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Continuando a nossa "maratona" de fiscalização de obras e serviços em Criciúma,
na última semana estivemos visitando algumas unidades de saúde,
e também o Hospital Infantil Santa Catarina, onde eu me encontro agora.
A mídia tem retratado nos últimos dias a crise que vive a saúde pública em Criciúma,
especialmente o caos que tem sido o atendimento aqui no Hospital Infantil Santa Catarina.
Nós vamos pegar o nome de cada um de vocês para encaminhar esse procedimento para o Ministério Público.
É isso que a Polícia Militar pode fazer por vocês.
Eu vinha adiando este tema até por que se trata de vidas humanas,
e neste caso específico, da vida de crianças.
Mas a proporção que este drama vem tomando me impeliu a mergulhar no tema
da saúde pública aqui em Criciúma.
É importante relembrar que já no início da atual administração
o prefeito Clésio Salvaro decidiu terceirizar a gestão do Hospital Infantil Santa Catarina.
Ocorreram incêndios, protestos nas ruas, e aí coube à Câmara Municipal conduzir uma Audiência Pública
em que as partes debateram o melhor caminho para a gestão do HISC.
De acordo com a proposta da Prefeitura Municipal - que se transformou em um contrato -
a Prefeitura repassaria R$ 660.000 mensais para que o Hospital São José melhorasse o atendimento
na UTI neonatal e também no Pronto Atendimento. Serviços que já existiam desde o governo anterior.
Em março último, diante de notícias sobre problemas no atendimento,
resolvi solicitar informações até para saber sobre o cumprimento do contrato
que havia sido firmado entre o município e o Hospital São José.
Descobrimos que um dos motivos para o atendimento no Hospital Infantil Santa Catarina estar beirando o caos
era a falta de recursos para que as condições de trabalhos fossem melhoradas
e também para que a equipe médica fosse ampliada.
Para se ter uma idéia, a contratação de pelo menos mais um ou dois pediatras
já melhoraria muito a situação.
Vejam a reportagem da TV Barriga Verde sobre o assunto.
Desde janeiro os 14 pediatras do Hospital Santa Catarina, em Criciúma,
reivindicam melhores condições de trabalho junto à administração da unidade.
Os profissionais pedem a abertura de uma enfermaria, a contratação de mais médicos,
reajuste de salário e segurança.
Cansados de esperar pelas soluções, os médicos ameaçam pedir demissão coletiva.
- Na verdade nós vamos fazer o máximo para que isso não aconteça...
...essa não é a nossa intenção, não é a nossa vontade.
Mas nas atuais condições de trabalho, realmente não está dando para trabalhar.
A grande demanda faz com que a espera por atendimento ultrapasse três horas.
A demora revolta os pais e traz sensação de insegurança aos pediatras.
Só no último mês, a polícia teve de ser chamada 5 vezes só para acalmar o tumulto que estava acontecendo na sala de espera.
- Os pais se revoltam, houve isso, quando abriu a porta os pacientes invadiram todos...
o que mostra, na verdade, o desespero dos pais.
Mas, infelizmente, quanto a isso nós ainda não temos como resolver.
Resumindo, a Prefeitura não cumpriu o contrato com o Hospital São José.
Deixou acumular uma dívida de mais de 3 milhões.
Seria o mesmo que deixar o HISC durante 5 meses sem receber sequer um centavo.
No início de abril, a crise só fez aumentar, com uma decisão da Prefeitura de Criciúma
de negar atendimento à crianças de municípios vizinhos.
Um tema que também mereceu destaque na imprensa estadual.
- O Diário Catarinense de ontem noticiou que desde segunda-feira, dia 4,
O HISC de Criciúma passou a dar prioridades a pacientes que residem naquele município.
Esquecem que o Hospital São Marcos, de Nova Veneza, acolhe, desde 1933,
as vítimas da exploração do carvão. A maioria proveniente de Criciúma.
O mesmo fazem os hospitais de Urussanga, Içara, Meleiro, Turvo e Araranguá.
J.L.M., a criança de Nova Veneza que deixou de ser atendida...
a partir da adoção deste critério injusto, desumano, IMORAL e ILEGAL...
é o símbolo do inconformismo dos moradores do Sul de Santa Catarina.
Aqui no HISC nós vemos o resultado da falta de prioridade à saúde de nossas crianças em Criciúma.
- Mãe, por que tu trouxeste a tua filhinha aqui para o Hospital?
- Por que eu fui no Posto de Saúde, ele não atendeu...
- Posto de Saúde aqui em Criciúma?
- Aqui em Criciúma. No bairro Jardim União.
- Chegou uma menina lá com 40ºC de febre, a médica nem olhou para a cara da menina, receitou um Dipirona...
e mandou a mãe da menina embora, ou então vir para o HISC.
Hoje era 09:00 da manhã quando eu fui ao Posto. Saí de lá era 12:00. E ela me fez ficar esperando.
- Ficaste das 09:00 às 12:00 com a tua filha com febre, e saiu de lá sem medicamento?
- E aí te disseram que era para vir...
- Aqui para o Santa Catarina
- Eu disse assim: 'Tá, mas se chega aqui uma criança com febre, tu não vais atender?
E ela me responde: 'Não posso fazer nada, não sou pediatra.'
- Tem uma mãe aqui que já trouxe a filhinha 4 vezes. Mãe, por que tu não levas no Posto?
- Por que eles mandam para o Hospital. Dizem que não tem pediatra, e não podem receitar remédio.
- E se fosse para ir num posto próximo, com pediatra, qual seria?
- Teria de sair às 4 horas da manhã.
- Para pegar número, e conseguir uma consulta?
- É, tem sair às 4 horas da manhã de casa.
- Eu já fui lá pedir paracetamol em gotas e não me deram. Medicamento que poderia ser pego no Posto e não tinha.
Não tem nada no Posto. Nada. Já rodei 2, 3 Postos para pedir Paracetamol e não deram...
A saúde aqui em Criciúma está bem ruim mesmo.
- É por isso que acontece esses problemas aqui no HISC. Por que as Unidades de Saúde não resolvem,
não tem medicamento, não fazem uma consulta, não olham uma criança, e encaminham sem saber o que é para o HISC.
Chega aqui, aí não tem como ter um atendimento decente.
Vim ontem, só que deram medicamento e não está adiantando. Vim hoje de novo.
- E por que tu já trouxeste a tua filha 4 vezes? Não resolveu?
- Não, não resolveu.
- O governo tem que dar uma atenção maior por que a gente que é mãe não vem pra cá para brincadeira.
A gente tem coisa em casa para fazer, e deixa. Eles tem que entender que nós mães viemos pra cá com o coração na mão.
Aí a criança vem aqui e tem de ser internada, por que no Posto, onde era para resolver, não resolve.
Minha filha está o dia inteiro com febre. Se chega a acontecer algo com ela, quem vai resolver?
E o curioso é que a Prefeitura insiste em responsabilizar os pais por não buscarem atendimento nas Unidades de Saúde,
sobrecarregando assim o Hospital Infantil Santa Catarina.
Mas como nós vimos, ao contrário, os pais acabam trazendo os filhos para cá,
justamente por que buscam atendimento nas Unidades de Saúde e não encontram solução.
Sabemos que o sistema público de saúde tem muitos gargalos. Tanto na esfera Municipal, quanto Estadual e Federal.
Agora, o que não se admite, é que um Prefeito se negue a priorizar a saúde e rasgue dinheiro público,
ao comprar um sistema para rastreamento de frotas que não serve pra nada,
ou então abrir um pedacinho de rodovia como a Leste-Oeste e deixá-la abandonada, inacabada, e sem utilidade alguma.
Eu lembro de quando o prefeito convenceu a cidade de que a terceirização era a solução para o HISC.
Eu lembro que ele disse que naquele dia, da assinatura do contrato, nascia 'um verdadeiro Hospital Materno Infantil para todos os criciumenses'.
Até poderia ter sido mesmo, se a Prefeitura tivesse honrado o contrato.
E tivesse viabilizado os recursos para que o HSJ pudesse usar a sua vasta experiência,
e para que a dedicada equipe médica pudesse fazer o trabalho que queria e que as CRIANÇAS merecem.