais marcantes dessa favela é que os moradores têm de fato um contrato de concessão de 99 anos do governo do Estado.
Na Associação de Moradores, Altair me mostra os documentos.
Altair não vai desistir.
Ele, junto com os moradores da Vila Autódromo, conseguiu mobilizar grande apoio à sua causa.
Ele está liderando um processo legal contra os planos do prefeito de destruir a favela.
Se o Rio de Janeiro não tivesse sido selecionado para sediar os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo
não haveria tanta força política
numa democracia como a que temos aqui no Brasil
para facilitar esse tipo de processo de remoção.
Isso só acontece porque as Olimpíadas criam um prazo
e forçam uma série de metas.
E enquanto moradores de favelas lutam para manter suas casas, a violência continua.
Longe dos turistas
a remodelação da cidade continua,
levantando muitas questões quanto aos planos grandiosos das autoridades.
Lá na favela do Tanque
Antônio enfrenta outro tipo de dúvida.
Onde dormir hoje?
Sua enteada pode oferecer uma cama por enquanto
mas o futuro parece sombrio.
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